quinta-feira, 31 de agosto de 2023


31 DE AGOSTO DE 2023
CARPINEJAR

Inter é Ulisses

Com a guerra vencida sobre os troianos, os gregos retornaram ao seu lar. Só que o tempo de regresso durou tanto quanto o da própria batalha. Ulisses levou 10 anos para chegar a Ítaca, sua terra natal.

Experimentou um circuito atribulado de desafios. Teve que arcar com tormentas sucessivas e animosidade dos deuses. Viveu um período de purgatório e de sombras. Enfrentou o monstruoso ciclope Polifemo em sua caverna, sobreviveu ao feitiço de Circe, que transformou muitos dos seus companheiros de exército em repelentes animais, resistiu ao canto das sereias, negou a oferta de imortalidade proposta pela ninfa Calipso se ficasse com ela.

Demorou para reencontrar a sua paz, a sua calmaria, a sua identidade, o DNA de suas conquistas e feitos. Estou descrevendo o poema Odisseia, de Homero, que não deixa de simbolizar a história recente do Inter. Com a classificação para a semifinal da Libertadores, parece retomar um fio perdido naquela última semifinal com Tigres, em 2015, que desembocou em rebaixamento no ano seguinte.

Dali por diante, foi um horror. Nada deu certo. O time suportou oito anos de sofrimento e de amargura, de crises e blecautes, de troca incansável de técnicos e métodos, de gestões questionadas e controvertidas, de intrigas no vestuário, de sapos enterrados, de eliminações nas penalidades, de tropeços com equipes inexpressivas, de greve no treino, de briga com ídolos, até retornar hoje ao cenário das finais da Glória Eterna, de onde nunca deveria ter saído, até testemunhar novamente o Beira-Rio lotado, com 50 mil pessoas comemorando a sua passagem como um dos quatro melhores clubes do continente.

É um retorno à sua estatura de Campeão de Tudo, à pátria vermelha, à confiança dos cânticos das arquibancadas. Recuou espiritualmente à encruzilhada para refazer a senda das vitórias. 

É como se o Colorado despertasse de um longo coma, de um apagão de oito anos. Recuperou o tripé que sempre caracterizou as suas principais formações: defesa (com um goleiro líder, Rochet, e um zagueiro cascudo, Mercado), armação (com o regente liso Alan Patrick) e finalização (com o centroavante matador Enner Valencia).

Inter é Ulisses chegando de volta para competir de igual para igual, contra a garra argentina ou a altitude boliviana, desfazendo-se do complexo de vira-lata, das vestes e da síndrome de mendigo, mostrando-se mais maduro para reverter reveses ou controlar vantagem, com as cicatrizes enfim saradas de uma longa ausência.

Não sei o que virá, mas é consenso que o ambiente já é outro, já está radicalmente diferente. São apenas três jogos para o Tri da América.

CARPINEJAR

31 DE AGOSTO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

DESFECHO DEMORADO

O governo do Estado programou para esta quinta-feira a solenidade de troca de comando na Cadeia Pública de Porto Alegre: saem os policiais militares do serviço de carceragem e retornam os agentes penitenciários da Susepe. Encerra-se, assim, uma solução emergencial que deveria ter durado seis meses e durou inacreditáveis 28 anos.

Em julho de 1995, depois de uma sucessão de motins no antigo Presídio Central do bairro Partenon, soldados da Brigada Militar foram convocados para uma força-tarefa que deveria controlar as rebeliões e se retirar. Mas, por conta da inépcia de sucessivas administrações para equacionar o problema, acabaram ficando. 

E - é impositivo reconhecer - prestaram inestimáveis serviços à população gaúcha, reprimindo rebeliões, evitando fugas e mantendo sob controle integrantes de facções criminosas. Só que essa improvisação também desfalcou a corporação, reduzindo o efetivo necessário ao policiamento ostensivo das cidades. Agora, porém, a anomalia administrativa está sendo finalmente corrigida, com o retorno dos PMs às ruas e a devolução do comando da Cadeia à Superintendência dos Serviços Penitenciários.

Se merece ser celebrado o fim do improviso, também merecem ser recordados os fatos que o motivaram, a começar pelo motim cinematográfico de 1994 que culminou com as mortes de um policial civil e de quatro criminosos. Em plena Copa do Mundo de 1994, a população do Estado e, em especial, os habitantes da Capital foram surpreendidos pela notícia de uma rebelião no Presídio Central, protagonizada por detentos de alta periculosidade, todos integrantes da facção denominada Falange Gaúcha. 

Os amotinados, que tinham em seu poder 24 reféns entre agentes da carceragem e servidores do Hospital Penitenciário, conseguiram, inclusive, resgatar da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) o principal líder da facção. Depois de mais de 24 horas de negociação tensa, 10 presos fugiram em três veículos com nove reféns, uma fuga seguida de perseguição policial e que resultou num verdadeiro bangue-bangue pelas ruas da Capital. Houve acidente automobilístico, invasão de um grande hotel da cidade, mortos e feridos. Decorreu daí a decisão de trocar a guarda do presídio por uma força-tarefa composta por PMs.

A Brigada Militar não saiu mais de lá, apesar de reiteradas tentativas de devolver os soldados às suas atribuições rotineiras do policiamento ostensivo. Só agora, depois da transformação do velho presídio em Cadeia Pública, da reforma estrutural de suas instalações, da redução significativa da população carcerária local e da formação de novos agentes penitenciários, é que o improviso está prestes a terminar.

Espera-se que os novos carcereiros tenham sucesso na sua missão de impedir fugas e de evitar que os delinquentes continuem agindo mesmo atrás das grades. Os PMs são bem-vindos de volta às ruas, pois os cidadãos se sentem mais seguros com a presença de soldados nas proximidades de seus lares e locais de trabalho. A corporação merece o reconhecimento da sociedade por mais este serviço prestado, mas é desejável, também, que os administradores públicos retirem desse demorado desfecho uma lição: na delicada área da segurança pública, só improvisa quem não sabe planejar.


31 DE AGOSTO DE 2023
O PRAZER DAS PALAVRAS

Grafia de nomes geográficos

Uma assídua leitora desta coluna, a dona Olga Costa Ribeiro, de Livramento, manda recado (com bilhete do próprio punho!) para justificar por que ela se inclui entre os fervorosos defensores da grafia Sant?Ana para o nome de seu município (com apóstrofo), em oposição aos que, como eu, defendem a forma Santana.

