08
de julho de 2012 | N° 17124QUASE PERFEITO |
Fabrício
Carpinejar e Cínthya Verri
Meus namoros duram apenas dois
anos, é maldição?
“Fisioterapeuta, 32 anos, moro com meus pais, o que
me deixa incomodada. Sou de aquário, vivo de amor: pelo próximo, pelos amigos,
pais, namorados... Dizer que meus namoros não dão certo é mentira, mas eles nunca
passam de dois anos! Sou carente, vivo à procura ou à espera de um grande amor.
Josi”.
Querida Josi,
Morar
com os pais infantiliza seus namoros – este é o seu grande problema.
Ainda
pede permissão, no inconsciente, para a família. Não tem atmosfera para expor
as frustrações e os desejos súbitos, uma sala com sua decoração e modos, para
se apresentar inteiramente. Um lugar para amar com liberdade e até brigar.
Brigas sufocadas aniquilam o relacionamento mais do que as declaradas.
Todo
instante requer delicada diplomacia para agradar os parentes e, ao mesmo tempo,
demonstrar arrebatamento nas histórias particulares. Servir o passado e o
futuro é impossível – cabe escolher seu destino.
A
família sempre está perto olhando seus passos, analisando quem chega. Sua
residência é superpovoada de curiosidade, quase uma romaria a uma santa,
idêntica a uma torre de Rapunzel, cheia de provas e desafios.
Jogue-me
suas tranças, Josi. Ou apague as velas do bolo. Está próxima de realizar o
sonho da Disney, não da festa de casamento, compreende?
Seu
espaço afetivo é um cativeiro de virtudes, limitado para sua idade. Vive
questionada, e deve aceitar a invasão familiar nos seus assuntos porque não
resta outra opção. Não há namoro que perdure.
Os
companheiros aguentam os dois anos do estágio probatório da paixão. E, pelo
jeito, são bem esforçados e aplicados. Mas terminam obrigados a conviver com
sogro e sogra. Não enxergam perspectiva de emancipação. Temem que o relacionamento
seja a sombra eterna de uma mesada.
Você
coloca sua felicidade nas mãos paterna e materna. Não procura o amor, espera um
amor. Não pretende nem sair de casa. É muita moleza.
Que
tal tirar seu título amoroso e votar em seu próprio candidato?
Abraço
com toda ternura,
Fabrício
Carpinejar
Querida Josi,
Era
uma vez um viajante que, por acidente, sentou para repousar embaixo de
Kalpataru, a árvore dos desejos. E estava com fome, por isso pensou: “Como eu
queria comer!”.
No
momento em que a ideia de comida surgiu na mente dele, o alimento imediatamente
apareceu, e o homem estava tão faminto que nem pensou a respeito. Comeu tudo.
Então sentiu sono.
Quando
deitou na grama, o pensamento surgiu: “O que está acontecendo? Não vejo ninguém
aqui. A comida simplesmente apareceu - talvez haja fantasmas fazendo isso
comigo!”.
De
repente, apareceram fantasmas. Ele ficou com medo e pensou: “Agora eles vão me
matar!”. E eles o mataram.
Josi,
talvez você veja aquilo que pensa. E, por isso mesmo, talvez seja o que faz
acontecer.
Você
tem grande percepção sobre o que precisa fazer para interromper o ciclo, mas
não age. Afirma que percebe abandonar as próprias necessidades e deixá-las para
o outro se responsabilizar sabendo que isso não funciona.
O
amor não é feliz. O amor é o amor: uma geografia complicada, desordenada e que
não obedece a comandos. Não tem data de validade, não tem período de expiração.
É um terreno duro, que exige conversa e recuperação todos os dias.
O
amor aposta no resgate, não tem nenhuma sobrevida. É um paciente terminal, um
corpo dependente de cuidados para suas atividades mais corriqueiras. Ele não
anda sozinho.
Viver
junto com alguém não é esporte: é fisioterapia. Todo cuidado é pouco. Qualquer
movimento brusco e perderemos todo o trabalho de meses. Amar é para artesãos.
Você
já sabe cuidar de seus amores mais autônomos. Se quiser mais, será preciso
deixar os pensamentos de lado e cumprir com o que você sente.
Beijos
meus e coragem sempre,
Cinthya Verri
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