18
de julho de 2012 | N° 17134
DIANA
CORSO
Os inúteis
Há aqueles
que dedicam grande energia a cultivar seu horror à política, seu discurso
enojado costuma encontrar eco nas mais variadas rodas de conversa. Recentemente,
esses cidadãos queixosos têm encontrado na divulgação dos salários dos funcionários
públicos muita brasa para seu assado.
Vejo
uma espécie de voyeurismo, certa excitação até, ao referirem-se a essa
personagem: o servidor público inútil e fartamente remunerado, assim como aos
que recebem injustamente obscuras e nababescas pensões. Há, de fato, tristes
distorções no salários, além de históricos maus-tratos, entre os quais os
trabalhadores públicos da educação são sem dúvida as maiores vítimas.
O
fascínio com os aproveitadores do erário público tem aumentado e merece nosso
olhar. Principalmente, porque vem acompanhado de outro discurso, mesmo uma prática,
que é almejar um cargo público para “ganhar muito e trabalhar pouco”. Entre os
críticos, é comum a observação: “Isso eu queria para mim!”, como se o problema
não fosse a corrupção, mas sim o fato de que não estamos sendo beneficiados por
ela!
Esses
funcionários ocupam o lugar simbólico daquele que, entre os irmãos, recebe mais
cuidados e presentes. Pode ocorrer nas famílias que algum dos filhos seja o “estragado”,
a quem os pais não fazem exigências, encobrem seus fracassos e transgressões,
concedem todo tipo de favores. Não raro, esse tratamento produz toxicômanos,
desajustados ou filhos eternos. Apesar disso, aos que não foram distinguidos
com essa triste sina resta um sentimento de injustiça: por que tanto é dado ao
pródigo? Não há reconhecimento por méritos e esforços?
Puxa-sacos,
safados e mafiosos dedicam a vida a uma obra que nada tem a ver com trabalho,
atenção ao outro, construção de conhecimento ou qualquer realização. São como
esses filhos atrofiados: vivem para cultivar relações escusas, fazer pactos de
mediocridade. Um filho que nunca cresce entristece seus pais, mas jamais os
abandona, nunca se sentirão descartáveis. A felicidade é ver os filhos tornarem-se
capazes, mas o contrário, o filho dependente, é um destino tragicamente comum.
No
fundo, gostaríamos de não ter que lutar tanto na vida, de não precisar ficar
provando nossas capacidades em troca de parco retorno. Esquecemos que, assim
como os filhos inúteis, os funcionários corruptos têm que conviver com essa
triste versão de si mesmos. Nunca conhecerão o prazer da realização, da
conquista, da superação. Antes mesmo de serem denunciados, já são condenados ao
pântano da mediocridade, à pobreza de espírito. É apenas uma outra forma, ainda
que invejada, de fracasso.
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