Como, neste assunto, militamos em campos discordantes, a dona Olga, professora aposentada que aprendeu a dar mais crédito a fatos do que a simples opiniões, achou saudável comprovar seu ponto de vista com documentação concreta: pesquisa aqui, pesquisa acolá, descobriu que, em meados do séc. 19, uma fazendeira local doou uma de suas propriedades para o estabelecimento de uma vila, acompanhada de uma imagem de Sant?Ana (assim estava escrito, com apóstrofo e tudo), com a especificação de que fosse dado ao povoado que se iniciava o nome da santa como padroeira. Pronto! Se fosse uma pessoa, e não uma cidade, diríamos que esta seria a sua certidão de nascimento, valendo, portanto, o nome na forma em que foi registrado.

Infelizmente, dona Olga, não é assim que funciona. Com relação à grafia, os nomes geográficos (os topônimos) não têm a mesma impermeabilidade às reformas ortográficas de que gozam os nomes de pessoas (os antropônimos). Por exemplo, embora a forma canônica hoje seja Luís, haverá neste imenso Brasil quem se assine Luiz, Luíz ou Luis, porque assim foi registrado e é direito seu manter essa grafia, se assim quiser (é claro que devemos usar a forma genérica quando falamos de personagens históricos, como Luís de Camões ou os Luíses da monarquia francesa).

O nome de uma cidade, contudo, sempre vai ser sensível às alterações determinadas pelas sucessivas reformas ortográficas. Aquele que é considerado o município mais antigo do Brasil nasceu, dizem os registros, como Cananea, depois virou Cananéia e hoje, com a supressão do acento no ditongo aberto, passou a ser Cananeia, como assembleia e geleia. Como gosto sempre de mencionar, já se escreveu Trammandahy, Trammanday e Tramandahy, mas isso não importa; na ortografia atual, é Tramandaí.

Em suma, não podemos alegar a tradição ou o ato de registro de uma cidade para justificar a grafia do nome dela, pois em milhares de casos, ao longo do tempo, esta grafia sofreu alterações por conta de lei. Sua pesquisa, dona Olga deixou claro que o nome dado na fundação foi Sant?Ana, por expressa vontade da doadora - mas isso tem valor histórico, mas não a menor influência na forma como hoje se deve escrever. E é bom que seja assim, como vou mostrar.

Em todo o Brasil, o maior país católico do mundo, não é de espantar que haja dezenas de localidades que trazem Santana no nome: Santana do Cariri (CE), da Boa Vista (RS), do Acaraú (CE), da Vargem (MG), etc. - além de Barra de Santana (PB), Campo de Santana (PB), Capela de Santana (RS), Feira de Santana (BA), Riacho de Santana (BA), e por aí vai - todos grafados da mesma maneira, sem apóstrofo. 

Agora, vamos imaginar um cenário assustador em que cada um desses lugares usasse a grafia que recebeu no seu batismo! Tenho certeza de que encontraríamos nas atas de fundação um verdadeiro pot-pourri de variantes, que incluiria talvez Sant?Ana, Sant?Anna, Santanna, Santana e sabe-se lá quantas outras combinações! É para evitar essa confusão que existe uma lei ortográfica, obrigatória, unificadora, eu diria até republicana, que padroniza todas elas em Santana - e chama os habitantes de todas elas de santanenses.

Eu sei que a senhora prefere a outra forma, mas, se lhe serve de consolo, lembre que o próprio nome do Brasil foi escrito durante muito tempo com Z, mas trocou depois pela forma atual. Ah, em tempo: como um passarinho me contou que a senhora vai completar noventa anos daqui a duas semanas, deixo aqui o meu abraço antecipado e meus votos de que continue sendo a leitora atenta que demonstra ser.

CLÁUDIO MORENO

31 DE AGOSTO DE 2023
CHAMOU A ATENÇÃO

E a Superlua surgiu de novo

Ainda não faz um mês desde que as redes sociais foram inundadas por fotos da Lua com brilho e tamanho especiais. Ontem, mais uma vez, a Lua esteve maior e mais brilhante. Sem nuvens no céu, o Rio Grande do Sul foi um dos Estados com melhor visualização do fenômeno.

Foi a segunda Superlua do mês - a primeira ocorreu em 1º de agosto. Esta, por ser a segunda, é chamada Superlua azul. A fase de Lua cheia começou oficialmente às 22h35min. Superlua é o nome popular da Lua cheia ou nova que ocorre quando o satélite natural está no ponto mais próximo (ou a no máximo 90% dele) da Terra.

A distância entre a Lua e a Terra varia muito. A Lua demora 27,3 dias para dar uma volta inteira na Terra, segundo a Nasa, agência espacial dos EUA. Ao longo desse período se sucedem suas fases, cada uma com aproximadamente sete dias: nova, crescente, cheia e minguante. Como a volta inteira dura menos de um mês, alguma fase da Lua se repete ao longo dele.

A trajetória percorrida pela Lua ao dar a volta na Terra não é um círculo exato, mas uma elipse - espécie de círculo achatado. Por isso, a distância varia ao longo do trajeto e também a cada volta dada.

O ponto mais próximo que a Lua chega da Terra em cada volta é chamado perigeu. Em média, nesse momento a Lua fica a 362 mil quilômetros do planeta. Já o ponto mais distante que a Lua fica da Terra, a cada volta, é conhecido como apogeu.

Próxima

Em média, o satélite natural está a 405 mil quilômetros da Terra. Ontem, porém, a Lua chegou a 357.344 quilômetros de distância da Terra. A próxima Superlua deve ocorrer apenas em 2037, segundo a Virtual Telescope Project.


31 DE AGOSTO DE 2023
TÚLIO MILMAN

Indireto ao ponto

Tudo indica que o Supremo Tribunal Federal irá decidir que a posse de maconha para consumo próprio deixará de ser um crime no Brasil. Não tenho certeza se gosto ou não dessa ideia. Peço desculpas a todos aqueles que esperam convicções absolutas de um colunista. Dessa vez, não as tenho. "Sou pago para dar opiniões", eu mesmo disse tantas vezes. Como afirmou Mario Quintana, "contradizer-se é chegar sozinho ao outro lado da verdade". Adoro essa frase. Com a licença do poeta, meu convite hoje é para um passeio pela minha plantação de dúvidas. Essas sim fazem a minha cabeça.

Por um lado, entendo que a liberdade do indivíduo é um bem inegociável. Então, se alguém quer fumar maconha, que o faça e arque com as eventuais consequências, as boas e as ruins. Só que, entre o ideal e a prática, existe uma longa distância. Assim como as ações econômicas ligadas ao meio ambiente, a liberdade precisa ser sustentável. De nada adianta a sensação de exercê-la hoje se os atos em questão comprometem o amanhã. O valor do indivíduo é tão grande que me pergunto se a lei pode autorizar alguém a fazer mal a si mesmo. Até porque, de fato, de cada indivíduo dependem outros, na família, no trabalho e em todos os lugares. Alerta de clichê: ninguém é uma ilha.

