quinta-feira, 30 de abril de 2020



30 DE ABRIL DE 2020
DAVID COIMBRA

Quando as mulheres tiram a roupa

Tinha um cara com binóculo na janela, em um prédio aqui perto. Ficou um tempão perscrutando a vizinhança. E eu, da minha própria janela, parei para observá-lo.

Suponho que esse deve ser um esporte muito praticado nos tempos de confinamento, isso de olhar a vida pela janela. Mas, como grande parte da cidade está trancada em casa, meu vizinho fez o certo: aparelhou-se. Municiado com lentes de boa capacidade, ele pode invadir outros apartamentos e se imiscuir na rotina alheia como se estivesse sentado na sala de estar do seu, digamos, "objeto de estudo".

Vi que ele girava o pescoço para um lado, para outro e, de repente, estacou. Fixou-se num ponto. Chegou a projetar o corpo para frente, tamanha a concentração. Havia descoberto algo que o interessava mais do que tudo. Ficou ali, naquela posição, imóvel como o leão que espreita a vítima na savana do Serengeti.

Garanto que era uma pelada. Só podia ser uma pelada.

Eu já tive uma vizinha que tirava a roupa com a janela aberta, já contei essa história. Foi um grande privilégio, um momento elevado da minha existência. Ela dançava diante do espelho e ia tirando a roupa peça por peça. Eu, da minha janela, sentia vontade de aplaudir, mas me mantinha recolhido feito um tatu-bola.

Não são todos que têm a mesma sorte que tive, mas, olha, vou dar uma notícia alvissareira: as mulheres estão se desnudando nessa quarentena. Sério. Vá ao mundo real: as redes sociais. Lá você verá chusmas, enxames, cardumes de mulheres nuas ou parcialmente nuas, a maioria em poses sensuais, a boca entreaberta, o olhar de Capitu.

Por que isso?

Tenho uma tese: é o instinto de sobrevivência que titila.

Quando ocorrem tragédias coletivas, que põem nossa vida em risco, as mulheres, que são muito mais sensíveis ao chamado da natureza do que nós, homens embrutecidos, as mulheres são tomadas por sensações primevas de preservação da espécie Homo sapiens sobre a face da Terra. Esses desejos ancestrais exigem que elas cumpram a primeira ordem de todas as ordens, de todos os seres vivos: a de reprodução. Então, as mulheres se esforçam para estimular o bronco macho da espécie a sair da frente da TV e fazer o que deveria: filhos.



É o que ora acontece.


Além disso, há o prazer que uma jovem mulher sente ao mostrar a beleza de seu corpo para os outros seres humanos. Ela passa horas de seu dia levantando peso, fazendo agachamentos, bufando em abdominais. Ela olha para a barriga definida, para o umbigo sem funflas, e o que ela pensa é: não posso guardar isso só para mim. E se filma e se fotografa e posta nas redes, para gáudio dos mortais comuns, como você e eu.

Uma amiga minha, amiga bela, longilínea e dourada como uma Gisele, certa feita ela estava na praia e foi tomar banho. Debaixo do chuveiro, cantarolando "olha, você tem todas as coisas que um dia eu sonhei pra mim", de repente ela olhou com o rabo do olho pela basculante e percebeu que, do outro lado da rua, o filho do vizinho a observava, também ele de seu banheiro. Minha amiga estava nua e molhada, nunca uma mulher esteve tão nua e tão molhada. E assim, exposta, sabe o que ela fez?

Nada.

Continuou tomando o seu banho, só que mais devagar, com movimentos mais lentos, mais longos, pressentindo que o rapazote, do outro lado da rua, se regozijava com sua sorte. Ofereceu o espetáculo do próprio corpo por mais dois dias. Dois dias de banho demorado, tomado no mesmo horário, deixando que o outro a visse sem pejo. No terceiro dia, fechou a janela. E não abriu mais. Havia se cansado de dar show. Conta ela que, nos dias seguintes, às vezes podia ouvir os gemidos distantes e doloridos do vizinho enquanto ela tomava banho com a basculante hermeticamente cerrada. As mulheres, quando querem, sabem ser más.

DAVID COIMBRA


30 DE ABRIL DE 2020

OPINIÃO DA RBS

SAÍDA DE GUEDES SERIA MAIS UM ERRO AGORA

Em meio à profusão de atitudes questionáveis e declarações despropositadas, fez bem o presidente Jair Bolsonaro ao voltar a empoderar publicamente o ministro da Economia, Paulo Guedes, como o homem forte na condução de assuntos relacionadas à área no país. O gesto do presidente da República foi uma tentativa de acabar com os rumores de uma possível saída de Guedes do governo ou ao menos de perda de poder para a ala militar do Planalto. As desconfianças quanto ao destino do ministro se avolumaram especialmente após a apresentação, na semana passada, do esboço do plano batizado de Pró-Brasil, com a previsão de execução de obras com dinheiro público, uma ideia que colide com os ideais liberais da equipe econômica e esbarra na penúria dos cofres da União.

Será preciso ver para crer, no entanto, se Guedes vai de fato reassumir as rédeas sem ser atropelado, dado o zigue-zague comportamental de Bolsonaro. Tudo o que o Brasil e o próprio governo não precisam, neste momento, é de mais uma crise, após a saída dos ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e da Justiça, Sergio Moro. Em tempos normais, a simples menção de que Paulo Guedes poderia estar abandonando o barco pela perda de voz e prestígio já seria um enorme abalo para os agentes econômicos. Significaria uma perda ainda maior de credibilidade da atual gestão e o fim definitivo das ilusões de um governo Bolsonaro com norte liberal.

O ministro, vale lembrar, foi companheiro de primeira hora de Bolsonaro na campanha e, sem dúvida, é o esteio que leva empresários e investidores a ainda confiarem que o Planalto não se jogará na gastança irresponsável. Uma possível saída de Guedes em meio à pandemia do novo coronavírus certamente seria interpretada como ameaça iminente de a situação sair do controle, sepultando de vez a credibilidade interna e externa do governo na condução macroeconômica, agravando um quadro que já é dramático. Ao mesmo tempo, uma eventual substituição da elogiada equipe econômica aceleraria o esfarelamento do que resta de funcionalidade no Planalto, mergulhado em ataques e confrontos de todos os lados.

A força de Guedes não vem apenas de seu nome, frequentemente associado a polêmicas e declarações desastradas, mas sim do que ele representa: o compromisso com a responsabilidade fiscal e projetos reformistas. A questão, é preciso ressaltar outra vez, é o valor relativo das promessas de Bolsonaro. Será preciso conferir, por exemplo, se o presidente, receoso de contrariar interesses como os do funcionalismo público - como mostrou a hesitação com a reforma administrativa -, apoiará os esforços mencionados por Guedes para que as corporações se deem conta do tamanho da crise e da necessidade de sua cota de colaboração, aceitando o congelamento temporário dos salários. Palavras ajudam, neste momento de intensa instabilidade, mas não bastam. Bolsonaro terá de provar no dia a dia e na prática que Guedes voltou a ser o posto onde são obtidas todas as respostas.

30 DE ABRIL DE 2020
DIÁRIOS DO MUNDO

Judeus exigem desculpas do chanceler. 


Entidades judaicas nacionais e internacionais criticaram comparação feita pelo chanceler Ernesto Araújo entre o isolamento social para conter o coronavírus e os campos de concentração nazistas, que mataram milhões de judeus. Em nota, o Instituto Brasil-Israel disse que, ao colocar os campos de concentração nesses termos, Araújo "anula e relativiza a memória do Holocausto. E ainda pior, acaba por reproduzir a lógica nazista: transformar os campos da morte em fábricas do esquecimento". 


A entidade afirma:"Impressiona o uso excessivo e absurdo que membros do atual governo brasileiro fazem do nazismo e do Holocausto. Desde as afirmações do atual presidente de que o nazismo seria de esquerda (feitas em frente ao Museu do Holocausto, em Jerusalém) até a reprodução do discurso do ministro da propaganda nazista pelo ex-secretário especial de cultura, os absurdos se multiplicam".


À coluna, o presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul (Firs), Sebastian Watenberg, afirmou:

- A declaração foi absolutamente inoportuna e infeliz e merece retratação. De nada adianta o ministro fazer um tuíte destacando a relação do governo com Israel e com a comunidade judaica. Saudamos essa atuação recente do Itamaraty, mas não se presta, por si só, como um pedido de desculpas.

Também o Comitê Judaico Americano exigiu um pedido de desculpas do ministro. "Essa analogia usada por Ernesto Araújo é profundamente ofensiva e totalmente inapropriada. Ele deve se desculpar imediatamente", escreveu o comitê no Twitter.

Araújo ignorou a cobrança de lideranças judaicas por um pedido de desculpas e criticou o jornal The Times of Israel por, segundo ele, fazer uma "crítica injusta e completamente equivocada" do que ele escreveu em seu blog pessoal. "Orgulho-me de minha postura de denunciar e combater o antissemitismo e de meu trabalho pela construção da relação de profunda amizade e parceria desejada pelos povos do Brasil e de Israel", escreveu.

Sem mencionar o comitê e a cobrança pelo pedido de desculpas, ele disse que foi o filósofo e psicanalista esloveno Slavoj Zizek quem trouxe os "campos de concentração como referência" ao falar da "sociedade totalitária que, em sua teoria, pode emergir da pandemia".

RODRIGO LOPES


30 DE ABRIL DE 2020
+ ECONOMIA

Reforço oportuno

Com passagem pela consultoria Falconi, o engenheiro de produção Leandro Pawlak é o novo sócio da Bateleur, empresa de Porto Alegre especializada em fusões e aquisições. Vai coordenar a área de estruturação estratégico-operacional de grandes empresas.

Banrisul vai renegociar dívidas de servidores municipais. CLÁUDIO COUTINHO Presidente do Banrisul

O Banrisul vai repactuar três parcelas de empréstimos consignados de funcionários públicos de prefeituras que têm convênio com o banco estadual. A possibilidade estará disponível a partir de 11 de maio, nas agências do banco estadual, depois de agendar visita. A medida foi anunciada ontem pelo presidente do banco, Claudio Coutinho, na série de lives de GaúchaZh.

- Estamos estendendo para os profissionais públicos das prefeituras conveniadas ao Banrisul a possibilidade de repactuar as dívidas. Os clientes poderão solicitar a prorrogação das parcelas que venceriam em junho, julho e agosto.

Segundo Coutinho, serão admitidos automaticamente pedidos de clientes com até uma parcela em atraso, se tiver mais, as agências já estão orientadas para não deixar de atender nestes casos. Da mesma forma que foi feito para os funcionários públicos estaduais. A solicitação poderá ser realizada a partir de 11 de maio até 25 de maio. Essa operação não poderá ser feita via aplicativo, deve-se agendar o atendimento. Esses recursos serão muito importantes para fazer girar a economia. Leia a seguir outros pontos abordados por Coutinho.

Acesso a crédito

"Criamos a linha de crédito Repac (de renegociação de dívidas), concedemos dois meses de carência para pequenas e médias empresas e pessoas físicas. Podem parcelar isso em até 12 meses, com 90 dias de carência. Fizemos da mesma forma para quem tem crédito imobiliário, também repactuamos em 60 dias. Para agricultores atingidos pela estiagem, ampliamos para três anos, para os não impactados adiamos para julho. Ampliamos o uso do limite do app, aumentamos o limite de saques no caixa eletrônico, de R$ 1,5 mi para R$ 3 mil. Estamos atendendo caso a caso as grandes empresas, nem sempre no volume e condições esperadas, mas atendemos todas."

Linha disponível

"A procura é inferior do que imaginávamos. Diria que a queda da economia está fazendo que a demanda de crédito não seja esperada. Um exemplo é a linha de crédito para pagar a folha de salários. Avaliamos que temos 4 mil clientes que podem se credenciar a essa linha. Até agora, a demanda está em torno de 30%. Tem uma questão que independe do banco, o fato de a linha ter recursos do Tesouro Nacional, por isso, existe uma exigência constitucional de que os recursos só podem ser emprestados para empresas com pagamentos em dia ao INSS. As empresas precisam ter Certidão Negativa de Débito (CND). Fizemos uma pequena enquete com as empresas e muitas mencionaram essa dificuldade, é uma restrição."

O papel do banco público

"Mais do que banco público, o Banrisul é o banco do Rio Grande do Sul. O que faz diferença é que nosso destino está atrelado ao Estado. Se o Estado vai mal, nós vamos mal, se for bem, vamos bem. A Caixa é 100% da União, pode tomar decisões que o Banco do Brasil e nós, do Banrisul, que temos controle estatal com ações do mercado, não podemos."

MARTA SFREDO


30 DE ABRIL DE 2020
CRISE EM BRASÍLIA

Após "e daí?", críticas a governadores e prefeitos

Um dia depois de reagir com um "e daí?" ao número de mais de 5 mil mortos pelo coronavírus no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro reuniu 25 deputados do PSL e, em uma tumultuada entrevista na porta do Palácio da Alvorada, ontem, atribuiu a governadores e a prefeitos a responsabilidade pelo aumento da crise no país.

Bolsonaro reuniu os parlamentares para um café da manhã. Ao sair do Alvorada, levou junto parte dos deputados e passou, com ajuda deles, a criticar as notícias que relataram sua entrevista na noite anterior.

Na terça-feira à noite, questionado sobre as 5.017 mortes registradas pelo Ministério da Saúde, o chefe do Executivo reagiu dizendo:

- E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre. Ontem, culpou chefes de Estados e municípios:

- As medidas restritivas são a cargo dos governadores e prefeitos. A imprensa tem de perguntar para o (João) Doria por que tem mais gente perdendo a vida em São Paulo. Perguntar para ele que tomou todas as medidas restritivas que ele achava que devia tomar - disse Bolsonaro.

