26
de julho de 2012 | N° 17142
L. F.
VERISSIMO
Romona
Para
comprar armas no comércio tradicional, um americano se submete a algumas
formalidades, tão inócuas quanto hipócritas. Há várias maneiras de driblar as
formalidades. Nas feiras de armas onde os fabricantes expõem seus produtos, você
pode sair com uma bazuca embaixo do braço sem nenhuma restrição.
E - como
mostrou o último maluco a entrar atirando - hoje não há material bélico que você
não possa comprar pela internet, sem qualquer controle. Tanto o Barack Obama
quanto o Mitt Romney se manifestaram, no passado, contra esta liberalidade
insana, mas agora se limitam a lamentar os mortos. Nenhuma palavra dos dois que
pudesse contrariar o lóbi das armas, a poderosa National Rifle Association,
seus membros e simpatizantes, ainda mais num ano eleitoral.
Os
filmes que Hollywood deixa para lançar nas férias de verão da garotada são
chamados de “block-busters”, arrasa-quarteirões. São feitos para render o máximo
na semana de estreia, o que garantirá ótima bilheteria no resto da temporada. Ainda
não deu para saber como a chacina em Aurora afetará a renda do último Batman,
que pode se tornar um filme maldito.
Há muitos
anos, um filme chamado “Romona” (ou era “Ramona”?) ganhou notoriedade porque
alegavam que ele dava azar. Um cinema tinha ruído numa projeção de “Romona” e
logo se espalhou o boato que outros cinemas que exibiam “Romona” também tinham
caído, que qualquer cinema que exibisse “Romona” estava ameaçado de cair. Tornou-se
comum bater na madeira toda vez que se mencionasse o título do filme. Não sei
do que se tratava “Romona”. Não sou supersticioso, mas nunca entrei num cinema
para ver.
Reencontro
Seria
ótimo que existisse um céu para ateístas e comunistas. Assim daria para
imaginar o encontro no além de Alexander Woodcock – que morreu há dias – e
Cristopher Hitchens, que morreu não faz muito. Os dois concordavam em algumas
coisas e discordavam em outras, e seus desacordos eram muito mais divertidos. Woodcock
era irlandês, Hitchens era inglês, mas os dois fizeram carreira como ensaístas
e críticos nos Estados Unidos.
Ambos
surpreenderam com algumas posições tomadas: Hitchens defendeu até o fim a invasão
do Iraque, Woodcock mantinha que o movimento ecológico e a campanha contra o
aquecimento global eram coisas do lóbi nuclear. Mas estavam certos na maioria das
suas causas e escreviam muito bem. Talvez a perspectiva de terem que conviver
pela eternidade amenize o reencontro, e os dois se dediquem a nos gozar do alto.
Ou de baixo: quem sabe para onde vão os ateístas e os comunistas?
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