18
de julho de 2012 | N° 17134
MARTHA
MEDEIROS
Tirando os olhos do próprio
umbigo
Na
mesma semana em que fiquei inconsolável por ter perdido (ou terem me roubado) a
carteira com todos os documentos dentro, conheci a história de uma moça que já passou
por umas chateaçõezinhas também.
Foi
criada numa família machista. Apesar de concluir a faculdade de Direito, o pai
a proibia de trabalhar. Teve o primeiro relacionamento só aos 25 anos. Casou,
porém o parceiro possuía problemas que tornavam a vida comum um inferno.
Ela
engravidou e deu à luz um filho que, com um ano de idade, foi diagnosticado com
uma doença rara que causava retardo motor – talvez nunca viesse a caminhar. Ela
largou tudo para cuidar do filho, e tanto pesquisou que conseguiu descobrir um
tratamento que reverteu as piores expectativas – hoje seu filho caminha. Em
meio a isso tudo, o então ex-marido passou a viver como mendigo, dormia numa
obra. Ela não teve dúvida: o resgatou e o encaminhou a um hospital.
Foi
quando descobriram que ele havia contraído o vírus HIV, e que havia o risco de
ela e o filho terem o vírus também. Depois de muitas noites sem dormir, veio o
resultado. Não, mãe e filho não haviam sido contaminados. Mas descobriu-se que
o menino, agora com cinco anos, tinha um número enorme de pólipos no intestino,
o que exigia exames anuais muito desconfortáveis para uma criança. Nisso, o pai
do garoto faleceu. Nada fácil dar a notícia.
Trégua:
ela conheceu outro homem, finalmente o amor da sua vida, com quem teve alguns
anos felizes. Até que ele morreu de uma hora para outra.
Dois
meses depois, ainda em luto, ela descobriu que tinha um câncer de mama, e não
estava em fase inicial: o tumor media 11 centímetros.
Debilitada
emocionalmente, nem assim entregou os pontos: iniciou quimioterapia, descobriu
nódulos no outro seio, perdeu cabelo, cílios e 15 quilos, fez uma mastectomia
radical e hoje é uma mulher, segundo palavras dela mesma, que se considera
feliz e vitoriosa, pois teve a oportunidade de se tratar com uma equipe
excelente e descobriu com a doença o seu potencial para fazer diferença na vida
dos outros: atualmente é voluntária do Imama e estuda legislação do Direito Médico.
Conclui ela seu depoimento, fazendo graça: “Nada mais me abala, até medo de
barata eu perdi”.
Ninguém
tem controle sobre o próprio destino, mas podemos nos precaver, nos informar e
nos fortalecer. Hoje é o Dia Nacional da Luta contra o Câncer de Mama. Das 8h30min
às 18h, no Teatro do Sesc, médicos especialistas em mastologia, oncologia,
radioterapia, reconstrução mamária e oncoplastia irão apresentar as últimas
novidades no tratamento da doença. É aberto ao público, entrada franca. Ela
deverá estar lá.
Perder
algumas batalhas é natural. Perder os documentos, banal. Perder o medo diante
de graves desafios e seguir lutando pela vida, crucial.
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