sábado, 30 de julho de 2016


30 de julho de 2016 | N° 18595 
MARTHA MEDEIROS

O amor e tudo que ele é

Amor é uma forma de escapar da vulgaridade. Amor é uma mentira que amamos contar. Amor é um álibi para crimes e casamentos

O amor já foi uno, concreto e definido. Mas o século mudou e com ele as variantes do amor, que se multiplicaram. Hoje há diversas formatações para vivenciá-lo, são inúmeros os seus significados e ilimitadas as suas maneiras de encantar e transformar. O amor romântico eu e você para sempre é apenas uma de suas modalidades.

O que é o amor, afinal? Impossível resumir num só conceito. Amor é gratidão por alguém ter nos tornado especial. Amor é a realização de um ideal criado ainda na infância. Amor é a possibilidade de repetir o mais importante feito de nossos pais – aquele sem o qual não teríamos nascido. Amor é projetar no outro aquilo que nos falta. Amor é erotismo. Amor é uma experiência sensorial. Amor é carência. Amor é o gatilho para formar uma família. Amor é aquele troço sem razão que bagunça a nossa vida. Que melhora a nossa vida. Que piora a nossa vida. Que justifica a nossa vida.

Amor é uma forma de escapar da vulgaridade. Amor é uma mentira que amamos contar. Amor é um álibi para crimes e casamentos. Amor é a vingança contra a objetividade. Amor é divisão de fardo. Amor é um antídoto contra a solidão. Amor é uma invenção do cinema e da literatura. Amor é paz. Amor é a busca de um tormento que torne a vida mais emocionante. Amor é a vitória do cansaço, já que paixões sequenciais exaurem. Amor é o nome que se dá para uma emoção que nos domina e da qual não queremos ser libertados.

Amamos pais, irmãos, amigos. Amamos os namorados que tivemos e os que ainda teremos, amamos nosso marido até o dia em que ele não volta mais para casa, amamos nossos ídolos até que eles nos decepcionem, amamos nossos filhos mesmo que nos decepcionem, amamos nosso cão e nosso gato quase acima de Deus, amamos Deus acima de tudo pois cremos que ele não nos faltará, amamos a nós mesmos apesar de saber que nem tudo é amável em nós.

Amor não é uma desculpa esfarrapada. Ela é muito bem costurada.

Amor pode brotar de um olhar, de um beijo, de um desejo. Amor é encasquetar. Se alguém lhe faz perguntas a respeito, você, na falta de argumento melhor, responde que é amor, que sempre foi amor, e ninguém espicha a conversa porque contra o amor não há réplica.

Como pode alguém ter amado uma pessoa ontem e hoje amar outra, como pode ter amado uma mulher e hoje um homem, como pode amar duas mulheres ao mesmo tempo, como pode já ter vivido com vários, como pode sentir amor por um salafrário, como pode sentir-se inteiro repartindo-se em dois, como pode ser poli, multi, bissexual, bígamo, hétero, homo, fiel, infiel, amoral? Como, diante deste sentimento, ter alguma certeza?

O amor paira acima das classificações. Tem mil jeitos, mil formas, mil dobras. É a nossa maior proeza.



30 de julho de 2016 | N° 18595 
CARPINEJAR

Ponto cruz da memória

A febre é uma terapia há o degelo de lembranças longínquas que eu julgava esquecidas.

Ocorre um derretimento da memória de longo prazo e acesso antiguidades do meu pensamento com grande facilidade. O factual some, o mais imediato desaparece, em compensação o que estava lá atrás das vivências ressurge como se fosse ontem.

Vem um fluxo livre e rico de evocações. Capturo sons e cores da infância, converto fotografias em preto e branco em animação.

Quando fico com febre, não paro de falar. Deliro. Dou uma palestra exclusiva para a minha mulher. Óbvio que ela se assusta porque não calo a boca.

Mas é um reencontro com o meu passado, sem a censura dos sonhos e o medo dos pesadelos.

Febril, recordo que não conseguia dormir na casa de meu avô paterno. Apagava a luz do quarto e começava uma marcha de ratos pelo assoalho. Eu ouvia certinho a migração dos bichinhos pela extensão das tábuas. Para me assustar, o primo Beto dizia que os ratos se escondiam no piano durante o dia. Por muito tempo, não me aproximei do instrumento. Imaginava que os ratos saltariam das teclas nos recitais de minha tia.

Febril, recordo que viajava na infância deitado num pelego, no bagageiro do carro. Os pais armavam uma cama nos fundos da Belina. Eu e os irmãos vivíamos num universo à parte dos adultos. Brincávamos de Stop e acenávamos aos motoristas que se aproximavam do para-choque.

Febril, recordo que conhecia os vizinhos pelas suas árvores. Era o Edgar do pessegueiro, era a Florinda da laranjeira, era o Pedro da caramboleira, era o Alencar da bergamoteira. Os pés de fruta serviam de sobrenome às pessoas.

Febril, recordo que a minha avó materna me deixava pressionar os pedais da máquina de costura. Debaixo da cadeira, mexia o acelerador usando toda a força das duas mãos. Ela bordava nomes de noivos nas fronhas dos travesseiros, atendendo a pedidos de enxoval em Guaporé (RS).

Febril, recordo daquilo que nem sabia que era meu, revejo o que fui e me dá muita saudade dos meus mortos.

A minha consciência é somente uma questão de temperatura.


30 de julho de 2016 | N° 18595 
L.F. VERISSIMO

Tirolês estilizado

– Preciso confessar uma coisa, Rejane.

– O que, Moreira? Algum pecado terrível? Uma ofensa a Deus que só Deus sabe?

– Não, não. Bom... dei um pum durante minha primeira comunhão. Mas não é isso.

– O que é então?

– Eu ia a baile de Carnaval vestido de tirolês estilizado.

– Sim. E? – É isso, Rejane. Meu segredo é esse.

– Você ia a bailes de Carnaval fantasiado de tirolês estilizado. Certo. Antes de nos conhecermos.

– Muito antes. Eu era criança. – Sim, e daí? – Não. Entende? Sei lá.

– Pronto, você já desabafou, já botou o tirolês pra fora, agora pode levar uma vida normal.

– Eu sabia que você não ia entender. Talvez eu tenha superestimado a importância da coisa. Ou subestimado você.

– Desculpe, Moreira, mas eu... É o significado simbólico, é isso? A infância perdida, a inocência, o que o tempo faz com a gente, coisa e tal?

– É. Não. É isso, mas é mais do que isso. Você consegue me imaginar de tirolês estilizado?

– Com essa barriga, não.

– Pois toda vez que penso no meu tirolês estilizado, me pergunto o que é a vida. Que coisa horrível é isso que nos acontece, que acontece com todos, e que a gente só se dá conta quando tem essa perspectiva. Lá no fundo, todo mundo tem um tirolês estilizado. Você não pode saber que eu já fui um tirolês estilizado e continuar achando tudo normal.

– Moreira...

– Nós somos a primeira geração a enxergar, filosoficamente, o contraste entre o tirolês estilizado e o que somos, no que nos transformamos. Meu pai talvez tenha se fantasiado de tirolês estilizado na infância, mas no seu leito de morte, se pensasse no seu tirolês estilizado, não estranharia. Se reconheceria nele. Eu não me reconheço. Somos a geração que carrega a lembrança do seu tirolês estilizado como um segredo, quase como um inimigo. A geração que fez coisas que nenhum tirolês estilizado seria capaz. Uma geração de crápulas. Todo homem da minha idade que se vestiu de tirolês estilizado quando criança é um resumo vivo das distorções do século.

– Moreira, você não é um crápula.

– Sou. Mas já fui um tirolês estilizado. Entende?

