terça-feira, 10 de julho de 2012



10 de julho de 2012 | N° 17126
DAVID COIMBRA

Por que não passa?

Meu filho era ainda pequeninho, devia ter uns dois anos, quando meteu um brinquedo na boca e se machucou. Um desses ferimentos comuns de infância, mas foi algo bem dolorido. Ele começou a chorar muito. Peguei-o no colo, tentei consolá-lo, não adiantava. Ele gritava:

– Por que não passa? Por que não passa?

Até hoje sinto uma fincada no peito ao lembrar.

O mundo perfeito seria o dos filmes, em que a dor passa de um momento para outro, com a administração de um único remédio. Basta um unguento ou uma sopa ao pé da cama, ou uma frase inteligente que desvenda a verdade para quem se aflige e, pronto, o sofrimento se esvai, a pessoa sorri e tudo volta ao normal.

Mas a vida não é assim. Tive de dizer para meu filho que, na vida, nenhuma dor passa de imediato, nenhuma dor desaparece numa única noite. As coisas evoluem devagar e só se resolvem depois de várias noites, com paciência e coragem. Paciência para não mexer ainda mais no ferimento. E coragem para suportar a dor momentânea, que ela será, de fato, momentânea.

O que é preciso

Paciência e coragem.

É do que o Grêmio mais necessita agora. Paciência para manter o trabalho do dia a dia sem mudanças bruscas que só mexeriam no ferimento e trariam perturbação. E coragem para resistir à pressão da crise e à comparação com o Inter.

Paciência e coragem. Não há bens mais valiosos do que esses que eu possa dar para o meu filho.

O remédio

Coragem não é o mesmo que destemor. O homem corajoso sente medo, mas o enfrenta. O medo é como a dor – é um alerta de que algo está errado e que precisa de remédio. Junto com o remédio, é indispensável o recolhimento. Meu filhinho teve de aprender a não tocar no machucado do céu da boca, assim como um doente tem de entender que necessita de cama e sono. E um time em crise precisa se fechar. Um time em crise não pode partir desesperado em busca da vitória. Tem que se encaramujar, tem que ficar quietinho lá atrás, esperando que as coisas aconteçam. A placidez da retranca é o melhor remédio para o Grêmio, nestes dias de dor.

A comparação

A contratação de Elano pelo Grêmio seria considerada uma bênção, se o Inter não tivesse contratado Forlán mais ou menos ao mesmo tempo.

É verdade que ambos se destacaram na Copa, e não foi uma Copa distante: foi em 2010. É verdade, também, que nenhum deles teve bom sucesso no último ano. Só que Forlán é atacante, marca gols, é decisivo e agudo, enquanto Elano é um jogador de meio-campo, de preparação.

E, num arremate de crueldade a favor do Inter e contra o Grêmio, há precedentes nos dois clubes: no Inter, os estrangeiros têm jogado com galhardia platina; no Grêmio, os velhos astros contratados recentemente, como Zé Roberto e Gilberto Silva, parecem mais com astros velhos do que com velhos astros.

Pode mudar? As coisas podem melhorar para o Grêmio?

Claro que sim. Mas é preciso paciência e coragem.

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