segunda-feira, 31 de dezembro de 2012


LUIZ FELIPE PONDE

Odette para 2013

"Meu amor, você faria amor comigo hoje? Se não estiver bem disposta, ok, entenderei"

Um casal conversa na mesa de jantar de casa no final de um dia comum. Classe média média

(duas vezes média). Ele com cara de cansado (deve ter um desses empregos nos quais pessoas como ele engolem sapos diariamente fingindo que ainda são donos de suas vidas), ela com cara de quem tomou banho para jantar, mas permaneceu com ar de enfado. Deve ter esperado o marido o dia todo, mas não com muito gosto...

Ele (Mário Alberto) pergunta o que há para sobremesa. Ela (Odette) responde "tangerina". Ele reclama que a única coisa que queria quando chegasse em casa depois de um dia inteiro de trabalho era uma sobremesa decente. Nada de chique, talvez um pudim. Ou mesmo algo que ela goste. Ou seja, ele não é exigente. Carrega em si aquele ar esmagado de quem sabe que já perdeu a partida com a vida e com o mundo. Normalmente, a esposa encarna tanto a vida quanto o mundo para os "bons maridos".

Nelson Rodrigues costumava dizer que todas as qualidades que fazem de um homem um grande e desejado homem são inviáveis em "bons maridos".

Ele diz para ela que uma sobremesa decente é tudo que ele quer, e pergunta para ela o que ela quer. Aí, vem o show de Odette.

Ela diz: (perdão pela licença poética) "O que eu quero Mário Alberto? Você quer saber o que eu quero? Eu quero foder. Veja que não disse fazer amor, transar ou fazer 'nheco-nheco', mas foder".

Odette passa a qualificar "seu desejo": ela quer foder não apenas com Mário Alberto, mas com o chefe dele (imagem particularmente tocante no que diz respeito a um homem humilhado que teme que sua mulher sonhe em dar justamente para aquele desgraçado que manda nele), com o irmão dele, com o time de futebol da Nigéria, com o exército de Israel.

Assume-se que o time da Nigéria seja composto de negros fortes e bem dotados e que não perguntarão para ela "meu amor, com todo respeito, você faria amor comigo hoje? Se não estiver bem disposta, ok, entenderei e continuarei a te amar".

Quanto ao exército de Israel, Odette parece desejar suas famosas e decantadas virtudes militares: coragem, eficiência incomparável, audácia, juventude e vitórias consecutivas contra milhares de inimigos ao mesmo tempo e de todos os lados. Odette parece lembrar o que o mundo esqueceu: o exército de Israel é que está esmagado por inimigos de todos os lados, e não o Hamas.

Mas Odette não para por aí. Sem citar aqui todos os exemplos que ela dá de seu desejo escondido, passemos ao "modo" como ela quer que este desejo se realize: Odette quer que usem e abusem dela, que a tratem como cadela, que a deixem assada e doída, que sua boca fique imprestável. Ao final, depois de dizer que quer tudo isso repetidas vezes, confessa que também quer "passar recibo" de tudo que deu e recebeu como um modo claro de dizer "sim, sou a vagabunda de vocês".

Impossível não relacionar Odette (inclusive pelo nome dela) a algumas heroínas rodriguinianas conhecidas como bonitinhas mas ordinárias, que pedem para homens as violentarem enquanto as chamam de cadelas.

Após dizer tudo isso, ela silencia e continua a comer com aquela contenção de classe média à mesa. Não esqueçamos que "etiqueta" é coisa de gente que queria ser elegante mas não consegue. Traço claro de decadência.

Ele, assustado, diz que "tangerina está ótimo". Ela avisa que a tangerina não está gelada, mas ele diz que tudo bem assim. Mário Alberto reassume o papel que deve desempenhar todo o dia, todos os dias.

Trata-se de um vídeo da internet que é muito indicativo do que é a incomunicabilidade da vida cotidiana entre as pessoas. No caso específico, um casal de classe média.

Claro está que Odette, mulher sem grandes dotes de beleza ou sensualidade, não parece feliz com sua vida sexual de "mulher de família". Não quer ser "uma mulher de família". Quantas Odettes irão a sua festa de Réveillon hoje? Espero que

pegue uma.

O mundo não muda, nem os homens, nem as mulheres. Liberte-se do mito desta mudança. Resta para os caras a pergunta que não quer calar: Quando vai se alistar no exército de Israel? Feliz 2013 com sua Odette.


LULI RADFAHRER

Cumpra as promessas de Ano-Novo

Apps para smartphone podem dar uma força para quem realmente quer mudar de hábitos

Todo fim de ano é a mesma ladainha. Todos prometem comer melhor, parar de fumar, dormir melhor, fazer mais exercícios, ler mais, ter maior autocontrole e se estressar menos no ano que se aproxima. As promessas, no entanto, dificilmente sobrevivem ao cotidiano.

Mudanças de estilo de vida costumam ser lentas e demandar acompanhamento diário. Acabadas as férias é difícil ter disposição, tempo ou paciência para fazer registros diários ou contar calorias, e as boas intenções acabam esquecidas.

Mas novas tecnologias prometem facilitar a vida de quem pretende mudá-la. Equipamentos que até há pouco tempo estavam restritos a UTIs hoje são portáteis e baratos.

Associados a bases de dados e algoritmos complexos, sensores embutidos em smartphones, pulseiras, relógios ou fitas elásticas presas ao corpo permitem o registro e o compartilhamento de atividades cotidianas que até há pouco eram ignoradas.

Aplicativos dignos de ficção científica calculam a frequência cardíaca de repouso a partir de uma foto de celular. Bombinhas de asma usam GPS para evitar áreas de risco. Cápsulas com sensores medem a digestão. Protótipos tentam adivinhar as emoções de seus usuários baseados em suas variações de movimento e padrões de digitação.

A automensuração não é uma prática nova. Atletas, pessoas com alergias e portadores de doenças crônicas monitoram seus hábitos há décadas. A diferença dessas novas tecnologias está na facilidade da coleta e na abrangência da análise.

Hoje, com um smartphone e aplicativos baratos, qualquer um pode medir qualidade do sono, atividade física, peso e gordura corporal, calorias das refeições, passos caminhados, andares subidos a pé, consumo de álcool, pressão, oxigenação e níveis de açúcar do sangue.

Mesmo que ainda sejam imprecisos, esses aparelhos têm a vantagem de estar sempre disponíveis. Ao facilitar a medição, registrar o progresso e estimular seu compartilhamento via redes sociais, eles transformam a vontade de mudar em um jogo, um compromisso público com o apoio dos amigos.

Em novas redes sociais, como PatientsLikeMe e CureTogether, seus usuários deixam de lado a privacidade para buscar possíveis respostas que melhorem sua situação ou tragam algum conforto. Se por um lado elas estimulam o autoconhecimento e a mudança, é inegável que também podem levar à automedicação ou a soluções caseiras inócuas ou perigosas.