Há também o argumento de que a legalização das drogas enfraqueceria o tráfico, transferindo para o governo recursos gigantescos que hoje transitam na ilegalidade. Ninguém me convence de que a decisão de considerar o porte de maconha como "não crime" é um passo para a efetiva legalização. De fato, os traficantes, se não tiverem mais a maconha, traficarão outra coisa. Não viaje: descriminalizar a maconha não tem o poder de ressocializar bandidos.

Também penso que drogas tão ou mais perigosas que a maconha são legais, socialmente aceitas e valorizadas. O álcool, por exemplo, é componente fundamental das equações que levam a acidentes de trânsito, violência doméstica e tantas doenças fatais. Vale o mesmo para o tabaco, no que se refere às enfermidades.

Se eu fosse ministro do STF e tivesse que votar, estaria envolto em um enorme conflito de consciência. Porque, no caso, eu teria que decidir, sem enrolar, se o errado é o certo. E, às vezes, é.

TULIO MILMAN

30/08/2023 - 14h51min

Atualizada em 30/08/2023 - 16h30min-Marta Sfredo

Saques em fundos de super-ricos: governo corre risco de não ter mais o que tributar

Fundos exclusivos perderam R$ 71,4 bilhões desde que começou debate sobre taxação

É uma advertência que economistas realistas costumam fazer sobre tentativas de tributar grandes fortunas: esse é um público que tem grandes incentivos para driblar o Fisco, além de poderosas ferramentas para fazê-lo.

Um levantamento do jornal Valor Econômico mostrou que os fundos exclusivos - aqueles em que, para entrar, é preciso investir no mínimo R$ 10 milhões - tiveram saques de R$ 71,4 bilhões entre janeiro e julho, período em que se debateu a tributação sobre esses instrumentos.

Para comparar, no ano passado, quando o tema não estava em pauta, o volume de retiradas em 12 meses foi de R$ 21,9 bilhões. Portanto, a demandada em sete meses fica 326% acima de todo o acumulado em 2022. Os dados originais são da Associação Nacional das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

No universo geral de investimentos em fundos - os taxados e os não - a saída foi de R$ 113,2 bilhões no ano passado e de R$ 125 bilhões nos primeiros sete meses deste ano. Isso significa que, no ano passado, os saques dos fundos exclusivos corresponderam a 19% do total, enquanto neste ano já alcançam 57%.

É verdade que ainda está alocada nesse tipo de "veículo" - como os fundos são chamados no segmento financeiro - R$ 966,2 bilhões. O valor corresponde a 12% de todos os recursos (R$ 8 trilhões) que circulam nos milhares de fundos existentes no Brasil. Mas como o ritmo de retiradas tende a se acelerar caso a taxação se confirme, existe o risco de o governo já não encontrar nada para tributar quando - e se - a medida for confirmada. É outro desafio para o projeto "déficit zero" do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

quarta-feira, 30 de agosto de 2023


30 DE AGOSTO DE 2023
CARPINEJAR

Eu não uso cinto no banco de trás

Passei a minha juventude sem colocar cinto na hora de dirigir. Na época, era um descalabro ficar amarrado ao banco de motorista. Poucos aceitavam. Parecia impensável a materialização da regra. Chegava-se a alegar que contrariava o princípio de liberdade.

Nas viagens em família, filhos eram transportados de pé, acenando para os outros condutores pelo vidro traseiro. Pulavam nas poltronas como se estivessem em uma guerra de travesseiros na cama. Todos seguiam assim, desconjuntados, inconsequentes, parafusos soltos prontos para um acidente fatal.

Hoje, dificilmente alguém não usa cinto na frente. Não apenas porque pode ser multado, mas pela conscientização de que é uma prevenção necessária em caso de colisão. É um segundo air bag disponível em qualquer carro.

Vidas foram poupadas nas últimas décadas a partir da obrigatoriedade. Assim como existia um preconceito com a sua aplicação no banco dianteiro - que não faz mais nenhum sentido atualmente, lembra tempos remotos e pré-históricos -, temos que avançar um pouco mais nos hábitos e empregar o cinto no banco de trás.

Confesso com misto de vergonha e culpa: não sou adepto. Precisarei mudar. Quando entro num táxi ou num Uber, quando sou carona de um amigo, não costumo me afivelar na proteção. Há uma preguiça da minha parte de procurar o encaixe nos vãos dos assentos. Acredito que a viagem é curta e nada vai me acontecer, ou me entretenho com o celular sem pensar na possibilidade de um solavanco, ou suponho que somente o motorista sofrerá danos.

Estou completamente equivocado. Meus filhos colocam, minha esposa coloca, e eu fingia até o momento que contava com uma imunidade especial. O perigo não abre exceções.

Como a irregularidade do uso do dispositivo na acomodação de retaguarda somente é flagrada em paradas numa blitz - a imprudência não é visível com o carro em movimento -, acabamos relaxando com a norma. Pelo jeitinho brasileiro, o que não dói no bolso não dói na consciência, infelizmente. Não é porque os azuizinhos não enxergam que eu devo não fazer. O caráter não depende de testemunhas.

É muito mais temerário não usar cinto no banco de trás do que no da frente, pois há mais espaço para a violência do choque. Você não se encontra fixo em ponto algum e corre o risco de ser lançado para fora do veículo ou voar em direção ao painel de instrumentos, ao volante ou ao para-brisa, sem contar a possibilidade de lesionar seriamente a cabeça em contato com o teto, ou mesmo ter as suas pernas prensadas pela sua posição absolutamente desprevenida.

Faço um voto aqui de transformação de mentalidade. Pode me cobrar. Até porque meu anjo da guarda, pela sobrecarga de meu mau comportamento, vem merecendo benditas férias.

CARPINEJAR

30 DE AGOSTO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

DOAÇÃO DE VIDA

A polêmica em torno do transplante de coração do apresentador Fausto Silva está gerando um efeito colateral positivo para a sociedade brasileira, que é o recrudescimento do debate sobre a doação de órgãos no país. Apesar da longa lista de espera, que atualmente já ultrapassa o número de 70 mil pacientes, quase metade das famílias consultadas ainda recusa a doação de órgãos de familiares falecidos, segundo registros da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). Levantamento divulgado pela entidade indica que, no ano passado, 46% das famílias com poder decisório responderam negativamente às equipes de saúde.

