12
de julho de 2012 | N° 17128
PAULO
SANT’ANA
O linchamento de ontem
Assisti
ontem, das 10h às 13h, pela TV Senado, ao julgamento, ou melhor, ao linchamento
do senador Demóstenes Torres, que foi esquartejado pela maioria dos seus
colegas de Senado.
Assisti
por inteiro ao linchamento, portanto. E, quando chegou ao final o linchamento,
modifiquei por inteiro a minha opinião: antes do linchamento, eu considerava o
réu culpado; depois do linchamento, pelo que ouvi e vi, se eu fosse senador,
teria votado contra a cassação.
Por
que modifiquei minha opinião em apenas três horas? Porque acredito firmemente
no princípio constitucional da presunção de inocência e porque o réu Demóstenes
Torres, nos 35 minutos que teve sua fala, me convenceu de que não deveria ter
sido cassado.
Ou
será que fui só eu que ouvi e vi o que Demóstenes falou? A julgar pelas pessoas
com quem conversei depois do linchamento, só eu no Brasil ouvi atentamente a
defesa pessoal de Demóstenes.
Eis
o que ele disse para o Brasil inteiro ouvir – e parece que só eu ouvi: “Este
senhor que está aí no plenário a minha frente, senador Humberto Costa (PT-PE),
era ministro da Saúde do governo Lula, em 2005, quando explodiu um dos maiores
escândalos de corrupção no Brasil, denominado de Máfia do Vampiro (ou
Sanguessugas).
Pois
a imprensa noticiava e opinava que o hoje senador Humberto Costa era o líder e
mentor da Máfia do Vampiro, aqui no Senado se pensava o mesmo e a opinião pública,
portanto, entendia que o hoje senador Humberto Costa tinha de ir para o fundo
da cadeia por aquele escândalo.
Alguns
meses depois, o hoje senador e então ministro da Saúde, Humberto Costa, que
nesta sessão de hoje foi o meu maior carrasco, que comandou minha condenação no
Conselho de Ética do Senado, foi absolvido na Justiça, por unanimidade de
votos, das acusações sobre a Máfia do Vampiro. Portanto, senhores e senhoras
senadoras, a oportunidade que o senador Humberto Costa teve de provar sua inocência
na Justiça eu também quero ter. Se os senhores votarem daqui a minutos por
minha cassação, estarão arruinando minha carreira política e minha vida para
sempre.
Eu
peço que não votem e me deem assim a oportunidade que teve Humberto Costa, o
meu mais feroz acusador, de me ver inocentado na Justiça. Não peço nada mais
para os senhores senadores do que teve meu algoz, hoje nosso colega Humberto
Costa. Assim como ele era inocente, eu também vou provar que sou inocente. Não
me linchem hoje, me entreguem para a Justiça e lá provarei, como Humberto Costa
provou, que sou inocente.”
Ouvindo
esta brilhante e convincente defesa pessoal do réu ontem no Senado, concluí que,
se eu fosse senador, teria votado contra a cassação de Demóstenes.
Isso
se eu fosse senador e, antecipando-me a que alguns digam então que é bom que eu
não seja senador, respondo que talvez eu seja o único gaúcho que hoje não é senador
porque não quis sê-lo.
E
depois do que ouvi ontem do Demóstenes, terminaria esta coluna dizendo que não
o cassaria para não sujar minhas mãos com o sangue de um provável inocente.
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