- Não adianta a imprensa querer botar na minha conta estas questões que não cabem a mim. Não adianta a Folha de S.Paulo, O Globo, que fez manchete mentirosa, tendenciosa - continuou Bolsonaro. 

Indagado pelos jornalistas se não havia dito a frase do "e daí?", Bolsonaro demonstrou impaciência.

- Você não botou o complemento! Você não botou o complemento! - reagiu.

Os jornalistas perguntaram qual seria o complemento.

- A Globo não tem moral. Vocês não têm moral. Você é um mentiroso, a Globo é mentirosa - afirmou o presidente.

Os repórteres insistiram na pergunta.

- O complemento é que eu lamento. Está lá. Falei aqui. Perguntei, tinha pelo menos duas TVs ao vivo. A Globo tem que se definir. Eu não vou pagar para vocês falarem a verdade nem bem de mim. Não vou pagar para a Globo escrever a verdade ou falar bem de mim. Perguntem para o Doria a questão de óbitos que estão acontecendo - disse Bolsonaro.

Na entrevista de terça à noite, Bolsonaro disse que "as mortes de hoje, a princípio, essas pessoas foram infectadas há duas semanas". Depois de questionar e ser informado de que sua entrevista estava sendo transmitida ao vivo em redes de televisão, Bolsonaro buscou dar declaração mais amena sobre o assunto.

- Lamento a situação que atravessamos com o vírus. Nos solidarizamos com as famílias que perderam seus entes queridos, que a grande parte eram pessoas idosas, mas é a vida. Amanhã vou eu. Logicamente que a gente quer, se um dia morrer, ter uma morte digna, né? E deixar uma boa história para trás - disse o presidente.

Doria

Ainda ontem, no pronunciamento, apoiadores do presidente xingaram repórteres. Ao fim, Bolsonaro voltou a ser questionado sobre o número de mortes e, novamente, passou a responsabilidade para os governadores e prefeitos.

- Perguntem ao senhor João Doria, ao senhor (Bruno) Covas (prefeito de São Paulo), de o porquê terem tomado medidas tão restritivas e continua morrendo gente. Eles têm que responder. Vocês não vão colocar no meu colo essa conta - disse.

Indagado sobre qual seria a sua responsabilidade, rebateu:

- A pergunta é tão idiota que eu não vou te responder - afirmou o presidente.

No início da tarde, Doria se manifestou, em São Paulo. Em resposta à declaração do presidente, ele convidou Bolsonaro para ir ver pessoas agonizando nos hospitais:

- Saia da sua redoma de Brasília e venha visitar comigo o Hospital das Clínicas, os hospitais do M?Boi Mirim, os hospitais de campanha, e venha ver a "gripezinha" e o "resfriadinho". Venha ver as pessoas agonizando nos leitos e a preocupação dos profissionais de saúde com as pessoas que podem vir a óbito.

Ele ainda pediu que Bolsonaro respeite as pessoas:

- Respeite os médicos, os enfermeiros e os profissionais de saúde, que, ao contrário do senhor, que vai treinar tiro, estão trabalhando para salvar vidas.

Na terça-feira, antes de cumprir expediente, Bolsonaro treinou tiros em Brasília.

30 DE ABRIL DE 2020
VERISSIMO

Razões



Vamos ao que interessa. Por que o Paulo Guedes era o único do grupo de ministros perfilados atrás do Bolsonaro para ouvir sua resposta ao Moro sem se mexerem - a não ser pelo Onyx, que parecia prestes a cair no sono e adernar, e o novo ministro da Saúde, Teich, que, visivelmente, se controlava para não sair dali correndo - a usar máscara e não usar gravata? Todos os outros do grupo estavam de paletó, menos o Guedes, que estava de manga de camisa, sem gravata, aparentemente sem sapatos - e com uma máscara tapando o rosto. Por quê?

Explicações possíveis.

1) Não era o Guedes. Desgostoso com o rumo tomado pela economia brasileira diante da pandemia, Guedes mandara um subalterno substituí-lo.

2) Era o Guedes, preocupado em não ser reconhecido por populares de esquerda, com o risco de ser bombardeado com tomates pelas suas convicções neoliberais.

3) Era o Guedes, preocupado em não ser reconhecido pela direita por ter abandonado suas convicções neoliberais para não perder o emprego.

4) Era o Guedes, querendo deixar clara sua oposição a certas ideias irrealistas que, ele sabia, circulariam durante o evento sem nenhum futuro, como a ideia de nomear a Michelle ministra da Justiça, para proteger os garotos. (Mas teria sido do próprio Guedes a ideia do voto de louvor ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pela sua tese de que a propagação do coronavírus era uma estratégia comunista para dominar o mundo, ou o que restasse dele.)

5) Para não chegar atrasado ao evento, Guedes saíra de casa correndo e, na passagem, pegara emprestada a roupa do jardineiro.

6) Guedes sabia que ele pode ser o próximo a ser demitido e por isso usou um disfarce, apostando que, se não o reconhecesse, Bolsonaro não se lembraria dele.

7) Guedes sabia que dali a alguns dias Bolsonaro declararia que a economia do país seria dirigida por ele. Também sabia que, no governo Bolsonaro, o que vale não é o declarado, é o desmentido depois, por isso usou um disfarce para que Bolsonaro não o reconhecesse.

L.F. VERISSIMO

quarta-feira, 29 de abril de 2020

La lingua italiana

Se você chegou aqui com certeza é um apaixonado pela língua italiana. Mas você sabe tudo sobre esse maravilhoso idioma? Preparamos um texto em italiano com algumas curiosidades! Leia-o e acompanhe a leitura da professoressa Claudia.


L’italiano è la ventunesima lingua al mondo per numero di parlanti, con circa 63 milioni di madrelingua. Nonostante sia meno parlato di lingue come l’Urdu e il Tamil, è tra le cinque lingue più studiate. L’italiano ha una speciale importanza culturale e storica, dovuta anche alla grande presenza di emigranti italiani in tutto il mondo.
Vediamo insieme alcune curiosità!




L’italiano deriva dal latino, ma non da quello classico ed erudito, bensì dal latino volgare parlato dal popolo. Questa lingua sarà poi contaminata dalle lingue dei barbari, gli invasori dell’impero romano, formando l’italiano di oggi attraverso una lunga evoluzione.

In Italia si parlano tantissimi dialetti, al punto che è praticamente impossibile contarli. I dialetti sono molto vari e gli italiani non capiscono il dialetto di una regione diversa dalla loro. Gli studiosi hanno diviso l’Italia in tre grandi aree dialettali: la linea che va da La Spezia a Rimini separa l’area settentrionale da quella centrale, mentre la linea che va da Roma ad Ancona separa l’area centrale da quella meridionale.

Quando l’Italia è diventata un paese unito, nel 1861, solo il 5% della popolazione parlava italiano. L’unificazione linguistica è stata costruita nei decenni attraverso la scuola, la stampa, il servizio militare obbligatorio e la radio e la televisione nazionali.

