13
de julho de 2012 | N° 17129
PAULO
SANT’ANA
Périplo em Nova
Prata
Minha
opinião de ontem sobre o ex-senador Demóstenes Torres era tão insólita que
prometi a mim mesmo que nunca mais tocaria no tema, pois supunha que minha
coluna absolvendo o ex-senador iria causar repulsa em meus leitores.
Qual
não foi minha surpresa quando cheguei a ZH no dia de ontem e deparei com um sem-
número de leitores mandando me dizer que concordam inteiramente comigo e que
Demóstenes não deveria ter sido cassado.
E só
um leitor – um só – me escreveu dizendo que foi absurda minha opinião. Fiquei
estatelado com o volume de correspondências que recebi se solidarizando com
minha coluna de ontem.
E eu
pensara que só eu pensava assim?
Sabem
onde aprendi a pensar assim sobre presunção de inocência? Não sei, pode ter
sido na Faculdade de Direito. Presumo que aprendi a pensar assim fora da
Faculdade, mas sim na vida, talvez quando eu tivesse sido policial, tantas
vezes me vi cercado de pessoas que acusavam alguém com energia e com grande
número de acusadores e, no fim, depois de tudo esclarecido, não havia nada mais
claro que a inocência do acusado.
Talvez
eu tenha aprendido o valor da presunção de inocência no ano passado, aqui em
Porto Alegre, quando um juiz e uma médica otorrino foram assaltados na Rua
Cabral, à mão armada, e ambos, o juiz e a médica, apontaram seus dedos,
instantes após o assalto, para o rosto de um médico, que por essa acusação foi
colocado no fundo da cadeia por alguns dias, até que acabou a polícia e a
Justiça absolvendo completamente o médico da acusação de assalto.
Mas
o juiz e a médica juraram perante a polícia que o médico era o seu assaltante.
E juram até hoje que é o médico o assaltante.
Mas
felizmente não foi o médico. Naquele episódio da Rua Cabral foi que na verdade
aprendi a teoria da presunção da inocência.
E
foi por causa desse princípio penal que escrevi ontem que, fosse eu senador,
não teria cassado o ex-senador Demóstenes.
Falta
dizer que a acusação errônea que insistiram em fazer o juiz e a médica contra o
médico acabou desgraçando completamente a vida do inocente acusado.
Por
isso advirto: por maior que seja o clamor para que se condene um acusado, fique
sempre com um pé atrás.
No
julgamento de Cristo, diante de Pilatos, o povo que assistia à solenidade
urrava e babava de ódio contra o Nazareno, pedindo a sua morte.
Urravam!
Amanhã
pela manhã estarei em Nova Prata para agradecer à gente de lá que foi objeto de
um decreto do prefeito tornando obrigatória a leitura de minha coluna em todos
os estabelecimentos de ensino do município.
Tal
gesto inédito só pôde obter de mim a gratidão de me deslocar até Nova Prata para
confraternizar com os neopratenses.
Amanhã
à noite, estarei no Bar Maria Loca, com seus 200 ingressos já vendidos, renda
que reverterá para entidade beneficente.
Será
uma noite de emoção. E quem não conseguiu ingresso poderá vir a ter comigo na
Prefeitura ou na Câmara de Vereadores.
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