25
de julho de 2012 | N° 17141
MARTHA
MEDEIROS
Os solitários
Mateus
Meira, que disparou contra a plateia de um cinema de São Paulo, em 1999, era um
cara sem amigos, não frequentava grupos. Wellington Moreira, que matou alunos
de um colégio em Realengo, não tinha namorada e quase nunca saía de casa. Anders
Breivik, o norueguês que matou 77 jovens na Ilha de Utoya, só se relacionava com
alguns poucos fanáticos como ele, pela internet. James Holmes, que semana
passada matou 12 pessoas durante a exibição do novo filme do Batman, nos
Estados Unidos, era considerado um sujeito recluso.
Não
significa que cada garoto trancado em seu quarto vá amanhã ter seu dia de
psicopata, mas coincidência não é. Estudos revelam que grande parte dos que
cometem essas atrocidades são depressivos e, por consequência, se isolam da
sociedade. Muitos não buscam tratamento, consideram-se apenas “na deles”.
E os
pais acabam por respeitar seu jeito de ser. E os colegas não os chamam para as
festas. E as garotas os rejeitam e namoram meninos mais populares. Apartados de
todos, eles vão se confinando num cativeiro mental e social, passando a levar
mais em conta a fantasia do que a realidade. Mas sofrem com a exclusão, ou não
desenvolveriam uma personalidade tão vingadora.
Não
se mata para brincar. Quem atira está atirando em inimigos imaginários,
oriundos da conhecida “oficina do diabo”.
São
tragédias de exceção, não acontecem todo dia, mas há solitários que, em grau
bem menor de maluquice, também se transferem para universos paralelos e
alimentam ideias absurdas que, por não serem discutidas com amigos e parentes,
acabam fermentando e levando a desastres. No máximo, buscam na internet pessoas
tão isoladas quanto eles, que confirmam suas sandices.
Se
discutissem com quem realmente os conhece, com quem os ama, seriam questionados
e viveriam a experiência da troca de ideias e da orientação. Mas sozinhos,
entre quatro paredes, correm atrás da veneração garantida de outros outsiders.
Sempre
que um filho nosso está com algum problema (ou sofrendo porque uma garota não
quis sentar a seu lado na aula, ou com notas baixas, ou com espinhas, sei lá), é
preciso se perguntar: ele tem amigos? Ele é convidado para aniversários,
viagens, churrascos, jogos esportivos? Ou ele é um esquisitão que não quer
saber de ninguém e ninguém dele? Porque se ele tem amigos de fato, os problemas
provavelmente são típicos da idade, e não sintomas de uma desadaptação crônica.
Ter
um ídolo não é ter um amigo. Conhecidos virtuais tampouco formam uma turma de
amigos. Dizer “oi, tudo bom?” é só um cumprimento. Relacionar-se é outra coisa:
exige tempo, dedicação e abertura para conviver com pessoas variadas e
diversas, o que ajuda a formar uma identidade saudável.
Quem
não se relaciona com os outros, pensa que se basta sozinho, mas não se basta: dentro
da cabeça, dá trela a seus demônios, os únicos a quem escuta.
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