È facile imparare l’italiano? L’italiano si pronuncia quasi come è scritto, e ha molti vocaboli e strutture grammaticali simili al portoghese, allo spagnolo e al francese. Imparare un po’ di italiano per poter comunicare non è difficile, tuttavia uno studio approfondito richiede sicuramente impegno e il giusto tempo.

Somos nós os Italianos




L'ITALIA FA SCHIFO? Andate all'estero... [SUB ENG]



Perché amo l'Italia



29 DE ABRIL DE 2020
DAVID COIMBRA

A desgraça de Gabriela Pugliesi

As pessoas devem estar muito felizes hoje, porque a Gabriela Pugliesi está triste. A Gabriela Pugliesi, até já escrevi sobre ela, a Gabriela Pugliesi exerce uma profissão designada como influencer. Trata-se de uma loirinha de olhos verdes e corpo longilíneo eternamente dourado, que vive de publicar vídeos nas redes - esse é o trabalho dela. Ela posta vídeos fazendo ginástica, preparando comidas com vegetais, passeando com o cachorro, abraçando-se ao marido musculoso. Está sempre na praia, ou em sua agradável casa dentro de um condomínio elegante, ou em alguma festa.

Foi exatamente por causa desse último item, uma festa, que o fel das redes sociais se derramou sobre seus ombros bronzeados. Pugliesi, que, aliás, já pegou a covid-19, promoveu um convescote em casa nesses dias de isolamento e publicou os vídeos da comemoração nas redes.

Foi um erro, claro, mas, nossa! Pugli foi esfolada virtualmente como se tivesse esquartejado criancinhas. Foi um temporal de críticas, censuras e admoestações, três substantivos que significam o mesmo: eles encheram a Gabriela Pugliesi de porrada. Verbal, certo, mas ainda assim porrada. Algumas "análises" comemoravam que, graças à pandemia, o mundo agora não dará mais valor a falsidades como as que ela promove e tudo mais. Até uma vizinha da Pugli publicou um post contando que ela joga pingue-pongue à meia-noite, entre outras selvagerias.

Acuada, Pugli postou um vídeo de arrependimento, implorando por perdão. Não adiantou. Os internautas latiram que sua contrição era hipócrita, seus patrocinadores a abandonaram, seus seguidores se tornaram perseguidores, até que ela, definitivamente derrotada, cancelou a conta no Instagram, o que é grave para quem vive disso.

Não sei se a Pugliesi é mesmo inconsequente, irresponsável ou chata, como dizem. O que sei é que sua queda pública provocou espasmos de satisfação no povo. Cada reprimenda publicada não era uma reprimenda publicada, era um orgasmo virtual.

Pudera: Pugliesi é bonita, rica, saudável e seu trabalho é mostrar nas redes como desfrutar a boa vida. Ou seja: uma pessoa feliz. Dá uma raiva! Que delícia deve ter sido aproveitar essa oportunidade para espezinhá-la.

Li, em um site, um texto em que uma colunista chamada Nina Lemos celebra o malogro da Pugliesi, prevendo, com indisfarçável prazer, que tudo vai mudar para os influencers. Ela encerra o artigo assim:

"É o fim do mundo tal qual o conhecíamos. E, no caso dos influencers, talvez isso não seja ruim. Você já não estava cansada de ver gente vivendo uma vida perfeita, com viagens que você nunca poderá fazer e tirando selfies de rostinho colado em festas para as quais você nunca será convidada?".

Você conseguiu ver a amargura pingando de cada vírgula, o despeito pendurado nas vogais? E é exatamente isso. A colunista está certa. Você nem precisa ser miserável, basta ser insignificante para que o sucesso alheio lhe faça mal.

DAVID COIMBRA

29 DE ABRIL DE 2020
OPINIÃO DA RBS

O CAMINHO CERTO


O presidente da República também tem de ser súdito das leis, ressaltou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, ao autorizar a abertura de inquérito para investigar as acusações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro contra Jair Bolsonaro. Na exemplar peça tecida pelo decano da Corte, sobressai exatamente este conceito pétreo de que ninguém, nem sequer o ocupante da principal posição pública do país, está imune a ter de cumprir a Constituição e as normas que regem a sociedade. Tampouco fica imune a responder por seus atos e ser submetido às devidas punições caso sua culpa seja comprovada no decorrer do processo.

O inquérito, a pedido do procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, é o caminho correto para esclarecer os fatos e as graves imputações que Moro apontou contra seu ex-chefe, especialmente a pretensa busca pelo controle político da Polícia Federal (PF), órgão que tem de estar sempre a serviço do Estado, e não de um governo, e por isso merece a proteção da impessoalidade. O caminho judicial é o trajeto mais indicado para dirimir as dúvidas que pairam sobre a conduta do presidente e também para evitar bate-bocas públicos em espaços como redes sociais, enquanto as atenções do país e do governo têm de estar voltadas essencialmente para o combate ao novo coronavírus e às medidas para mitigar os estragos econômicos e sociais da pandemia.

A própria PF, determinou Celso de Mello, terá até 60 dias para ouvir Moro, que precisará apresentar provas robustas sobre as suas acusações. Os brasileiros merecem o esclarecimento da embaraçosa situação o mais rápido possível. Em meio a uma emergência sanitária, com a nação precisando direcionar energias para salvar vidas e empregos, não é desejável manter um prolongado véu de suspeitas sobre o presidente, acusado de agir para proteger filhos em maus lençóis. O próprio Sergio Moro, é bom lembrar, estará sob escrutínio.

Da mesma forma que o decano chama atenção para a necessidade de reafirmar valores da República como a igualdade dos cidadãos perante a lei, é preciso estar atento aos movimentos dos novos ocupantes dos cargos de ministro da Justiça e de diretor-geral da PF. André Mendonça e Alexandre Ramagem terão seus atos vigiados de perto e precisarão estar atentos para que suas ações não sejam interpretadas como parte de um esquema de favorecimento ao clã presidencial. Será de particular observação a atuação da Polícia Federal, que se consolidou como instituição de grande prestígio perante a sociedade brasileira pela atuação decisiva na descoberta e responsabilização pelos recentes e escabrosos escândalos de corrupção.

A corporação é maior do que o seu eventual diretor-geral e certamente saberá se esquivar de eventuais tentativas de manipulação de investigações, sejam quais forem os interesses envolvidos. Além da resistência interna, seus quadros certamente terão o apoio e a vigilância de mecanismos de acompanhamento e correção, como o Ministério Público Federal, além da atenção da imprensa, para denunciar e impedir que um organismo destinado a zelar pelo interesse público se transforme em alvo de interferências indevidas para se converter em uma polícia privada, a serviço do entorno do poder.



