quarta-feira, 31 de julho de 2013


31 de julho de 2013 | N° 17508
VOO BAIXO

TAM projeta cortar até mil funcionários

A companhia aérea TAM – parte da Latam, grupo que tem a chilena LAN como sócia majoritária – anunciou ontem um plano para cortar até mil funcionários. A decisão é reflexo direto dos sucessivos prejuízos e da redução da oferta de voos da empresa no país.

A ideia é adequar o número de tripulantes (comissários, copilotos e pilotos) ao tamanho atual da companhia. A exemplo de outras empresas, a TAM tem constantemente operado no vermelho – em 2012, teve perda de R$ 1,2 bilhão. Para cortar custos, reduziu a oferta de assentos e, consequentemente, de aviões voando.

Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a oferta da TAM, em junho, era 10,7% inferior à do mesmo mês de 2012. A alta do dólar também afeta as companhias aéreas. Cerca de 60% dos custos sofrem influência do câmbio, incluindo o principal deles, o querosene de aviação.

As dificuldades do setor também afetam a Gol. No ano passado, a empresa teve prejuízo ainda maior (de R$ 1,5 bilhão). Depois de comprar a Webjet e decidir eliminar a marca, a Gol demitiu 850 funcionários no fim do ano passado. O Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) conseguiu postergar temporariamente as dispensas na Justiça, mas os cortes acabaram sendo efetivados em março.

O sindicato diz que fará “jogo duro” também com a TAM. Uma nova reunião com a companhia está marcada para amanhã. Nela a empresa vai revelar, exatamente, quantos tripulantes serão demitidos. Se o número chegar a mil, o corte representará mais de 10% do total atual de funcionários da categoria.

A TAM vinha fazendo cortes em sua tripulação desde o início do ano. Conforme o sindicato, cerca de 290 funcionários foram dispensados ao longo de 2013. A companhia justificava que a decisão estaria ligada ao desempenho dos profissionais, e não a uma estratégia de redução de quadros. Mas as vagas fechadas não teriam sido repostas.

Além de tentar reduzir o número de demissões, o sindicato quer que a empresa ofereça condições especiais para funcionários que quiserem deixar a companhia.

850 demitidos sumariamente pela Gol quando comprou a Webjet. Agora mais 1000 demitidos pela TAM...Para esses o Governo Dilma deverá ser um excelente Governo, vez que as razões alegadas são alta do combustível e defasagem cambial. Já enquanto isso o Banco Itaú tem um lucro bem modesto: três e meio Bilhões de Reais no primeiro semestre...



31 de julho de 2013 | N° 17508
EDITORIAIS

O Gre-Nal e o poder público

Com todo o respeito que a Brigada Militar merece, é inaceitável a decisão de veto à presença de torcedores visitantes no Gre-Nal do próximo domingo, o primeiro a ser realizado na Arena do Grêmio. Sob o pretexto de que não tem condições de dar segurança aos torcedores do Internacional, especialmente no deslocamento para o novo estádio, o comando da BM pediu ao Ministério Público para chancelar a ideia de torcida única no clássico.

E lembrou, na sua argumentação, que a corporação retira um contingente de cerca de 700 homens do policiamento regular nas ruas para dar segurança a um evento esportivo privado.

Há, aí, duas questões distintas. A destinação de PMs para espetáculos artísticos e eventos esportivos é uma decisão do governo do Estado, que precisa ser resolvida no âmbito administrativo. Porém, quando a BM recebe ordem superior para atuar, descumpri-la significa insurreição. Além disso, o poder público existe para servir à sociedade. Não pode renunciar a essa missão. Se a Brigada não tem condições de dar segurança aos torcedores, que sejam criadas estas condições.

Os órgãos de segurança não têm o direito de se omitir. Em meio ao debate sobre o Gre-Nal, surgiu inclusive a informação de que os policiais não pretendem interferir caso irrompa algum conflito no setor denominado Geral, onde rotineiramente ocorrem brigas entre torcedores. Era só o que faltava. Onde houver conflito, a Brigada tem que interferir, como é de sua atribuição constitucional e de sua tradição.


Embora o debate contenha forte componente de passionalismo, como ocorre em qualquer discussão envolvendo a rivalidade esportiva do Estado, ainda há tempo para um diálogo sensato, que garanta não apenas a presença pacífica das duas torcidas no Gre-Nal como também a segurança de todas as pessoas que se deslocarem para o estádio no próximo domingo. O Rio Grande não pode se render ao vandalismo – e conta com a valorosa Brigada Militar para garantir a vitória da civilidade.

31 de julho de 2013 | N° 17508
ERICO VERISSIMO

Erico Verissimo de casa nova

Centro CEEE Erico Verissimo anuncia para breve inauguração de novos espaços e acervo renovado

Inaugurado em 2002, o Centro Cultural CEEE Erico Verissimo finalmente começa a cumprir sua ambição original: tornar-se um centro de referência para público e pesquisadores sobre a vida e a obra do escritor gaúcho. Entre o final de agosto e o início de setembro, cerca de 3 mil itens do autor de O Tempo e o Vento – incluindo originais, cartas e desenhos – serão disponibilizados para visitação e também para consulta pela internet.

O projeto, patrocinado pelo Grupo Gerdau e pela CEEE, combina duas coleções diferentes, que pertenciam ao doutor em Letras Flávio Loureiro Chaves e à família do jornalista e bibliófilo Mário de Almeida Lima, morto em 2003 – ambos amigos de Erico. O espólio reúne preciosidades como os originais de várias obras, incluindo trechos inéditos do livro de memórias Solo de Clarineta II e mais de mil páginas datilografadas e corrigidas à mão de O Retrato, segunda parte da trilogia O Tempo e o Vento.

– O Erico tinha um hábito de presentear amigos com originais ao terminar de escrever um livro, então esse material estava com o Flávio e a família do Mário Lima, entre outras coisas como cartas, desenhos – conta a diretora sociocultural do Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (CCCEV), Regina Ungaretti.

A exibição desse acervo recém adquirido, que ocupará o sexto andar da instituição localizada na Rua da Praia, na Capital, ameniza o vácuo deixado pelo envio de outra parte da herança literária do escritor para o Rio de Janeiro. Em 2009, originais e outros documentos sob responsabilidade da família de Erico, mantidos pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), foram remetidos para o Instituto Moreira Salles sob o argumento de que a instituição tinha à época as melhores condições de preservar o material.

A remessa foi feita sob regime de comodato com prazo de 10 anos. Agora, com o lançamento do novo espaço, a família Verissimo já admite transferir de volta os cerca de 10 mil itens do acervo localizado no Rio ao final do contrato, em 2019 – o que ampliaria ainda mais a importância do centro gaúcho.

– O material que está no Rio pode vir para o CCCEV no fim do contrato, dadas as novas condições técnicas para sua conservação por aqui – diz Luis Fernando Verissimo, que participa amanhã do talk-show Encontros com o Professor no próprio CCCEV.

