01
de julho de 2012 | N° 17117
MARTHA
MEDEIROS
Afogando-se num
pires
A vida não é bolinho, quem não sabe? Mas é
impressionante a quantidade de pessoas que conseguem complicá-la ainda mais.
Acreditam que só erros enormes geram consequências, sem perceber que as
pequenas bobeadas é que desgastam. Nem se dão conta da quantidade de
facilitações que poderiam aplicar no dia a dia, tornando a vida bem mais
producente.
Exemplos,
exemplos.
Ligar-se
minimamente num troço chamado relógio, pra começar. Se você tem hora marcada
para uma consulta, hora marcada para fazer uma prova, hora marcada para pegar
um avião, qual é a dificuldade de planejar o tempo que vai levar até lá? Chega
de colocar a culpa no trânsito.
É
claro que você pode prever se vai levar meia-hora ou 50 minutos para
deslocar-se – o pior que pode acontecer é chegar antes, e aí nada como ter um
livrinho à mão enquanto aguarda (já dizia Gabriel García Márquez: se cada um
levasse um livro dentro da mochila, o mundo seria bem melhor).
“As
pessoas se afogam num pires”, costuma sentenciar uma psicanalista amiga minha,
confirmando que a maior parte das pessoas poderia simplificar suas vidas, mas
são especialistas em se atrapalhar, e o pior: transformam essas pequenas
atrapalhações em crises existenciais. Ó, nada dá certo pra mim.
Se
alguém tem que ir até um endereço que não conhece, é tão fácil consultar o
Google Maps antes de sair. No caso de gamar por uma blusa na vitrine, seria
prudente saber se o saldo no banco comporta essa compra extra. Se a última
garrafa d´água da casa foi aberta, não custa passar num mercadinho e renovar o
estoque pra não ser surpreendida por uma sede absurda no meio da noite.
Se
vai ter um big festão na sexta, não convém chegar ao cabeleireiro sem hora
marcada. Se ofendeu um amigo, melhor pedir desculpas antes que se transforme
numa mágoa séria. Se o filho tem dificuldades na escola, não esperar o último
mês do ano letivo para tomar providências. Planejou uma viagem ao exterior?
Confira
o prazo de validade do passaporte (não no dia do embarque, gênio). Se o seu
santo não cruza com o de um fulano, para que sentar à mesma mesa que ele? Se
agendou uma entrevista de emprego, confira antes se a camisa está limpa e
passada. Marcou um compromisso para as 16h, não marque outro para as 17h no
outro lado da cidade.
Se
está em guerra com a balança, ok, é difícil perder peso, mas continuar comendo
uma caixa de Bis por noite não vai operar milagres. É claro que sua cunhada vai
se chatear se você expor na sala as fotos do seu irmão com a ex-mulher dele.
Pô.
Você
deve ter lembrado de mais uns 200 exemplos da série “se posso complicar, por
que facilitar?”. São essas pequenas besteirinhas do cotidiano que, mal
administradas, fazem com que nosso dia seja mais encrencado que o dos demais,
mas quem vai se dignar a planejar um dia satisfatório se a ordem é deixar
rolar?
E lá
vai você rolando para dentro do pires, se afogando numa pocinha de nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário