sábado, 7 de julho de 2012



08 de julho de 2012 | N° 17124
O CÓDIGO DAVID

Júlio e julho

Este mês de julho, bem como todos os demais 2.056 meses de julho que já existiram no mundo, recebeu tal nome para elevar ainda mais um homem já elevado: Júlio César, ele que, por ironia, foi sempre César sem nunca ter sido césar.

É que César, embora quisesse muito, nunca chegou a ser empossado imperador de Roma, como os demais que o sucederam. E estes sucessores intitularam-se, justamente, césar, de onde vem o kaiser alemão e o czar russo, todos rútilos imperadores.

César, o Júlio, nasceu exatamente neste mês, no dia 13 do ano 100 a.C., quando julho ainda não era julho, era quintilis. O mês seguinte, agosto, recebeu este nome em homenagem a Augusto, que, este sim, foi o primeiro césar.

Agosto era para ter apenas 30 dias, seguindo a ordem intercalada dos meses, mas Augusto não queria ficar abaixo de César. Então, os romanos tiraram um dia de fevereiro, que já tinha pouco e ficou com menos ainda. Logo fevereiro, um mês tão agradável... Por quê? Pela vaidade. Como dizia o Eclesiastes, tudo é vaidade debaixo do sol.

A Rainha da Bitínia

Lembro hoje de Júlio não apenas porque estamos em julho, mas por causa de Anderson Cooper, apresentador da CNN que se declarou gay publicamente, dias atrás. Chamou-me a atenção a frase de Cooper a respeito: “Não poderia estar mais feliz, satisfeito comigo mesmo e orgulhoso”.

O orgulho de ser gay é algo novo no mundo. Os gregos aceitavam bem o homossexualismo, mas não chegavam a se orgulhar disso. Era algo encarado com naturalidade. E os romanos não viam com bons olhos as relações homossexuais. Júlio César é a prova. Ocorre que os inimigos de César diziam que, na juventude, ele se entregara a Nicomedes, rei da Bitínia.

Chamavam-no, por isso, Rainha da Bitínia. Outros espalhavam que César era “marido de todas as mulheres e mulher de todos os maridos”. Mas quem dizia isso eram os inimigos. Ou seja: tentavam difamá-lo. Logo, o homossexualismo diminuía o homem, embora fosse muito praticado, como em qualquer época da Humanidade. Agora, não. Agora, o gay grita de orgulho que é gay, como o apresentador da CNN. O que significa isso? Evolução. Milhares de julhos depois de César, o mundo é muito mais tolerante, qualquer um pode ser Rainha da Bitínia.

A cantada

O Jeiso é o especialista em cantadas no Pretinho. Especialista, mas sem jamais alcançar certas sutilezas. Dias atrás, contei uma história no programa, para ele ver como se faz.

É o seguinte: neste 8 de julho a morena Daniella Sarahyba completa 28 anos. Muitas mulheres lindas completam 28 anos hoje, bem sei, mas o que distingue Daniella Sarahyba foi uma cantada que ela recebeu quando tinha 12 aninhos de idade. Ela era precoce – elevava-se a 1m70cm de altura e já ostentava um corpo sinuoso da modelo internacional que começaria a carreira apenas um ano depois. Então, um gaiato se aproximou dela e sussurrou:

– Você é linda. Pena que tenha a idade do uísque que eu bebo.

Ela confessou que a cantada lhe encantou. Façamos uma homenagem a esse mestre da abordagem.

A motorista

Ela era mais velha, mas tinha boas pernas. As melhores pernas que Justino já havia visto. Dona Helena. Eram vizinhos e colegas de trabalho. Ela lhe dava carona todos os dias, ida e volta. Durante o trajeto, não conversavam.

Dona Helena passava o tempo todo ouvindo música clássica, e Justino não se atrevia a interromper. Meia hora, os dois em silêncio, ouvindo Bach, Mozart... Como trabalhavam em seções diferentes e moravam em andares diferentes, mal se viam e, quando se viam, o cumprimento era formal. “Como tem passado?”