No terceiro andar do prédio, haverá ainda uma exposição destinada a contextualizar a vida e a obra do escritor, com textos de apresentação de seus principais livros e espaço para crianças. A iniciativa, sob a curadoria do bibliófilo Waldemar Torres e da doutora em Teoria Literária Márcia Ivana de Lima e Silva, foi viabilizada pelo CCCEV e pela CEEE com apoio da Lei de Incentivo à Cultura (LIC).

– É importante destacar que o acervo foi digitalizado e será oferecido pela internet, com exceção dos livros, protegidos por direito autoral – afirma Alvaro Franco, diretor da empresa Backstage, responsável pela produção cultural da iniciativa.


marcelo.gonzatto@zerohora.com.br

31 de julho de 2013 | N° 17508
PAULO SANT’ANA

Outro que não me cita

Inúmeras vezes me ocupei com afinco em abordar o assunto “felicidade”.

Modéstia à parte, tive sucesso junto aos leitores.

A minha tese central era a de que os filósofos afirmam que a missão principal dos homens sobre a Terra era a busca da felicidade.

Notei então uma contradição por parte dos filósofos: se eles também afirmam que a felicidade é efêmera, como buscar uma condição efêmera?

Ao taxar a felicidade de efêmera, os filósofos dizem que ela é fugidia, temporária, provisória, ou seja, não existe.

E se ela não existe, como incentivam os homens a buscá-la?

Ora, se a felicidade não existe, o que é admitido pelos próprios filósofos, então o dever do homem na vida não é a busca da felicidade, e sim buscar ser menos infeliz, essa é a minha tese fulcral.

Interessou-se sobre meu assunto o dr. Fernando Lucchese. E resolveu me contrariar, afirmando que a felicidade existe e que é possível ser feliz.

Pegando carona no meu assunto preferido, o dr. Lucchese, que também é eminente cardiologista, resolveu escrever um livro, intitulado Não Sou Feliz! Por quê?

O autor vai autografá-lo hoje, às 19h30min, na Lojas Colombo do Shopping Iguatemi. Faz isso em homenagem a Adelino Colombo, que, quando o autor tinha nove anos, consertava numa lojinha a sua bicicleta. Como o assunto do livro me intriga profundamente, estarei lá para o lançamento.

Na nota explicativa sobre seu livro, o dr. Lucchese escreveu que “alguns” dizem que, não podendo ser felizes, cabe aos homens buscarem apenas ser menos infelizes.

O dr. Lucchese não teve a coragem ou a grandeza de escrever que não são “alguns” que dizem que resta ao homem o dever de tentar ser menos infeliz. Quem diz isso sou só eu, ninguém nunca mais disse isso assim com tal precisão e clareza.

Particularmente, para mim, o dr. Lucchese disse que escreveu o livro provocado pelas minhas colunas.

Sei lá por que motivo ele ocultou meu nome em seu livro, de vez que me confessou que escreveu o livro por causa das ideias deste colunista sobre o tema.

Ou seja, o dr. Lucchese omite meu nome, com certeza não quer me promover.

Mas agora notem a diferença entre o dr. Lucchese e mim: ele não me cita em público, embora no particular confesse que fui eu que o inspirei a escrever seu livro.

Enquanto isso, estou escrevendo uma coluna inteira sobre o dr. Lucchese e sua oposição ao meu pensamento.

Estou fazendo propaganda do livro do dr. Lucchese, enquanto ele subtrai do público que sou o centro motivacional de seu novo livro.

Mas eu já estou cansado de tanta ingratidão igual, embora esse cansaço não faça com que eu desista de ser magnânimo.

E no mínimo, com esse comportamento esquivo, o dr. Lucchese foi “infeliz”.


A julgar pela agressão absurda que sofreu o torcedor gremista apelidado de Gaúcho e por essa decisão de um Gre-Nal com uma torcida só, verdadeiro onanismo, Fábio Koff é quem tinha razão: a Arena não é do Grêmio. É da Brigada Militar.

terça-feira, 30 de julho de 2013

MIRIAN GOLDENBERG

Sedução

Por que Mr. Darcy, de "Orgulho e Preconceito", continua a fazer sucesso entre as mulheres?

Recentemente, uma jornalista me perguntou por que Mr. Darcy, do romance de Jane Austen "Orgulho e Preconceito", de 1813, continua seduzindo tantas mulheres.

Para responder à pergunta, mencionei o que as mulheres que tenho entrevistado nas minhas pesquisas falam sobre sedução.

Elas querem um homem que lute para conquistá-las passo a passo, sem pressa.

Um homem que não desista delas em função de dificuldades, preconceitos e obstáculos.

Um homem que reconheça que a mulher amada é especial, mesmo sabendo que existe um mercado matrimonial e sexual extremamente favorável para ele, com a oferta de mulheres cada vez mais jovens, mais magras e mais bonitas.

Um homem que, podendo ter "todas as mulheres do mundo", escolha uma única.

Um homem fiel que resista ao assédio de outras mulheres.

Um homem que saiba como seduzi-las com pequenos e delicados gestos de amor.

Um homem que demonstre cotidianamente que a amada é insubstituível e inesquecível.

Mr. Darcy fez tudo o que era possível para que a personagem Elizabeth Bennet acreditasse na sinceridade do seu amor.

Ele deixou de lado os próprios preconceitos e os estereótipos da sociedade da época para lutar incansavelmente por uma mulher que não era nem tão bela nem tão rica.

Mr. Darcy fez uma bela declaração de amor a Elizabeth: "Em vão tenho lutado comigo mesmo, mas nada consegui. Meus sentimentos não podem ser reprimidos: preciso que me permita dizer-lhe que eu a admiro e amo ardentemente".

Mesmo as mulheres mais independentes e bem-sucedidas desejam a prova constante de que são especiais para o homem amado.

Em uma cultura em que as mulheres se sentem invisíveis em meio à desesperada competição feminina por um marido, ou pelo "capital marital", elas também querem um homem que as admire e as ame ardentemente.

Uma professora de 33 anos disse: "Quero um homem para chamar de meu, que demonstre que me ama e me deseja exatamente do jeito que sou, sem querer me mudar. Quero romance, elogios e beijos na boca todos os dias, não apenas no Dia dos Namorados. É pedir muito?"


miriangoldenberg@uol.com.br
JOÃO PEREIRA COUTINHO

Os falsários

Nós não queremos apenas que as nossas vidas sejam felizes. Queremos que essas vidas sejam autênticas

Memórias falsas. Eis a nova descoberta científica publicada em revista da especialidade. Segundo a "Science", pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology conseguiram implantar memórias falsas no cérebro de ratinhos. Já tinham cometido uma outra proeza no passado: apagar certas memórias. Agora, o desafio foi implantá-las. Conseguiram.

Ainda estamos longe do Santo Graal: apagar más memórias e, se possível, conferir a cada ser humano um passado glorioso. Mas o futuro, tal como o passado, promete. Ou não promete?

Robert Nozick (1938-2002), um dos grandes filósofos do nosso tempo, achava que não. No seu magistral "Anarchy, State, and Utopia", Nozick pedia-nos para imaginar a seguinte situação: existe uma máquina do prazer a que os seres humanos se podem ligar. E, por esse simples processo, ter prazer a vida inteira. Quem daria o primeiro passo?