Mesmo que seja um placebo distante da verdadeira revolução médica, a mensuração ajuda a potencializar as descobertas científicas na prevenção de doenças, enquanto a engenharia genética e a nanotecnologia não ganham as prateleiras das farmácias. É só imaginar a riqueza de dados que pode surgir quando usuários de redes sociais passarem a compartilhar a qualidade do sono ou o progresso da dieta.

A área é nova e deve ser examinada com cuidado. Por mais que os benefícios coletivos valham a pena, a exposição individual extrema dos históricos médicos ou terapêuticos pode restringir acessos e causar diversos constrangimentos a seus usuários. Novíssima fronteira da privacidade, os dados médicos só deverão ser comercializados quando os benefícios superarem os custos.

folha@luli.com.br


DESEJOS

O grande barato da vida é olhar pra trás e sentir orgulho da nossa história.

O grande lance , é viver cada momento como se a receita da felicidade fosse o AQUI e AGORA! Claro que a vida prega peças. É lógico que, por vezes, o bolo sola, o pneu fura, chove demais...

Mas pensa só: Tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia? Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma discussão na ida pro trabalho?

Tá certo, eu sei, Polyanna é personagem de ficção, hiena come porcaria e ri, eu sei. Não quero ser cega, burra ou dissimulada. Quero viver bem. 2012 foi um ano cheio. Foi cheio de coisas boas e realizações, mas também cheio de probleminhas...

Normal. Às vezes se espera demais dos outros e da vida, mas...Normal.... A grana que é curta, o amigo que decepcionou, o amor que acabou...Normal.

2013 não vai ser diferente. Muda o século, o milênio , o ano,  mas o homem é cheio de imperfeições, a natureza tem sua personalidade que nem sempre é a que a gente deseja, mas e aí? Fazer o que? Acabar com o seu dia? Com seu bom humor? Com sua esperança?

O que eu desejo pra todos nós é sabedoria, é que todos nós saibamos transformar tudo em uma boa experiência! Que todos consigamos perdoar o desconhecido, o mal educado. Ele passou na sua vida.

Não pode ser responsável por um dia ruim. Entender o amigo que não merece nossa melhor parte. Se ele decepcionou, passa ela pra categoria 3, a dos conhecidos. Ou muda de classe, vira colega. Além do mais, a gente, provavelmente, também já decepcionou alguém.

O nosso desejo não se realizou? Beleza, não tava na hora, não deveria ser a melhor coisa pra esse momento (me lembro sempre de uma frase que adoro: 'Cuidado com seus desejos, eles podem se tornar realidade'). Chorar de dor, de solidão, de tristeza, faz parte do ser humano. Não adianta lutar contra isso.

Mas se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com generosidade, as coisas ficam diferentes...... Desejo pra todo mundo esse olhar especial......

2013 pode ser um ano especial se nosso olhar for diferente. Pode ser muito legal, se entendermos nossas fragilidades e egoísmos, e dermos a volta nisso. Somos fracos, mas podemos melhorar. Somos egoístas, mas podemos entender o outro.

Eu desejo que 2013 seja o máximo para todos nós, maravilhoso, lindo, maneiro, especial... Depende de mim! De você!  De Nós!

"Que a virada do ano não seja somente uma data, mas um momento para repensar tudo o que fizemos e que desejamos, afinal sonhos e desejos podem se tornar realidade somente se fizermos jus e acreditarmos neles!"

UM FELIZ  ANO NOVO E OLHAR NOVO PARA TODOS NÓS!!!!!



31/12/2012 e 01/01/2013 | N° 17299
FABRÍCIO CARPINEJAR

Falo eu te amo fácil, fácil

Nada acontece por acaso.

Em tudo há um porquê.

Era para a gente se encontrar.

Apague essas frases, largue o curso preparatório de noivos.

Amor não é uma fatalidade, é algo que inventamos, é a responsabilidade de definir, de assinar, de honrar a letra.

Colocamos a culpa no destino para não assumirmos o controle, tampouco sustentarmos nossas experiências e explicarmos nossas falhas.

Amar é oferecer nossas decisões para o outro decidir junto, é alcançar o nosso passado para o outro lembrar junto, mas jamais significa se anular.

É vulnerabilidade consciente. É fraqueza avisada.

É entregar nossa solidão ciente de que é irreversível, podendo nos ferir feio, podendo nos machucar fundo.

Não existe nada mais horrível e mais lindo.

Ninguém nos mandou estar ali, ninguém nos obrigou a nos aproximar daquela pessoa, ninguém nos determinou a começar uma relação.

Não teve um chefão, um mafioso, um tirano, um ditador nos ordenando namorar.

Foi você que optou. Assuma até o fim que é sua obra, inclusive o fim. Assuma que sua companhia é resultado direto do seu gosto, sendo canalha ou santa. Não adianta se iludir e tirar o pé. Não vale fingir e mentir freios.

Amor não é hipnose, passe, incorporação. É você querendo o melhor ou pior para sua vida. É você roteirizando e dirigindo as cenas.

Aquele que tem receio de se declarar não se deu conta de que é o próprio diretor do filme, e que a tela vai mostrar o sucesso e o fracasso de sua imaginação.

Por isso, não tenho medo de dizer “eu te amo” desde o início. O amor aumenta para quem diz “eu te amo”.

Se vou errar, eu é que errei. Se vou acertar, sou eu que acertei. Se vou me danar, o inferno será meu.

Falo “eu te amo” já no segundo encontro. Já para assustar. Já para avisar quem manda. Já para estabelecer as regras do jogo.

Falo no calor da hora ou no moletom do entardecer. Amor não surge do além, amor se cria da insistência.

A precipitação é uma farsa. Não há como me adiantar e me atrasar em sentimento que eu mesmo realizo. É bobagem negacear prazos, esperar amadurecer limites.

Exponho minha paixão fácil, fácil. Nem precisa perguntar.

Aprendo a amar amando, para entender que a maior declaração ainda não é o “eu te amo”. É quando alguém confessa: “Não consigo mais viver sem você”.

Mas isso não é amor, é coragem.


31/12/2012 e 01/01/2013 | N° 17299
LUÍS AUGUSTO FISCHER

Eu, uma forma do nada

Pensei em oferecer ao leitor passante um poema, nesta virada de ano. Uma peça dessas que a gente toca e, levada a sério, muda o dia e pode mudar a vida. Enquanto não sai o novo e excelente livro do Celso Gutfreind, que eu tenho o privilégio de conhecer antes de sair ao mundo e por certo encantar, enquanto ainda estamos celebrando os prêmios do Guto Leite poeta (prêmio Açorianos para inéditos) e do Paulo Scott romancista (prêmio Biblioteca Nacional), sugiro um soneto do Paulo Henriques Britto em seu Formas do Nada (Cia. das Letras, 2012), um dos grandes livros do ano que finda.

O livro todo, como já insinuado no título, é tecido de negatividade. Troço para quem tem estômago forte. O autor é tradutor do inglês, professor deste tema e poeta, em tudo reconhecido como um dos melhores. E neste livro parece que resolveu deixar escoar um tanto de descrédito nas possibilidades de ser feliz – mas isso dito em poemas de alto coturno, coisa para ler e reler, coisa para guardar em todos os sentidos desta engenhosa palavra, guardar.