Evidentemente, essas pessoas não podem ser acusadas de preconceito ou insensibilidade. Trata-se de uma decisão extremamente difícil, que precisa ser tomada num momento de fragilidade emocional. Mas sempre que se constata um paciente ganhando sobrevida ou recuperando funções vitais que estavam perdidas percebe-se o quanto é nobre oferecer tais oportunidades a outro ser humano.

O Brasil já contabiliza grandes avanços nesta área. O Sistema Único de Saúde, que controla as doações, possui o maior programa de transplantes do mundo, pelo qual 87% de todas as cirurgias são feitas com recursos públicos. O transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na transposição de um órgão (coração, fígado, pâncreas, pulmão, rim) ou tecido (medula óssea, ossos, córnea) de um doador vivo ou morto para um receptor doente. 

O diagnóstico de morte encefálica dos doares é regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina e rigorosamente comprovado por exames complementares de equipes médicas. Quanto a isso, praticamente inexiste margem para dúvidas dos familiares. De acordo com a legislação vigente, os órgãos doados vão para pacientes comprovadamente necessitados, que estão aguardando em lista única definida pela Central de Transplantes da secretaria de saúde de cada Estado e controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes.

Apesar dos cuidados e da regulamentação minuciosa, os familiares costumam ficar inseguros para dar a autorização, principalmente quando o potencial doador não manifestou em vida sua vontade em relação ao assunto. Por isso, continua sendo fundamental - ainda que não seja irrevogável - que as pessoas conscientes da importância de deixar uma chance de vida para desconhecidos afirmem claramente sua vontade junto aos familiares ou mesmo deixem um pedido escrito nesse sentido. Uma atitude ainda mais eficiente e prática é acessar o site da Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (Adote) e fazer um cadastro de doador, providência que não apenas ajuda na identificação de compatibilidade num possível transplante como também serve para convencimento dos familiares.

Para a maioria das pessoas, sempre representa um certo consolo saber que uma parte vital do parente falecido continuará executando os movimentos da vida em outro corpo. Além disso, quem adota uma decisão como essa num momento de dor merece o reconhecimento da sociedade pela coragem, pelo altruísmo e pelo compromisso com o mais caro dos valores humanos, que é a vida.


30 DE AGOSTO DE 2023
POLÍTICA +

Para que mais um ministério de aluguel, presidente Lula? Um dia para entrar na História

Foi vapt-vupt: em 24 horas a Câmara de Porto Alegre aprovou a revogação da lei que instituía o 8 de janeiro como Dia do Patriota e o prefeito Sebastião Melo sancionou a decisão. Com a união de esforços, Legislativo e Executivo conseguiram tirar do caminho a "capivara" que Alexandre Bobadra, o vereador cassado, deixou de herança.

Por questão de justiça, registre-se que o presidente da Câmara, Hamilton Sossmeier (PTB), foi incansável no esforço de corrigir o erro.

Sossmeier teve um trabalho intenso para convencer os líderes a aprovarem o projeto da vereadora Karen Santos (PSOL). Correu para aprovar nas comissões, mandou para o prefeito e ligou pedindo que sancionasse imediatamente. Melo entendeu e concordou.

Em nome dela, a senhora governabilidade, o presidente Lula anunciou a criação de mais um ministério, o da Pequena e Média Empresa. Repetiu o que Dilma Rousseff fizera em março de 2013, quando criou o Ministério da Micro e Pequena Empresa. A diferença? Lula está criando o 38º ministério. Quando Dilma anunciou Guilherme Afif Domingos nessa pasta era a 39ª, um recorde absoluto. Nos dois casos, ministérios de aluguel, para ampliar o apoio no Congresso.

Seria impreciso dizer que Lula criou mais um ministério para acomodar o centrão. Porque o centrão já está no governo desde o início. Lula criou essa pasta a partir de uma costela do Ministério da Indústria e Comércio, comandado sem queixas e sem escândalos pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.

Como é do seu feitio, o pacífico Alckmin assimilou a desidratação de sua pasta como contribuição à governabilidade. Poderia ter perdido tudo, mas Lula não quis comprar briga com os grandes empresários, com quem Alckmin cultiva excelentes relações. Criou um ministério para acomodar mais gente no primeiro escalão e assim ampliar os votos no Congresso.

Pequenas e médias empresas precisam de um ministério para chamar de seu? Decerto que não. O que precisam é de políticas que incentivem a competitividade, reduzam a burocracia e estimulem o crescimento. Quem precisa de ministério são os políticos, seja por vaidade, pela necessidade de acomodar apadrinhados ou simplesmente para abrir vaga a um suplente.

Lula tem tantos ministros que é difícil decorar seus nomes e praticamente impossível indicar três coisas que cada um tenha feito.

ROSANE DE OLIVEIRA

30 DE AGOSTO DE 2023
MARIO CORSO

Paradoxos da maconha

Antes tarde do que nunca, o STF vai descriminalizar o usuário de maconha. É correto, pois até agora misturamos problema de saúde com problema de polícia. Castigar o usuário - aliás, só os pobres, pois com bom advogado e contatos não dá nada - apenas entope presídios com não criminosos que podem tornar-se um.

Pessoalmente, não creio que a maconha seja uma droga menos perigosa. Ela pode desencadear psicoses, pensamentos paranoicos transitórios e crises de pânico em indivíduos propensos; ela traz problemas cognitivos e aumenta problemas de atenção. Além disso, pode anestesiar a angústia boa, aquela que nos faz dar um basta a certos comportamentos, permitindo mudar o rumo na vida. Meu conselho é: fique longe dela.

Uma questão a se pensar: por que tantos de nós - incluindo álcool e drogas lícitas - usam lenitivos para levar a vida? O uso e abuso de álcool é tão endêmico quanto o da maconha. Aliás, o consumo de álcool é mais destrutivo e oferece mais riscos, a si e aos outros, do que o da maconha. Não seria a sociedade competitiva, impessoal, apressada e consumista que criamos a razão para que tantos não consigam levar a vida sem drogar-se?

É autoevidente que a maioria das pessoas que usam álcool não destruíram sua vida por causa dele. O mesmo vale para a maconha, enquanto uns embotaram a vida, existem outros que fumaram durante longos períodos - alguns da adolescência até a terceira idade - sem que suas vidas sejam essencialmente diferentes das dos abstêmios. Entre estes usuários estão pessoas bem-sucedidas, cuja vida, para quem vê de fora, é exemplar. Este dado não é transparente porque ninguém quer expor-se e ser alvo de represálias. Mas para quem escuta a vida secreta das pessoas é um fato. Estes encontram um uso moderado recreativo não prejudicial.

