segunda-feira, 9 de julho de 2012



09 de julho de 2012 | N° 17125
KLEDIR RAMIL

Diário de bordo – Triângulo das Bermudas

O pessoal do Fantástico veio me entrevistar. Meu companheiro de viagem havia dado um depoimento em que descrevia uma abdução por seres alienígenas e uma passagem pelo Triângulo das Bermudas.

Eu, sinceramente, não posso garantir que fomos parar no Triângulo das Bermudas, pode ter sido um devaneio. Afinal, já estávamos há dias em alto-mar, em uma lancha à deriva, sem água, debaixo de um sol quente. Devaneio ou não, o que posso dizer é que foi uma aventura e tanto. É claro que não contei nada disso pro pessoal da televisão, pra não ser chamado de louco. Conto pra vocês porque estou entre amigos e sei que não vão duvidar da minha sanidade mental.

A primeira sensação que tive foi de estar indo a pique, como se estivéssemos entrando em uma espiral descendente, um redemoinho nos arrastando para o fundo do poço. E o poço, no caso, era o Oceano Atlântico. Para minha surpresa, em vez de irmos parar no quinto dos infernos, desembarcamos numa ilha paradisíaca, com um grupo de nativas enfeitadas com flores, tocando uquelele, dançando e cantando um tradicional tema de boas-vindas.

Meu parceiro de viagem pegou o pandeiro e rapidamente se incorporou ao festejo, animado com a recepção. Eu, mais comedido, tentei, por meio da linguagem dos sinais, descobrir se alguém tinha um aparelho celular. Sem sucesso. As moças só queriam dançar e cantar.

Fomos levados à presença do chefe, um sujeito bonachão, boa-praça, que nos saudou, lá na língua deles, com um discurso de boas vindas. Pelo menos foi o que imaginei, já que trazia o tempo todo um sorriso estampado no rosto.

Depois de sermos banhados pelas belas nativas, ganhamos colares de flores e fomos levados a um banquete de iguarias naturais como eu jamais havia visto. Tomei água de coco e comi frutas deliciosas, de tipos e sabores variados. Parecia um sonho. Só não aceitei uma bebida exótica, que tinha uma coloração estranha, e o cachimbo feito de bambu, que passava de mão em mão. Meu amigo, ao contrário, caiu de boca em tudo.

Com a barriga cheia, felizes e recuperados, fomos carregados nos braços em um alegre desfile até uma espécie de altar, no alto do morro. Só quando vi o caldeirão fumegando foi que me dei conta de que estávamos sendo preparados para virar sopa de índio.

(continua)

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