31
de julho de 2012 | N° 17147
EDITORIAIS
ZH
ANTES QUE O BRASIL PARE
Ainda
que a atual greve dos caminhoneiros tenha inspiração e incentivo patronal,
volta a fazer sentido a velha e ameaçadora frase pintada nos para-choques de
alguns veículos pesados que circulam pelas estradas do país: “Sem caminhão, o
Brasil para”. Na verdade, não há falta de caminhões.
Falta,
isto sim, uma negociação sensata entre os órgãos governamentais responsáveis
pelo transporte de cargas, os empresários e alguns sindicatos de trabalhadores –
neste momento concentrados apenas em seus próprios interesses, sem se importar
com os danos que a paralisação pode causar a uma sociedade extremamente
dependente do transporte rodoviário.
É um
locaute, denunciam os dirigentes das principais confederações nacionais de
trabalhadores da área de transporte, alegando que os caminhoneiros estão sendo
utilizados pelos patrões para derrubar a recente regulamentação profissional
que estabelece intervalos rigorosos para o descanso dos motoristas.
E as
greves por iniciativa dos empregadores são terminantemente proibidas pela
legislação federal. Já os empresários, através de suas representações
sindicais, manifestam claro apoio ao movimento, mas se eximem de
responsabilidade pela iniciativa.
Argumentam,
porém, que as empresas não têm como cumprir a lei sancionada em abril passado,
que limita a jornada de trabalho dos motoristas a oito horas, com no máximo
duas horas extras, incluindo pausas de 30 minutos a cada quatro horas
trabalhadas.
Ainda
que o regramento seja bem-intencionado e tenha o propósito de evitar que
condutores extenuados se envolvam em acidentes, a verdade é que inexiste
infraestrutura adequada para o repouso e a segurança dos trabalhadores, nos
termos previstos pela legislação.
Alegam
os transportadores, ainda, que o cumprimento rigoroso das normas elevaria o
custo do frete, que hoje é considerado insuficiente para cobrir despesas com
combustíveis, pedágios e segurança. Os trabalhadores contestam, argumentando
que os empresários não querem reduzir seu lucros.
Diante
do impasse, que já começa a provocar transtornos à população em vários Estados,
torna-se urgente uma intermediação do governo, chamando as partes para a mesa
de negociação e abrindo espaço para o reexame das normas impostas pela Agência
Nacional de Transportes Terrestres.
Evidentemente,
não cabe revogar regras que incidam diretamente sobre a saúde e a segurança dos
condutores e, por extensão, dos demais motoristas que circulam pelas mesmas
rodovias. Mas a extensão do prazo para aplicação das novas exigências,
conjugada com a criação de condições para que as normas possam ser cumpridas,
pode ser o sinal verde para os caminhões continuarem transportando cargas,
empregos e uma parte essencial da economia brasileira.
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