30 de julho de 2016 | N° 18595 
DAVID COIMBRA

O Estado virou um inferno


Sartre disse que o inferno são os outros, e, de fato, são vocês. As pessoas têm a irritante mania de não querer as coisas que quero que elas queiram e de não fazer as coisas que quero que elas façam. Você pode planejar tudo direitinho, ter as melhores ideias, mas elas vivem tomando suas próprias decisões. Cada qual com suas vontades e seus interesses. Donde, tantos conflitos. Donde, o inferno.

Para haver quereres conflitantes, basta haver outra pessoa. Os casais têm problemas às vezes irremediáveis, e casais são formados por apenas dois seres humanos, imagine. Pense, agora, em uma cidade inteira, ou um Estado, ou um país. Como fazer com que milhares, milhões de pessoas vivam em relativa harmonia?

Essa é, basicamente, a função do Estado. Para isso foi, digamos, “inventado” o Estado: para regular as relações entre as pessoas. E é por isso que a ação do Estado influencia diretamente o espírito dos cidadãos. Corta.

Fiz essa pequena digressão para falar de algo que ocorreu nesta sexta-feira em Porto Alegre.

O dia estava ensolarado e o clima ameno. Um pequeno grupo de alunos e professores fazia uma manifestação na Avenida Ipiranga, em protesto contra o parcelamento dos salários dos funcionários públicos. Eles trancaram o trânsito, como sói acontecer nesses eventos. Um motorista, irritado por ter seu caminho obstruído, simplesmente seguiu em frente, atropelando uma jovem. Uma professora foi se queixar. Ele saiu do carro e, segundo ela, desferiu-lhe dois socos no rosto. O homem, que estava com pressa, não pôde retomar seu caminho: foi preso e provavelmente perdeu muito mais tempo do que se tivesse esperado pelo fim do protesto.

Corta de novo.

Repare como há interesses conflitantes nesse incidente, e erros também.

Professores e alunos, querendo se manifestar, obstruíram uma via pública. Estavam errados, infringiram a lei. O motorista irritado não chamou a polícia ou um fiscal de trânsito a fim de resolver o problema e cometeu um erro muitíssimo mais grave do que o dos manifestantes: agrediu duas pessoas. Pior: duas pessoas mais fracas fisicamente, duas mulheres, uma delas quase uma criança.

As pessoas gritavam, quando ele foi preso: “Covarde, covarde!”. Estavam certas, ele foi covarde e merece ser punido.

Corta mais uma vez. Quem é o principal responsável por essa ocorrência? Quem cometeu mais erros?

O Estado.

O homem que partiu para a agressão física não deve por um só segundo ter pensado em pedir a mediação de alguma autoridade, porque no Rio Grande do Sul as autoridades não fazem mediação, não resolvem conflitos, apenas deixam passar.

Mas há uma motivação sub-reptícia, mais sutil e mais cruel, causada pela forma como se comporta o governo do Rio Grande do Sul. Esse é o governo do fracasso anunciado, o governo da depressão, o governo do não, e Chico Buarque já dizia que vence na vida quem diz sim. Há um ano e meio, o governo repete que o Rio Grande do Sul faliu, que tudo acabou. Pode até ser verdade, decerto que é, mas e as soluções? E a saída? Qual é a saída? O governo, afinal, foi eleito para encontrar saídas.

Mas não. O governo, a cada mês, esmaga mais um pouco do que resta do amor-próprio do cidadão. As pessoas estão cansadas no Rio Grande do Sul. As pessoas estão aborrecidas. As pessoas estão com medo. E não há nada que gere mais fúria do que o medo.

Lidar com os outros, naturalmente, já é difícil. Se quem deveria mediar os conflitos se omite, isso se torna quase impossível. Torna-se um inferno. Sim: o governo está transformando o Rio Grande do Sul em um inferno.


30 de julho de 2016 | N° 18595 
ANTÔNIO PRATA

TUDO SOB CONTROLE

Faltam apenas cinco dias pro início da Olimpíada. Enquanto esbaforidos funcionários do COB correm de lá pra cá atrás de tampas de privada, eletricistas, encanadores, faxineiras e cangurus, bem longe dali, num bunker antiatômico, políticos, acadêmicos, agentes da Abin, membros do Rotary, do Lions, da Gaviões, da Mancha e da Charanga Rubro-Negra se reúnem numa Sala de Emergência, em local mantido sob sigilo absoluto – bem, pelo menos até Michel Temer enviar, sem querer, um zapzap pro grupo de pais da escola do Michelzinho informando “Graal Pindamonhangaba, oitavo subsolo, basta torcer o pescoço da garça de espelho, a prateleira de doces de mocotó girará 90° e uma porta abrir-se-vos-á, revelando-vos o elevador”.

O objetivo do grupo é decidir o que fazer caso os jogos deem errado, isto é, caso o país trate os gringos nestas semanas como trata seus cidadãos o ano inteiro. Um dos participantes, político renomado, conversou comigo. “O Brasil não aguenta mais um baque. Foram 300 anos de escravidão, duas ditaduras, o gol do Ghiggia, Plano Funaro, Plano Cruzado, Plano Collor, 300 anos de Ricardo Teixeira, dois episódios dos Simpsons zoando o país, tomada de três pinos, chacina terça, quinta e sábado, tortura segunda, quarta e sexta, domingos com culto do pastor Silas Malafaia, os 7 a 1 da Alemanha, o discurso da mandioca, 300 anos de Programa do Gugu, a votação do impeachment, 300 anos do jingle do Eymael e a barragem que se rompeu, meses atrás, soterrando a nação sob os rejeitos do PMDB. Se cair uma arquibancada, se neguinho puser fogo em ônibus, se uma bala perdida, dessas que se perdem todo dia, no Rio, encontra um gringo, amigo, o país entra em colapso.”

Segundo a fonte, em caso de fiasco olímpico, a Sala de Emergência trabalha com dois cenários. O primeiro, mais simples, chamado de Braxit (e apelidado de Brashit), seria desistir do país, vendê-lo para algum dos líderes presentes, dividir a grana desigualmente – em respeito à tradição – e cada um que se vire. “Vai ter muito material sendo levado embora, muito contêiner de delegação sendo despachado, só aí já dá pra mocosar uns 100, 200 mil patrícios”, sugere. “O resto pode ir depois, de carro, de ônibus, de pedalinho, de patinete, sei lá.” Questionado se não seria complicado alojar 200 milhões de brasileiros num momento de intensa migração mundial, afirmou: “Complicado é, parceiro, mas aí já não é problema nosso”.

A segunda opção, mais complexa, caso o país dissolva feito Sonrisal num mar de lágrimas, é trabalhar com uma política de redução de danos. “Se o caldo entornar, a partir da Sala de Emergência nós temos condições de estar implementando, em menos de 24 horas, do Oiapoque ao Chuí, o Carnaval. Sapucaí, Globeleza, Olodum, Galo da Madrugada, ator americano em decadência trançando as pernas no camarote Brahma, a zorra toda.” E depois do Carnaval? – pergunto. “Aí a gente já emenda na Páscoa, manda o Abílio pendurar ovo em tudo quanto é canto, depois da Páscoa todo mundo sabe que já é quase Natal, o povo vai se preocupar com as compras e ninguém mais vai lembrar da Olimpíada. Ou seja, tá tudo sob controle”.

Tudo sob controle. Como diria o Barão de Coubertin, criador dos Jogos Olímpicos modernos, “Citius! Altius! Fortius!” – e seja o que Deus quiser.