29 DE ABRIL DE 2020
+ ECONOMIA

Renner e Einstein na inovação do bem

Para encurtar o caminho entre hospitais e empresas que fabricam equipamentos de proteção individual (EPIs) e uniformes, itens fundamentais para a frente do combate ao vírus, a Lojas Renner e a Eretz.bio, incubadora de startups do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, lançaram a plataforma Inovação do Bem. Desenhos e a ficha técnica de moldes de máscaras e aventais desenvolvidos pela Renner em parceria com seus fornecedores (foto) estão disponíveis para empreendedores que tenham interesse em fabricar os produtos. 

Até 4 de maio, a plataforma está recebendo inscrições de soluções inovadoras relacionadas à produção de máscaras de proteção. O objetivo é encontrar projetos que permitam a produção de modelos de fácil utilização, seguros e que garantam conforto por longos períodos de uso. Inscrições podem ser feitas no site inovacaodobem.com/desafios. O vencedor ganhará prêmio de R$ 5 mil.

A negociação do Mercosul que a indústria nacional quer travar

Ainda antes de a Argentina se retirar de negociações de acordos comerciais do Mercosul com outros países, o setor privado brasileiro já levantara cartão vermelho. Foi na direção de uma das tratativas com a Coreia do Sul, uma das mais adiantadas. Em carta enviada ao ministro da Economia, Paulo Guedes, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) pediu a suspensão das conversas.

O motivo seria a perda estimada em US$ 7 bilhões para o Brasil. A base desse tipo de acordo é a redução de impostos de importação, para tornar mais barato o comércio entre os envolvidos. Outra queixa da CNI é o fato de que a negociação estaria avançada, com cerca de 90% de cobertura do comércio bilateral, sem que o setor privado tivesse sido consultado, ou sequer informado, das concessões feitas pelos governos.

Os acordos fechados pela Coreia do Sul, com China, Índia e Turquia, também preocupam. Excluíram grande volume de mercadorias dos parceiros e incluíram preferência para seus produtos industriais.

Antes da decisão do governo argentino, que o Brasil vê como "facilitadora" de avanços nas negociações, a CNI e a instituição equivalente, a União Industrial Argentina (UIA), haviam lançado nota conjunta cobrando transparência nas tratativas com a Coreia do Sul.

Entre os argumentos, constava a "falta de capacidade das indústrias do bloco em enfrentar práticas desleais de comércio". O temor é baseado em dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) que apontam a Coreia do Sul como segundo país mais acionado por medidas de defesa comercial, só atrás da China. Essas iniciativas de proteção costumam responder a estratégias como preço abaixo do mercado (dumping) ou outro tipo de artificialismo.

É claro que a queda na atividade econômica imposta pelo coronavírus acentua o protecionismo. A CNI aponta que "o momento posterior à pandemia exigirá do governo foco em políticas de retomada da atividade produtiva e da geração de empregos no país", o que exigiria "acordos comerciais mais equilibrados".

MARTA SFREDO

29 DE ABRIL DE 2020
NÍLSON SOUZA

Quarentena fora de casa


Se você não estivesse em casa e pudesse escolher um lugar de sua cidade para passar a quarentena, que lugar escolheria? Evidentemente, estamos excluindo dessa hipotética pesquisa as casas de parentes e amigos, assim como sítios e residências de praia. O exercício de imaginação é o seguinte: isolamento, sem companhia, num local público disponível só para você.

Essa hipótese, que lembra um pouco o enredo de filmes como Perdido em Marte ou O Náufrago, me ocorreu depois de ver uma reportagem com o jovem jogador colombiano do São José que optou por passar o período de isolamento social sozinho, no alojamento do clube. Ele tem o estádio inteiro para se exercitar, mas, na hora de fazer a própria comida, pega o telefone e pede socorro à mãe, na Colômbia.

Acho que também escolheria um local bem espaçoso da minha cidade, como, por exemplo, o Jardim Botânico. Penso que seria bem suportável, talvez até prazeroso, acordar com o canto dos pássaros e passar o dia entre a vegetação, percorrendo as trilhas e visitando os recantos arborizados do nosso belo parque metropolitano. Além disso, haveria instalações interessantes para inspecionar - o Museu de Ciências, o serpentário, o viveiro de mudas, o anfiteatro e outros espaços voltados para a preservação da flora.

Outro local atrativo, para mim, seria uma livraria. Não fosse a minha leve claustrofobia e o medo de que os mais de 60 relógios badalassem ao mesmo tempo à meia-noite, eu pediria à minha amiga Denise Filippini para tomar conta do seu paraíso de livros novos e usados, na Jerônimo Coelho, no centro de Porto Alegre. Seria uma aventura inesquecível passar a quarentena na companhia do grande Erico Verissimo, que empresta o nome à livraria, e de centenas de outros escritores talentosos que habitam aquele lugar encantado.

Dia desses, Vargas Llosa escreveu que aprender a ler foi o que de mais importante aconteceu na sua vida. Os escritores, às vezes, exageram um pouco. Mas sou obrigado a concordar que uma quarentena sem leitura seria bem menos suportável.

E você, que me leu até aqui, que lugar escolheria?

NÍLSON SOUZA

29 DE ABRIL DE 2020
INFORME ESPECIAL


Mudança na Parceiros Voluntários

Depois de 23 anos, Maria Elena Pereira Johannpeter passou o cargo de presidente do Conselho de Administração da Parceiros Voluntários para o empresário Daniel Santoro, há mais duas décadas dedicado à entidade. A cerimônia foi realizada por vídeo. Maria Elena revela que o momento de transição fez um filme passar por sua cabeça - dos sonhos que se tornaram realidade às lutas que proporcionaram algumas lágrimas.

- No fim, foi um crescimento mútuo - avalia.

Para o novo presidente, assumir a função é uma honra e uma responsabilidade gigantesca.

- É nossa responsabilidade mobilizar, articular pessoas e instituições, assim como coordenar esforços para que todos os indivíduos sejam incorporados nas soluções que precisam emergir - analisa.

Criada em 1997, a Parceiros Voluntários é uma ONG sem fins lucrativos e apartidária, que tem como visão "viver numa sociedade sustentável tendo por base pessoas éticas e participativas". Já beneficiou mais de 8,5 milhões de pessoas.

Do bem

O Instituto Lins Ferrão lançou o projeto Bonecas do Bem. Elas são colecionáveis e representam paz, saúde, paixão, felicidade e alegria. Foram criadas a partir de tecidos doados pelas empresas Pompeia e Gang. A renda será revertida para a campanha "Só a solidariedade não pode parar", criada pela Avesol, que ajuda mulheres em situação de vulnerabilidade econômica e social: bit.ly/2KQKbK5

> O Ministério Público do Trabalho no RS já reverteu cerca de R$ 8 milhões de uma série de fontes para ações de prevenção e enfrentamento ao novo coronavírus.

