30
de julho de 2012 | N° 17146
PAULO
SANT’ANA
Eu não disse, Cacalo?
Hoje
me ocupo da humildade, virtude muito necessária para dignificar a atitude
humana.
Em
primeiro lugar, a humildade em reconhecer o mérito dos outros, principalmente o
mérito dos nossos adversários.
Quando
se é teimoso, se se perde uma discussão, deve-se reconhecer isso e parabenizar
a outra parte.
A
humildade no teimoso tem de se caracterizar por, perdendo a disputa, dá-la por
encerrada, cumprimentando o vencedor.
Só que
uma das coisas mais irritantes é a atitude do falso humilde, a pessoa que finge
humildade por fora, porém permanece por dentro munida de firme arrogância.
É triste
de ver.
A
humildade é própria dos serenos, dos que admitem a inferioridade passageira
ancorados na superioridade que fatalmente mostrarão ali adiante.
Muito
difícil de ser praticada, mas bela, é a humildade dos injustiçados. Os injustiçados
que se calam e se vergam diante do arbítrio, aguardando melhor oportunidade
para demonstrarem que tinham razão.
Notem
que o humilde é sempre puro, é sempre razoável, é sempre digno, quase sempre
calado, pois, como dizia meu pai, que era xingado toda a tarde pela minha
madrasta, “o calado sempre vence”, mostra, no entanto, o calado assim uma eloquência
silenciosa.
A
humildade é própria dos santos, dos estadistas, dos líderes, dos que andam à frente
do grupo que caminha em fila indiana pela floresta íngreme, que se ele tem a
desvantagem de primeiro topar com as serpentes, no entanto possui
exclusivamente o privilégio, ao ir desbastando os galhos com o facão, de ficar
extasiado com o primeiro e assustado alçar de voo das borboletas multicores.
Tive
na semana passada a minha milésima vitória em discussões nos 41 anos do
programa Sala de Redação. O Cacalo, ajudado por outros debatedores, defendeu a
tese de que Marcelo Grohe era um grande goleiro, já que tinha feito duas
grandes defesas contra o Botafogo.
Quando
Cacalo disse isso, falei no programa que pedia 30 dias para provar o contrário,
que Marcelo Grohe era um mau goleiro. Não foram necessários os 30 dias que pedi
de prazo para provar minha tese. Sábado, contra o Coritiba, nos dois gols da
vitória paranaense, Marcelo Grohe teve duas falhas gritantes.
Nos
dois gols adversários falhou lamentavelmente o goleiro gremista, deixando
passar duas bolas defensáveis. Uma lástima. Porque, se não acontecessem essas
duas falhas do nosso goleiro, o Grêmio hoje poderia estar aproximadíssimo da
liderança do certame e se teria firmado em definitivo como integrante do G-4.
E não
sou cruel nem persigo ninguém que esteja empenhado em sua carreira de jogador. Mas
eu também não posso permitir que entreguem a um goleiro inconfiável o destino
do Grêmio.
Não
foram precisos 30 dias para eu provar que Marcelo Grohe é deficiente. Anteontem,
suas duas falhas notáveis nos dois gols do Coritiba o provaram.
Desculpe,
Cacalo, mas o velho Pablo mais uma vez tinha razão. Anteontem foi demais, e
assim munido por esse goleiro o Grêmio não passará da zona da Sul-Americana. É uma
pena, porque todo o trabalho de Luxemburgo e dos outros jogadores, assim como
da direção, é desperdiçado quando bolas simples vão até o gol gremista e nosso
arqueiro as engole.
Eu não
sei futebol assim por ser sábio, sei-o por ser velho.
O
Cacalo precisa ter a humildade de reconhecer que perdeu essa para mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário