12
de julho de 2012 | N° 17128
ARTIGOS
- Antonio Carlos Brites Jaques*
Alienação virtual
A
tecnologia da informação provocou uma extraordinária transformação no
armazenamento, operação e comunicação de dados, bem como na mineração e
cruzamento de informações, nunca antes imaginada, com fantásticas facilidades e
inovações em pesquisas, na ciência, na produção e nos negócios, na gestão pública
e privada. Ademais, possibilitou maravilhas em termos de conexão de pessoas e
redes sociais à distância, em tempo real e a custo zero.
Mas
essas ferramentas tecnológicas são também passíveis de mau uso por falta de uma
educação digital. O problema começa nos locais de trabalho: convidados para uma
reunião onde se pretende conversar, discutir e encaminhar uma pauta, as pessoas
integrantes da reunião muitas vezes nem sentam à mesa sem antes ligar seus
notes, tablets ou androides, dando início imediato ao que se poderia chamar de “desmobilização
da reunião”. Todos os olhares se voltam para as telas, parecendo que inexistem
pessoas na reunião. E muitas vezes é a maior autoridade da reunião que assim
procede.
O
mesmo ocorre nas salas de aula das universidades: aparelhos ligados, facebooks
conectados e professores dando aula “às moscas”...
Ademais,
em casa, no trabalho, no bar ou restaurante, e até mesmo no cinema ou no
teatro, está se tornando cada vez mais comum o constante e irritante tilintar dos
mais diversos ruídos, alertas para chamar a atenção das pessoas acerca de
chamadas ou mensagens, que interrompem bate-papos, raciocínios, namoros ou
espetáculos.
Em
alguns casos é admissível a atenção voltada ao microcomputador. Por exemplo, na
área da saúde, quando o profissional necessita registrar informações de seu
paciente. Mas os bons profissionais do ramo primeiro ouvem, perguntam e fixam
sua atenção na pessoa, no paciente, para depois efetuarem seus registros.
O
inadmissível é que em reuniões profissionais estratégicas seja necessário
conversar, ouvir, comunicar, de olho em tais maquinetas. Em realidade, estas
ferramentas ligadas nada acrescentarão ao raciocínio, ao diálogo ou às
alternativas em discussão, pois a maioria dos participantes destas reuniões
estará nada mais nada menos do que lendo suas mensagens de e-mail, skype, msn
ou facebook, por puro vício ou ansiedade.
Mas
o pior mesmo é quando alguém diz: “vai falando que estou te ouvindo, sou
auditivo e não visual”, como se conversar não fosse interagir, olhar e prestar
atenção no interlocutor, inclusive em sua comunicação gestual.
Lembro
aqui Rubem Alves relatando um diálogo tribal, no qual quando alguém da tribo
falava todos ouviam; e após alguém falar transcorria certo tempo de obsequioso
silêncio, uma demonstração de respeito e sinal de que todos estavam pensando no
que acabara de ser dito.
É forçoso
concluir: tribos atrasadas aquelas, conseguiam fazer reuniões e conversar sem
notes, tablets nem androides...
*ECONOMISTA
E CONSULTOR, EX-SECRETÁRIO DE ESTADO DA FAZENDA
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