Soneto VIII da série Biographia Literária (nome que antes serviu de título de um famoso livro de memórias e ensaios de Samuel Taylor Coleridge, poeta inglês):

Já se aproxima aquele tempo duro

de se colher o que ninguém plantou.

Sim, a coisa deu nisso. Eis o futuro,

exatamente o que se esperava. Ou

o exato oposto. Tudo faz sentido,

ainda que não, talvez, um que se entenda,

um que possa sequer ser entendido

nos termos de um passado agora lenda.

Sim. E no entanto essa lenda, essa fábula

sem moral nenhuma, é você. Embora

só um esforço de desmemória, tabula

rasa de si, leve ao que se perdeu,

revele o que resta. Vamos, é agora

ou nunca. Repita comigo: “Eu”.

Eu, uma forma do nada. Mas é o que temos. Bom ano para quem merece.


31/12/2012 e 01/01/2013 | N° 17299
PAULO SANT’ANA

Monsenhor Ermillo

Dizem que 2012 foi o ano do compartilhamento. Foram compartilhados amigos, notícias, fofocas, fotografias, namoradas, sogras, tudo pela internet. O mundo ficou mais rápido, mais próximo e também mais pueril, banal, superficial em 2012.

Eu contribuí para isso. Respondi a todas as enquetes que me ofereceram pela internet. Sobre o penteado mais bonito do Neymar (o moicano castanho-claro), o melhor técnico para a Seleção (Tite), a melhor pizza (lombo canadense com abacaxi).

Votei na mais bela praia (Ibiraquera), no maior centroavante do Grêmio de todos os tempos (Alcindo), na separação do ano (Zezé di Camargo e Luciano. Mas depois os dois voltaram e votei então na separação de Zezé de Camargo e Zilu). Tudo bobagem, menos o Alcindo.

Em 2012, quase desaprendi a fazer minha assinatura. Tive cheques questionados, fui ao banco, desenhei tudo de novo. Fiquei inseguro ao escrever meu nome, como se estivesse tentando imitar a assinatura de alguém.

Aderi à parte da onda retrô. Tudo que é moda é retrô. Carro colorido, sapato de bico fino, terno de listra de giz, gravata amarela. Ainda espero a volta da camisa de ban-lon.

Vi uma corrida de Fórmula-1 em 2012, depois de muito tempo. Foi como assistir a uma carreira de galgos no Azerbaijão. Não sei mais nada de Fórmula-1. O único piloto que conheço é o Rubinho. Na corrida que vi, ele estava dando na Alemanha as últimas voltas do Grande Prêmio da Itália, de duas semanas antes. Nada é mais sem graça do que a Fórmula-1.

As eleições para prefeito também ficaram estranhas em Porto Alegre em 2012. Como pode uma eleição ser monopolizada por três candidatos à esquerda? Onde foi parar a direita de Porto Alegre?

No ano velho, descobri também, por e-mail, que tenho um fundo de investimento num banco da Holanda. Mas não me animei a abrir o arquivo que mandaram com o saldo. Posso ter perdido dinheiro. E se foi uma herança?

Uns vão dizer que o ano passou rápido. Outros, que foi lento. Uns, que mudaram; outros, que não aproveitaram o ano para mudar. É sempre assim. Eu me dei conta de que 2012 foi o ano em que voltei a rezar.

Conto como foi. Há duas semanas, reencontrei monsenhor João Ermillo nos corredores do Hospital Santa Rita. Trocamos informações sobre a saúde e concluímos que estamos bem. Aquele capelão de 85 anos, que estava indo à bica pegar água, é um homem bom.

Relembramos que por 40 dias, em duas internações, fui convidado por ele a rezar todas as manhãs. O capelão foi generoso, paciencioso e obsequioso ao perceber que orava com um paciente com o olhar opaco dos desesperados, mas com uma fé precária, pela metade.

Foi bom tê-lo por perto. Não porque eu acredite em tudo que ele acredita como religioso, até porque isso não importa. Importa que a reza me devolveu a uma área de proteção da minha vida, guarnecida pela memória das mulheres rezadeiras da minha infância, que me trouxeram até aqui.

Foi o que me confortou e o que me bastou. Boas rezas em 2013, monsenhor Ermillo.


31/12/2012 e 01/01/2013 | N° 17299
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL

Hugo Achugar

Há uma regra não escrita que desaconselha resenhas de livros indisponíveis no Brasil. Tem sua razão de ser; mas, se pensarmos que, por essa causa, deixamos de dar uma boa notícia literária, temos de relativizar o princípio. E se essa boa notícia faz justiça a um excepcional livro de poemas publicado em 2012 no Uruguai, um livro de Hugo Achugar, Incorrección (ed. Yaugurú), cabe dizer sobre o autor e a obra.

Hugo Achugar (1944) é um dos mais importantes intelectuais contemporâneos, com bons antecedentes no ensaio, na crítica, no magistério e, também, na poesia. Sua ação política levou-o ao cargo que hoje ocupa, de diretor nacional de Cultura do Uruguai, no governo José Mujica.

O livro é pleno de existência humana em seu estágio maduro, primórdios da velhice: Conoce su destino. Infringe todas las reglas./ Cada mañana / al despertar/ vuelve a dar um paso hacia el abismo/ se lava los dientes/ escribe um nuevo innecesario poema. Ou, mais adiante: Solo hay nubes / en el cielo encerado de mi frente calvicie. / Flor degollada por pampero aliento/ rueda sin prisa pelota pelón melón cabeza/ por los campos sin sueño de la madrugada.

O ápice do poemário está aqui: Todo deseo insatisfecho concluye / en un nuevo deseo que no logrará / calmar inagotable la sed aberta / la insondable fosa de las Marianas de esa avidez / hecha carne y hueso que lleva mi nombre // por eso la obligación el apuro la necessidad / el fondo blanco hasta el agua de los floreros / la cópula incessante aunque cesada tiempo ha// por eso la ausencia de horizontes / el infinito como aspiración y castigo / el anhelo el empeño la culpa deseante/ por eso el no acabar ni acabando / por eso el desasosiego aguijón la demanda / y también por eso / por lo que no se puede no me atrevo a pronunciar.

Simples, refinado, homem do mundo e da arte, Hugo Achugar desempenha-se com habilidade nos assuntos práticos de seu ofício político, criando situações inovadoras e brilhantes no sentido da inclusão e da cidadania cultural. Quando, por vezes, dizem que todos os poetas são uns imprestáveis na “vida real”, Achugar mostra-nos justo o contrário.

Resta-nos esperar que uma editora brasileira assuma a publicação dessa obra, para que possamos conhecer algo de um poeta verdadeiramente superior e que vive a nosso lado.

domingo, 30 de dezembro de 2012


FERREIRA GULLAR

Me engana que eu gosto

O próprio Lula admitiu que houve o mensalão ao pedir desculpas publicamente em discurso à nação

Muitos de vocês, como eu também, hão de se perguntar por que, depois de tantos escândalos envolvendo os dois governos petistas, a popularidade de Dilma e Lula se mantém alta e o PT cresceu nas últimas eleições municipais. Seria muita pretensão dizer que sei a resposta a essa pergunta. Não sei, mas, porque me pergunto, tento respondê-la ou, pelo menos, examinar os diversos fatores que influem nela.

