CARLOS
HEITOR CONY
A noite e a neblina
RIO
DE JANEIRO - Embora tenha algumas dúvidas sobre os resultados finais da Comissão
da Verdade -não em relação à integridade de seus membros, mas em relação ao
contexto nacional, desejo citar um pequeno trecho da biografia de Hitler
escrita por John Toland, em tradução brasileira de Henrique Batista, publicada
pela Francisco Alves Editora em 1978.
No
mesmo dia do ataque japonês a Pearl Harbor (7 de dezembro de 1941), o governo
nazista fez pu-blicar um decreto que tomou o nome de "Noite e Neblina".
Diga-se, de passagem, que o Ministério da Propaganda alemão, daquela época de
horrores, dava nomes apropriados e até bonitos para as ações assassinas do
regime. O ataque às lojas dos judeus foi chamado de "Noite de Cristal":
não deixaram uma vidraça intacta.
Houve
outra noite, também terrível, quando o Führer ordenou e participou pessoalmente
do massacre de seus ex-aliados, o poderoso general Röhm e todo o seu grupo, não
por serem homossexuais, mas suspeitos de conspiração contra o próprio Hitler,
naquela que ficou na história como "A noite dos Longos Punhais".
Como
já disse, o decreto recebeu o nome de "Noite e Neblina".
O
texto é curto e não tem qualquer neblina: "Ordenava que todas as pessoas
que pusessem em perigo a segurança alemã, com exceção das que seriam executadas
imediatamente, desaparecessem, sem deixar traço. Nada se deveria revelar à família
quanto ao destino dos desaparecidos".
Aqui,
no Brasil, durante o regime militar, talvez não tenha havido um decreto
parecido e publicado no "Diário Oficial da União". Seria redundante. O
que interessava à ditadura não eram decretos, mas ações explícitas e sucessivas.
Caberá à Comissão da Verdade iluminar a noite e dissipar a neblina.
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