20
de julho de 2012 | N° 17136
EDITORIAIS
ZH
Oportuna, mas excessiva
O
Ministério das Comunicações respaldou a ação da Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) contra a degradação da qualidade dos serviços
prestados aos consumidores brasileiros de telefonia móvel e internet. O próprio
governo, porém, tem uma parcela considerável de responsabilidade neste episódio,
pela inércia em desengavetar o projeto de revisão do marco regulatório das
telecomunicações, que ajudaria a pôr ordem na casa.
A
maior intervenção no setor desde a privatização, sob a alegação de defender os
interesses do consumidor, poderia ter sido evitada, assim como o desgaste dela
decorrente, uma vez que as empresas afetadas sofreram prejuízos financeiros, a
começar pela queda nos valores de suas ações. Além disso, uma ação
governamental de tamanho impacto tende a ressuscitar o fantasma do
intervencionismo, prejudicando a imagem do país junto aos investidores
internacionais.
Agora
que o imbróglio está formado, é preciso convocar todas as partes para buscar
soluções urgentes, que devem passar por investimentos na qualidade dos serviços,
mas também na formulação de regras claras e numa fiscalização permanente e
eficaz por parte do poder público.
Obviamente,
as empresas de telefonia só deveriam vender os serviços que podem oferecer ao
consumidor, com um mínimo de qualidade. Essa exigência é a cada dia maior
devido à massificação do uso de redes sociais, que tem demandado crescente
capacidade de rede.
Além
disso, o país ainda nem consegue atender plenamente aos requisitos da
tecnologia de terceira geração (3G) e já está às voltas com o cumprimento de
compromissos para a implantação das redes 4G, em função da Copa de 2014. Ainda
que as empresas, em sua maior parte, tenham deixado de investir o que deveriam,
as causas do impasse são mais complexas.
O
Brasil, na condição de quinto maior mercado de telefonia e internet, precisa
dispor de uma legislação mais moderna e menos burocrática, que facilite a
expansão de serviços de qualidade para os usuários. Hoje, são 256 milhões de
habilitações, o que significa mais de uma por habitante. O problema é que, além
das normas de âmbito nacional, há cerca de 250 legislações estaduais e
municipais a serem cumpridas no país, criando um emaranhado legal que limita os
investimentos.
A
concessão de uma simples licença para erguer uma torre com antena de telefonia
pode levar até seis meses. E, quando finalmente sai, muitas vezes ainda esbarra
em resistências por parte das comunidades, devido a temores, em sua maioria
infundados, como os de riscos à saúde ou de ordem ambiental.
Devido
a sua importância estratégica no cotidiano da população, telefonia é uma área
para a qual deve ser dada preferência sempre a medidas preventivas para evitar
problemas recorrentes, como falta de sinal e ligações interrompidas. No caso
atual, mesmo com atraso em relação a outros órgãos de fiscalização, a Anatel cumpriu
o seu papel de agência reguladora, mas exagerou na dose ao optar pela
generalização, que na prática resulta em intervenção demasiada do Estado no
setor privado.
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