24
de julho de 2012 | N° 17140
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Cinco coisas que preciso fazer
antes dos 40 anos
Por
um golpe do acaso, reencontrei minha agenda de estudante da 8ª série. Estava
dentro da caixa dos troféus e medalhas de futebol, na garagem.
Cometi
o erro de abri-la. Não se mexe em arquivos impunemente. Não dá para passar os
olhos e deixar por isso mesmo. Somos absorvidos, tragados pela curiosidade da
comparação. Os cinco minutinhos destinados ao assunto se transformam em dez
horas. Nem notamos o dia migrar para a noite. Interrompemos uma encomenda
urgente, apagamos reuniões, desaparecemos para a família, seduzidos pela nossa
caligrafia desgovernada e antiga.
O
que me espantou é que havia uma cartinha presa com clipe nas costas do volume: Cinco
coisas que desejo fazer antes dos 40 anos.
(Em
tempo, completo 40 anos em outubro. Não duvido que não tenha programado meu
corpo a procurar a agenda perto do aniversário. Foi um alarme posto na memória
para soar num prazo de vinte e sete anos.)
Mas
por que 40, e não 30? Juntei as pontas e identifiquei que era a idade de meus
pais na época.
Eu
gargalhei quando li o que esperava de mim em 2012:
1) Saltar
de paraquedas.
2) Não
casar.
3) Conhecer
Tóquio.
4) Aprender
francês e italiano.
5) Ser
milionário com a indústria de cinema.
Tive
100% de fracasso. Não cumpri nenhuma das alternativas. Assinei o atestado de
incompetência perante aquele adolescente disposto a ganhar o mundo.
E me
deu orgulho. Fiquei orgulhoso da decepção. Ri emocionado de minha invalidez
estratégica, da minha nulidade profética.
Foi
um sinal de saúde. Quem cumpre objetivos é neurótico.
É bobagem
elaborar metas para atingir em determinada idade. Felicidade não se planeja,
felicidade se descobre.
Ingenuidade
congelar lista de intenções como se a vida não nos transformasse dia a dia.
O
que vale alcançar objetivos como uma maratona turística? Para quê?
Nosso
legado é o que falamos aos outros, não o que aparentamos ser. Todos os desejos
terminam, no fundo, iguais porque não temos a coragem da simplicidade.
Amigos
não admitem morrer sem visitar as pirâmides, por exemplo. Eu não quero morrer
sem visitar meu pai ou minha mãe.
Ainda
que eu tivesse apenas uma semana de vida não mudaria meu temperamento. Felicidade
é improvisar, é estar disposto não sabendo o que vai acontecer.
Não
troco em nada o inventário do que realizei nestas quatro décadas.
(X) Dois
filhos
(X) Casado
(X) Vinte
livros
(X) Lê
espanhol e desenha inglês
(X) Apartamento
financiado.
Não é
mais verdadeiro?
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