Poucos. Existe algo de incômodo na ideia de uma felicidade eterna, porém falsa. E esse incômodo tem nome: verdade. Ou, para usar uma palavra cara aos românticos, "autenticidade".

Nós não queremos apenas que as nossas vidas sejam felizes. Queremos que essas vidas sejam autênticas e que a nossa felicidade seja o resultado de experiências, méritos ou virtudes reais.

Se tudo fosse resumido a critérios de prazer e desprazer, ninguém hesitaria em ligar-se à máquina de Nozick. E, no entanto, a maioria hesita. Não conheço crítica mais devastadora ao utilitarismo nos tempos modernos. Seguindo o cálculo hedônico, o que interessa é proporcionar a maior felicidade ao maior número?

Não necessariamente, afirmava Nozick. Se a felicidade humana não é humana, ela perde qualquer valor para nós. E o que é válido para a felicidade é válido para a infelicidade. Até porque a segunda é condição para haver a primeira.

Ironicamente, uma máquina de prazer permanente deixaria até de proporcionar prazer. Porque deixaria de haver contraste com as restantes iniquidades da existência: habitaríamos apenas um estado de normalidade entediante em que nada seria importante porque nada seria valorizado em si mesmo.

Sabemos o que é a felicidade porque sabemos o que é a infelicidade. E também porque aprendemos algo com as nossas infelicidades.

"Aprender" é o verbo: implantar memórias falsas já seria uma aberração ética. Mas apagar as más é mais que isso: é uma aberração epistemológica.

Sofremos como cães pelos erros que cometemos. Escolhas profissionais lamentáveis; amores cultivados e frustrados; atitudes egoístas, covardes, impensadas --quem atira a primeira pedra?

Mas sofremos e, com sorte, aprendemos. E existe algo de libertador (e de redentor) quando seguimos em frente e somos capazes de reconhecer os mesmos dilemas, as mesmas tentações, os mesmos traços de caráter --em nós e nos outros. E, claro, as mesmas consequências prováveis de certos atos e omissões.

É então que o passado, e sobretudo o insuportável passado, se torna nosso tutor privado: ao segredar-nos o que devemos evitar e abraçar com conhecimento de causa.

Todos precisamos de más memórias para evitar cometer os mesmos erros. Apagar essas memórias seria uma forma de nos condenarmos a sofrimentos perpétuos. E a apagamentos perpétuos. E a sofrimentos perpétuos. E a apagamentos perpétuos.

Talvez eu esteja sendo injusto. Talvez o objetivo das recentes descobertas seja outro: aliviar o sofrimento de soldados em situações de combate, por exemplo, apagando experiências traumáticas e colocando tardes de verão onde antes havia destruição e morte.

Sem falar de vítimas de crimes ou acidentes para quem um "reset" mental seria uma benesse. Sobre esses casos extremos, manda a prudência que nada diga.

Mas será preciso lembrar como as sociedades contemporâneas foram medicalizando os mais básicos sentimentos humanos --o medo, a ansiedade, a angústia-- procurando uma resposta química e imediata para eles?

Se hoje declaramos guerra às tristezas presentes, por que não declarar outra contra as tristezas passadas?


Quase todos recusamos a máquina de prazer de Nozick. Mas às vezes pergunto se o fazemos mesmo por questões de princípio --ou pela razão mais prosaica de que essa máquina não existe ainda.

CAROLIN OVERHOFF FERREIRA - COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

'Entre Nebulosas e Girassóis' tem cenário restritivo e cenas rasas sobre a felicidade

"Entre Nebulosas e Girassóis", drama de Rafael Neumayr, se propõe a interrogar a diferença entre um romance imaginado e sua negação no mundo real. Porém a montagem (direção, figurino e trilha de Cynthia Paulino) esbarra no cenário (Alessandro Aued) como primeiro obstáculo.

Um palco quadrado, dividido em dois triângulos por uma cavidade com água, tem flores coloridas de um lado e uma poltrona com flores mortas do outro. Em vez de estabelecer uma tensão entre realidade e fantasia, a cenografia concebe, assim, um mundo uniforme que lembra o de um conto de fadas.

Não falta apenas a realidade como referência. A concentração espacial restringe demais a atuação.

Quase sempre sentado, um homem velho (Luiz Arthur) conta sua história: quando rapaz, ia a um café para idolatrar uma jovem que não tinha coragem de abordar.

Do outro lado, a garota (Julia Marques) contracena com o alter ego imaginário (Rafael Neumayr) em um namoro idealizado.

Embora o jovem dependa da fantasia de seu criador, a interpretação inexpressiva de Neumayr não se explica por ele ser fictício. Marques trabalha com mais nuances, sobretudo quando seu personagem se revolta contra o papel de criatura e revela seus sentimentos recíprocos.

A atualização do mito de Pigmalião, ao demonstrar crescente falta de credibilidade na oposição entre imaginação e realidade, resulta pouco dramática.

Com cenas rasas sobre a felicidade sonhada, não traça um contraste crível que possa colapsar depois. A montagem da peça ficou aquém das intenções artísticas.

ENTRE NEBULOSAS E GIRASSÓIS
QUANDO hoje, às 20h (último dia)
ONDE Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245; tel. 3234-3000)
QUANTO de R$ 2,50 a R$ 10
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO regular

30 de julho de 2013 | N° 17507
EDITORIAIS

Atraso injustificável

A confirmação de que muitas obras em andamento na Capital relacionadas à Copa não serão mais concluídas antes da realização dos jogos expõe mais uma vez a dificuldade do poder público de lidar com planejamento e de a burocracia estatal atender a um aumento da demanda.

Quando nem mesmo uma oportunidade rara como a oferecida pelo Mundial consegue ser bem aproveitada para alavancar investimentos há muito tempo aguardados pelos contribuintes, é importante que a máquina administrativa reflita seriamente sobre onde estão os erros e o que pode ser feito para eliminá-los.

E é preciso haver garantia de que o novo cronograma, com período de conclusão para depois de 2014, venha a ser efetivamente cumprido.

Entre as iniciativas que devem ficar para depois, estão duas na esfera federal: a ampliação do terminal de passageiros e da pista do aeroporto Salgado Filho. No caso do município, preocupa o elevado número de obras deixadas para depois, com a decisão de concentrar o foco no entorno do Beira-Rio.

E isso mesmo com a decisão da prefeitura de Porto Alegre de retirar obras da Matriz de Responsabilidade para a Copa, transferindo-as para o âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), evitando com isso perder recursos públicos. Entre os atrasos, um dos mais preocupantes é o do Sistema de Ônibus Rápidos (BRT), de interesse geral, cujas obras constituem um suplício para quem trafega pela Capital.


Mais uma vez, a admissão de que será impossível cumprir o organograma, mesmo com a pressão imposta por um evento internacional, expõe a dificuldade da máquina pública de cumprir suas finalidades básicas. Por isso, não basta a comunidade exigir o cumprimento dos prazos revistos. Precisa se dispor também a cobrar mais eficiência da burocracia daqui para a frente.

