HÉLIO
SCHWARTSMAN
É a biologia,
estúpido
SÃO
PAULO - Não é preciso integrar movimentos como o Occupy Wall Street para chegar
à conclusão de que a turma do mercado financeiro cometeu tolices que levaram à
crise de 2008, cujas repercussões ainda assombram o mundo. Na verdade, agiram
com intemperança semelhante na bolha anterior e em todas as que a antecederam.
Como é possível? Eles não aprendem nada?
John
Coates, ex-banqueiro convertido à neurociência e à endocrinologia, acaba de
publicar o livro "The Hour Between Dog and Wolf", em que procura
explicar o fenômeno recorrendo à biologia, mais especificamente a hormônios e
neurônios.
É
uma obra interessante. Coates sustenta que as ondas de exuberância irracional e
pessimismo que desestabilizam a finança global podem ser fruto de alterações
fisiológicas nos corpos dos operadores, em resposta às idas e vindas do
mercado.
Quando
os ganhos são fartos e o sujeito está por cima, são liberadas substâncias como
a testosterona, que favorecem apostas de risco. Nessas horas, o mercado fica
cego para a possibilidade de desastre e, amparados por mecanismos altamente
abstratos e potencialmente catastróficos, como derivativos, banqueiros criam
verdadeiras bolhas financeiras que, mais cedo ou mais tarde, estouram.
E,
se as coisas vão mal, sai a testosterona e entram moléculas como o cortisol,
que exacerba o pessimismo. Nessas ocasiões, até bons negócios são vistos com as
lentes do derrotismo, e o mercado cai ainda mais.
Como
é difícil alterar a biologia humana, Coates sugere que mudemos algumas práticas
da banca que, em vez de contrabalançar nossas vulnerabilidades fisiológicas,
contribuem para realçá-las. Para o autor, deveríamos ter mais mulheres nas
mesas de arbitragem. Elas são menos sensíveis aos poderes inebriantes da
testosterona. Outra medida urgente é redesenhar o sistema de bônus, que hoje
empurra os operadores para riscos pouco razoáveis.
helio@uol.com.br
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