15
de julho de 2012 | N° 17131
MARTHA
MEDEIROS
O encurtamento das durações
Quanto
tempo leva para superar a dor da perda? Quanto tempo para digerir uma rejeição?
Absorver que um sonho terminou? Esquecer uma frustração? Uma mágoa de infância?
Um trauma? Uma demissão? Os psicanalistas provavelmente responderão que é preciso
respeitar o ritmo de cada um. Há quem seja rápido na retomada da vida, e há os
mais lentos, que necessitam de um acompanhamento mais intensivo. Não há como
decretar: dois dias, dois meses, dois anos.
Só que
a maioria da população não procura psicanalistas. Não têm dinheiro pra isso, e
muito menos disponibilidade. As pessoas não podem parar no meio do dia para se
consultar, pois trabalham insanamente, e tampouco possuem tempo para, segundo
elas, desperdiçar. Sabe-se que análises são demoradas, que buscam e rebuscam
nossa intimidade, que não é num estalar de dedos que se atenuam as dores
internas. E qualquer coisa que demore, hoje em dia: não, obrigada.
Que
inquietação.
O
passado e o futuro são dois períodos que já não interessam: cultua-se o
presente como nunca antes. O que vale é este momento, agora, o instante vivido.
Tudo digitalizado, virtual, instantâneo. Quem ainda espera dias por uma
resposta? Meses por uma solução?
Na
vida burocrática, governamental, a demora ainda é praxe e se vale da morosidade
para arrecadar mais e mais dinheiro, mas no plano pessoal, encurtaram-se as
durações. Vive-se tudo de forma mais compacta, o começo e o fim mais próximos
do que jamais foram. E acabamos impregnados dessa urgência, dessa vontade de
resolver todas as tranqueiras com a maior agilidade possível.
Porém,
há tranqueiras e tranqueiras.
Você
consegue resolver pendências profissionais de imediato, consegue tomar decisões
práticas sem se alongar: parabéns. Salve a produtividade. Mas não foram essas
as questões levantadas no início desse texto. Falávamos de tristezas, de
cicatrizar feridas, de aceitar o destino que nos coube, de assimilar mudanças.
Sentimentos
não são regidos por megabytes por segundo, não se vinculam a relógios, não
obedecem a leis objetivas – é o curso da natureza que manda. E a natureza é surda
e cega para o desatino. Exige a introspecção devida, sem a qual nada se
resolve, só se mascara.
Diante
da dor emocional, só há uma ordem a respeitar: paciência. De nada adianta
inventar alegrias fajutas e se oferecer para a cobiça do mundo sem antes estar
com a alma serenada e forte. É preciso saber esperar, do contrário a gente se
atrapalha e só reforça a miséria existencial que preenche as madrugadas.
Basta
de tanta gente evitando pensar, evitando chorar, evitando olhar para dentro de
si mesmo, sorrindo de um jeito tão triste que só faz demorar ainda mais o
reencontro com o sorriso verdadeiro – aquele aguardando a hora certa de voltar.
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