Dona Helena era em tudo formal, exceto num ponto: usava saias curtíssimas.

Dentro do carro, preso pelo cinto de segurança, Justino sentia-se atado por um cinto de castidade. Passava o tempo olhando disfarçadamente para as pernas de Dona Helena. Imaginava que, se ela percebesse os olhares, haveria problemas. Dona Helena era casada com um juiz tão sisudo quanto ela e defendia o matrimônio feito uma leoa defendendo as crias.

Mas um dia a coisa saiu do controle. Era uma sexta de inverno, fazia um frio cinza e, mesmo assim, Dona Helena apareceu de vestido curto e sem meias. Sem meias! Quando Justino se acomodou no banco do carona, viu que ela puxara o vestido para o extremo norte. Suas coxas fortes e lisas estavam nuas. Por Deus: nuas.

Um concerto para piano de Beethoven se evolava pelo ar do carro e envolvia Justino, quase que lhe fazendo levitar. Dona Helena dirigia olhando para frente. Justino aproveitou para fincar os olhos nas coxas dela e de lá não os tirar mais. Que coxas lindas.

E então Justino pensou que o que mais queria na vida, mais do que fortuna e fama, era tocar naquelas coxas. E foi estendendo a mão como se ela tivesse vontade própria e foi estendendo e estendendo e Beethoven foi enchendo-lhe a alma e as coxas dela também e Justino sentiu o peito tomado de coxas e Beethoven e esticou o braço e empalmou aquelas coxas.

A sensação da pele macia de Dona Helena foi como uma picada de serpente. Justino sentiu um prazer dolorido e retesou-se todo. Dona Helena, não. Dona Helena continuou impávida, olhando para frente. Justino ficou alisando avidamente as coxas. Alisou com sofreguidão, com angústia, com lágrimas nos olhos, até chegarem ao trabalho. Então, ela estacionou como sempre, despediu-se como sempre e, como sempre, se separaram sem palavra.

Justino não conseguiu trabalhar. Pensava na volta. O que aconteceria na volta? Pois o que aconteceu na volta foi exatamente o mesmo que aconteceu na ida. A música erudita no som do carro e as mãos de Justino nas coxas. Na garagem, a despedida fria. Justino passou a noite em claro e decidiu que, na manhã seguinte, tentaria falar algo com ela. Ainda fazia frio, e ela ainda usava saia curta. Rachmaninoff explodiu no som e ele:

– Dona Helen...

Antes de concluir, ela lhe cravou um olhar de fúria tão ameaçador e tão eloquente que Justino se calou. Não falou mais. Nunca mais. Foram anos de caronas mudas ao som dos grandes mestres, e Justino acariciando as coxas de Dona Helena. As mais belas coxas que ele havia visto na vida.

O QUE LER

O subtítulo de Deuses, Túmulos e Sábios, de C.W. Ceram, é “o romance da arqueologia”. E é mesmo. Quando você lê Deuses, Túmulos e Sábios sente-se tomado pela impressão de ter nas mãos um livro de ficção. De aventura. Mas não foi só com seu texto elegante que o autor conseguiu passar tal sensação. Foi também com seu entusiasmo pelo tema.

C.W. Ceram era um jornalista alemão que amava a arqueologia. Na verdade, ele se chamava Kurt Wilhelm Marek, mas preferia assinar seus livros com um pseudônimo porque, durante a Segunda Guerra, trabalhou para o regime nazista. Deu certo.

Deuses, Túmulos e Sábios vendeu mais de 5 milhões de exemplares e foi traduzido para dezenas de línguas. Neste livro, você vai conhecer mais profundamente alguns dos grandes heróis da ciência, três em especial, os três maiores arqueólogos do mundo: Carter, Champollion e Schliemann. Conheça-os, e descubra por que, graças a eles, você hoje sabe mais sobre si mesmo.

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