Assim, a primeira coisa a fazer é levar em conta as particularidades do eleitorado do país e o momento histórico em que vivemos. Sem pretender aprofundar-me na matéria, diria que um dos traços marcantes do nosso eleitorado é ser constituído, em grande parte, por pessoas de poucas posses e trabalhadores de baixos salários, sem falar nos que passam fome.

Isso o distingue, por exemplo, do eleitorado europeu, e se reflete consequentemente no conteúdo das campanhas eleitorais e no resultado das urnas. Lá, o neopopulismo latino-americano não tem vez. Hugo Chávez e Lula nem pensar.

Historicamente, o neopopulismo é resultante da deterioração do esquerdismo revolucionário que teve seu auge na primeira metade do século 20 e, na América Latina, culminaria com a Revolução Cubana. A queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética deixaram, como herança residual, a exploração da desigualdade social, já não como conflito entre o operariado e a burguesia, mas, sim, entre pobres e ricos. O PT é exemplo disso: nasceu prometendo fazer no Brasil uma revolução equivalente à de Fidel em Cuba e terminou como partido da Bolsa Família e da aliança com Maluf e com os evangélicos.

Esses são fatos indiscutíveis, que tampouco Lula tentou ocultar: sua aliança com os evangélicos é pública e notória, pois chegou a nomear um integrante da seita do bispo Macedo para um de seus ministérios. A aliança com Paulo Maluf foi difundida pela televisão para todo o país. Mas nada disso alterou o prestígio eleitoral de Lula, tanto que Haddad foi eleito prefeito da cidade de São Paulo folgadamente.

E o julgamento do mensalão? Nenhum escândalo político foi tão difundido e comprovado quanto esse, que resultou na condenação de figuras do primeiro escalão do PT e do governo Lula. Não obstante, o número de vereadores petistas aumentou em quase todo o país.

E tem mais. Mal o STF decidiu pela condenação de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, estourava um novo escândalo, envolvendo, entre outros, altos funcionários do governo, Rose Noronha, chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo e pessoa da confiança e da intimidade de Lula.

Em seguida, as revelações feitas por Marcos Valério vieram demonstrar a participação direta de Lula no mensalão. Apesar de tudo isso, a última pesquisa de opinião da Datafolha mostrou que Dilma e Lula continuam na preferência de mais de 50 % da opinião pública.

Como explicá-lo? É que essa gente que os apoia aprova a corrupção? Não creio. Afora os que apoiam Lula por gratidão, já que ele lhes concedeu tantas benesses, há aqueles que o apoiam, digamos, ideologicamente, ainda que essa ideologia quase nada signifique.

Esse é um ponto que mereceria a análise dos psicólogos sociais. O cara acha que Lula encarna a luta contra a desigualdade, identifica-se com ele e, por isso, não pode acreditar que ele seja corrupto. Consequentemente, a única opção é admitir que o Supremo Tribunal Federal não julgou os mensaleiros com isenção e que a imprensa mente quando divulga os escândalos.

O que ele não pode é aceitar que errou todos esses anos, confiando no líder. Quando no governo Fernando Henrique surgiu o medicamento genérico, os lulistas propalaram que aquilo era falso remédio, que os compridos continham farinha. E não os compravam, ainda que fossem muito mais baratos. Esse tipo de eleitor mente até para si mesmo.

Não obstante, uma coisa é inegável: os dirigentes petistas sabem que tudo é verdade. O próprio Lula admitiu que houve o mensalão ao pedir desculpas publicamente em discurso à nação.

Por isso, só lhes resta, agora, fingirem-se de indignados, apresentarem-se como vítimas inocentes, prometendo ir às ruas para denunciar os caluniadores. Mas quem são os caluniadores, o Supremo Tribunal e a Polícia Federal? Essa é uma comédia que nem graça tem.

DANUZA LEÃO

Encontros

Para conquistar uma mulher, o homem tem que se empenhar. Para a mulher, basta um vestido sexy

Uma amiga me ligou, cheia de dúvidas, querendo saber como se vestir e que personalidade adotar para um primeiro encontro. Dei palpites, os de praxe: que ela deveria ser ela mesma, etc. etc. Contei essa história para um amigo e ele me desorganizou, mostrando que as coisas não são bem assim. Ótimo, homem é para isso mesmo: para nos desorganizar.

Na sua opinião, não deve haver preocupação alguma, porque o primeiro encontro não tem hora marcada; que o verdadeiro encontro de um homem com uma mulher é tão imprevisível que questões como roupa, postura e conversa não têm a menor importância, já que não há como se programar. Ah, esse homem sabe das coisas.

Depois de contar vários que aconteceram em sua vida -todos absolutamente inesperados- ele explica que o primeiro encontro é um prato que "não exige preparo"; não há que ser alguém, ninguém, nem você mesma. Para que um primeiro encontro aconteça, é preciso que se esteja preparada para ele -ou o encontro acaba em desencontro.

Homens e mulheres, decididamente, não são iguais; um homem pode se apaixonar por uma mulher só porque a viu envolta em rendas ou saindo do mar depois de um mergulho. Mas dificilmente um homem, desembarcando de um táxi, provoca uma impressão definitiva em uma mulher, a não ser que ele seja mesmo muito especial -o que, convenhamos, é raro. Não sei se é um problema cultural ou da natureza mesmo, mas dificilmente uma mulher se envolve com um homem num primeiro olhar, num rápido encontro. Pode até acontecer, mas é difícil.

Talvez sejamos mais medrosas, talvez mais contidas, mas o fato é que dificilmente sentimos esses grandes impulsos assim, à primeira vista. Para que uma mulher seja conquistada o homem tem que dispor de tempo, de talento, e se empenhar. Para uma mulher é bem mais fácil: basta um vestido sexy, uma perna cruzada da maneira certa e um olhar desavergonhadamente casto, e pronto.

Sabe por que somos tão diferentes? Porque mulher tem mania de se apaixonar, e tem também a fantasia de que o amor é eterno; nenhuma se apaixona por uma aparência, e como os homens pensam exatamente o contrário, a equação fica difícil.

Vamos, então, desdizer tudo o que foi dito: para que o encontro aconteça, é preciso sobretudo não planejar nada, mas estar preparada, internamente, para o que der e vier.

Quando uma mulher e um homem se sentam em volta de uma mesa costuma rolar uma certa tensão, o que impede aquela distração necessária para que o encontro aconteça. Seria preciso talvez que houvesse muitos impedimentos, quem sabe se ele fosse padre, talvez o marido de sua melhor amiga, que você estivesse vendo pela primeira vez.

Esses seriam motivos bastante fortes para você conseguir tomar um vinho na maior inocência, sem ter, em nenhum momento, aqueles pensamentos inevitáveis: se aquele homem é ou não interessante, se é ou não charmoso, se está tentando seduzir você ou sendo apenas educado. É difícil, convenhamos. O homem consegue: a mulher, quase nunca.