30 de julho de 2013 | N° 17507
LUÍS AUGUSTO FISCHER

Alegria triste

Dez anos faz que faleceu Vera Karam. Putz, 10 anos. Quando lembro dela, a primeira coisa que me vem à mente é trivial: ela me chamava de “L A”, éle-á. Era uma piada interna, de 20 anos atrás, ou mais. Era também uma rima para o modo como ela era chamada, e se apresentava, “Vera K”, eco da Christiane F, ou do Caio F. Nunca fomos amigos de conviver muito, mas tínhamos uma intensa simpatia e cruzamos uma porção de vezes pela cidade, com amigos compartilhados. Antes de tudo, ela era irmã de um amigo do peito, o Sérgio.

A Vera sofreu bastante, acho que um pouco mais que a média, e no fim passou péssimos bocados, porque a saúde falhou e acabou mesmo, cedo demais. Mas não é exatamente esse sofrimento acumulado que aparece em sua obra reunida, que o Instituto Estadual do Livro acaba de editar, cumprindo um de seus mais importantes papéis – o de dar a conhecer e divulgar gente que merece ser lida mas que não encontra lugar em catálogos direcionados ao imediato, como costuma ser o caso de editoras comerciais. Uma dúzia de textos para teatro, de duração variável, mais 11 contos, tudo antecedido de um prefácio de Airton Tomazzoni.

Se não aparece o sofrimento direto, o que é que a Vera escrita tem? Tem agilidade, ótimas cenas, diálogos fluentes (imagino que ela se daria muito bem na atual conjuntura, em que muita dramaturgia está sendo demandada pela nova e bem-vinda legislação que requer presença de produção nacional nos canais a cabo), momentos de verve, em conjuntos cênicos exemplares, mesmo nos contos, que têm vocação para a representação, também.

Algumas das cenas têm como protagonistas figuras de teatro – por exemplo, uma atriz prestes a entrar em cena e aflita por não saber se vai haver plateia, ou se a plateia vai rir na hora certa –, enquanto outras acompanham encontros casuais, desses que a vida arma – uma pendenga de família, um homem atendido por uma florista eventual, uma mulher e um homem que dialogam na entrada de um teatro. A Vera tinha o decisivo faro para o dramático existente ali onde a gente não vê nada.


E tem o patético, caso exemplar do monólogo Maldito Coração (me alegra que tu sofras), com nome de bolero, brega como convém. Talvez seja o texto mais bem realizado da Vera, no sentido do título desta lembrança: o troço começa pela brincadeira trivial, puxando para o deboche, e quando a gente menos espera lá está um núcleo de tristeza irremovível, véspera de um desespero quieto. Vera, Vera, sua patife: a tua cara essa brincadeira. Saudade.

30 de julho de 2013 | N° 17507
PAULO SANT’ANA

Ainda o leite envenenado

Leio que o preço do leite aumentou para todos nós depois que flagraram alguns distribuidores adicionando formol ao produto.

Então agora ficamos sabendo que o preço do leite envenenado era mais barato para nós.

Vejam a sinuca em que nos metemos: ou pagamos mais caro para o novo leite, teoricamente puro, ou pagamos mais barato pelo leite antigo e envenenado?

Resta saber se o leite antigo era envenenado por ser mais barato ou se era mais barato porque era envenenado. E às vezes eu desconfio que prefiro leite envenenado mais barato a leite puro com preço aumentado.

E qual foi a sorte daqueles patifes que envenenavam o leite e lucravam fortunas com o envenenamento?Devem estar impunes e podem ter-se corrigido. Neste caso, agora estão lucrando mais com o novo leite teoricamente genuíno.

Ou seja, na hipótese anterior, os patifes lucravam adicionando formol ao leite envenenado, mas agora passaram a lucrar com o novo leite de preço aumentado. Em todas as hipóteses, ferra-se o consumidor, já repararam?

E locupletam-se os fornecedores e distribuidores.

Esses dias vi uma pessoa num bar do Centro perguntar ao atendente: “O senhor não poderia me servir uma taça de café com leite antigo, confesso-lhe que estou com saudade do formol”.

E quem necessitar comprar formol numa farmácia não corre o risco do produto estar misturado com leite? Alguém disse que no fim de toda aquela novela da falsificação do leite quem iria ser considerada culpada era a vaca.

Sempre pensei que a vaca, coitada, só produz leite na suposição de que seu produto vá alimentar o seu terneiro e não os humanos.

Por sinal, depois que o leite brota da teta da vaca, vejo agora que só o terneiro não corre risco de tomar leite misturado com formol. Depois que o leite é apoderado pelo estancieiro, desde a fazenda, passando pela usina de tratamento e sendo transportado por caminhões, o leite contém o risco de ser falsificado.

Só quem não corre risco, repito, portanto, é o terneiro, que, ao apojar na teta da vaca o leite que o sustenta, tem o privilégio único e exclusivo de beber leite puro, genuíno, sem contato com a mão humana, que sempre carrega o potencial da fraude.

Se não fosse pela possibilidade quase certa de ser no futuro eliminado num matadouro, eu preferiria ter nascido terneiro. Beberia leite sem formol, quentinho, saído diretamente da teta da vaca, privilégio também exercido pelos bebês que mamam nas mamicas de suas mães leite puro, sem que tenham de suportar o amargo aumento de preço do produto que sofremos atualmente nós, os consumidores em geral.


O corre-me também agora que eu nunca deveria ter deixado de ser bebê. Vida mansa. Porque depois que me lancei à infância, à maturidade e à velhice, só arranjei complicações.

30 de julho de 2013 | N° 17507
FABRÍCIO CARPINEJAR

O impossível é o sobrenome do medo

Perdemos mais tempo arrumando desculpas do que vivendo.

Perdemos mais tempo adiando do que aceitando a dificuldade.

Perdemos mais tempo explicando a desistência do que enfrentando o sim.

Eu garanto que a fuga dá mais trabalho do que se encontrar. Porque estaremos longe, mas com saudade. Porque estaremos protegidos, mas vazios. Porque estaremos aliviados, mas entediados.

A vida é simples, milagrosamente simples.

A esperança é firmeza. Consiste em seguir adiante mesmo com pânico, mesmo com receio.

Não há como acalmar o coração senão vivendo.

Parece que nunca conseguiremos fazer, mas vamos fazer, acredite, toda a vida foi feita de sustos bons.

Somente tememos o que é importante. Somente temos dúvidas do que é essencial. Somente entramos em crise por enxergar com clareza a dimensão de nossa escolha.

Os riscos valorizam a recompensa.

Viver não é para solitários. Sempre tem alguém nos chamando para nos acompanhar no perigo.

Eu pensei que nunca percorreria o corredor de minha infância caminhando, mas o vô me esperava do outro lado. Eu caí e ele me levantou com suas mãos de regente.

Eu pensei que nunca me manteria equilibrado numa bicicleta, mas meu pai fingiu que segurava a minha garupa e pedalei de olhos fechados com o vento me guiando.

Eu pensei que nunca aprenderia a ler e a escrever, mas a letra da minha mãe foi a escada para as histórias.

Eu pensei que nunca teria uma namorada, mas o beijo veio distraído no recreio da segunda série.

