11
de julho de 2012 | N° 17127
MARTHA MEDEIROS
Para Woody Allen, com amor
Tinham
me dito que seu novo filme era meio bobinho, com piadas requentadas e que não
acrescentava grande coisa à sua carreira. Querido cineasta, quem o julga com
severidade o faz por amor também – admira tanto sua obra que não se contenta
com menos do que um Match Point ou um Meia Noite em Paris –, porém ganharíamos
mais se julgássemos você pelo seu estado de espírito, que tem sido transparente
e inspirador.
Espero
não estar sendo pretensiosa, mas percebo que, depois de muitos anos procurando
entender e diagnosticar as neuroses humanas – as suas, inclusive –, você deu o
serviço como feito e agora está apenas se divertindo enquanto seu lobo não vem.
Não
vejo maneira mais inteligente de envelhecer. Deixar de lado a obsessão por
originalidade e dar seu recado com as ferramentas que domina é uma forma de se
libertar, e a liberdade é um dom para poucos. Você sabe que um dos assuntos do
seu novo filme, a de que as pessoas perderam a noção do ridículo ao valorizarem
a vida íntima dos “famosos” (e os “famosos” mais ainda ao se deixarem seduzir
por essa falácia), já está datado. No entanto, filmando em Roma, terra dos
paparazzi, como não aproveitar a piada?
Acreditar-se
especial nos torna patéticos. Somos todos uns pobres diabos tentando enfrentar
a morte iminente com alguma ilusão tirada da cartola. Você é um homem talentoso
com uma extensa folha de serviços prestados ao cinema mundial, mas o fato de se
reconhecer comum o torna ainda maior.
Outro
dia ouvi do grande Gilberto Gil, ao completar 70 anos: “Me dou cada vez menos
importância”. Ah, que presente para si mesmo. Somos todos geniais cantando no
chuveiro – quando passamos a acreditar seriamente que merecemos veneração, lá
se vai um pouco da nossa essência.
Como
diz o personagem de Alec Baldwin, maturidade talvez não seja sinônimo de
sabedoria, e sim de exaustão. Quanto mais o tempo passa, mais se torna
necessário simplificar a vida. O que não impede de estarmos abertos para
algumas surpresas. Escutar mais do que falar, aprender mais do que ensinar,
enxergar mais do que aparecer – não seria o ideal? Lutar contra o próprio ego
não é fácil, mas é o único jeito de mantermos uma certa sanidade e paz de
espírito.
Caro
Woody, minha admiração segue gigantesca. Não só por todos os filmes brilhantes
já realizados, mas também por você ter alcançado essa visão desestressada e
zombeteira da vida maluca que levamos todos.
Por
você conseguir, a despeito de todos os elogios e prêmios recebidos, ter a
dimensão exata do seu tamanho no mundo. De não trocar seus prazeres pessoais
pela ânsia de ter mais visibilidade. Por filmar em diferentes cidades do
planeta, extraindo delas sua beleza genuína, mas sem deixar de unificar as
fraquezas e grandezas humanas, que são iguais em qualquer lugar.
O
resto é gordura desnecessária. Longa vida aos que conseguem se desapegar do ego
e ver a graça da coisa.
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