Grandes encontros, sem nenhuma preparação, são coisa de homem. Mas e elas, estavam assim tão distraídas? Será? As mulheres, quando estão perto de um homem, são como os escoteiros: estão sempre alertas, no mínimo para testar como andam seus poderes de sedução.

Mas cuidado, se encontrar uma que pareça mais distraída: ela pode estar fazendo o que sabe fazer melhor, isto é, um gênero; como você já deve saber, mulher é capaz de fazer qualquer coisa para despertar o interesse de um homem.

Até de dizer não.

SAMUEL PESSOA

Olhando para trás e para a frente

Todo o nó de 2013 para a economia é a retomada do investimento; o que ocorrerá se ele não voltar?

Esta é a última coluna do ano. Bom momento para olhar para o que passou e tentar divisar 2013.

A marca de 2012 será o baixíssimo crescimento de 1%, número muito abaixo do que todos os analistas, inclusive eu, prevíamos. Os prognósticos mais pessimistas previam crescimento de 2,5%. O Ibre previu 3%.

Não era difícil encontrar números próximos ou superiores a 4%. Assim, a frustração de crescimento foi generalizada e não se restringiu somente aos órgãos oficiais. A economia surpreendeu a todos.

O baixo crescimento resultou da retração do investimento ao longo dos quatro trimestres de 2012. Essa redução não esperada da demanda agregada explica a maior parte da surpresa negativa. No entanto a inflação terminará acima de 5,5%.

Como conciliar economia em baixa, fruto de choque negativo de demanda, com inflação alta? Apesar de elevada, houve queda da inflação, já que ela fechou 2011 em 6,5%.

A queda da inflação somente não foi maior por estarmos em um regime de câmbio fixo. Até o primeiro semestre de 2010, quando o câmbio ainda flutuava, sempre que havia elevação dos preços das commodities, o câmbio valorizava-se de forma a manter o preço em reais dessas mesmas matérias-primas relativamente constante.

Com a alteração do padrão cambial, a economia brasileira ficou mais exposta a choques de preço. A forte elevação das cotações dos bens agrícolas neste ano, consequência de safras ruins nos Estados Unidos e na Argentina, foi repassada aos preços internos. Se não fosse pela alta das commodities agrícolas produzida pelo regime de câmbio fixo, a inflação em 2012 teria sido quase um ponto percentual mais baixa.

No entanto, em que pese a frustração de demanda com queda de inflação, o crescimento liderado pelo setor de serviços tem contribuído para manter o mercado de trabalho aquecido e, com ele, a inflação de serviços na casa de 8,5% ao ano.

E aí, talvez, tenhamos por ocasião da divulgação pelo IBGE da revisão das contas nacionais referente a 2012 (que ocorrerá em alguns anos) alguma surpresa. Provavelmente o crescimento de 2012 será mais próximo de 2% ou 2,5% do que de 1%. O crescimento será mais coerente com os números do mercado de trabalho. No entanto teremos que esperar alguns anos por essa revisão. Por enquanto ficaremos com o crescimento de 1%.

Para 2013, espero crescimento de 3%, com inflação entre 5,5% e 6%. O cenário de crescimento na casa de 3% prevê recuperação do investimento, que deverá crescer 6% em termos reais. A expansão de 6% em 2013 do investimento em relação ao valor médio de 2012 representa uma variação de janeiro a dezembro de 2013 de quase 10%. Dado que o investimento andou para trás ao longo de 2012, ele terminou em nível mais baixo do que iniciou.

O ponto a reter é que o crescimento projetado de 3% requer forte avanço do investimento.

Por ora, os sinais que temos é que essa retomada ficou para o primeiro trimestre de 2013. Se o investimento não for retomado, o cenário terá que ser revisto.

Finalmente, se o regime de câmbio fixo continuar a funcionar em 2013, haverá uma força desinflacionária externa se as safras de grãos forem boas e compensarem o choque negativo de 2012. No entanto é possível que a Fazenda considere esse possível choque positivo como ocasião para mais um passo em direção a um câmbio mais competitivo para a indústria.

O cenário Ibre para 2013 sustenta-se em uma perspectiva internacional ruim -crescimento de 1,5% dos EUA e próximo de zero na Europa-, mas sem um evento de crédito na Europa.

Se houver algum evento com crise aguda de crédito na Europa, reviveremos algo próximo do que houve em 2008. No entanto, dado que a situação da economia mundial e da brasileira é muito menos brilhante agora do que no terceiro trimestre de 2008, o tombo será bem menor.

Do ponto de vista da popularidade da presidente, o cenário de crescimento de 3% com retomada do investimento manterá o desemprego em baixa, com algum espaço para crescimento da renda. A popularidade deve terminar 2013 em nível próximo ao atual.

Todo o nó de 2013 é a retomada do investimento. O que ocorrerá se ele não voltar?

SAMUEL PESSÔA é doutor em economia e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da FGV. Escreve aos domingos nesta coluna.

ELIANE CANTANHÊDE

Contando os minutos

BRASÍLIA - O ex-presidente Lula e sua pupila e sucessora Dilma não veem a hora de 2012 terminar. Foi, ou está sendo, um ano difícil.

O mito Lula foi reforçado com a vitória de Haddad em São Paulo, mas sacudido por meses de julgamento do mensalão e pelas condenações de Dirceu e de figuras chaves da sua campanha em 2002 e do seu governo.

No fim, enfrentou três ameaças ambulantes a ele e ao PT: o pivô do mensalão, Marcos Valério, a ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha, e até o nefasto Carlinhos Cachoeira.

Valério e Cachoeira, sobretudo, não são flores que se cheirem e o que dizem não tem lá credibilidade. Mas também é fato que estavam perigosamente próximos do poder e, contem mentiras ou não, sabem de muitas verdades. Se não derrubam o mito, deixam interrogações. Bem não fazem e podem fazer muito mal à aura, à imagem.

Quanto a Dilma: ela peitou bancos e telefônicas, reduziu IPI, recheou prateleiras de remédios gratuitos, privilegiou professores nas negociações salariais, estimulou decisivamente a ida de estudantes brasileiros para o exterior e garantiu um nível de emprego invejável no mapa internacional. Não é pouco, mas não é tudo.

Em duas áreas fundamentais, a presidente chegou ao final do ano sob fortes críticas e crescentes pressões: gestão (logo ela, com toda a marca e pinta de gestora?) e política econômica (pibinho de 1%? Faça-me o favor). Derrapando em portos, aeroportos e apagões, ela bateu na incapacidade de fazer o país crescer. São muitas medidas no varejo e poucos resultados no atacado.

A marca social do governo Lula e os acertos populares de Dilma mantêm a altíssima aprovação de ambos e a expectativa de vitória em 2014. Mas não é à toa que Aécio se mexe, o aliado Eduardo Campos se assanha, Marina Silva sai da toca e eleitores sonham com Joaquim. No mínimo, veem espaço para alternativas.

elianec@uol.com.br

JANIO DE FREITAS

Confronto que endurece

Para aturdir os governantes do PT, deixando-os à mercê da pancadaria, um aparelho em pane é suficiente.