30 de julho de 2016 | N° 18595
COMPORTAMENTO


O primeiro ano do resto de nossas vidas

Terapeuta lista os principais desafios dos recém-casados (e como enfrentá-los)
Antes do casamento ou de ir morar junto, tudo parece muito mais fácil. E a terapeuta de casais Cíntia Fernandes Leite explica por que: ambos satisfazem com mais zelo as necessidades e os desejos um do outro, a responsabilidade das decisões é mais leve e, quando se desentendem, os parceiros podem simplesmente sair de perto um do outro. Até o dia em que juntam as escovas de dentes. E aí vem o depois: rotina, contas, questões domésticas, filhos etc. e tal. Mas o primeiro ano é especialmente delicado, um momento de adaptação. Cíntia Leite, que promove workshops sobre como enfrentar a dois os desgastes do dia a dia na Choices Coaching para Casal, de Curitiba, lista os principais desafios e ensina como superá-los. Com a palavra, Cíntia Leite:

ENCARANDO A FASE DE ADAPTAÇÃO

Durante o primeiro ano de casamento, os parceiros deparam com a necessidade de fazer negociações diárias para equilibrar necessidades e desejos de duas pessoas às vezes muito diferentes. A esta exigência somam-se constantes desilusões, pois antes do casamento os parceiros ainda têm uma imagem muito idealizada um do outro e também de como será a relação com essa pessoa e que, naturalmente, costuma ser muito mais otimista do que realista. Portanto, nesse período inicial, a maioria dos conflitos tem base nas dificuldades de negociação sobre pequenos e grande assuntos e também nas suas respectivas desilusões, como por exemplo, de dar conta de que o outro não é “tão carinhoso, generoso ou divertido” quanto parecia no início do relacionamento. E isso também é muito natural, pois os traços mais positivos da personalidade sempre aparecem com mais evidência na fase inicial da relação e os mais, digamos, autênticos, infelizmente surgem quando os parceiros precisam aprender a ceder, em prol da satisfação conjugal.

O QUE SÓ SE DESCOBRE AO MORAR JUNTO

A partir do momento em que passam a conviver juntos diariamente, a habilidade de conseguir negociar a satisfação das próprias necessidades com as do outro torna-se ainda mais difícil. Assim, caso um dos parceiros seja muito mais impositivo e agressivo do que o outro, tenderá a se impor ainda mais, fazendo com que o outro aceite suas imposições e passe a anular suas próprias vontades. Porém, caso o outro também apresente um perfil mais impositivo, ambos tenderão a competir pela satisfação de suas vontades, o que irá ocasionar diversos conflitos, sempre proporcionais às dificuldades de negociação de ambos.

ALERTA! QUANDO A COMUNICAÇÃO NÃO VAI BEM

Falar um pouco alto ou de forma um pouco impaciente pode acontecer naturalmente. Mas, quando isso se torna um hábito, o casal deve entrar em estado de alerta e identificar as raízes de tanta irritação. Há ainda outros sinais que, quando passam a ocorrer com certa frequência, devem sempre ser tratados como um ponto de atenção: quando se sentem desconfortáveis ao ficarem a dois em silêncio (pois, quando estão bem, ele traz paz); quando perdem a motivação para expressar sentimentos e pensamentos por receio de ser criticado pelo outro; quando começam a fazer ironias e com maior frequência, principalmente criticando o parceiro na frente de outras pessoas; quando passam a discutir mais para saber quem tem razão do que para resolver o problema em questão.

CONCESSÕES: A ARTE DE DRIBLAR AS DIFERENÇAS

A maioria dos casais considera suas diferenças como um possível indicador de que, talvez, a relação possa não dar certo. Porém, quando essas diferenças surgem de forma mais intensa, é também a oportunidade de transformação e desenvolvimento: ambos precisam de um ajuste nas suas formas de pensar, sentir ou se comportar. Portanto, quanto maiores as diferenças, maior a polarização de comportamentos e então maior será a oportunidade para ambos de potencializarem suas virtudes e desenvolverem o que está precisando ser desenvolvido. Assim, em todo relacionamento a longo prazo, ambos passam por uma profunda transformação psicológica, mesmo que não percebam. Em relação a quem deve ceder, diria que ambos sempre devem ceder quando for necessário, desde que busquem sempre expressar e validar suas necessidades assim como levar em consideração as necessidades do parceiro. Pois apenas assim eles poderão se unir de uma forma mais colaborativa para encontrar a melhor solução para seus conflitos.

GAZETA DO POVO

sexta-feira, 29 de julho de 2016


Jaime Cimenti
Feminismos


Em meio a tantos sons, palavras, imagens, "faces", "books", vídeos, pessoas falando de tudo, toda hora, em todo lugar, por todos os meios possíveis e muitas vezes ao mesmo tempo, num domingo à tarde, na hora da sobremesa, ganhei um docinho da Globonews. Não assisto muito a programas de TV, com exceção do Manhattan Connection, noticiários, reportagens, filmes e uns outros que não me lembro.

Leila Sterenberg entrevistava Madame Nathalie Loiseau no programa Milênio, no Rio de Janeiro, onde ela veio palestrar no Dia da Mulher. Nathalie foi diplomata durante 26 anos com atuação como porta-voz da Embaixada da França para os Estados Unidos durante a guerra do Iraque. Foi diretora-geral no machista Ministérios da Relações Exteriores da França e, em 2011, foi indicada para ser diretora da lendária Escola Nacional de Administração (ENA), escola que já teve como alunos vários presidentes da república da França.

Autora do livro Choisissez Tout (Escolha tudo), Nathalie fala em feminismos ao invés de feminismo, propõe que as mulheres possam fazer e escolher o que quiserem e lembra que cada mulher é diferente, tem sua vida, seu caminho e seu direito à liberdade de escolha.

Nathalie falou de mulheres em cargos públicos e privados e na política, falou nos estupros, na violência nas ruas e doméstica contra as mulheres em vários lugares do mundo, no Brasil e especialmente na França (onde a cada três dias uma mulher morre nas mãos do companheiro). Nathalie condena, claro, a violência aterradora e os problemas em países como a Índia e propõe novos olhares, nova educação, lembrando que machistas têm mães.

Aos 52 anos, quatro filhos, longa experiência, cabelo, maquiagem e vestido discretos, Madame Nathalie falou com voz suave, mas segura e firme, sobre questões mundiais relevantes. Feminismos em vez de feminismo, propõe, dando ênfase à criatividade, à liberdade, à individualidade e ao direito de escolha das pessoas. O título de seu livro, Escolha tudo (acho que ainda não traduzido no Brasil), aliás, remete, certamente não por acaso, à obra de Santa Teresinha de Lisieux, que disse que escolhia tudo e que não queria ser santa pela metade.

Nathalie admitiu, com humildade e franqueza, dificuldades para conciliar o antigo caos de sua casa com o trabalho e a educação dos quatro filhos. Disse que fez tudo errado, mas com muito entusiasmo. Ela acha que a independência financeira é o fator mais importante para a liberdade das mulheres.
Num mundo com tanta violência, tantas vozes, gritos altos e dissonantes, tantas divergências e tanta falta de lideranças, referências e rumos, a presença de Madame Nathalie é auspiciosa e aponta para novos e bons caminhos para as pessoas e seus relacionamentos. Não é pouco. Ou as pessoas e os países se entendem melhor, ou as coisas vão ficar piores do que já estão. Não é fácil, nunca foi, o ser humano é o que é. Mas mesmo assim, melhor pensar que dá para melhorar.

lançamentos

A ponta do silêncio (Besouro Box, 88 páginas), da consagrada e premiada escritora e professora Valesca de Assis, autora dos romances A colheita dos dias e A valsa da medusa, entre outros, traz uma trama do passado da pequena cidade de Cruzeiro, com personagens e cenários que poderiam estar em qualquer metrópole, como escreve Jane Tutikian na apresentação.

Heidegger - ou as vicisssitudes da destruição (AGE, 198 páginas) do escritor, psicanalista e professor Roberto B. Graña, apresentado por Donaldo Schüller, trata dos problemas da crítica heideggeriana da psicanálise. Martin Heidegger (1889-1976) é considerado o filósofo mais importante do século XX e influenciou toda a filosofia que lhe sucedeu.

