quinta-feira, 19 de julho de 2012



19 de julho de 2012 | N° 17135
EDITORIAIS ZH

APRENDIZADO EM QUESTÃO

Constitui grave indício a informação contida no levantamento Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf) de que menos de um terço da população brasileira é capaz de ler, compreender e interpretar textos longos e de realizar outras tarefas que exigem domínio de leitura e escrita. Segundo a pesquisa, apenas 26% dos brasileiros podem ser considerados plenamente alfabetizados funcionalmente, mesmo percentual apurado há 11 anos.

O termo “alfabetismo funcional” merece esclarecimento, porquanto se trata de questão que divide especialistas em educação. Surgida nos Estados Unidos no início do século passado, essa noção foi inicialmente utilizada para medir a capacidade de conscritos de compreender instruções escritas durante a II Guerra Mundial. Outras nações, como a França, adotam o conceito de “letramento” para designar indivíduos que, apesar de terem tido acesso à educação, não executam as habilidades aprendidas de leitura e escrita em seu cotidiano.

A adoção do conceito pelas Nações Unidas, no pós-guerra, fez com que fosse aplicado a países onde, diferentemente das realidades americana ou francesa, a educação era privilégio de poucos. Hoje, é considerada alfabetizada funcionalmente a pessoa capaz de utilizar a leitura, a escrita e habilidades matemáticas para fazer frente às demandas de sua realidade social e empregá-las no autodesenvolvimento continuado.

O conceito de alfabetismo funcional inclui quatro graus: analfabeto, rudimentar, básico e pleno. Conforme o Inaf, 26% dos brasileiros são plenamente alfabetizados, enquanto a maioria (47%) fica no nível básico e 27% são considerados analfabetos funcionais.

Outros dados da pesquisa mostram que o problema, longe de se limitar às capacidades elementares, perpassa toda a pirâmide do ensino. Por exemplo, apenas 35% dos brasileiros que concluem o Ensino Médio e 62% dos que têm formação de nível superior podem ser considerados plenamente alfabetizados.

Não é preciso ser versado em pedagogia para concluir que esses números representam uma clara sentença condenatória do sistema educacional em nosso país. Estará enganado quem julgar essa percepção como restrita a acadêmicos e eruditos.

Uma pesquisa CNI-Ibope divulgada em junho mostra que 54% dos brasileiros desaprovam a educação no país. Paradoxalmente, essa constatação surge num momento em que o investimento público no ensino em todos os níveis atinge a marca histórica de 5% do Produto Interno Bruto (PIB).

O orçamento do Ministério da Educação cresceu mais de quatro vezes na última década, pulando de R$ 18 bilhões em 2002 para R$ 86,2 bilhões este ano. Reverter esse quadro exige uma opção preferencial, por parte de todas as esferas de governo, pelo ensino de qualidade em nosso país. Tal opção é sinônimo de formação adequada e valorização dos profissionais de educação, avaliação eficaz de professores e alunos e um regime meritocrático capaz de premiar a excelência.

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