Tão palavrosos como dirigentes partidários e como militantes, nos seus governos os petistas são um fracasso de comunicação até aqui inexplicável. E pagam preços altíssimos por isso, sem no entanto se aperceberem dos desastres e suas consequências. Ou melhor, às vezes percebem, e até se autocriticam, mas com atraso de anos.

Para aturdir os governantes e dirigentes petistas, deixando-os à mercê da pancadaria, nem é preciso um canhonaço como foi o mensalão. Um aparelho de ar refrigerado em pane é suficiente. Nada mais normal do que a quebra de uma máquina.

Mas há cinco dias os usuários do aeroporto Santos Dumont se esfalfam em queixas e acusações; e, no outro lado, a presidente, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a Secretaria de Aviação Civil (a que veio mesmo?) e a Infraero apanham, inertes, dos meios de comunicação e da estimulada opinião pública.

No governo imenso, cheio de assessorias de comunicação próprias e contratadas, a ninguém ocorreu romper o marasmo burocrático e dirigir-se à população com as explicações devidas.

A quebra foi assim-assado, tomaram-se tais providências, e, depois, o reparo está demorando ou não deu certo por tais motivos, diante dos quais estão tomadas as seguintes providências, e por aí afora.

Nada de difícil ou especial. Aquilo mesmo que se espera ao buscar o carrinho ou, se tucano, ir pegar o carrão e não o encontrar pronto na oficina. Aborrece, mas se a explicação não falta e é honesta, o provável é perceber-se uma situação desagradavelmente normal na era das máquinas. E nada mais.

No aeroporto Tom Jobim deu-se o mesmo, com a pane local de um transformador. Mas tudo virou um problema enorme de falta de geração de energia, de apagão.

Até os índios do Xingu e do Madeira foram condenados, com o brado destemido de Regina Duarte a favor da inundação das terras indígenas e da floresta: "Viva Belo Monte! Essa [um aparelho de ar refrigerado quebrado] é a prova de que precisamos de uma nova estrutura em energia!"

Talvez, contra o calorão do Santos Dumont, comprar um aparelho novo fosse mais barato e eficiente do que construir uma hidrelétrica na Amazônia. Bem, depois a atriz se disse preocupada também com o calorão na Copa do Mundo. A qual, aliás, será no inverno. Mas o que interessa é ter aproveitado a bobeada do governo petista.

Desde a entrevista de Lula em Paris, sentado a meio de um jardim de hotel, com uma jovem entrevistadora mal improvisada, para gaguejar grotescos esclarecimentos do mensalão, logo serão dez anos.

A inesgotável oratória de Lula, com sua mescla de populismo político e ativismo social, nesse tempo contornou a maioria dos percalços que o sistema de comunicação dos governos petistas não encarou. Com o julgamento do mensalão e com as cenas que ainda promete, o governo Dilma Rousseff é o alvo do agora exaltado antilulismo ou antipetismo (a rigor, não são o mesmo).

Assim, neste embate endurecido, tende a ser o 2013 que veremos.

sábado, 29 de dezembro de 2012



30 de dezembro de 2012 | N° 17298
MARTHA MEDEIROS

O fim e o começo

Como era de se esperar, não teve fim de mundo. Mas 2012 não foi um ano qualquer. Muitas pessoas a minha volta sentiram algo parecido com o que senti: que este foi um ano de intensidade única, com uma energia capaz de encerrar etapas. Um ano de despedidas, algumas concretas, outras mais sutis.

Houve quem tenha terminado casos mal resolvidos, quem tenha se conscientizado de um problema que não queria ver, quem se deu conta da fragilidade de uma situação, quem tenha aceitado um desafio que exigiu coragem, quem tenha enfrentado uma situação transformadora, quem tenha se jogado num estilo de vida diferente. Olho para os lados e vejo que 2012 não passou em branco para quase ninguém. Pelo menos não para mim, nem para pessoas próximas.

Meu microcosmo não revela o universo inteiro, lógico. Você talvez não tenha percebido nada de incomum no ano que passou, mas ainda assim seria interessante promover um fim categórico, encerrar o ano colocando uma pedra em algo que não lhe convém mais. 

Geralmente chegamos ao final de dezembro focados apenas no recomeço, na renovação, nos planos, sem nos darmos conta de que, para que nossas resoluções sejam cumpridas mais adiante, não basta pular sete ondas, comer lentilhas e outras mandingas. É preciso que haja, sim, o fim do mundo. O fim de um mundo seu, particular.

Qual o mundo que você precisa exterminar da sua vida?

Sugestão: o mundo do bullying cibernético. Ninguém é autêntico por esculhambar o trabalho dos outros, sendo agressivo e mal-educado só porque tem a seu favor o anonimato na internet. Perder horas na frente do computador demonstra sua total incapacidade de convívio. Bum! Fim desse mundo estreito.

O mundo da prepotência, aquele que faz você pensar que todos lhe estenderão um tapete vermelho sem você precisar dar nada em troca. Qualquer um pode ser profético quanto a seu futuro: passará o resto da vida achando que ninguém lhe dá o devido valor, isolado em sua torre de marfim.

O mundo obcecado do amor doentio, aquele amor que só persiste pelo medo da solidão, e que de frustração em frustração vai minando sua possibilidade de ser feliz de outro modo.

O mundo das coisas sem importância. Quanta dedicação ao sobrenome do fulano, à conta bancária do sicrano, à vida amorosa da beltrana, o quanto ela pagou, o quanto ele deveu, quem reatou. Por cinco minutos, vá lá. Os neurônios precisam descansar. Mas esse trelelé o dia inteiro, socorro.

O mundo do imobilismo. Do aguardar sem se mover. Da espera passiva pelo momento certo que nunca chega.

2012 prenunciou um cataclismo, só que não era global, e sim individual. Impôs que cada um desse um fim à vida como era antes e que promovesse uma mudança interna, profunda e renovadora. Feito?

Então que venha um 2013 do outro mundo para todos nós.



30 de dezembro de 2012 | N° 17298
PAULO SANT’ANA

A Mega e a poupança

Invista em ouro ou bauxita, empreste o dinheiro à Fifa, compre o Riquelme e doe ao Grêmio. Mas não aplique os R$ 230 milhões da Mega Sena em poupança. Não há por que continuar se enganando. A poupança não paga mais nada há muito tempo. Poupança não é nem mesmo correção de capital.

As autoridades monetárias e os bancos não gostam que se diga isso, em nome de um falso civismo. Pedem poupança, mas não a remuneram. Se você aplicar o dinheiro em contêineres de torresmo, ganhará muito mais do que na poupança. Aplique em cavalo crioulo, em leivas de grama do Olímpico (da grama sem costura), em criação de minhoca, mas não aplique em poupança.

É crueldade o que fizeram com a poupança. A diferença entre o que os bancos cobram de juro nos empréstimos e o que pagam de rendimento é tão grande, que a queda que o Banco Central provocou nos juros eliminou os ganhos da poupança. Todo mês, a poupança perde para a inflação.