Noutras esferas (Vidráguas, 112 páginas) do médico, poeta e escritor porto-alegrense Anthero Sarmento Ferreira, apresenta em torno de 100 poemas de ruas, silêncio, amor, almas, vida, loucura, sonhos, ilusões e outros temas eternos. Luiz de Miranda, na apresentação, diz: "abram espaço para este poeta que veio para ficar nos encarnados de nosso peito".
a propósito...

Acho que é fundamental pesquisar as causas e as motivações de tantos estupros, tanta violência nas ruas e nas casas, tanta loucura e tanto terror. Leis severas, policiamento, Ministério Público, justiça, punição, cadeia, prestação de serviços à comunidade, tudo isso é mais do que nunca necessário. Violência, tortura e maus tratos são inadmissíveis e com isso todo mundo (ou quase) concorda. Atacar as causas dos problemões e prevenir os danos é mais eficaz e melhor. Mais diálogo, educação, prevenção e ouvir todos os envolvidos (inclusive os agressores) e saber tudo, para pessoas e mundo mais pacíficos. Tomara que isso não seja sonho de uma noite de verão. Tomara que, conversando, as pessoas se entendam.
Jaime Cimenti

Jaime Cimenti

Relações amorosas segundo Murakami

Haruki Murakami nasceu em Kyoto, no Japão, em janeiro de 1949, e tem sido considerado um dos autores mais importantes da literatura japonesa da atualidade. Ele vive nas proximidades de Tóquio, sua obra já foi traduzida para 42 idiomas e recebeu importantes prêmios, como o Yomiuri e o Franz Kafka.

No Brasil, a Alfaguara já editou títulos importantes do autor, como o relato Do que eu falo quando falo de corrida e os romances Caçando carneiros; Dance, dance, dance: Norwegian Wood; Kafka à beira-mar; a trilogia 1984 e O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação.

Homens sem mulheres (Alfaguara, 240 páginas, tradução de Eunice Suenaga), lançado há poucos meses no Brasil, apresenta sete contos, sete narrativas sobre relações amorosas a partir de ângulos diversos, trazendo o estilo único e intransferível deste autor que está entre os melhor do mundo em termos de sua geração, segundo muitos. O autor, com sua prosa densa, sutil, delicada e precisa, muito ao estilo da tradição nipônica, mas com sopro de renovação, revela o isolamento e a solidão que andam em meio às histórias de amor. 

Mal-entendidos, finais de relacionamento, amores não-correspondidos, fantasmas do passado e a paixão vivida como doença estão nas narrativas, assim como o homem que encontra uma mulher motorista para levá-lo a conhecer Tóquio; lembranças de um primeiro amor e um inseto que se transforma em Gregor Samsa no conto Samsa apaixonado.

Mas ao fim e ao cabo, como seria de se esperar, as verdadeiras protagonistas das histórias são as mulheres, que misteriosamente invadem as vidas dos homens e desaparecem, deixando aquelas marcas inesquecíveis que serão lembradas em meio a canções, cigarros, bebidas, saudades, amor e recordações, muitas recordações. "Um dia, de repente, você vai ser um homem sem mulheres", está escrito lá na contracapa.

Nas linhas finais do último conto do volume, estão as palavras: "Como um dos homens sem mulheres, eu rezo do fundo do coração. Parece que não há nada que eu possa fazer agora a não ser rezar. Por enquanto. Possivelmente".

Os leitores encontrarão referências a Kafka, Ernest Hemingway, às narrativas de Sherazade em As mil e uma noites e muitas referências musicais. Na apresentação, aliás, está dito que se este livro fosse um álbum de música, seria uma mistura de Sgt. Peppers (Beatles) e Pet Sounds (The Beach Boys).

Enfim, com sua habilidade de criar mundos próprios e com seu talento narrativo, nas sete narrativas, com olhares diversos, o autor variou com criatividade sobre o mesmo tema, o amor, o tema de sempre, o maior tema.

29 de julho de 2016 | N° 18594 
DAVID COIMBRA

O corredor da prisão


Essa foto foi publicada tempos atrás pelo Tulio Milman, no Informe Especial. É um flagrante de um dos corredores do Presídio Central. Repare: é o corredor, não uma cela. Os homens estão ali porque as celas se encontram lotadas. Eles tentam dormir. Há detentos de pé, encostados às paredes. Outros jazem no chão cru. Os que estão de pé esperam sua vez de descansar. É preciso fazer revezamento, simplesmente porque não há espaço para todos.

Assim são as noites no Presídio Central.

Estou republicando essa foto exatamente para repisar o assunto, para repetir algo que venho dizendo há muito tempo: hoje, no Brasil, é mais importante construir presídios do que universidades.

Em primeiro lugar, por causa dos presos – por humanidade. As condições dos presídios brasileiros são tão ruins, que as sociedades protetoras dos animais deveriam se mobilizar em protesto. Nenhum bicho merece ser tratado dessa forma.

Em segundo, por sua causa. Sua, que digo, é você, cidadão honesto, contribuinte e trabalhador. Porque não há como resolver o problema de segurança pública sem resolver o problema dos presídios. É preciso haver lugar para acomodar os presos, e um lugar decente, porque uma das funções da pena continua sendo a regeneração.

Arrisco-me a dizer que 70% dos dramas brasileiros seriam resolvidos se fossem resolvidos os dramas da segurança pública. O trânsito seria desafogado, porque as pessoas não teriam medo de usar o transporte público. Haveria mais comércio de rua e mais consumo, porque haveria mais circulação. Até as cidades ficariam mais belas, porque não seriam necessários aparatos de segurança como essas feias grades na frente dos prédios.

Rode por Porto Alegre. É deprimente: Porto Alegre é uma cidade atrás de barras de ferro. Os cidadãos se protegem com cercas altas, algumas eletrificadas, outras com arame farpado, como campos de concentração.

Mais do que celulares, dinheiro e carros, roubaram a cidade do porto-alegrense.

A segurança pública é o dever número 1 do Estado. Mais do que educação, mais do que saúde, o Estado tem de garantir segurança e justiça.

A foto do corredor do Presídio Central demonstra que não há nem uma, nem outra por aqui. É a falência do Estado. E o pior: é o fracasso da sociedade.


29 de julho de 2016 | N° 18594 
NÍLSON SOUZA

TOMBOS OLÍMPICOS


Morri de pena de dona Luiza Trajano, que desabou no asfalto com a Tocha Olímpica na mão, nas ruas de Franca, sua cidade natal. O vídeo da queda da empresária viralizou, evidentemente, e os comentários das redes sociais variaram da solidariedade ao deboche. Mas a proprietária da rede de lojas não deixou a tocha cair, nem interrompeu sua corridinha por causa das escoriações: levantou-se, completou o percurso e ainda deu uma emblemática volta por cima em postagem no Facebook: “Foi uma emoção tão grande, que até caí. Mas, como sempre faço em todos os meus tombos, levantei rápido e continuei a cumprir minha missão”.

Cumpriu mesmo. E os marqueteiros de sua empresa fizeram mais. Lançaram uma campanha denominada #CairFazParte e faturaram simpatia em cima do assunto. “Agora o que caiu foram os preços” – anunciaram, para transformar o incidente em bom negócio. Eis aí um exemplo inteligente que o prefeito do Rio poderia ter seguido quando começaram a surgir reclamações de atletas estrangeiros sobre os problemas estruturais da Vila Olímpica.

Mas o homem é daqueles que perde eleitores mas não perde as piadas – muitas delas de gosto duvidoso, como se viu na célebre conversa com o ex-presidente Lula sobre o sítio de Atibaia e agora na sugestão estapafúrdia de colocar um canguru na frente das instalações da Austrália. “Precisamos de encanadores, e não de cangurus” – disse o porta-voz do comitê olímpico australiano, em resposta inspirada. Só faltou sugerir que o mascote dos jogos passasse a ser Super Mario Bros, o encanador, em vez das figurinhas que homenageiam Tom Jobim e Vinícius de Moraes.