Eu pensei que nunca conseguiria nadar, mas os braços foram se revezando até atravessar a piscina. Eu pensei que nunca passaria no vestibular, mas sacrifiquei noites e pesadelos para um lugar na faculdade.

Eu pensei que nunca teria filhos, eu pensei que nunca dividiria a casa com alguém, eu pensei que nunca seria dependente do olhar de uma mulher, eu pensei que nunca teria dinheiro, eu pensei que nunca seria feliz.

Eu pensei, mas fui fazendo. Fazendo. Fazendo. O impossível é apenas o sobrenome do medo.


Você acha que somos impossíveis, mas é do impossível que o amor gosta. O impossível é inesquecível. O impossível é o possível repartido. O impossível é o possível a dois.
Rosane de Oliveira

"Para comemorar e para lamentar"

Os gráficos ascendentes de evolução do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) nos últimos 20 anos devem ser motivo de celebração. Eles mostram que, como país, passamos de muito baixo a alto . Em uma escala de zero a um, o índice de desenvolvimento humano das cidades brasileiras subiu de 0,493 para 0,727, um crescimento de 47,5% de 1991 para 2010.

Lamentar o que, então? O fato de que a educação, apesar de ter a curva mais acentuada de crescimento, ainda está em 0,637, abaixo dos outros indicadores que compõem o IDHM: a longevidade (0,739) e a renda (0,816). O salto foi notável: em 1991, a educação estava em 0,279.

O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, divulgado ontem pelo Programa das Nações Unidas pelo Desenvolvimento, não reflete a evolução dos últimos dois anos. Logo, não mostra se melhorou, piorou ou se manteve estável no governo de Dilma Rousseff.

O mapa que compara o Brasil de 1991 com o de 2010 mostra, em cores, município por município, o quanto o país melhorou nesses 20 anos, o que inclui o governo tampão de Itamar Franco, os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso e os dois de Lula. Em 2000, com 0,612, o Brasil estava enquadrado na categoria “médio”.

Um ponto a lamentar é a situação do Rio Grande do Sul, que não evoluiu no mesmo ritmo do Brasil. É o sexto em desenvolvimento humano, com 0,746, atrás de Distrito Federal, São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Paraná. Perdeu uma posição no ranking – era o quinto em 1991 e em 2000 – e tem apenas uma cidade – Porto Alegre – entre as 50 melhores. São Paulo tem 28, e Santa Catarina, 11.


Quando se mergulha nos números do Rio Grande do Sul, uma constatação salta aos olhos: os piores municípios em desenvolvimento humano são, na maioria, os sem asfalto. Isolados dos grandes centros, sem escolas de qualidade e nem condições de desenvolver sua economia, não conseguem sair do lugar. Em último entre as cidades gaúchas, Dom Feliciano tem índice global de 0,587 (baixo). Em educação, a pontuação do município é de 0,390 (muito baixo), mas o lanterna é Charrua, com 0,385.

segunda-feira, 29 de julho de 2013


29 de julho de 2013 | N° 17506
ARTIGOS - Paulo Brossard*

O voto do Papa

Havia escrito artigo em que analisava as chamadas reformas para mostrar que os empreendimentos humanos sempre admitem reformas ou que outro nome recebam, dado que nunca são perfeitos; é natural que se corrija o corrigível para aperfeiçoar e não para piorar, o que é óbvio, e o que escrevi a respeito era exatamente isto, procurei mostrar que algumas medidas anunciadas como aprovadas pelo Congresso chegavam a ser ineptas, ineptas no sentido jurídico, que nada tem de ofensivo, por dizer apenas que não são aptas a corrigir um defeito ou suprir uma deficiência.

Mas acabando de ler o que o Papa proferira no Teatro Municipal do Rio endereçado a políticos e empresários ou para dirigentes como também ele disse, devo dizer que a passagem de Sua Santidade pelo Brasil, a meu juízo extraordinária, rica em termos espirituais e sem esquecer questões profanas, cada qual de maneira adequada; basta dizer que ele não deixou de enfrentar o mundo da política, talvez o mais profano, porque a um tempo agrupa todas as grandezas e misérias de que o homem é capaz e o papa Francisco, como se autodenominou, pediu a reabilitação da política.

Desde estudante até o dia em que vesti a toga de juiz, exerci atividade política inclusive partidária, ou seja, de 1945 a 1989, durante mais de 40 anos, frequentei o mundo cuja reabilitação é pedida pelo Papa; nessa longa peregrinação tive a fortuna de privar com as melhores figuras que me foi dado conhecer e outras que comporiam o polo contrário; pensei de imediato na importância da sentença de alguém como o Papa em relação a um setor da vida brasileira que deveria ser o mais qualificado da sociedade.

Seja por esta, seja por aquela razão, a verdade é que todas as opiniões têm curso nesse setor, e o mais raro é o que permanecesse na linha média, nem das excelências, nem das fraquezas, razão pela qual me parece que de ordinário é um setor malvisto e mal compreendido e, por conseguinte, também mal apreciado.

De modo que, ao ler o que dissera o papa Francisco a respeito da reabilitação da política, senti mais uma vez a marca da profundidade da observação papal ante a singeleza da palavra reabilitação. Reabilitação diz muito, mais do que parece. Desde que conheci a Raul Pilla, nele vi um homem cuja vida pública, política, funcional, profissional e pessoal formavam uma unidade. Mostrou mais de uma vez sua capacidade de transigir, de ceder, de contemporizar, mas mantendo-se sempre fiel ao norte fixado.

Ao ser promulgada a Constituição de 1946, o centro acadêmico dos universitários da então Universidade de Porto Alegre, hoje do Rio Grande do Sul, prestou uma homenagem a dois constituintes professores da universidade: um da Faculdade de Direito, Elói José da Rocha, outro da Faculdade de Medicina, Raul Pilla. No discurso que este proferiu agradecendo a homenagem, ele disse: É a política ao mesmo tempo a mais bela e a mais feia, a mais nobre e a mais desprezível das atividades humanas, tanto mais desprezível e feia nas suas deformações, quanto mais nobre e bela na sua pureza originária.

Porque, se ela se pode definir a arte do bem comum, converte-se na arte do mal supremo, quando se deixa tomar da paixão do poder e esquece os seus altos objetivos. Tenho para mim que a denominada classe política com ou sem razão decente, desfruta de mau conceito; é verdade que a função dos parlamentos tradicionalmente é vista com malquerença, mas hoje esta nota está agravada, o que me faz pensar que nunca foi tão oportuna a súplica papal quanto à reabilitação da política.

É um trabalho a ser feito, à maneira de Tácito, sine ira et studio.

*MINISTRO APOSENTADO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL



29 de julho de 2013 | N° 17506
EDITORIAIS

"SEJAM PROTAGONISTAS"

Nos últimos dois dias de sua visita ao Brasil, o papa Francisco reiterou a sua principal mensagem aos participantes da Jornada Mundial da Juventude e aos jovens de todo o mundo. Sejam protagonistas!, disse o líder espiritual dos católicos diante de uma plateia estimada em 3 milhões de pessoas na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, e de uma audiência incalculável em todo o planeta. Protagonistas, explicou o Pontífice, para construir um novo mundo, com entusiasmo, alegria e criatividade.