É um jogo desigual. Esta semana, o filósofo Vladimir Safatle escreveu na Folha de S. Paulo sobre as aberrações da economia brasileira, no que definiu como capitalismo de espoliação. Aqui, o juro é o maior do mundo. Um carro custa o dobro do que em países do mesmo porte, porque a margem de lucro da indústria é o dobro da média mundial.

A energia brasileira é uma das mais caras. Mas falta luz, e não é por conta dos raios, segundo a presidente Dilma. Os ventos derrubam postes de eucalipto e leva-se um mês para fincar outro poste. Falta água, e como falta, e quando volta está marrom. O ônibus é caro. O transporte coletivo de Porto Alegre é uma caixa-preta que só agora o Ministério Público do TCE começa a abrir.

Enfim, há embromação e não há competição no Brasil, como diz o Safatle, e capitalismo sem competição é tudo, menos capitalismo. Pense nisso enquanto decide o que fazer com o dinheiro da Mega Sena. Só não compre piscina, porque piscina geralmente exige água, e água é produto escasso em regiões de Porto Alegre no verão – mesmo que esteja chovendo muito.

Ligação de Cancún, Sant’Ana na linha: “Não esquece de divulgar a queixa do leitor Gilberto Galli sobre o aumento do IPTU”.

Esta é a queixa, enviada por e-mail: “O IPTU de 2013 de São Paulo em relação a 2012 será 5,4% maior; o de Florianópolis, 6,8%; e o de Porto Alegre, 12,5%. É sempre assim, se verificar em outras capitais, provavelmente não se encontrará acréscimo igual ou maior do que o de Porto Alegre. Os salários corrigem em torno de 6%, por que o IPTU de Porto Alegre é SEMPRE muito maior do que a variação salarial? Ninguém fala nada na imprensa, a nossa única esperança é a sua manifestação. Abraço, Gilberto Galli”.

O juiz Sidinei Brzuska disse sexta-feira aqui na Zero por que o regime semiaberto é um fracasso. De cada mil presos, depois de 10 meses só ficam 150. Brzuska é da mesma linhagem de juízes como João Batista Saraiva. Metem o pé no barro, conversam cara a cara com quem delinquiu, não são apenas teóricos da Justiça, não se mixam e dizem o que têm de dizer.


30 de dezembro de 2012 | N° 17298
QUASE PERFEITO | Fabrício Carpinejar

“Estava namorando um cara havia quatro meses. Ele tinha no perfil dele 150 amigos, sendo que mais de 100 eram mulheres. De repente ele adicionou uma que comecei a perceber que não parava de segui-lo em todas as postagens. Tudo ela curtia, comentava e mandava beijos.

Ele me disse que não a conhecia pessoalmente, tampouco falava com ela. Até que a adicionei, ela aceitou, conversamos por mensagem, e ela me contou que conversam sempre, mas não têm vínculo. Fiquei braba, pedi para ele excluí-la e ele não aceitou. Terminamos. Estou louca? Uma mulher dá em cima do meu namorado e ele não faz nada. Estou desnorteada. Um abraço, Rafaela.”

Talibã do amor

Querida Rafaela!

As rupturas acontecem por picuinhas. Por brigas tolas. Jamais por assuntos sérios e de interesse maior.

É um ciuminho que se transforma em intolerância, é uma descortesia ingênua de tarde que migra para a difamação ao final da noite.

Com os desentendimentos menores, não imaginamos que vamos nos separar e desprezamos as reservas. Atacamos com ênfase, despreocupados, e passamos dos limites.

Com as discussões sérias, antevemos a gravidade do encontro e cuidamos de uma por uma das palavras. Temos mais paciência e flexibilidade.

Julgo mais fácil se separar por não lavar a louça do que por infidelidade.

Vejo que você chamou atenção para a importância da amiga dele – de flerte alçado à ameaça. Curiosamente toda mulher ou homem escolhe a sucessora ou o sucessor pelo ciúme. O ciúme faz a transferência da coroa e do cetro. Aponta quem é perigoso e com condições de ocupar o papel principal nos próximos capítulos da novela.

A amiga poderia se deleitar em ações platônicas: curtir, postar, comentar a página de seu namorado, desde que ficasse isolada na admiração. Seriam iniciativas inofensivas. O problema é que (VOCÊ) não conteve a irritação e exagerou na dose. Quis mostrar quem mandava e contra-atacou. Nem pelo medo de perdê-lo, e sim para testar sua influência. O amor sempre fracassa quando vira disputa de poder. O amor é despoder, confiar e não cobrar provas. Pena que realizou o contrário, solicitando demonstrações visíveis de dependência e respostas imediatas.

Travou uma guerra extremista desnecessária: ou ela ou eu. Supervalorizou a figura dela, a ponto de colocá-la no mesmo patamar de intimidade. Pôs uma completa desconhecida como rival ao adicioná-la, trocar mensagens e xeretear possíveis laços.

Não está louca, tampouco está certa. A mulher deu em cima, porém excluir ou rejeitar um contato superficial é promovê-lo.

Também tomaria cuidado com as restrições que se assemelham falsamente a prevenções. Prevenir não é limitar, prevenir é conversar e aceitar a escolha do outro. Não devemos mandar ou ordenar em nome do amor.

Sua estratégia não foi inteligente. Se ele não cumprisse o que desejava, já não servia. Não tinha saída negociável, não gerou conscientização gradual e consistente, tratava-se de um ultimato.

No namoro, as proibições são insaciáveis e nada recomendáveis. É excluir nomes no Facebook, depois excluir nomes no celular, depois excluir nomes da lista de festa, depois excluir nomes entre os amigos, até que não exista mais ninguém para pedir colo e nos consolar pelo fim do namoro.


30 de dezembro de 2012 | N° 17298
CLAUDIA TAJES

Lá vamos nós

Dizem que tudo de bom que a gente realiza conta pontos, só não sei para o quê. Mas isso não inclui o trânsito. No trânsito, dê espaço para três pedestres, dois carros, um ônibus, uma carroça e uma lotação e, quando você mais precisar de um espacinho, não terá. Não que se deva fazer uma gentileza pensando em retribuição, mas bem que educação no trânsito deveria contar pontos. Nem que fosse para a próxima conversão à esquerda.

Uma sugestão para os estacionamentos dos supermercados e shoppings. Assim como existem as vagas para idosos, gestantes e pessoas com dificuldades de locomoção, poderia haver vagas para barbeiros.

Não os profissionais da barba e do cabelo, mas aqueles que não conseguem estacionar dentro das duas linhas. Seriam vagas maiores, localizados em pontos mais distantes das portas principais, com toda a privacidade para o motorista barberear à vontade. Com esse monte de carros no mundo e a escassez de lugar para todos, não seria um serviço de utilidade pública?

A editora Gabrieli Chanas veio toda feliz com a novidade: um leitor te mandou uma cartinha pelo correio. Aproveitando uma passada pela redação, peguei meu envelope. Surpresa. O leitor, que só se identificou como Luiz Antônio, me passava uma carraspana porque a ninguém interessa o meu “gremismo”.