O tombo do político foi bem mais feio do que o da empresária, principalmente porque ele demorou a pedir desculpas. Mas também já é passado. Agora, o importante é a torcida de todos nós para que os Jogos transcorram com normalidade e segurança, no clima de alegria e confraternização entre os povos que caracteriza o grande evento esportivo. Haverá, certamente, outras quedas, de atletas, de equipes, de favoritos e coadjuvantes. Os verdadeiros desportistas sabem que cair realmente faz parte do jogo e que até os fortes caem.

Mas, quando os fortes caem, levantam-se ainda mais fortes.

29 de julho de 2016 | N° 18594 
CLÁUDIA LAITANO

Claque


Se as eleições americanas fossem um seriado de TV, estaríamos contemplando a real possibilidade de o nosso personagem favorito estar sendo substituído, na próxima temporada, por um bufão. Como se Don Draper fosse eliminado da trama de Mad Men, e Chaves – o mexicano, no caso – entrasse em cena no inverossímil papel de galã.

Na política, como na vida, há que se distinguir “a pele e a camisa”, ensinava o filósofo Michel de Montaigne (1533-1592). A vida é um teatro, e somos todos, em maior ou menor medida, atores interpretando os papéis que nos cabem: em casa, no trabalho (e agora também nas redes sociais). Admitindo isso, Montaigne não pretendia fazer o elogio da hipocrisia, mas, sim, lembrar que existe uma distância necessária entre a essência de um homem e sua persona pública – lição que ele aprendeu, na prática, sendo prefeito (“O prefeito e Montaigne foram sempre dois, separados muito claramente”, escreveu). 

Mesmo admitindo que o carisma de Barack Obama como orador e sua persona pública não sejam necessariamente equivalentes ao seu desempenho como estadista ou ao seu comportamento na intimidade, é preciso reconhecer que poucos políticos da era moderna se mostraram tão elegantes, razoáveis e conectados com o espírito da época.

Em meio ao cinismo e à chamada “crise de representatividade”, Barack e Michelle Obama conseguiram levar à Casa Branca um modelo de vida pública digna e inspiradora. Para quem, como eu, tem quase a idade deles, era como se a nossa geração tivesse sido, enfim, convocada a dizer a que veio – deixando um legado que mesmo uma sucessora como Hillary Clinton, uma legítima representante da geração anterior, não teria como ignorar. 

Mas então Donald Trump entrou em cena, e o embate subitamente deixou de ser entre velhas e novas formas de fazer política, mas entre o aceitável (um candidato conservador sério, por exemplo) e o grotesco – um homem menor que o cargo que está disputando em todas as métricas possíveis.

No Brasil, somos tão cínicos em relação à classe política, que qualquer elogio a algum representante da categoria soa como confissão de ingenuidade. Não me surpreende, portanto, que muita gente desconfie da influência positiva que Barack Obama possa ter exercido para além do seu entorno. O que me espanta é descobrir que brotou por aqui uma entusiasmada (e irada) claque de “neotrumpistas”. Gente que não apenas se identifica com seu discurso rancoroso, xenófobo e obtuso como chega ao extremo de enquadrar Hillary Clinton como uma candidata “de esquerda”.

Seria até engraçado, se não fosse assustador.

quinta-feira, 28 de julho de 2016


28 de julho de 2016 | N° 18593
EDUCAÇÃO

Reconhecimento à qualidade de empresas de diferentes setores

Além do fórum, o PGQP promoveu também o 17º Congresso Internacional da Gestão, com participação do filósofo Leandro Karnal, o Seminário de Gestão Pública, que reuniu representantes de governos estaduais e prefeituras, e o 21º Prêmio Qualidade RS, que destacou 43 instituições. Eaton, Ultragaz e Senac Santo Ângelo foram as três premiadas com o Troféu Ouro.

Criado em 1996, o Prêmio Qualidade RS proporciona às vencedoras visibilidade nacional quanto a seu sistema de gestão alinhado aos princípios da qualidade e da competitividade, incentivo à força de trabalho e maior autoestima dos colaboradores. Chamada de o “Oscar da qualidade”, a distinção reconhece organizações de micro, pequeno, médio e grande porte da economia gaúcha.

– Esse prêmio tem um diferencial porque uma empresa não concorre com a outra: elas concorrem consigo mesmas, e só aquelas mais preocupadas com a qualidade dentro da sua própria realidade conseguem a maior distinção – diz o secretário-executivo do PGQP, Luiz Pierry.

OS VENCEDORES

TROFÉU OURO + PLACA QUALIDADE COM INOVAÇÃO

-Eaton Ltda – Divisão Transmissões (Caxias do Sul)
-Ultragaz (Canoas)

TROFÉU OURO
-Senac Santo Ângelo

TROFÉU PRATA
-Fatec Pelotas
-Fecomércio-RS (Porto Alegre)
-Poolseg Corretora de Seguros Ltda (Teutônia)
-Senac Montenegro
-Senac Alegrete
-Senac Bento Gonçalves
-Senac Caxias do Sul
-Senac Comunidade Zona Norte (Porto Alegre)
-Senac Farroupilha
-Senac Santa Rosa
-Senac São Leopoldo
-Senac São Luiz Gonzaga
-Seprorgs (Porto Alegre)

TROFÉU BRONZE

-3º Batalhão de Suprimento
(Nova Santa Rita)
-Atrhol (Horizontina)
-CDL Erechim
-Centro de Intendência da Marinha em Rio Grande
-Escritório Benincá S/S Ltda
(Erechim)
-Faculdade Meridional Imed
(Passo Fundo)
-Hotel Sesc Gramado
-Pharmacontrol Laboratório de Controle de Qualidade (Porto Alegre)
-Prefeitura de Canoas
-Senac EAD (Porto Alegre)
-Senac Gramado
-Senac São Borja
-Sesc Cachoeirinha
-Sesc Centro Histórico (Porto Alegre)
-Sesc Chuí
-Sesc Frederico Westphalen
-Sesc Montenegro
-Sesc Tramandaí
-Simers (Porto Alegre)

MEDALHA BRONZE

-Alleader Contabilidade Gerencial (Porto Alegre)
-Indústria de Móveis Finger Ltda
(Sarandi)
-Instituto Lenon Joel pela Paz
(São Leopoldo)
-Posto do Batista (Santiago)
-Sindilojas Gravataí
-SP Imobiliária (Canela)
-Tecnicon Sistemas Gerenciais
(Horizontina)
-UFCSPA (Porto Alegre)

INOVAÇÃO EMPREENDEDORA

-O transporte de vacinas saiu da era do gelo: um novo conceito para transporte e conservação de produtos médicos – Biotecno Indústria e Comércio Ltda
-Inovar TOTH – TOTH Desenvolvimento Tecnologico Ltda
-Uma nova forma de consumir a moda mais sustentável de todas: a que já existe! – TAG de LUX Moda Sustentável


28 de julho de 2016 | N° 18593 
LUCIANO ALABARSE

AS MELHORES, AS MAIS ADEQUADAS



Clarice Lispector sempre me pareceu a maior entre os maiores. Maria Bethânia e Fernanda Montenegro, também. Nunca me ocorreria pensar que são as melhores em suas áreas porque são “mulheres”. A excelência, pessoal ou profissional, de uma pessoa não está relacionada ao seu gênero. Clarice não é grandiosa porque é mulher. É a melhor porque soube escrever como ninguém.

Reconheço que há conquistas femininas fundamentais a serem implementadas com urgência. E que há um monte de homens machistas e preconceituosos. Na política, inclusive. Às vésperas de mais uma eleição, com tantos apelos para que mulheres participem da vida partidária do país, me peguei pensando no assunto. Hillary Clinton tem 45% das intenções de voto nos Estados Unidos. 