A Casa NTX lançou a campanha "É hora de ajudar", voltada a arrecadar cestas básicas para colaboradores vinculados a empresas do setor de eventos. A própria NTX doou as primeiras 200. O valor de cada uma é de R$ 45, mas qualquer contribuição é bem-vinda. Depósitos:

Banco: 748 - Banco Cooperativo Sicredi S.A. - Bansicredi

Agência: 0116

Conta: 11538-8

Razão Social: AGRO COMERCIO DE ALIMENTOS E BEBIDAS EIRELI

CNPJ: 03.061.031/0001-40

O Centro Óptico lançou a campanha "Faça o bem, olhe a quem". Na compra de um par de lentes, o cliente pode doar outro a quem quiser.

Acreditamos que, neste momento desafiador, devemos nos envolver diretamente com as demandas sociais através de atos, e optamos pelo que é possível para nós - reforça Shanna Kulisz Roche, diretora da empresa. O WhatsApp para esclarecimentos e agendamentos é o (51) 99313-4039.

Quatro mil e seiscentas garrafas de álcool gel foram doadas ontem às duas maiores entidades representativas dos taxistas em Porto Alegre: o Sintaxi e a Aspertaxi, que juntas somam cerca de 4 mil associados. A doação é fruto da união de esforços do vereador Valter Nagelstein e da empresa Shell, por meio da rede de postos de combustíveis Rede VIP.

TRE gaúcho tem novo presidente

O desembargador André Luiz Villarinho comandará a Justiça eleitoral gaúcha nas eleições deste ano, caso elas ocorram. Terá como vice e corregedor o também desembargador Arminio Rosa, ex-presidente do Tribunal de Justiça do Estado.

A eleição foi realizada ontem, de forma virtual. Natural de Porto Alegre, Villarinho ingressou no Ministério Público em 1978. Exerceu duas vezes a direção da Susepe. Foi nomeado desembargador em julho de 2000 e eleito 3º vice-presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul no biênio 2012/2014. - Será uma honra presidir um tribunal do gabarito do TRE gaúcho, exemplo para todo país. Para tanto, contarei com a excelência jurisdicional do Pleno do Tribunal e na área administrativa com um exemplar e qualificado corpo de servidores, todos empenhados em garantir eleições transparentes e legítimas para o fiel exercício da democracia - disse Villarinho, logo depois da eleição.

TULIO MILMAN

terça-feira, 28 de abril de 2020



Resposta a una Ragazza Italiana


Inno di Mameli suonato in Mille / The Italian national anthem

Fratelli d'Italia - Inno di Mameli - Inno d'Italia (Cantata)




28 DE ABRIL DE 2020
DAVID COIMBRA


Minha conversa com Moro


Conversei com Sergio Moro por telefone no final da tarde de domingo passado. Como ele não concordou em conceder entrevista, não entrarei em detalhes a respeito do conteúdo do que falamos. Conto apenas que Moro me pareceu bastante tranquilo e preparado para o que chamou de "judicialização" das revelações que fez ao sair do governo. Tratando-se de um juiz com 22 anos de experiência, isso significa que virão à superfície informações no mínimo consistentes acerca desse tema nos próximos dias.

Aguardemos.

Mas houve outro ponto que chamou a minha atenção, e é a respeito disso que quero tratar. É que Moro se disse impressionado com "a quantidade de mentiras" que vêm sendo espalhadas sobre ele nas redes sociais. Para mim, isso foi notável, porque estamos falando do juiz que passou cinco anos coordenando a Lava-Jato, nada menos do que a mais importante operação judicial da história do Brasil.

Realmente, nos últimos três dias o volume de notícias falsas que se derramou internet abaixo foi assustador. É uma praga do nosso século, uma peste tão insidiosa quanto o coronavírus, porque as pessoas moldam suas opiniões a partir dessas mentiras, e uma opinião só é inofensiva até se transformar em ação.

Eis o grande drama: é tamanho o fluxo de notícias falsas, que as pessoas acabam se convencendo da sua veracidade, e formam opinião, e a opinião se torna comportamento, e o comportamento se torna ação.

Participo de muitos grupos de WhatsApp. Eles têm composição heterogênea, tanto de classe social quanto de posicionamento político. É instrutivo, porque mostra as diversas realidades do país. Uma dessas realidades é a dos bolsonaristas, que, quando divisam um alvo, atacam em forma de enxame, aferroando de todas as maneiras com mentiras inteiras ou meias verdades.

É o que acontece agora com Moro.

Se você recolher alguns punhados dessas publicações que pipocam em grupos de Whats desde sexta, constatará que elas não saíram dos bueiros do mundo virtual por acaso. É algo feito de caso pensado, em proporções industriais, muitas vezes com qualidade profissional. E isso vai se espargindo, se infiltrando na sociedade, criando raízes, transformando-se em parte da paisagem. Logo, também vira um tipo de realidade, e aí não adianta mais reagir. Ninguém tem como passar a vida dando explicações ou desmentindo boatos.

Tudo isso é muito perigoso, e não estou me referindo só ao caso de Sergio Moro. Esse é um único exemplo, há muitos mais por aí.

Há fake news de todos os vieses políticos e ideológicos, mas os bolsonaristas são mais suscetíveis a elas, porque eles realmente adotaram as redes sociais como principal fonte de informação. Não é à toa que as pessoas que assistiram à posse de Bolsonaro na Presidência da República, em Brasília, gritavam:



- WhatsApp! WhatsApp! Facebook! Facebook!


Não era só um repúdio à chamada "mídia tradicional". Era uma manifestação de adesão a uma nova percepção da realidade, em que só tem valor aquilo em que a pessoa quer acreditar. Não interessa o que dizem os fatos, interessa é o que se diz deles.

O consumidor de fake news bebe com avidez daquelas informações falsas porque elas dão verossimilhança à sua visão de mundo. Com ele é inútil usar a lógica ou mostrar o que está acontecendo. Ele tem sua própria lógica, ele enxerga o que decidir ver. Crentes religiosos ou políticos, de esquerda ou de direita, enfrentam desilusões com bravura. Nada os abala. Eles batem no peito, eles cerram os punhos, eles vão em frente. De olhos bem fechados.

DAVID COIMBRA

28 DE ABRIL DE 2020
CARLOS GERBASE

O censor e a pelada

É uma questão clássica sobre um paradoxo: a liberdade de expressão deve ser tolerada mesmo quando pede o fim da liberdade de expressão? Sem formação em Direito, muito menos em Filosofia, responderei de modo bem simples - há argumentos que preencheriam esta edição inteira de Zero Hora - a partir de fatos concretos que vivi nos tempos do arbítrio e da censura. Minha resposta é simples: não. Nunca. Não pode haver liberdade para quem clama o fim da liberdade. Eu estive, várias vezes, numa delegacia da Avenida Presidente Roosevelt mostrando filmes super-8 para um censor, que os assistia com evidente mau humor. Numa dessas constrangedoras sessões, exigiu um corte de um minuto, porque "o membro do personagem aparecia."