Também me mandou o xerox de uma reportagem sobre o livro do Paulo César Caju, o que me remeteu à célebre questão: e o Keko? Ô, Luiz Antônio, futebol a sério é na Editoria de Esportes. Aqui só tem pitaco de torcedora – e pitaco assinado. Aliás, se a sua carta viesse com assinatura e endereço, eu nem falaria dela aqui, trataria de mandar sua resposta pelo correio.

A Casa de Ideias surgiu em 2011 com a proposta de promover cursos, oficinas e palestras bacanas sobre assuntos interessantes. Mais ou menos o que faz o Studio Clio, que há tempos bota a cabeça do pessoal para trabalhar. Pois agora a Casa de Ideias inventou um projeto que anda bombando: o Trio Chico da Andréa Cavalheiro, Pedro Gonzaga e Rodrigo Reinheimer interpreta músicas do Chico Buarque, com comentários do professor Flávio Azevedo.

Tem fila de espera, cadeira extra, tudo como manda o figurino das boas atrações. E tomara que, logo, logo, rolem outras edições. Em janeiro, oficinas de Literatura & Cinema com Ismael Caneppele e Radioweb com Katia Suman e Diego Nienow. Mais em casadeideias.com.

Depois de três meses sem ver meu filho, eis que ele surge no desembarque do Salgado Filho. Mas quase que não volta. Na noite anterior ao voo, que partiria de Nova York às duas da tarde, decidiu pular a roleta para economizar na passagem do metrô. Frase que ecoou no ambiente: teje preso, só que em inglês.

Acabou na delegacia da estação, condenado a pagar uma multa em uma corte nos confins do Brooklyn. O jeito foi não dormir para comparecer às oito diante do senhor juiz, acertar a conta e pegar o transporte às dez para o aeroporto. Passagem de metrô: dois dólares e cinquenta. Multa: cem dólares. Mais uma história para contar: não tem preço. Mas que deu prejuízo, deu.

Nos finais de ano, sempre lembro da frase do Freud, ou da frase ao Freud atribuída, em conversa com a própria mulher: se um de nós dois morrer, me mudo para Paris. 2012 vai morrendo e lá vamos nós, de mala, cuia e planos, mudar para novos, e melhores, dias. Que 2013 mereça o que a gente espera dele.

RUTH DE AQUINO

50 previsões que darão errado

1. Lula dirá que sabia de alguma coisa.

2. Serra ganhará uma eleição. De Mister Simpatia. Fará um implante capilar com o hair stylist de Haddad, Celso Kamura.

3. Lula elogiará a imprensa brasileira e dará entrevista coletiva anunciando que não será mais candidato a nada.

4. Dilma viverá lua de mel com a base aliada, em especial com o PT. Será eleita musa dos sindicatos.

5. O PIB crescerá mais que o anunciado por Mantega.

6. Aécio Neves se recusará a ser candidato tucano à Presidência e passará a organizar concursos de misses.

7. O PSDB revelará, enfim, o projeto alternativo da oposição para o Brasil.

8. Fernando Henrique deixará outra pessoa falar pelo PSDB.

9. Rosemary Noronha procurará o cirurgião plástico de Dirceu e cairá na clandestinidade – mas, antes, mudará os óculos.

10. Dirceu será preso sem regalias. Jogará fora o celular e doará as bermudas chiques para Carlinhos Cachoeira.

11. Cachoeira assumirá as têmporas brancas a pedido da namoradinha do Brasil, Andressa.

12. O jogo do bicho acabará.

13. Nenhum policial achacará bicheiros ou traficantes nem armará autos de resistência em ações de extermínio.

14. Vazarão na internet fotos de Nicole Bahls vestida.

15. A gostosa do BBB não posará nua.

16. Clarice Lispector deixará de ser citada nas redes sociais.

17. Ninguém mais postará fotos de comida no Facebook.

18. Arnaldo Jabor acordará feliz.

19. Chico Buarque e Fernando Morais pedirão mais liberdade e democracia em Cuba.

20. Michel Teló desistirá de fazer música chiclete.

21. Acabarão os comerciais com Ivete Sangalo.

22. Luana Piovani não tuitará o marido surfista e ficará invisível.

23. O orçamento das obras para a Copa e a Olimpíada será revisto para baixo, porque sobrou dinheiro.

24. A CBF será uma confederação acima de qualquer suspeita.

25. Meu Botafogo será campeão brasileiro depois que o time aprender holandês com o Seedorf.

26. A reforma tributária sairá e pagaremos menos impostos.

27. Renan Calheiros fará história na presidência do Senado votando projetos importantes para o país. Em 2013, Lula dirá que sabia de algo, Serra ganhará uma eleição – e a gostosa do BBB não posará nua 

28. Sarney & Filha doarão parte de sua imensa fortuna ao “Maranhão-esperança”, projeto ambicioso para reduzir o analfabetis­mo, a prostituição infantil e a miséria do Estado.

29. O Congresso aprovará o fim do 14o e do 15o salários para os parlamentares e proibirá notas frias.

30. Deputados e senadores passarão a trabalhar na segunda e na sexta-feira para votar questões proteladas há 12 anos.

31. Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski concordarão.

32. Serão ressuscitados os rios Tietê e Pinheiros.

33. A Baía de Guanabara será enfim despoluída. Quem chega de carro ao Rio de Janeiro deixará de sentir cheiro de podre.

34. A Rocinha acabará com o esgoto a céu aberto, antes de ga­nhar teleférico turístico e obra póstuma de Niemeyer.

35. Os pobres poderão fazer cirurgias de emergência. Nenhuma criança ou velho morrerá por falta de assistência médica.

36. Desabrigados por tempestades e inundações terminarão o ano reassentados em áreas fora de risco.

37. Os celulares de traficantes presos em São Paulo serão bloquea­dos e eles não poderão mais dar ordens para tocar o terror.

38. Nenhum bueiro explodirá no Rio, e os cariocas finalmente saberão o motivo das explosões.

39. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, impedirá que a especulação imobiliária acabe com os parques e as reservas ambientais.

40. Não haverá arrastões nos restaurantes de São Paulo e nas praias do Rio.

41. Não haverá apagões.

42. Aeroportos funcionarão direito e acabarão com o táxi-bandalha.

43. Passagens aéreas no Brasil ficarão mais acessíveis, e uma competição saudável no setor beneficiará a população.

44. Operadoras de celular deixarão de extorquir os consumidores, e as contas passarão a ser inteligíveis.

45. Bancos reduzirão as taxas dos correntistas, contribuindo assim para a saúde financeira de quem os sustenta.

46. Empresas, privadas ou estatais, respeitarão o tempo máximo de espera ao telefone e deixarão de enlouquecer quem recorre a seus serviços de atendimento.

47. Não receberemos mais nenhuma chamada de telemarke­ting na hora do jantar e no fim de semana.

48. O lixo – coleta e reciclagem – passará a ser encarado com seriedade pelos governos.

49. Famílias brasileiras deixarão de emporcalhar as praias e os parques. Cada um levará seu saquinho de lixo, ensinando às crianças que quem ama cuida.

50. Feriadões deixarão de ser pretexto para exterminar famílias nas estradas, por culpa de direção irresponsável, ultrapassagens imprudentes e álcool.