A mensagem serve para católicos e não católicos e tem especial valor para os brasileiros, que já vêm saindo às ruas nas últimas semanas para questionar valores deturpados pela ganância econômica e pelos interesses políticos. “Façam barulho!”, incentivou o Papa, convicto de que está pregando uma revolução do bem e de que é possível direcionar a imensa energia da juventude para a construção de uma sociedade mais humana e mais justa.

Ainda que aos mais céticos possa parecer uma utopia, a própria versão brasileira da JMJ chancela a esperança de que a juventude da comunicação plena possa mesmo edificar uma sociedade do diálogo e da solidariedade.

Durante uma semana, sob mau tempo, milhares de jovens de várias nacionalidades conviveram pacificamente no Rio, desfilando com suas bandeiras e suas mensagens de paz e participando ativamente do grande evento que será repetido em 2016, na cidade polonesa de Cracóvia, segundo anúncio feito ontem pelo Sumo Pontífice – uma homenagem ao papa João Paulo II, em processo de canonização.

A edição brasileira não teve uma organização primorosa. Há registros de gastos exagerados, de falhas de transporte e comunicação e até mesmo de alguns incidentes desagradáveis, como roubos, furtos e conflitos com manifestantes. Mas, considerando-se a dimensão do evento, até que o Brasil se saiu bem, garantindo segurança plena às autoridades e proporcionando uma acolhida digna aos peregrinos de todas as nacionalidades.


Agora, resta esperar que os brasileiros recolham os ensinamentos desta grande manifestação popular para aperfeiçoar ainda mais a nossa hospitalidade, com vistas a outros eventos internacionais que o país receberá nos próximos anos. Da mesma maneira, também é desejável que autoridades públicas e líderes de todos os segmentos da sociedade passem a considerar a voz dos jovens, abrindo-lhes espaço e oportunidades para que sejam efetivamente protagonistas da própria história.

29 de julho de 2013 | N° 17506
PAULO SANT’ANA

As marcas de Cristo

Cerca de 40 países reclamavam que Cristo tinha nascido em seu território.

A revista Time, com a finalidade de esclarecer definitivamente o assunto, promoveu um concurso entre os reclamantes.

Os 40 países tinham de informar à revista quais eram os seus argumentos para basear a sua pretensão.

Feito o escrutínio, dois países se classificaram como finalistas: Israel e Costa Rica.

Os três argumentos de Israel eram demolidores.

Primeiro argumento: Cristo era judeu porque trabalhou e morou com os pais até os 30 anos.

Segundo argumento: a mãe de Cristo considerava seu filho um Deus. Toda mãe judia considera seu filho um Deus.

Terceiro argumento: Cristo considerava sua mãe virgem. Todo judeu considera que sua mãe é virgem.

Os julgadores da revista ficaram impressionados com os argumentos de Israel, mas deram a vitória final à Costa Rica.

Por causa do argumento costarriquenho de que na Costa Rica toda pessoa masculina se chama Jesus.

Na verdade, o papa Francisco não é carismático. Ele é simpático, simpaticíssimo.

O carisma empolga, entusiasma, estremece, não é o caso de Francisco.

O que ele causa nas pessoas é encanto. E o Rio de Janeiro e o Brasil ficaram encantados com Francisco, nunca viram um argentino tão simpático.

Deus reserve para Francisco um extraordinário pontificado.

Mudando para o futebol, o Grêmio mostrou ontem que ainda não tem a cara de Renato, a fisionomia da equipe mostra ainda traços de Luxemburgo.

Mas Renato teve pouco tempo até agora, em breve tenho a certeza de que imprimirá sua marca no time.

Mas foi uma vitória animadora sobre o Fluminense, embora não tivesse jogado Fred.

Além disso, pode-se considerar empolgante a estreia de Riveros, não só marcando um gol decisivo como também na contribuição preciosa que veio dar à meia-cancha gremista.

A tarde de ontem foi de sucesso estrepitoso para a torcida gremista, não só pela vitória na Arena como também porque a secção secadora da massa tricolor foi ao delírio com a derrota com goleada do Internacional para o lanterna Náutico. Não é em todas as rodadas que uma torcida se toma da felicidade que envolveu os gremistas.

É um sonho, mas se o Grêmio transpuser o Rubicão do Corinthians em São Paulo no meio da semana, o Gre-Nal do próximo domingo pode ser a porta do Éden para Renato.

Vejam como é o futebol. O Inter, antes de ontem, ostentava uma liderança entusiasmante no campeonato. Aí foi para Recife com tanto otimismo que se dizia que queria até poupar jogadores.

Agora temos dois Internacional no campeonato, o de ontem, catastrófico, e o de antes de ontem, espetacular.


Sou contra o sistema de pontos corridos, mas confesso que, para gremistas e colorados, essa fórmula, adaptada à realidade atual do certame, é de notável sabor e delícia.

29 de julho de 2013 | N° 17506
L.F. VERISSIMO

O poder do papa

Os papas já tiveram o poder de reis. A história da Europa é, em grande parte, a história desta divisão de poder e da luta entre os dois absolutismos, o dos papas e o dos monarcas.

O Geoffrey Barraclough (historiador favorito do Paulo Francis quando este ainda era de esquerda e escrevia no “Pasquim”) tinha uma tese segundo a qual a rivalidade de Roma com os reis explicava a superioridade da Europa sobre as sociedades orientais, que já eram civilizadas quando a Europa ainda era terra de bárbaros, mas governadas por dinastias antigas, rígidas e incontestadas, e por isso paradas no tempo.

Na Europa, quem não quisesse se submeter a uma monarquia tinha a opção de se submeter à Igreja. A troca era de um império teocrático por outro, claro, mas criou-se o hábito de dissidência e de pensamento dialético, prólogo para o desenvolvimento científico que viria depois, apesar do obscurantismo da Igreja.

E a opção determinou que a Europa não fosse um império monolítico, e sim uma coleção de pequenos Estados. Acima de tudo, o pluralismo reforçou a independência e a importância das cidades comerciais – Milão, Palermo, Gênova, Veneza, Marselha, Barcelona, Antuérpia, Southampton, Lisboa, as cidades da Liga Hanseática (o primeiro ensaio de um mercado comum europeu) etc., – cuja competição impulsionaria as descobertas e a expansão colonial. Tudo isto porque os papas eram iguais aos reis, inclusive na pretensão de representarem a vontade de Deus na Terra, com exclusividade.

Dizem que certa vez o Stalin reagiu à notícia de que o Vaticano o teria reprovado, por alguma razão, com a pergunta desdenhosa: “E quantas divisões tem o papa?” Desde que perdeu seu poder que rivalizava com o dos reis, o papa só tem a seu dispor a Guarda Suíça, e assim mesmo para fins decorativos. Mas o Vaticano é o grande exemplo de um Estado cuja potência não se mede com armas – pelo menos não com armas convencionais.