Luciana Genro disparou em Porto Alegre. Beth Colombo lidera em Canoas. Votaria em qualquer uma delas, independentemente de seus partidos – mas nunca porque são “mulheres”. Votaria porque são muito boas no que fazem. Se um dia Jairo Jorge for candidato ao governo do Estado, votarei nele. Nunca sob o argumento estapafúrdio de votar nele porque ele é homem.

Não sou filiado a partido algum. Nunca serei candidato a nada. Sempre votei em pessoas que me pareceram as melhores, as mais adequadas. Quando, anos atrás, declarei meu voto em José Fogaça, militantes de esquerda, desconhecendo sua bela trajetória humanista, me olharam com desdém. Não me intimidei. Tampouco me intimidarei neste ano. Na hora de votar, levarei em conta tão-somente competência e adequação.

Tirza, do holandês Arnon Grunberg, é um livro agressivamente bem-escrito. Conta a história de uma esposa que abandona marido e filhas e, anos depois, volta para casa com a intenção de acertar contas. O embate entre homem e mulher é feroz e doloroso. A questão de gênero, ali, emerge com violência. Homem e mulher saem arranhados e beligerantes. O casamento parece invenção demoníaca.

Para a felicidade geral da nação, espero que isso não aconteça em nossas eleições municipais.



28 de julho de 2016 | N° 18593 
DAVID COIMBRA

Comida da mãe

De repente, multiplicaram-se os programas de culinária na televisão. O que me faz pensar que a melhor comida do mundo ainda é e sempre será a comida da mãe. Nenhum parisiense três estrelas do Guia Michelin supera o feijãozinho que você devorava com sofreguidão depois de chegar esbaforido do colégio. Porque é na infância que se molda o caráter e adquirem-se os gostos.

É por isso que, estando fora do Brasil, espicaça-me a nostalgia da comida brasileira.

Entenda: os americanos gostam de comer, e os produtos, nos Estados Unidos, são de alta qualidade. A carne é macia como beijo de irmã. O filé de quatro dedos de altura é tão tenro, que pode ser cortado com a colherinha do café. Há, nas prateleiras dos supermercados, alimentos das partes mais esconsas do mundo. Dia desses, encontrei cana-de-açúcar no Whole Foods. Lembrei de quando era guri e do Benito de Paula cantando que queria ver um cara sentar numa praça assobiando e chupando cana, e comprei. Meu filho nunca tinha visto cana ao vivo. Ficou impressionado.

Então, como dizia, eles têm de tudo e do melhor. Mas não têm a malícia do tempero brasileiro. A comida brasileira tem o sabor da colocadinha do Romário, da negaça do Garrincha, da enganchada do Rivellino e das pernas douradas da morena do Leblon. É uma comida que se come rindo.

Por que isso? Por causa da mãe brasileira.

Vou abrir um parêntese a respeito dessa expressão: (havia uma época em que, se você queria insultar alguém, dizia: “Mas tu é uma mãe brasileira, mesmo!”. Por que a gente dizia isso? Não faço ideia. Alguém me diga, por favor).

Fechado o parêntese, ressalto que a mãe brasileira da classe média do passado recente, aquela que aparece nos gibis da Mônica e do Cebolinha, a mãe dona de casa, de chinelo na mão e avental todo sujo de ovo, a mãe antiga e que está quase tão extinta quanto o pássaro dodô, aquela mãe foi a inventora da comida brasileira.

Não é pouca coisa. É um dos traços mais importantes da personalidade nacional. Pegue prato clássico do almoço do brasileiro: arroz branco soltinho, contrastando com o feijão preto temperado com linguiça de porco e costelinha; bife dourado no ponto, com um centímetro e meio de altura, não mais; batata frita do tamanho do dedo mindinho da Gisele Bündchen; salada de tomate gaúcho fatiado, cebola escaldada e alface besuntada de azeite, vinagre e sal; tudo isso encimado por um ou dois ovos fritos com a gema mole, a clara dura e as bordas levemente tostadas, esse prato, o prato feito, vulgo PF, ou à la minuta, como queira, esse prato é uma das delícias da culinária internacional em todos os tempos, Amém. Não me venha com suflês! Não me venha com cozinha minimalista! Eu quero um PF!

Pois essa refeição tão saborosa quanto nutritiva é um dos elementos de união do povo brasileiro, tanto quanto a língua portuguesa e o Jornal Nacional. Essa refeição nos faz ser quem somos.

É por isso que há tantos programas de culinária na televisão. Porque as pessoas sentem falta da infância e das mães daquele tempo que velhos poetas chamavam d’antanho. O que me leva a fazer um apelo às mulheres de hoje: aprendam a cozinhar, meninas. Não deixem essa arte morrer. Para que, no futuro, baste uma dentada num pastel vulgar para extrair uma lágrima dos olhos de seus filhos, uma lágrima de saudade daquela mãe amorosa, de um tempo que não existe mais.


28 de julho de 2016 | N° 18593 
L. F. VERISSIMO

Arte


No seu livro de ensaios A máquina da literatura, Ítalo Calvino fala dos precursores da autoconsciência e da autorreflexão na arte moderna e cita a cena de Antônio e Cleópatra, de Shakespeare, em que Cleópatra imagina seu futuro como prisioneira de César em Roma, onde seu amor por Marco Antônio será objeto de apresentações teatrais e ela será representada por um menino de voz fina e verá sua grandeza “reduzida à postura de uma prostituta”. Na época de Shakespeare, mulheres não podiam atuar nos palcos. Quem interpretava Cleópatra se imaginando na pele de um menino de voz fina em Roma era um menino de voz fina em Londres.

Um exemplo mais antigo, não citado por Calvino, seria o do mural de Giotto numa capela de Pádua que ilustra o texto bíblico (do Apocalipse de São João): “E o céu retirou-se como um pergaminho sendo enrolado”, em que anjos começam a enrolar as bordas da pintura – isso no começo do século 16.

O autorretrato disfarçado de Velàzquez, As meninas, pintado do ponto de vista do rei supostamente retratado e que só aparece vagamente num espelho no fundo do quadro, é um fantástico estudo sobre a arte e o poder, e um moderníssimo jogo de imagens.

Duzentos anos antes de Cortázar, Laurence Sterne, em Tristram Shandy, também convidava o leitor para um jogo literário, e para explorar todas as implicações de ter na mão um objeto chamado “livro” cheio de mentiras e especulações. Tristram Shandy contém bolações gráficas fora do texto que devem ter enlouquecido os tipógrafos da época.

A autoconsciência levou a arte moderna à abstração e teria levado à paralisia terminal se não fosse o pós-moderno, que recuperou o faz de conta depois do seu desmascaramento. Fica combinado que tudo é só tinta no papel ou na tela, e que só porque todo mundo conhece os truques não é razão para aposentar os mágicos.

quarta-feira, 27 de julho de 2016



27 de julho de 2016 | N° 18592 
MARTHA MEDEIROS

Gafes virtuais

Entrou uma mensagem no meu WhatsApp de um ator bonitão, com quem eu nunca havia falado na vida, me convidando para um café a fim de conversarmos sobre uma possível parceria profissional. Disse a ele que seria complicado assumir o projeto que ele me propunha por questão de prazo, perfil e outros impedimentos, mas ele pediu que eu ao menos escutasse o que ele tinha a dizer e acabamos marcando o tal café, em tal lugar, a tal hora. Depois de tudo combinado, quis ser simpática e encerrar a troca de mensagens com um emoji sorridente ou com uma mãozinha com o polegar levantado, mas me atrapalhei e mandei um coração vermelho, gigantesco, batendo forte. Pura paixão.

Logo digitei o inevitável “ops, errei”, ele respondeu que já havia cometido mancadas muito piores, hahahaha, kkkkkkk, e por fim a despedida sóbria, como convém a dois estranhos.

