26
de julho de 2012 | N° 17142
CLAUDIA
TAJES
Para os que ficam
Alguém
me falou de uma senhora que costumava usar as melhores louças, cozinhar os
melhores pratos e servir os melhores doces não para as visitas, mas para a própria
família. As visitas eram sempre muito bem tratadas pela anfitriã, mas a nata
ficava reservada para os moradores da casa.
Sempre
lembro disso quando ouço os candidatos à prefeitura projetando uma Porto Alegre
mais moderna e mais eficiente para receber a Copa. O trânsito, a saúde, as
comunicações, a segurança, os transportes, o atendimento ao público, a
infraestrutura inteirinha, tudo será diferente quando a Copa chegar.
Nesses
dois anos que ainda faltam, parece que resta aos nativos esperar pela cidade
ideal que os visitantes ganharão de presente. Se a senhora aquela que
priorizava os moradores concorresse à prefeita, era nela que eu iria votar.
Para
quem nasce em Porto Alegre, o bairrismo não é um risco, é um carma. O que mais
explicaria a gente considerar que tudo aqui é o máximo, mesmo quando não é?
Nosso eterno pôr do sol mais bonito do planeta conta até com argumentação científica,
algo a ver com a angulação dos raios, as partículas de poeira, a água do Guaíba
– tem que ser a água do Guaíba para se conseguir o efeito – e outras felizes
conjunções. Não encontrei no Google a tese que um dia li sobre isso.
Em
compensação, achei vários xingamentos de outros povos, todos brasileiros,
inconformados por apregoarmos como maior atração algo que não foi feito por nós.
Como se fosse culpa nossa vir ao mundo em condições quase ideais. Pessoalmente,
não sou muito bairrista, mas ando sentimental. Pela primeira vez na vida, vou
passar um tempo fora, enxergar Porto Alegre pelos relatos alheios e pelas notícias
na internet.
Estudando
e trabalhando de longe, sei que vai dar saudade até do que não é bom, menos da
minha operadora de celular. Os amigos prometeram não esquecer, os chefes
prometeram guardar o lugar, o Sarau Elétrico prometeu não me substituir, o
namorado prometeu visitar, o editor prometeu publicar e tomara que os leitores
não desistam de ler, porque, daqui a pouco, eu volto. Talvez não muito melhor,
como a Porto Alegre do futuro. Mas um pouquinho menos pior.
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