Atualmente, a julgar pela recepção que ele teve no Brasil, o arsenal do Vaticano se resume no sorriso simpático de um homem. A Igreja não tem mais a relevância política e histórica que teve antigamente, e sacrificou muito da sua autoridade moral com posições retrógradas e escândalos financeiros e sexuais. Mas a emoção das multidões que ele mobilizou serviria como uma resposta ao Stalin.

domingo, 28 de julho de 2013

ENVIADO ESPECIAL A BELLA UNIÓN - URUGUAI

Sem médicos perto, mães da fronteira dão à luz no Uruguai

Moradoras de Barra do Quaraí, no interior gaúcho, se queixam da distância de hospital brasileiro e das filas

Município não tem maternidade e enfrenta dificuldades para atrair profissionais; registro de bebês é alvo de ação

As longas distâncias e a falta de estrutura de saúde fazem moradoras de Barra do Quaraí (RS), cidade vizinha à Bella Unión, no Uruguai, atravessarem a fronteira para dar à luz fora do país.

Só no ano passado, segundo o hospital do município uruguaio, foram sete partos de filhos de mães brasileiras do outro lado da fronteira. De acordo com a Prefeitura de Barra do Quaraí, há uma média de dez nascimentos por ano no país vizinho.

Com 4.000 habitantes, Barra do Quaraí não tem maternidade e está a 75 quilômetros do hospital brasileiro mais próximo, em Uruguaiana. O município de fronteira também enfrenta dificuldades para atrair médicos, problema comum no interior e motivo da polêmica recente entre o governo federal e a classe médica.

Com o novo programa Mais Médicos, o governo abriu a possibilidade de contratar profissionais estrangeiros em áreas com carência de médicos, sem a exigência de revalidação do diploma.

A dona de casa Fernanda Xavier, 30, teve seus dois filhos no hospital de Bella Unión. Em 2004, nasceu Vitória. Preocupada com a possibilidade de não conseguir registrar a filha no Brasil, Fernanda disse à época ao cartório que havia parido em casa, com uma parteira. Conseguiu a documentação.

Com o filho João Vitor, há um ano, a situação foi diferente: a dona de casa aguentou as dores até o último momento, de madrugada, para poder ser levada para o lado uruguaio. Se seu caso não fosse uma emergência, ela seria transferida para Uruguaiana, onde tinha receio de enfrentar lotação.

"[No Uruguai] Tinha um quarto só para mim, banheiro, televisão, caminha para o bebê. O doutor deu risada e disse: Às vezes, as mães fazem loucura'."

A unidade uruguaia conquistou boa fama entre moradores do lado brasileiro, que hoje preferem o atendimento no país vizinho.

Em maio, a vizinha de Fernanda, Lourdes Rodrigues, 17, também deu à luz o filho no lado uruguaio. "Fui lá para fazer ecografia [ultrassonografia] e o doutor disse que já estava pronto para nascer, só que eu não tinha dores. Eles atenderam muito bem."

A estrutura do hospital público de fora impressiona diante do tamanho de Bella Unión, de apenas 15 mil habitantes. O local atende diversas especialidades.

SEM CIDADANIA

Após relatos de dificuldades para registro de crianças brasileiras nascidas no Uruguai, o Ministério Público Federal foi à Justiça.

Entrou com ação em 2005 para obrigar a direção do cartório local à época a conceder a documentação completa a mães que apresentassem apenas o certificado de "nascido vivo" do hospital uruguaio. Ganhou a causa e o cartório mudou seus procedimentos.

Hoje, os registros de bebês brasileiros nascidos no Uruguai vão para o livro do cartório de Barra do Quaraí com observação que cita o direito de registro no Brasil por decisão judicial.

"Diante das dificuldades, já sugerimos à prefeitura que contratasse um obstetra para fazer parto a domicílio com assistência médica", afirma o responsável pelo cartório, João Machado.


FELIPE BÄCHTOLD
ANTONIO PRATA

Pé de cachimbo

Devo dizer que não gosto de domingos nem de cachimbos, mas sei que o errado sou eu, não eles

"Hoje é domingo, pé de cachimbo", eu cantava, quando era pequeno, e me vinha à cabeça uma árvore de madeira escura, com pencas de cachimbos pendendo das pontas dos galhos, prontos para serem colhidos e fumados. Fiquei um pouco desapontado, lá pelos dez anos, ao descobrir que o certo era "pede" cachimbo. Corrigi a música, mas o domingo, não: pra mim, ele continua sendo esse quadro pintado por Magritte e Dalí, com sua frondosa oferta de descanso e generosa sombra de melancolia.

Devo dizer que não gosto de domingos nem de cachimbos, mas sei que o errado sou eu, não eles. Queria muito ser uma pessoa que acorda cedo, que vai ao parque. Um desses caras que eu vejo do carro, pedalando pela ciclovia, a mulher ao lado e um filho atrás, em sua bicicletinha. Dá uma alegria vê-los ali, passeando pela cidade. Enquanto permanecem no meu retrovisor, parece que o mundo é justo e que cada coisa está em seu devido lugar. É mais ou menos o que sente, imagino, o sujeito que chega à varanda, ao fim de um dia de trabalho, ou afunda na poltrona, meditabundo, para fumar o seu cachimbo.

Escrevo "meditabundo" e, por um momento, quase comungo desta alegria dominical, tirando as palavras velhas do armário para tomarem sol ou pitando-as calmamente, sem tragar, só para saboreá-las. Mas, meditabundo que me encontro --é domingo--, a sombra do pé de cachimbo logo me alcança: não sou esse homem na ciclovia nem esse outro, em sua varanda, em sua poltrona, com o vento no rosto ou a fumaça na boca, displicentemente instalados no presente.

Acho que, no fundo, tenho dificuldades é com o presente. Outro dia, reparei que sempre escovo os dentes com pressa, como se estivesse atrasado para um compromisso. Que compromisso é esse? Não sei. É como se houvesse nascido atrasado, chegado ao mundo meia hora depois e a todo instante tentasse recuperar os minutos perdidos. Talvez por isso me sinta mais acolhido nos dias de semana, dedicados ao trabalho e suas promessas.

Alguma hora, ali adiante, a crônica estará pronta, o livro estará editado, o roteiro estará filmado e a concretização desses projetos, acredito, me trará sei lá que conforto, sei lá que certeza sobre mim mesmo --mas nunca traz. Por que se agoniar olhando para a direita do ponto final em vez de se contentar com o que há à esquerda? (Um dia, estarei eu à direita do ponto final e aí não haverá mais o que olhar.)

Ano passado, comprei uma bicicleta. Ao tirá-la da caixa, senti certa vergonha de mim mesmo, como um velho que sai da loja calçando All Stars vermelhos: aquilo não era eu, nem poderia mudar-me. Por meses a bicicleta se tornou só mais uma pequena emissora de ansiedade --preciso usar essa bicicleta, preciso usar essa bicicleta, preciso...--, depois seus pneus murcharam e eu soube que já não era por ela que eu escovava os dentes com pressa.

Talvez eu devesse comprar é um cachimbo. Nem que fosse para enterrá-lo no jardim, regá-lo todo dia e ficar na varanda, olhando pra grama e esperando, num exercício zen, em busca da paz interior. É isso: preciso comprar um cachimbo, preciso comprar um cachimbo, preciso.