Às vezes, tenho vontade de esganar Steve Jobs, Mark Zuckerberg e demais gênios do Vale do Silício que inventaram essas geringonças eletrônicas para conectar os povos e de quebra perpetuar gafes universais.

Você está no WhatsApp com uma amiga, aquela que sabe um segredo embaraçoso sobre você, e ao mesmo tempo com um grupo de 16 outras amigas (conversas simultâneas entre vários destinatários sempre me faz lembrar o filme Koyaanisqatsi). Ca-la-ro, como diria Alberto Roberto, que você vai mandar para todo o grupo, por engano, o comentário sigiloso que era destinado apenas à sua amiga confidente. E dá-lhe voltas para fazer com que as outras 15 pensem que entenderam o que não entenderam. Expert em enrolation: quem de nós não se tornou um?

Sobre o corretor automático, nada mais a declarar. É o maior puxa-tapete do espaço virtual.

Mas nada se compara aos enganos perpetrados por nossos dedinhos automáticos. Sei de mãe que já mandou nude para a própria filha quando deveria ser para os olhos do namorado only, sei de gente que por engano convidou para um jantar familiar o empreiteiro com quem estava negociando um orçamento, sei de empregador que mandou uma minuta de contrato para o funcionário errado e se viu obrigado a reajustar o salário dele, sei de homem que mandou declarações apaixonadas para a própria mulher e teve que explicar que romantismo todo era aquele depois de 31 anos de casados.

Sem falar das vezes em que a gente toca em cima da foto do perfil e acaba acionando o telefone, ligando para a criatura sem querer – nossos dedos, além de automáticos, são gorduchos demais para essas telas mínimas.

Ato falho? Sei não. Significaria que estamos o tempo todo enviando mensagens que nossa consciência não autoriza, e por isso o subconsciente se intromete e faz acontecer. Será? Prefiro acreditar que é apenas dislexia digital – e acidental. Ops.


27 de julho de 2016 | N° 18592
ECONOMIA

RS tem volume recorde de exportações


VENDAS CRESCERAM no primeiro semestre, mas faturamento caiu em razão de queda nos preços
Com o impulso do câmbio, que deixou os produtos gaúchos mais baratos no Exterior, o Rio Grande do Sul bateu recorde de exportações no primeiro semestre. De janeiro a junho, foram embarcados 11,5 milhões de toneladas em mercadorias, o maior volume da série histórica iniciada em 1989. Os dados foram divulgados ontem pela Fundação de Economia e Estatística (FEE).

Apesar da quantidade maior de produtos comercializados, a receita ficou em US$ 7,7 bilhões, o menor valor desde igual período de 2010. Isso ocorreu em razão da forte retração nos preços dos produtos exportados. As principais mercadorias produzidas pelo Estado, como a soja, perderam valor no mercado internacional.

– O efeito do dólar teve certa importância no volume de vendas, mas a principal causa para o recorde de embarques foi, sem dúvida, a retração no mercado doméstico, que levou os produtores brasileiros a olharem para fora. O preço mais competitivo no cenário internacional também ajudou: oito dos 10 principais clientes compraram mais. O entrave foi o valor das mercadorias, que vem caindo, e impactando no faturamento – afirma Tomás Torezani, pesquisador da FEE.

Com o resultado, o Estado perdeu uma posição no ranking nacional, passando para a quinta colocação, ultrapassando o Rio de Janeiro (em razão da redução do preço do petróleo), mas sendo superado por Mato Grosso (pela forte elevação das vendas de soja e milho em grãos) e Paraná (pelo crescimento das vendas de soja em grão).

No caso da exportação de produtos básicos no Rio Grande do Sul, houve diminuição das vendas de trigo em grãos e farelo de soja. Mas cresceram as vendas de carne bovina e de bovinos vivos, que não haviam sido exportados no primeiro semestre de 2015.

Nos manufaturados, os maiores recuos foram percebidos nas exportações de máquinas e aparelhos para uso agrícola e hidrocarbonetos. O grupo dos semimanufaturados foi o único a ter aumento nas vendas. O crescimento ocorreu em virtude das vendas de celulose.


27 de julho de 2016 | N° 18592 
DAVID COIMBRA

Destemidos e covardes

Terminei o texto de ontem com um “mas”.

A importância do mas é geográfica. Faz toda a diferença estar a leste ou a oeste do mas. Dizer “Letícia Sabatella é linda, mas é chatola” é diferente de dizer “Letícia Sabatella é chatola, mas é linda”. Quando a palavra “chatola” se instala a leste, ou seja, depois do “mas”, estou insinuando que Letícia Sabatella é tão chata, que não vale de nada ela ser linda. Quando a palavra “chatola” muda-se para oeste do “mas”, estou afirmando que a beleza de Letícia Sabatella lhe dilui a chatice e que ela talvez até tenha alguma chance comigo.

Mas o mas a que me referia era de outra natureza. Vinha depois daquela ideia de que o medo da guerra garante a paz. Trata-se de uma teoria dos anos de Guerra Fria, como lembrei – Estados Unidos e União Soviética tinham tanto poder de destruição, que hesitariam em atacar-se e, assim, jamais entrariam em guerra.

Mas... isso só funciona se há medo da morte. Americanos e russos, em sua maioria, têm medo da morte.

Mas... na Crise dos Mísseis, ficou provado que nem todos compartilham desse sentimento saudável. Durante aquelas duas semanas de tensão, em que o mundo prendeu a respiração, esperando a III (e última) Guerra, os americanos mandaram um avião de espionagem sobrevoar Cuba. Esse avião era o U2, que depois viraria nome de uma banda que faz algumas boas músicas, mas que é meio chatola, como a bela Sabatella. Os russos, achando que era um avião de ataque, abateram-no como se fosse uma perdiz, e o piloto morreu. Os generais americanos, furiosos, queriam atacar a União Soviética, o que detonaria a guerra, acabando com toda a vida na Terra, sim, mas evitando que os humanos se tornassem seres errantes em busca do Pokémon Go.

Foi Kennedy quem conteve os militares americanos, comentando, depois, com um assessor:

– A vantagem desses generais é que, se eu fizer o que eles querem, nenhum de nós estará vivo para dizer que eles estavam errados.

Do lado de lá do que Churchill chamou de Cortina de Ferro, foi Kruschev quem segurou os cães pela coleira, ganhando muitos inimigos, entre eles Fidel Castro, que estava ansioso para lançar algumas bombas nos Estados Unidos.

Veja só: se não fossem os políticos, a III Guerra Mundial teria sido desencadeada meio século atrás. Por que os políticos tiveram bom senso e os militares não? Porque o político precisa se relacionar com as outras pessoas. Isso é a política – é a arte da negociação. Fidel, na época, era mais militar do que político, donde sua insana gana de guerra.

Hoje, qual é a maior chaga do mundo? Homens que não temem a morte e não respeitam a vida. Parecem destemidos; não passam de covardes que matam e mutilam crianças pequenas, mulheres grávidas, velhos doentes, pessoas que não estão em luta e nunca lhes fizeram mal. Não há políticos entre eles, porque políticos de verdade dialogam. Só há fundamentalistas religiosos, militares belicosos, gente sem amor a nada nem a ninguém. O equilíbrio foi quebrado. Se esses homens tiverem acesso às armas mais letais do planeta, a destruição mútua estará assegurada.



27 de julho de 2016 | N° 18592 
FÁBIO PRIKLADNICKI

A MÚSICA MAIS DIFÍCIL DE OUVIR


Dói um pouco na minha alma toda vez que ouço Herbert von Karajan. Mas não é exatamente uma dor de emoção. É mais uma mistura de angústia e prazer culpado. É o que sinto quando fruo, por exemplo, a bela interpretação do Canon, de Pachelbel, regida pelo célebre (famigerado?) maestro alemão. Consigo até entender por que essa música é tão requisitada em casamentos. É realmente linda.

