26
de julho de 2012 | N° 17142
PAULO
SANT’ANA
Diálogo no banheiro
Quando
me perguntam como vai a minha vida, sempre respondo com um conglomerado de
ditados gauchescos que eu mesmo reuni: “Minha vida atualmente é a seguinte: estou
nadando de poncho contra a correnteza, rezando para encontrar em meio à água do
rio qualquer coisa que sirva de apoio, um tronco por exemplo, e pode ser até,
na situação desesperada em que me encontro, algo parecido com um tronco, nem
que seja um crocodilo. Além disso, estou batendo em retirada com pouca munição,
tudo porque não podêmo se entregá pros hôme”.
O
otorrinolaringologista Luiz Lavinsky, que além disso é um filósofo, disse-me
ontem que a “coragem nasce da ignorância”.
Como
não tive tempo de conversar com ele sobre isso e só fui refletir a respeito
mais tarde, vou agora aqui tentar decifrar o seu raciocínio.
O
que talvez Lavinsky quis me dizer é que quem não é ignorante tem medo. Ou seja,
que o medo é um sentimento racional.
Deve
também ter querido me dizer que os heróis são pouco sábios, para não dizer
ignorantes, pois só atingem o heroísmo por não terem medo.
Foi
aí então que entendi por que me chamam de gênio, de expoente da raça, de
luminar, mas nunca ninguém me chamou de herói.
Como
é que poderiam me chamar de herói se tenho medo até de dentista?
Parafraseando
Groucho Marx, quero declarar que não confio no bom gosto musical das pessoas
que me apreciam como cantor.
O
chargista Marco Aurélio me citou em sua charge de anteontem em Zero Hora,
desenhando a solenidade de abertura da Olimpíada, quando o atleta que teria de
acender a pira, tendo se esquecido do fogo, pergunta aos circunstantes se alguém
fumava, ao que alguém no meio da multidão respondeu que sim, e o atleta disse
que só pode ser o Paulo Sant’Ana.
Admiro
a coragem do Marco Aurélio que violou uma regra consensual entre os colunistas
de Zero Hora: não me citar. Eles não me citam por um desses três motivos: 1)me
invejam; 2)não querem me dar a colher de chá de ser mais conhecido do que já sou,
o que os ofende; 3)querem me irritar porque sabem que adoro ser citado. E dá pra
riscar, no caso, um triplo.
Entrei
ontem no banheiro de Zero Hora e encontrei, na frente do espelho, o companheiro
Luiz Araújo, que estava usando o fio dental diante do espelho.
Eu
observei a ele: “Estás utilizando o fio dental, um dos três maiores inventos da
humanidade, junto com o crédito e a masturbação”.
Ele
me respondeu: “Diferentemente do crédito e da masturbação, o fio dental é uma
coisa extremamente desagradável”.
Eu
retruquei: “Tu dizes que o crédito é agradável porque não és inadimplente como
eu”.
Fez-se
uma pausa e eu acrescentei: “Por sinal, na masturbação há muito tempo que também
venho sendo inadimplente”.
É lamentavelmente
injusta a legislação eleitoral brasileira no que se refere à aparição gratuita
dos candidatos durante a campanha na televisão e no rádio.
Os
partidos nanicos e seus candidatos não aparecem ou aparecem pouquíssimo no rádio
e na tevê para teoricamente difundirem as suas ideias.
Assim,
concedendo privilégios da aparição aos grandes ou maiores partidos, a legislação
eleitoral, por sinal feita pelos grandes no Congresso, não dá chances aos
pequenos partidos e seus candidatos de crescerem. E as casas legislativas,
assim, nunca deixam de ser as mesmas.
Isso
é uma vergonha e um privilégio odioso.
E o
princípio fundamental de qualquer disputa, desde o turfe até uma eleição, é a
igualdade de chances.
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