A Constituição de 1988 terminou com a carreira desse sujeito, ou melhor, sejamos otimistas, permitiu que ele usasse seu tempo - pago pelos contribuintes - em uma função mais útil para a sociedade. Esse senhor, quem sabe saudoso daqueles tempos de arbítrio (o seu mau humor seria um habilidoso disfarce para pensamentos libidinosos inconfessáveis), talvez esteja agora acompanhando, mesmo aposentado, as hordas de descerebrados que pedem coisas como intervenção militar ou promulgação de um novo AI-5. Até posso vê-lo, ali perto do QG da Rua da Praia, domingo à tarde, talvez apoiado numa bengala, salivando tranquilamente, sem máscara, quem sabe enrolado numa bandeira do Brasil.

Eis que, para sua surpresa e dos demais patriotas de fim de semana, uma mulher aparece pelada na Igreja das Dores e, já que há liberdade de expressão, cobre seu rosto com uma máscara que estampa "Fora Bolsonaro." O censor, imerso num déjà-vu poderosíssimo, grita: "Deixa que eu corto!". Mas já é tarde. Dois manifestantes, excitados demais para esperar um rito minimamente legal, preferem a violência, e os seus socos covardes não têm certificado expedido em três vias. O censor volta para casa cabisbaixo, pois seu inesperado momento de glória foi roubado. 

Contudo, quando vai dormir, sonha com a pelada e imagina a sensação maravilhosa de mostrar para a turba como o Estado a cortaria sem qualquer processo legal referente a agressões físicas. O sonho do censor é o meu pesadelo. É o pesadelo da República, que não pode permitir a livre manifestação de malucos que querem o fim da República. Lembrem: o censor está velho, está dormindo, mas continua a ser exatamente o que era.

CARLOS GERBASE

28 DE ABRIL DE 2020
OPINIÃO DA RBS

A VELHA POLÍTICA, DE NOVO

A reaproximação do presidente Jair Bolsonaro de líderes do centrão é mais uma evidência de que não bastam bravatas ou legiões de seguidores em redes sociais dispostas a comprar brigas pelo líder para transformar o modo de governar o Brasil. Bolsonaro, como seus antecessores, está negociando cargos com dirigentes de partidos do bloco com dois objetivos: isolar o agora adversário Rodrigo Maia, que tem trânsito razoá- vel em todos os partidos, e garantir a própria sobrevivência desde que a palavra impeachment saiu dos armários de Brasília.

Conhecidos nomes do mensalão e da Operação Lava-Jato estão entre os interlocutores do presidente acuado por sucessivos erros e pelas investigações sobre familiares. Figuras que frequentavam tanto o noticiário de política quanto o policial estavam hibernando, à espera de serem chamados para socorrer um chefe de Estado em apuros. Naturalmente, como é prática, o apoio não vem a troco de nada. O balcão de negócios inclui autarquias e estatais apetitosas, como o Fundo Nacional de Saúde, o Banco do Nordeste do Brasil e o Departamento Nacional de Obras contra a Seca, entre outros órgãos que voltaram ao palco das barganhas.

Não deveria ser vergonha o presidente conversar com todos os entes políticos do país - aliás, seria recomendável a um chefe de Estado, sobretudo na emergência de saúde em que vivemos, procurar convergências em um amplo arco político, da esquerda à direita, para garantir um mínimo de governabilidade. No entanto, essa não é a prática de Bolsonaro, ele próprio um ex-deputado apagado e exótico, que se mimetizava em siglas inexpressivas, e nunca havia experimentado o primeiro plano da política.

O caminho que Bolsonaro agora percorre abertamente já foi adotado por todos os seus antecessores, de José Sarney a Michel Temer. Alguns conseguiram, momentanea- mente, estabelecer um cordão sanitário mínimo para impedir ataques explícitos aos cofres públicos - outros se confundiram com o próprio centrão e pagaram caro, na política e na Justiça, por isso. Sem a figura de Sergio Moro a lhe impor restrições éticas no Ministério da Justiça, Bolsonaro já deixou claro que não vê problema em ter à frente da Polícia Federal um amigo de seu filho, investigado pela própria PF.

Por essa régua moral, a volta ao ninho do poder de Roberto Jefferson, um especialista em ladear presidentes em apuros desde o amargo fim da presidência de Collor, não deve causar espanto. Ao país, machucado por sucessivos escândalos no primeiro escalão da República, cabe agora acender todos os alertas e acompanhar com lupa as movimentações do presidente e de seu entorno familiar, antes que, mais uma vez, se volte a assistir ao velho filme projetado pelo malfadado centrão.



28 DE ABRIL DE 2020
+ ECONOMIA

Mercado compra permanência de Guedes "por enquanto"

O debate público sobre a permanência do ministro da Economia avançou tanto que, na manhã de ontem, Bolsonaro resolveu encenar um "dia do fico" na saída do Palácio da Alvorada. Ao lado do único superministro restante no governo, Bolsonaro afirmou que "o homem que decide a economia no Brasil é um só: chama-se Paulo Guedes".

O mercado financeiro, que se preparava para mais perdas, respirou aliviado. A bolsa recuperou 4,09% do tombo de 5,45% de sexta-feira e o dólar, que chegou a R$ 5,72 durante o dia, fechou quase estável, a R$ 5,66. Guedes deixou claro que outras influências na condução estão afastadas:

- Queremos reafirmar a todos que acreditam na política econômica que ela segue a mesma.

Embora a sinalização tenha sido poderosa, não basta. Se de fato quer manter Guedes, o presidente terá de demonstrar o compromisso na prática. Caso isso ocorra, o Pró-Brasil pode não passar do rascunho que foi.

Outra frase segue no radar de investidores. Foi dita pelo agora ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, às vésperas de sua demissão: - Você conversa hoje, a pessoa entende, diz que concorda, depois muda de ideia e fala tudo diferente.

- Por enquanto, fica tudo como está. Mas a imprevisibilidade do presidente gera dúvida. Pode durar bastante ou uma semana - pondera Newton Rosa, economista-chefe da SulAmerica Investimentos.

Além de Guedes, Bolsonaro posou com os ministros da Agricultura, Tereza Cristina, e da Infraestrutra, Tarcísio de Freitas, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Os três são vistos por empresários e economistas como o time racional. São reserva de confiança. Se não mudar de ideia, o presidente compra algum tempo.

Embraer vai a tribunais e aos chineses

Coube a Francisco Gomes Neto, que dirigiu a Marcopolo na crise de 2008 e agora pilota a Embraer, confirmar que a fabricante vai questionar a decisão da Boeing de cancelar a fusão entre as empresas. A brasileira vai cobrar, na Justiça ou por meio de arbitragem privada, ressarcimento para gastos de R$ 485 milhões com a separação da aviação comercial das demais áreas, especialmente a de defesa.

Em meio a preocupações com a capacidade de a empresa se manter em voo solo, houve perguntas sobre novas tratativas, que Gomes Neto preferiu não comentar.

Mas o presidente Jair Bolsonaro em seguida afirmou que "se o negócio realmente for desfeito, talvez recomece uma nova negociação com outra empresa". No mercado, cogita-se da aproximação de fabricantes chineses. Se não o fizer, a empresa tende a enfrentar dificuldades de médio prazo. Mais da metade de sua receita vem da aviação comercial (veja gráfico), com encomendas já em queda.