Um pouco porque comprei e um pouco porque ganhei, tenho vários CDs de Karajan. Um disco duplo com excertos de suas melhores gravações empacotadas para consumo imediato, uma caixa com cinco discos contendo Concertos para violino solados por Ann-Sophie Mutter, um estojo triplo com a ópera Tristão e Isolda, de Wagner. Fora a surpreendente informação de que ainda ouço CDs, o que quero compartilhar é esse estranhamento que me persegue e suponho que persiga outros também. Por que, afinal, Karajan era – como colocar isso de forma branda? – um simpatizante do nazismo. Mas também foi um grande maestro, embora isso seja contestado pelo crítico Norman Lebrecht, que deplora sua obra e sua pessoa.

Para Lebrecht, Karajan era o que havia de mais autoritário e pernicioso na música, além de um sujeito avesso às novidades da música moderna que fugissem dos repetidos programas clássico e romântico. Só que ele vendia muitos discos: a certa altura, foi responsável por um terço das receitas do selo Deutsche Grammophon, segundo Lebrecht. Por isso, há tantos CDs seus à disposição, muitas vezes por preços bem camaradas. É uma tentação, mas a era da música por assinatura nos acena com ótimas alternativas a ele.

Não é fácil essa negociação entre vida e obra. Filósofos judeus como Lévinas e Derrida tiveram que se entender com o legado do também nazista Heidegger, uma forte influência no campo da ontologia. Mas é possível perdoar quando o assunto é, digamos assim, tão grave? Essa foi uma das reflexões do pensador Vladimir Jankélévitch, que merece ser mais conhecido no Brasil.

Penso que essa fissura na biografia de Karajan e seus colegas de passado maculado estará sempre ali. Entendo quem prefira não ouvi-lo, ainda mais regendo Wagner, que era um notório antissemita. Meu problema com Wagner é outro: acho chatíssimo. Mas tergiverso. Sei que minha solução não agradará a muitos. Nem chega a ser realmente uma solução, é mais uma palavra de resignação: conviva com a dor ou pare de ouvir. Em uma questão tão íntima – como cada um lida com o trauma –, não pode haver um imperativo universal.

terça-feira, 26 de julho de 2016


26 de julho de 2016 | N° 18591 
CARPINEJAR

O apocalipse de polaina

As mulheres têm toda a razão para reclamar de alguns péssimos hábitos masculinos de se vestir, como a gola V, fetiche dos marombados para exibir o peitoral e que só faz o sujeito parecer um stripper desesperado, ou sapato social com camiseta ou a gravata estampada de brechó ou o abadá do Carnaval retrasado ou o cinto de fivela de caubói ou o hábito de sair para passear com camisetas de futebol ou a sunga branca que mostra a penugem a cada mergulho.

Realmente, não há cabimento. São motivos para largar a mão do rapaz em caminhadas pelo Brique da Redenção.

Mas a mulher também guarda seus erros sociais, monumentais, passíveis de distrato na igreja e no cartório.

E o maior deles, que envergonha a classe dos namorados e o sindicato dos maridos, é a polaina, adereço que não deixa nenhuma beldade bonita e atraente, somente engraçada.

O que é uma polaina, meu santo pai?

Polaina dá vontade de rir. Você se levantou da cama e levou a coberta de lã junto? Você se confundiu de manhã e colocou um blusão nas pernas? O tapetinho do banheiro ficou enroscado nas pernas?

A polaina é um bambolê do tênis.

A polaina é uma meia de futebol com elástico estragado.

A polaina é um pijama arriado.

A polaina é um cachecol dos pés.

A polaina é uma sanfona murcha.

A polaina é um vício sem cura: terminará combinando polainas com crocs.

A polaina serve para disfarçar a canela fina e esconde o corpo inteiro.

A polaina entrega o sonho de infância de ser Paquita.

A polaina evoca Menudos, bandana e pulseiras de cordas de violão.

A polaina é o almanaque dos anos 80 publicado em pano.

A polaina é uma gravata-borboleta que voltou a ser lagarta.

A polaina é um pompom que caiu do casaco do bebê.

A polaina é calçar um poodle.

A polaina diminui ainda mais a baixinha.

A polaina é colorida como um drinque, porém traz a ressaca antes mesmo da euforia.

A polaina aquece as panturrilhas e esfria a relação.

A polaina é tão clandestina, tão feia, que não existe polaina de marca famosa, nenhuma fábrica ousa assumir o seu crime.


26 de julho de 2016 | N° 18591
EVENTO

Um olhar sobre boas práticas para o ensino



3º Fórum Educação que dá Certo! apresenta 15 experiências de instituições públicas e privadas que transformaram o aprendizado

Conseguir oferecer educação integral por décadas na rede pública, apesar das dificuldades financeiras. Promover a paz em uma comunidade escolar marcada por conflitos. Incentivar os alunos a conscientizar a todos sobre o bom uso dos recursos naturais. Essas são algumas das iniciativas de destaque no ensino que mostram como, com boas ideias e muita força de vontade, é possível vencer obstáculos para garantir uma formação – e um mundo – melhor.

É com o objetivo de divulgar essas ações que será celebrado amanhã, a partir das 13h30min, o 3º Fórum Educação que dá Certo!. Reunindo representantes de escolas das redes pública e privada do Rio Grande do Sul, o fórum vai destacar como 15 experiências diferentes estão mudando para melhor o aprendizado de crianças e adolescentes. E ajudando a construir noções de cidadania e empreendedorismo, desenvolvendo os bairros e as cidades onde essas propostas estão inseridas.

Nesse sentido de pertencimento à comunidade e de noção do seu possível impacto que a Escola Estadual Neusa Mari Pacheco, em Canela – uma das que dividirão suas experiências com os participantes do evento –, decidiu garantir, há 22 anos, o ensino em tempo integral a todos os alunos.

Atualmente, 900 jovens são beneficiados com instalações esportivas, reforço escolar e lições de teatro, dança e língua estrangeira, entre outros.

– Estamos inseridos em uma comunidade pobre, em um bairro que, antes de existir a escola em tempo integral, era marginalizado. Ajudamos a mudar isso promovendo a educação – comemora o diretor Márcio Gallas Boelter, ex-aluno da instituição.

jovens engajados

em suas comunidades

Foi também para fazer a diferença que o colégio municipal Vereador Carlos Pessoa de Brum, de Porto Alegre, começou a conscientizar os estudantes sobre a importância da reciclagem. Com o projeto PetBrum, a ideia é mostrar que resíduos sólidos podem ser bem utilizados na prática, quando o trabalho é feito com criatividade. A meta da escola, que também promove oficinas de sustentabilidade, é propagar o conhecimento, engajando o maior número de pessoas possível.

– Trabalhamos essa proposta com a comunidade para mostrar que a educação consegue levar à transformação – comenta o professor Luis Oscar Ramos Corrêa, que coordena o projeto.

O 3º Fórum Educação que dá Certo! é promovido pelo Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade (PGQP) e pela Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho.

Agende-se

O quê: 3º Fórum Educação que dá Certo!

Quando: quarta-feira, a partir das 13h30min

Onde: Salão de Convenções da Fiergs (Avenida Assis Brasil, 8.787, bairro Sarandi, Porto Alegre)

Quanto: entrada é gratuita, mas as vagas são limitadas, por ordem de inscrição

Programação

13h30min às 14h30min – Tendências em Educação, com revista Nova Escola e Senac

14h30min às 14h45min – Deslocamento para salas temáticas

14h45min às 16h45min – Salas temáticas:

16h45min às 17h – Deslocamento das salas temáticas para o salão de convenções

17h às 17h45min – Resultados dos grupos individuais e conclusões, com Rosane de Oliveira

18h – Encerramento