CARLOS
HEITOR CONY
Crimes e castigos
RIO
DE JANEIRO - Outro dia, em crônica anterior, comentei que, em criança, eu
entendia tudo, inclusive -e principalmente- o mundo. Hoje, passados muitos dias
e noites, não entendo mais nada, principalmente de mim mesmo. Dou exemplos.
Quando
soube que houve um dilúvio universal, as cataratas do céu se abrindo e chovendo
40 dias e 40 noites, achei mais que natural: os pecados dos homens e das
mulheres mereciam um castigo, Deus se arrependera de sua criação.
Mesmo
assim, encontrou um justo e, antecipando a indústria naval, deu a Noé as
medidas para uma arca salvadora de não sei quantos côvados (Em tempo: para mim
de nada serviria, não sei quanto é um côvado).
Mais
tarde, descendo a detalhes e substituindo a água por fogo, o Senhor destruiu
duas cidades com uma eficiência que os homens só aprenderiam séculos depois, em
Hiroshima e Nagasaki. Repetindo sua misericórdia, salvou Ló, sua mulher e duas
filhas. Mesmo assim, a mulher foi olhar para trás e transformou-se numa estátua
de sal.
Em
criança, eu entendia todos esses castigos. Não havia imprensa investigativa,
promotores de Justiça, Polícia Federal, entre o delito e a pena não havia o
Gilmar Mendes, tudo corria bem. Pessoalmente, entendia melhor o dilúvio que foi
universal do que a destruição de Sodoma e Gomorra -que foi seletiva,
inaugurando a homofobia e sem haver passeata gay em protesto. Mais uma vez,
entendi tudo.
Hoje,
homens e mulheres continuam fazendo das suas em diversos níveis e modos. E,
quando chove, o castigo pega as cidades serranas do Rio e algumas ilhas
japonesas, o fogo só destrói alguns cinemas e supermercados. Onde está o
Senhor?
Bem,
teremos em breve o julgamento do mensalão. Desde já, me dispenso de entender o
que acontecerá.
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