O motivo central da proibição das drogas e da maconha é outro: seu uso evidencia que a felicidade é uma promessa que não se cumpre, então resta o prazer artificial. É aqui que entra o invejoso em pele de moralista, seu raciocínio oculto, até para si, é: "essas pessoas tomam um atalho ao prazer que não tenho. Na contabilidade do prazer estou sendo passado para trás". Diga-se, este prazer extra existe mais na cabeça dos julgadores do que na realidade. É o mesmo raciocínio dos fiscais de bunda alheia, supõem um gozo a mais no sexo não convencional. Pagamos todos pela frigidez existencial de alguns.

MÁRIO CORSO

30 DE AGOSTO DE 2023
CHAMOU ATENÇÃO

Tão realista que dá medo

Um velociraptor está à solta em Colinas e tem chamado atenção dos moradores do Vale do Taquari. Diretamente do Cretáceo para o Holoceno (ou Antropoceno, para alguns pesquisadores), o dinossauro é tão moderno que tem até carteira assinada: é o mascote da empresa Ceppo Life Support. O sucesso inesperado da fantasia realista resultou em inúmeros pedidos de participações do animal em eventos. Assim, o que era para ser apenas um símbolo da empresa virou um novo negócio - que já emprega pessoas.

Dino Ceppo, como é chamado, pesa 85 quilos e mede 2m10cm de altura. Até agora, o velociraptor já visitou mais de 70 cidades em três países, percorrendo mais de 100 mil quilômetros.

Sucesso

A ideia partiu de Ana Paula Ceppo, 20 anos, proprietária da empresa, que fabrica EPIs para bombeiros, com alcance nacional e internacional. O objetivo era fazer com que as pessoas lembrassem da marca. Com o sucesso da fantasia, a família expandiu o negócio.

Hoje, Dino é contratado para animar festas, eventos e até mesmo circo. Em média, o Dino Ceppo realiza de quatro a seis apresentações por mês.

- Tem gente que não chega perto - conta Ana Paula da Silva, 33 anos, responsável pelo Dino nos eventos.

A fantasia é como uma mochila que ela veste. Dentro, ela opera a estrutura com o auxílio de uma câmera, que mostra o exterior. A boca e os sons são controlados pelas mãos. Contudo, outra pessoa também precisa ajudar a guiar, com comandos, para que ele consiga se locomover.

FERNANDA POLO

terça-feira, 29 de agosto de 2023


29/08/2023 - 16h58min
Fabrício Carpinejar

Profanação da cordialidade

Venho observando uma quebra perigosa em nossos costumes de fidalguia

Nasci no interior do estado. Sou filho de promotor de justiça e defensora pública. Meus irmãos também são da Justiça gaúcha. Carla é procuradora, Rodrigo é promotor e Miguel é juiz. Se somarmos as comarcas já experimentadas pela família, somam-se trinta cidades. Eu tive uma aula gratuita de cidadania fazendo parte das andanças de minha criação. 

Testemunhei uma postura que sempre caracterizou as comunidades que me serviram de lar por valiosos anos: a cordialidade. Predominava uma gratidão geral pelas figuras estudadas, do médico ao delegado. Poderiam até despontar oposição e divergência a partir de uma medida adotada por elas, mas nunca afronta ou violência.

Venho observando uma quebra perigosa em nossos costumes de fidalguia. Menciono dois casos recentes deste mês: a morte de Luiz Roberto Mocfa, secretário municipal de Carlos Gomes, e o atentado ao promotor Jair João Franz em Teutônia. Por um desentendimento ideológico, em 6 de agosto, Mocfa foi agredido com um soco em uma briga durante uma festa folclórica, em Lajeado Bonito. O secretário bateu a cabeça em uma pedra e não sobreviveu. 

Talvez seja descrédito da autoridade num país que não valoriza o ensino. Talvez seja sinal do crescimento de facções do crime organizado pelo interior. Já Franz, numa emboscada, tornou-se vítima de um ataque covarde com cerca de onze tiros ao chegar em sua casa de carro após uma partida de futebol, em 17 de agosto. Ele foi atingido no braço e na região do abdômen. 

Tanto Carlos Gomes quanto Teutônia são municípios com menos de 50 mil habitantes. Carlos Gomes tem 1.368 moradores e Teutônia, 32.797. Rompeu-se a harmonia em ambas as comunidades.

As cenas de barbárie destoam da deferência tradicional aos representantes do Executivo e do Ministério Público. Paira um mal-estar no ar, uma profanação dos papéis que asseguram a ordem e a paz coletiva.

Talvez seja descrédito da autoridade num país que não valoriza o ensino. Talvez seja sinal do crescimento de facções do crime organizado pelo interior. Talvez sejam resquícios da desagregação familiar. Talvez seja banalização de uma onipotência destrutiva, em que qualquer um acha que pode tudo, acima da lei. Talvez seja efeito de uma internet oculta e agressiva, permitindo o surgimento de haters que se julgam impunes e querem fazer retaliações pelos próprios teclados e mãos.

Os elos entre a população e suas esferas normativas parecem frouxos, duas pontas que não se tocam mais para o nó da coexistência. Pessoalizam-se decisões de cunho legal. Nunca existiram tantas ameaças de morte, tantas intimidações por mensagens anônimas de réus descontentes com as definições dos júris.

Não que tenhamos que incensar o Poder de modo caudatário, submisso e feudal, mas respeitar servidores no exercício de suas funções. São trabalhadores como todos nós, com as suas famílias, com os seus sonhos e frustrações. Prestaram concurso, amargaram privações e renúncias, não surgiram do nada. Alcançaram determinados postos por mérito e competência.

Nota-se uma confusão entre o que a pessoa representa e quem ela é em sua privacidade.

Promotor, juiz, defensor, secretário, policial, brigadiano, entre outros, estão revestidos de uma autoridade além de sua vida pessoal. Não estão ali a seu bel-prazer, seguem o ofício determinado pela Constituição. Permanecem na linha de frente como forças de segurança, no combate de irregularidades ou da criminalidade.

Entretanto, hoje têm a sua idoneidade questionada, correm riscos letais, sofrem pela integridade física dos filhos e cônjuges, são importunados em suas contas privadas nas redes sociais para prestar satisfações de assuntos somente pertinentes aos seus cargos públicos.

Ou seja, cumprem as suas obrigações e acabam jurados de morte. Deveriam ter o coração tranquilo para exercer o seu dever e a sua isenção. É um novo cangaço. Não podemos normalizar atentados que golpeiem a confiança em nossas instituições. Ao atingir um servidor que compõe a Justiça, atingem a todos nós. Que saibam disso.


29 DE AGOSTO DE 2023
CARLOS GERBASE

O barulho da noite

Neste ano, seis longas brasileiros concorreram no Festival de Cinema de Gramado. Três deles receberam Kikitos: Mussum - O Filmis (o grande e merecido vencedor dos troféus principais), Tia Virgínia e Mais Pesado É o Céu. Destes, só assisti ao primeiro, que tem o grande mérito de equilibrar qualidade estética com intensa capacidade de comunicação com o público. Outros três - Ângela, Uma Família Feliz e O Barulho da Noite - passaram em branco na premiação. 

Como é óbvio, cada espectador tem sua própria maneira de avaliar e comparar os filmes. Na minha opinião, um dos melhores filmes do festival foi O Barulho da Noite, uma produção vinda do Tocantins, com roteiro e direção de Eva Pereira. Ficou sem Kikito, mas isso não significa que seja carente de méritos cinematográficos. Por isso, em vez de falar dos vencedores, que ficam sob os holofotes da mídia, falo de quem corre o risco de ver suas qualidades esquecidas.

A temática é muito importante e atual, mesmo que dolorosa: a imensa quantidade de estupros no Brasil, uma verdadeira epidemia social. Em sua maioria, as violações acontecem no ambiente doméstico. Eva Pereira conta a história de uma família de agricultores que vive isolada numa região perdida entre os Estados de Tocantins e Maranhão. 

O pai (interpretado por Marcos Palmeira), a mãe (Emanuelle Araújo) e duas crianças pequenas (Alícia Santana e Anna Alice Dias) têm seu cotidiano brutalmente modificado quando o chefe da família se ausenta para participar da Folia do Divino. As atuações de Marcos e Emanuelle são intensas e muito verossímeis. As duas crianças superaram o imenso desafio que tinham pela frente e conseguem emocionar.

Estes personagens estão num Brasil rural que nada tem a ver com o agronegócio e o sertanejo universitário. A solidão, a casa humilde e os poucos recursos financeiros deslocam-nos para um outro tempo, quase medieval, em que o Estado inexiste, e talvez por isso a religião assuma um papel tão decisivo. A trilha da baiana Emanuelle Araújo, que integrou a banda Eva, é delicada e dialoga competentemente com a dramaturgia. 

O filme constrói aos poucos um clima sufocante e quase insuportável. Em dado momento, é possível intuir a tragédia que acontecerá, mas ela é tão terrível que é melhor negá-la, tanto que ações importantes acontecem longe da câmera. Contudo, a história está contada. Cabe a cada espectador refletir sobre uma realidade muito indigesta. E cabe ao governo, em suas diferentes instâncias - municipal, estadual e federal - ser mais vigilante e mais ativo na defesa das mulheres e crianças brasileiras.

CARLOS GERBASE

29 DE AGOSTO DE 2023
ACERTO DE CONTAS

Carro mil foi para "cliente verde"

Quem comprou o carro mil foi o jovem médico Henrique Britto Agliardi, de 33 anos. Ele não tem carteira de motorista ainda e, com uma "personalidade sustentável" forte, havia decidido que nunca compraria veículos a combustão. Quando surgiu o Dolphin, o valor de um carro elétrico coube no bolso. Por enquanto, a esposa dirigirá o veículo. Agliardi foi ao evento vestido com uma camisa que ele fez questão de enfatizar que é da Justa Trama, uma cooperativa de confecções que tem como propósito a geração de trabalho e renda em cinco Estados com foco na chamada cadeia do algodão agroecológico.

O representante da BYD no RS é o Grupo Iesa, que está abrindo concessionárias da marca chinesa. Já tem pontos de venda na Capital e em Caxias do Sul, mas outros estão nos planos, diz o diretor da Iesa, Ambrósio Pesce Neto, que lembra que carro elétrico não paga IPVA no RS.

Prédio de 1974

Um prédio de 1974, com 11 andares e vista para o Guaíba, no centro de Porto Alegre, será revitalizado pela Belmondo, construtora controlada por um núcleo da família Zaffari. A edificação tem uma agência do Banco do Brasil, que será mantida. A empresa que fará o projeto está sendo contratada, mas a ideia é manter as salas comerciais funcionando durante a reforma, contou à coluna o presidente da construtora, Bruno Zaffari.

A ideia é iniciar as obras no primeiro semestre de 2024, com previsão de finalizá-las em 18 meses. No térreo, além do banco, será mantido o espaço para mais uma loja, que está desocupado.

Não será um prédio de luxo, como outro empreendimento da construtora na Avenida Carlos Gomes. Segundo Bruno Zaffari, "estará inserido na realidade dos negócios do Centro". Não é descartada a construção de mais pavimentos.

Peso pesado, mas dócil

Com seus 1.410 quilos, Hudson é o touro mais pesado da 46ª Expointer. Ele é da raça limousin, que é bastante dócil. Quando seu criador, o pecuarista Cacaio (como é conhecido Edgar Ferreira Lima, presidente da Associação Nacional dos Criadores de Limousin), fazia carinho, ele se contorcia como um cão de estimação. Olhava como se soubesse que a entrevista era sobre ele. Porém, a cada pequeno movimento das patas, a colunista dava um pulo de susto. É manso, mas vai que se desequilibra!

- As crianças sobem em cima para tirar foto. Só não gosta muito que mexam na cabeça dele quando está descansando ou se alimentando - conta Cacaio.

Hudson é normalmente alimentado duas vezes ao dia, com silagem de milho, casca de soja e ração. Perto das competições, passa a comer três vezes. Em cada uma, são quatro quilos de ração e mais um caneco de casquinha. Mais próximo da data, não vai mais para o campo.

- Com esse peso, não consegue "montar", pois pode prejudicar a vaca. Depois da competição, volta para o campo e para produzir futuros campeões - disse o pecuarista em entrevista à coluna durante o Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha.

Hudson tem quatro anos e é cria de um touro francês chamado Duvalier com uma vaca que também já foi campeã na Expointer, a 3M Xuza. A marca alcançada por ele foi uma surpresa para o criador, que já não consegue mais pesar o bovino na sua balança dado o tamanho atingido. Já chegaram a oferecer R$ 100 mil por Hudson.

- Por esse valor, nem me coço - disse Cacaio, que é da Fazenda Boa Esperança, de Cachoeira do Sul, na Região Central.

GIANE GUERRA


29 DE AGOSTO DE 2023
SANEAMENTO

TCE retoma hoje julgamento sobre o leilão da Corsan

Será retomado hoje na Primeira Câmara do Tribunal de Contas do Estado (TCE) o julgamento sobre a privatização da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan). A apreciação do caso está prevista para a sessão em ambiente virtual marcada para as 14h.