Segundo Gomes Neto, neste ano, houve apenas um cancelamento. A leitura de que a empresa precisa de apoio robusto ficou claro na queda das ações ontem, de 7,49%.

Ajuste na Randon

A Randon anunciou ontem que vai adotar, a partir de maio, redução de jornada de trabalho e salário, além de suspensão de contratos, nas unidades metalúrgicas da empresa em Caxias do Sul. Procurada pela coluna, informou que ainda não definiu quantos funcionários devem ser envolvidos.

Além das opções legais da MP 936 para manter o emprego, abriu um programa que chama de "desvínculo voluntário", que não teria as mesmas regras de programas de demissões voluntárias (PDVs). A fabricante de reboques e semirreboques para caminhões previu que definirá até amanhã o número dos funcionários envolvidos.

22

pontos foi a queda, em abril, da confiança do consumidor medida pela Fundação Getulio Vargas. Ficou em 58,2 pontos, o menor nível da série histórica em 15 anos. Antes, o patamar mais baixo era de dezembro de 2015, de 64,9 pontos.

a nossa parte #juntoscontraovírus

Três projetos gaúchos no front

A terceira etapa do Edital de Inovação para Indústria selecionou 10 propostas que utilizam inteligência artificial para prevenir, diagnosticar e tratar os efeitos da covid-19.

Três iniciativas são de empresas gaúchas. Com sede em Porto Alegre, a empresa de sistemas Ponfac desenvolveu hardware orientado para identificação e rastreamento, sem contato, de pessoas com febre alta em ambientes comunitários. A Novus, de Canoas, desenvolveu sistema de triagem de pacientes em centros de saúde com uso de câmeras e sensores de temperatura para medir frequência cardíaca, oxigênio no sangue, frequência respiratória e pressão arterial. De Montenegro, a Tanac produzirá solução alcoólica antisséptica, como agente de desinfecção para uso em higienização de larga escala.

Senai, Embrapii e ABDI vão investir R$ 24,5 milhões em 25 projetos já selecionados. Haverá uma quarta etapa, que levará o total a R$ 30 milhões.

Preocupação e alívio no Mercosul

Passado o primeiro impacto da decisão do governo da Argentina de não participar de novas negociações com países fora do Mercosul, a percepção é de que o suposto rompimento é mais superficial do que parece. Não há reflexo sobre o comércio entre os países do bloco, e a decisão parece ter sido desenhada para responder politicamente aos eleitores do presidente Alberto Fernández sem inviabilizar as exportações argentinas.

Foi um alívio o fato de Fernández garantir que não vai contestar os acordos fechados, mas ainda não implementados, com a União Europeia (UE) e a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta), formada por países europeus que não estão na UE (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein).

- A decisão argentina não tem grande impacto no curto prazo, já que o país concordou em avançar com UE e Efta. Na realidade, tem um lado positivo, ao liberar Brasil e demais para avançar rapidamente em outras negociações - avalia Walter Barral, sócio-fundador da consultoria BMJ e ex-secretário de Comércio Exterior.

O acordo entre Mercosul e UE só foi fechado porque o governo anterior, de Mauricio Macri, parou de oferecer resistência. Havia temor de que Fernández travasse o acordo duramente conquistado. Como isso não ocorreu, os dois blocos ficam liberados para manter o cronograma.

Há expectativa de que haja avanços no segundo semestre, quando a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, assume a presidência do Conselho Europeu. Mas o fato de a Argentina não se opor não garante que as conversas vão evoluir. A missão seria desafiadora, porque é preciso aprovação de 30 parlamentos nacionais. Em um cenário de crise econômica global, período em que os países costumam ficar mais protecionistas, a tarefa terá mais obstáculos do que os previstos.

+ ECONOMIA


28 DE ABRIL DE 2020
EDITORIAL

Correr na garagem

Um mil, quatrocentos e noventa e três. Esse foi o número de passadas que dei na corrida de ontem. São passadas duplas, ou seja, conto só a da perna esquerda, por exemplo. Foi a maneira que encontrei para, a um só tempo, driblar o tédio e conseguir ter uma noção da distância que venho percorrendo na garagem do edifício onde moro.

Correr é uma terapia. Um momento em que posso ficar comigo mesmo. Sozinho, organizo meus pensamentos e compromissos, reflito sobre o que fiz ou o que quero fazer, exercito também a memória, puxando alguma canção dos anos 1980 para me acompanhar - na minha própria voz: para espanto (ou vergonha) da minha esposa, já disse a ela que, quando estou precisando de um empurrão, canto, alto, New Order, Legião Urbana, George Michael, Picassos Falsos ou Smiths. Envergonhada mesmo a Bia ficou quando soube que, em uma bela manhã de sábado, tive de pedir ao zelador de um prédio na Eça de Queiroz para usar o banheiro dele. Vou poupar vocês dos detalhes, mas #gratidãoeterna.

Correr também significa pertencimento - o meu em relação à cidade, o da cidade em relação a mim. Adoro me deixar guiar pelas ruas e calçadas de Porto Alegre, criando novos itinerários ou esticando os já conhecidos. Adoro me sentir meio que dono dela, quando saio para correr com o sol ainda por nascer e posso ouvir o silêncio que ela é capaz de fazer.

Oitocentos e setenta e nove horas e alguns minutos. Esse é o tempo que me separa da última terapia pelas quadras do bairro e além. Quando entrei em teletrabalho, no final de março, me deixei vencer pela preguiça. Só retomei no dia 18, mas na garagem do prédio, que pelo menos é aberta e dá até um banho de sol. Foi fundamental para a saúde física (desconfiava que não fosse caber nas calças quando voltasse a vesti-las) e para a mental (tenho me achado mais leve, ainda sem trocadilho, infelizmente).

Tomei essa decisão, a de correr sem sair de casa, não necessariamente por medo de contágio, mas por entender que seria um gesto solidário para com as pessoas que, por causa do coronavírus, estão privadas de seus prazeres e de suas rotinas. Não critico quem segue correndo nas ruas: cada um tem suas razões, cada um sabe o quanto aquele momento é vital para sua sanidade, o quanto correr pode representar tanto uma fuga (dos problemas) quanto uma perseguição (dos objetivos). Mas, se eu posso adaptar uma "pista", achei por bem fazer assim.

Portanto, caros vizinhos, não se assustem se um dia desses vocês ouvirem lá de baixo alguém entoando, talvez ofegantemente, os versos finais de Se Fiquei Esperando meu Amor Passar, tão apropriados para os dias que vivemos: "Cordeiro de Deus, que tirai os pecados do mundo / tende piedade de nós / Cordeiro de Deus, que tirai os pecados do mundo / tende piedade de nós / Cordeiro de Deus, que tirai os pecados do mundo / dai-nos a paaaaaaaaz!".

TICIANO OSÓRIO - INTERINO