@antonioprata
ELIO GASPARI

Cabral precisa descobrir o Brasil

Governador do Rio atrai protestos porque espalha lorotas e explica-se insul-tando a inteligência alheia

Sérgio Cabral foi reconduzido ao governo do Rio em 2010 com os votos de dois terços do eleitorado. Uma vitória para ninguém botar defeito. Em menos de três anos tornou-se um governador detestado. Talvez seja exagero acreditar que é o pior entre seus pares, mas pode-se ter certeza de que foi o que impôs a maior quantidade de desaforos ao seu povo. Gosta de uma viagenzinha, mas tem no colega Cid Gomes um rival. Usa o helicóptero da Viúva para levar o cão Juquinha a Mangaratiba, mas queima menos combustível que os ministros da doutora Dilma na JetFAB (1.664 solicitações em seis meses).

Comparado com o comissário Alexandre Padilha, é um sedentário. O ministro da Saúde voou 110 vezes, na maioria dos casos para São Paulo. Diz bobagens, já defendeu o aborto informando que a Rocinha era "uma fábrica de produzir marginal", mas foi um dos governadores do Estado que, com ajuda federal, mais investiu em programas de recuperação dessas comunidades. É dado a breguices: "Este é o melhor Alain Ducasse", disse, referindo-se ao restaurante onde concluíra um repasto, em Mônaco.

Desde que o "Monstro" saiu às ruas, Cabral desafiou-o. Disse que "essas manifestações estão tendo um caráter, um ar político que não é espontâneo da população". (Na semana passada elas tinham o apoio de 89% dessa população.) Fabricada era a passeata que seu governo organizou para apoiá-lo na disputa pelos royalties do petróleo. Tinha cercadinho VIP e pulseirinhas para celebridades.

Cabral justificou seu uso privado de helicópteros públicos dizendo que "não sou o primeiro a fazer isso no Brasil". Esqueceu-se de dizer que não reincidirá no folguedo. Há duas semanas um carro da sua polícia atirou numa área onde havia manifestantes. Quem foi? Pfff. O prefeito de Miguel Pereira homenageou-o num evento cuja convocação dizia o seguinte aos beneficiários do programa "Renda Melhor": "O não comparecimento poderá resultar na perda do benefício. (...) Levem seus familiares". A prefeitura disse que foi um "equívoco". Sua assessoria esclareceu que não sabia de nada.

No seu pior momento, Cabral informou que "nesses atos de vandalismo tem a presença de organizações internacionais. (...) Sabemos que há organizações internacionais estimulando o vandalismo e o quebra-quebra". Em seguida criou uma comissão para apurar os atos de violência. Havia um casal que se declarou a serviço da Abin. A polícia disse que apreendeu 20 molotovs com um preso? Cadê ele? Vinte coquetéis com uma só pessoa? O único preso, com espalhafato, nada tinha a ver com a história. Salvou-se pedindo socorro à Mídia Ninja. Graças a ela e a um vídeo da TV Globo, sua inocência ficou estabelecida. Quem criou a patranha? No meio disso tudo, a PM prendeu um pedreiro na Rocinha, e ele sumiu. A polícia diz que ele desapareceu depois de ter sido liberado. Cadê o vídeo da sua saída da UPP? A câmera enguiçara na véspera.

A conexão da polícia do Rio e das milícias com barbarizações deveria assustar Cabral. Já houve época em que o submundo das meganhas carioca e federal se meteu em coisa parecida. Num caso, em setembro de 1980, a descrição da cena da explosão de uma banca de jornais na jurisdição da 28º DP chegou ao conhecimento do seu titular e do Palácio do Planalto. Sentaram em cima. Sete meses depois o governo explodiu no Riocentro.

Cabral pode não ter entendido o que está acontecendo no país, mas não se eximirá de ser cobrado pelo que acontece no seu governo.

EREMILDO, O IDIOTA

Eremildo é um idiota e passava pela rua Pinheiro Machado quando viu o Palácio Guanabara praticamente cercado pela tropa de choque da Polícia Militar. Por cretino, não sabia o que era aquilo e perguntou a um peregrino o que acontecia. Ele lhe disse que as altas hierarquias dos governos municipal, estadual e federal estavam lá. O idiota foi em frente, convencido de que, com o cerco do Guanabara, o papa Francisco fizera seu primeiro milagre.

CUBATOUR

Boa notícia para o comissariado em geral e para o ministro Aldo Rebelo em particular. Está na reta final a negociação para a abertura de uma frequência de voos da Cubana de Aviación na rota Havana-São Paulo. No próximo Carnaval Aldo poderá ir para a ilha levando a família sem torrar tempo de voo dos jatinhos da FAB. Os companheiros poderão fumar a bordo, pois a Cubana não faz parte da Iata.

LULA NO SÍRIO

Há mais de quatro semanas a equipe médica que acompanha a saúde de Lula marcou um check-up rotineiro para o final deste mês ou início de agosto. Se e quando ele ocorrer, alimentará boatos, mas isso servirá apenas para confirmar que, enquanto a verdade é coisa difícil de se obter, todo boato é verdadeiro, pois, seja qual for, reflete um desejo de quem o passa adiante.

Nosso Guia quer que todas as informações sejam divulgadas.

CUIDADO

O comissariado do Itamaraty acredita que a viagem da doutora Dilma a Washington, em outubro, será um refrigério para sua popularidade. Se ela fizer discursos como o que leu para o papa, podem tirar a carruagem da chuva.

THOMAS REED ERA PODEROSO, LEMBRA DELE?

Na quinta-feira havia cerca de 900 mil pessoas na praia de Copacabana quando o papa Francisco pediu um momento de oração pela jovem Sophie Morinière, que morreu na Guiana Francesa a caminho da Jornada Mundial da Juventude. Fez-se tal silêncio que só se podia ouvir as ondas do mar. Essa mesma multidão silenciosa fazia um barulho estrondoso quando passava o papamóvel.

Esse homem capaz de mobilizar tanta alegria e esperança não tira sua força só da simplicidade e do sorriso. Afinal, a igreja está cheia de padres e bispos tristes. Antes dele, tristes foram Pio 12, Paulo 6º e Bento 16. Alegres, só João 23, João Paulo 1º e, em certos momentos, João Paulo 2º. A força de Francisco, e de todos os papas, vem da capacidade de acordar em todos sentimentos de solidariedade, misericórdia e, caso haja, de fé.

Muita gente vê nesses sentimentos simples banalidades que devem ser submetidas a lógicas superiores (e aí, cada um tem a sua). Para quem acha que ele só deixou palavras, vale a pena recordar um episódio ocorrido no final do século 19, quando um amigo entregou uma cópia de um texto do papa Leão 13 a Thomas Reed, presidente da Câmara dos Estados Unidos. Ele era um dos mais ricos, poderosos e brilhantes políticos da época, e respondeu: "Diante da enorme desimportância disso, fico sem palavras".


Leão 13 mudou o rosto da igreja com a encíclica Rerum Novarum, falando dos direitos e deveres do capital. E Reed? Quem se lembra dele?