No dia 18 de julho, quando o processo começou a ser analisado, a câmara formou maioria no sentido de anular o leilão no qual a Corsan foi vendida, realizado em dezembro do ano passado. Esse foi o entendimento da relatora do caso, a conselheira substituta Ana Cristina Moraes, e do conselheiro Estilac Xavier.

Terceiro integrante do colegiado, o conselheiro Renato Azeredo pediu vista, o que impediu a conclusão do julgamento na ocasião. Após analisar o caso de forma mais detalhada, Azeredo devolveu a ação para julgamento, pautando a apreciação para a sessão de hoje.

Nesse período, a conselheira Ana Cristina deixou de integrar a Câmara, visto que terminou o período de substituição ao conselheiro Cezar Miola, que está afastado do TCE e atualmente preside a Associação dos Membros dos Tribunais de Contas. Agora, a conselheira que ocupa o lugar de Miola é Letícia Ayres Ramos. No entanto, o voto proferido por Ana Cristina permanece contabilizado no julgamento.

Com isso, a tendência é da confirmação de maioria pela anulação do certame, no qual a Corsan foi arrematada pela Aegea. O consórcio privado passou a controlar a companhia desde o dia 7 de julho, com a assinatura do contrato de compra e venda pelo governo do Estado.

Efeito

Ainda que a decisão no colegiado seja pela anulação, não haverá efeito prático imediato, visto que a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) deve ingressar, de pronto, com um recurso ao Tribunal Pleno, mais alta instância do TCE, formada por sete conselheiros.

A partir disso, um sorteio eletrônico definirá novo relator para o caso no plenário, que consultará a equipe de auditoria da Corte e o Ministério Público de Contas (MPC) antes de pautar o processo para análise dos demais conselheiros.

PAULO EGÍDIO

29 DE AGOSTO DE 2023
APÓS REPERCUSSÃO

Câmara revoga lei do Dia do Patriota

Os vereadores de Porto Alegre revogaram ontem à noite a lei que instituiu o Dia Municipal do Patriota em 8 de janeiro - data em que ocorreram as invasões às sedes dos três poderes, em Brasília. A revogação foi feita às pressas, diante da repercussão nacional gerada pela promulgação da lei desde a semana passada.

A votação ocorreu após acordo firmado em reunião de líderes pela manhã, convocada pelo presidente Hamilton Sossmeier (PTB). Uma força-tarefa da Mesa Diretora conseguiu pareceres favoráveis de todas as comissões para acelerar a tramitação e garantir com que o projeto pudesse ser votado em plenário ainda ontem. O placar final foi quase unânime: 31 votos favoráveis e somente uma abstenção - de Jessé Sangalli (Cidadania).

De acordo com Sossmeier, houve consenso entre os parlamentares para que um projeto que havia sido protocolado na sexta-feira pela vereadora Karen Santos (PSOL) para revogar a lei fosse utilizado.

- É uma vitória da coletividade. Acompanhamos de perto, nos últimos dias, a repercussão da questão a nível nacional, e após a reunião chegamos a um acordo, com a união dos vereadores, independente de partidos e questões ideológicas - afirmou Sossmeier.

Supremo

Na reunião da manhã, os vereadores também concordaram em modificar o texto da justificativa do projeto de Karen Segundo a própria vereadora, a redação original incomodou parlamentares ligados à direita. Com a alteração, a ideia era conseguir mais assinaturas.

- Alguns vereadores entenderam que a justificativa estava muito ideológica. Eles argumentaram que é preciso esperar o andamento da CPI que corre em Brasília, que investiga os atos ocorridos na data, e que a partir destes resultados é que se poderia caracterizar como uma iniciativa de golpe. Nós aceitamos e fizemos os ajustes necessários - explicou a parlamentar do PSOL, após a reunião.

O projeto que criou o Dia Municipal do Patriota foi protocolado em 15 de março pelo então vereador Alexandre Bobadra (PL) - que teve o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS) no último dia 16. Depois de ser aprovado nas comissões da Câmara, a proposta acabou promulgada por Sossmeier, já que o prefeito Sebastião Melo (MDB) optou por não sancionar e tampouco vetar a lei.

O caso teve repercussão em todo o país e gerou avalanche de críticas à Câmara.

- Se pudesse voltar no tempo, colocaria no dia 7 de setembro. O projeto é bacana, é legal, mas poderia ser dia 7 de setembro - disse Bobadra ao repórter de ZH Paulo Egídio no domingo, na primeira entrevista após a polêmica.

Ainda na sexta-feira, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que declare inconstitucional a lei. A PGR também quer que Sossmeier, Melo e a Advocacia­-Geral da União (AGU) se manifestem. Ontem à noite, o ministro do STF Luiz Fux aceitou o pedido da PGR e suspendeu a lei. Ele considerou que o texto fere princípios básicos da Constituição.

Também ontem, a vereadora Comandante Nádia (PP) protocolou projeto de lei para revogar também o Dia em Defesa da Democracia. A lei de autoria do vereador Aldacir Oliboni (PT) celebra a data no mesmo 8 de janeiro.

LAURA BECKER


29 DE AGOSTO DE 2023
NÍLSON SOUZA

Shroeder

Minha carteira de motorista está no meu celular. Título de eleitor, carteira de trabalho, RG, tudo pode ser digitalizado e validado na telinha que levamos no bolso ou na bolsa. Ninguém mais precisa carregar uma papelada consigo. Meu banco permite que eu deposite cheques físicos (já são quase peças de museu, mas ainda existem!) por meio de imagens que capturo e transmito pelo iPhone. O Pix está sepultando definitivamente notas e moedas. Nessa área documental, os Jetsons chegaram para ficar, não há mais como retroceder. E nem devemos: tudo ficou mais ágil e menos burocrático.

O presente, sem dúvida, é digital - e o resto é papel passado. Ainda assim, outro dia fiquei um pouco deprimido ao ver na TV a reportagem sobre a digitalização da correspondência do cientista Oswaldo Cruz, que agora está ao alcance do público na internet. É um avanço maravilhoso, reconheço, mas dá uma dor pensar que aqueles registros manuscritos de suas pesquisas profissionais, as cartas amorosas que mandava para a namorada Miloca, os postais que endereçava aos amigos, todos em ótima caligrafia (médico também tem letra bonita), não mais se repetirão com cientistas, intelectuais, homens e mulheres do futuro próximo.

Teremos registros, sim, mas dificilmente voltaremos a ver documentos escritos de próprio punho, seja com garranchos ou letra caprichada. Todos serão digitalizados já na origem, talvez até com aquelas interferências indevidas da tecnologia "inteligente". Posso estar exagerando, mas fiz uma experiência prática que aumentou a minha preocupação. Numa suposição do que pode vir por aí, peguei o início da carta de Pero Vaz de Caminha sobre o descobrimento do Brasil e passei para uma mensagem de WhatsApp só para ver o que o corretor ortográfico poderia fazer com ela.

