29
de julho de 2012 | N° 17145 VERISSIMO
As
aventuras da família Brasil
Livro
Concordo,
o livro está caro, mas o cinema também está, e a gasolina mais ainda. É cada
vez mais econômico não sair de casa. E o livro leva nítida vantagem sobre todas
as outras formas de divertimento caseiro. É melhor do que TV. É melhor do que
conversar com a família. Você já sabe o que vai encontrar na TV.
Também
já sabe o que a família tem para dizer. Mas cada livro novo tem coisas novas
para contar. É como um desconhecido que entra em sua casa cheio de novidades e
de histórias. E você não precisa lhe oferecer nada. Um uisquezinho, uns
salgadinhos... Nada.
Vou
exagerar: livro é melhor do que sexo. Você pode tomar o uísque antes, depois e
durante a leitura. Livro nunca pede para apagar a luz – pelo contrário, exige
que ela fique acesa. Quando você termina a leitura o livro não pergunta: “Foi
bom para você?”. Livro nunca está com dor de cabeça.
Ler é
melhor do que ouvir música. Ouvir música é uma coisa passiva. Na leitura você participa.
Segura o livro. Vira a página. Se preferir, pode molhar a ponta dos dedos para
melhorar a aderência. Ao contrário da música, você pode, se quiser, começar a
ler de trás para diante. Pode fazer anotações nas margens. Pode acariciar,
cheirar, manipular o livro. Pode até mastigá-lo, por que não?
Ler é
melhor do que jogar carta. Livro não tem parceria nem adversário. Ler é melhor
do que montar estante, trocar lâmpada ou qualquer outro afazer doméstico. Não há
possibilidade de acidentes com livro, a não ser cortar o dedo na borda do
papel, o que arde mas não mata.
A
superioridade do livro sobre a TV é indiscutível. Livro não tem comerciais. Você
lê o livro que quer sem precisar impor sua vontade e disputar o controle remoto
com o resto da família a tapas. E de madrugada, quando o livro está ficando bom,
não entra um filme que você já viu 10 vezes.
E
livro é muito melhor do que cinema. Você escolhe a melhor poltrona para sentar
com seu livro sabendo que não haverá uma mulher atrás de você pedindo ao marido
para explicar o enredo. E que não há a menor possibilidade de saltar um
personagem armado do livro na sua frente e começar a disparar na sua direção.
Milionários
Lá pelos
anos 50 apareceu na Colômbia um clube de futebol chamado Milionários. Não se
sabia bem se os milionários do nome eram os donos do clube ou seus atletas,
pois começaram a contratar jogadores com altos salários de toda a America
Latina. Se não me engano, até o Heleno andou por lá.
A
expressão ainda não existia, mas talvez tenha sido a primeira vez que se
pretendeu fazer um dream team no futebol. Os contratados eram todos grandes
jogadores, com uma característica em comum: estavam todos em fim de carreira,
fazendo o último contrato de suas vidas, num time que se interessava mais pelos
seus nomes do que suas idades ou condições físicas. Como costuma acontecer com
os dream teams, o Milionários não deu certo.
Se
ainda existe, não tem a mesma ambição de antes. Pensei nele porque não sei se a
vinda de jogadores como Seedorf, Zé Roberto e Forlán repete o espírito do
Milionários, de apostas em nomes e passados e não na realidade, ou significa
que o Brasil mudou mesmo e virou importador de grandes jogadores. A torcida é que
os contratados mostrem que ainda têm as pernas que os consagraram.
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