Original:

Senhor: Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que ora nesta navegação se achou, não deixarei também de dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que - para o bem contar e falar - o saiba pior que todos fazer.

Saiu assim:

Senhor, postagem que o capitão-mor desta vossa frita, e assim outrora capítulos escrevam a vossa-alteza a novela do achatamento desta vossa terra nova, querida navegação se Shroeder, não deixarei também de dar dissolução minha conversa a vossa-alteza, assunto comovente Europa ainda que parabéns contar é falar saiba pior que todos fazerem.

Se Caminha tivesse celular, passaríamos o resto dos nossos dias tentando descobrir quem poderia ter sido o tal Shroeder.

NÍLSON SOUZA

segunda-feira, 28 de agosto de 2023



28 DE AGOSTO DE 2023
CAPA

O Dom Quixote do Bom Fim

Mesa-redonda celebra hoje os 50 anos de "O Exército de Um Homem Só", de Moacyr Scliar

Segundo romance de Moacyr Scliar, O Exército de Um Homem Só (1973) foi lançado nos anos de chumbo, no auge da ditadura militar no Brasil. Nele, o escritor dá vida ao Capitão Birobidjan, um judeu nascido na Rússia e estabelecido no bairro Bom Fim, em Porto Alegre, que sonha em fundar uma sociedade mais igualitária. Com a audácia de fazer uma sátira amarga do idealismo socialista em plena repressão, o livro - que é publicado pela editora L&PM - chega aos 50 anos sendo celebrado com uma mesa-redonda.

Os convidados são Regina Zilberman, professora de Literatura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e uma das maiores especialistas na obra de Scliar; o cineasta Carlos Gerbase; o psicanalista Abrão Slavutzky; o jornalista Tulio Milman e a escritora Cíntia Moscovich. Com entrada gratuita, o bate-papo ocorre hoje, às 19h30min, na Federação Israelita do RS (Rua General João Telles, 329), em Porto Alegre.

Guardiões do legado de Scliar, a viúva, a professora de inglês Judith Scliar, e o cunhado, o jornalista Gabriel Oliven, procuram manter aceso o impacto da literatura do escritor morto em 2011. Até porque O Exército de Um Homem Só ainda tem muito a dizer.

- O livro mostra a loucura que toma conta desse personagem e o leva a ser quase um Dom Quixote. A loucura acaba sendo um abrigo psicológico da frustração que é viver em sociedade - reflete Oliven.

De acordo com ele, Scliar se inspirou em um tio para compor a personalidade de Birobidjan, o idealista apaixonado Henrique Scliar, um dos fundadores do Clube de Cultura, espaço de resistência no Bom Fim. Judith acrescenta que o humanismo do personagem também fazia parte do caráter de seu criador, que, além da paixão pela literatura, era um médico dedicado à saúde pública.

- O Moacyr sempre lutou por um mundo melhor. Participava de movimentos de esquerda durante a faculdade, foi orador da turma ao se formar em Medicina e, no seu discurso arrasador, citou um poema do Ferreira Gullar falando que morrem quatro por minuto na América Latina, principalmente de fome - frisa Judith.

No debate sobre O Exército de Um Homem Só, Carlos Gerbase irá exibir três vídeos, dois deles feitos especialmente para a ocasião, retratando momentos importantes do livro. Uma das cenas conta com a atriz Mirna Spritzer e foi feita em 2014, para a exposição Moacyr Scliar, o Centauro do Bom Fim, que estava em cartaz no Santander Cultural (hoje Farol Santander), com curadoria do próprio cineasta. As outras duas são recentes e têm participações de Roberto Oliveira, Luiz Paulo Vasconcellos, Sergio Lulkin e Luciana Paz.

- Reli o livro para fazer os vídeos. É muito divertido e não envelheceu nem um pouco. É um retrato bacana de Porto Alegre e da comunidade judaica - diz Gerbase.

Reedições

A partir de setembro, a editora Companhia das Letras vai reeditar obras de Scliar. Começa com a reimpressão da edição de bolso de A Majestade do Xingu (1987), já prevista para o próximo mês. No primeiro semestre do ano que vem, a obra ganhará versão especial com capa nova, prefácio e posfácio inéditos de autoria dos escritores Paulo Scott e Michel Laub, respectivamente.

Outras novidades são uma edição ampliada de Contos Reunidos (1995), desta vez organizada por Regina Zilberman e com previsão de lançamento para o fim do ano que vem, além de uma adaptação em quadrinhos daquela que é considerada a obra máxima de Scliar, O Centauro no Jardim (1980), essa sem data para sair.

Demais títulos no catálogo da editora, como Sonhos Tropicais (1992), Saturno nos Trópicos (2003) e Manual da Paixão Solitária (2008), devem ganhar reedições com capas novas.

KARINE DALLA VALLE


 28 DE AGOSTO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

REVOGUEM ESSE ABSURDO, VEREADORES!

A Câmara de Vereadores de Porto Alegre e, por extensão, a Capital gaúcha e seus habitantes, representados pelo parlamento municipal, estão sendo ridicularizados em todo o país pela absurda aprovação do projeto do ex-vereador Alexandre Bobadra (PL) que institui como Dia Municipal do Patriota a data de 8 de janeiro. 

Nesse dia, como é de conhecimento geral, uma multidão de vândalos invadiu e depredou as sedes dos três poderes da República em Brasília, num ato antidemocrático e golpista que está sendo devidamente investigado e punido pelo Supremo Tribunal Federal. Pois a infeliz iniciativa também pode acabar na Suprema Corte em decorrência de ação de inconstitucionalidade protocolada pela Procuradoria-Geral da República, na última sexta-feira.

Merece uma análise mais detalhada a conjugação de despautérios que impõe esse constrangimento nacional aos porto-alegrenses. O primeiro aspecto da cadeia de aberrações foi a motivação do parlamentar proponente, que mais tarde seria cassado por abuso do poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação. É evidente que ele queria provocar os críticos da invasão dos três poderes e prestigiar os invasores, que até então se autodenominavam patriotas. 

A quem mais interessaria incluir no Calendário de Datas Comemorativas e de Conscientização do Município de Porto Alegre um Dia do Patriota? E, mesmo que isso tivesse alguma importância, por que escolher a data de um ato político criminoso?

Segundo ponto que requer reflexão: as razões pelas quais os demais vereadores e o prefeito chancelaram a promulgação do absurdo. Ainda que a matéria não tenha sido submetida ao plenário da Câmara, a verdade é que ela passou por três comissões antes de seguir para a sanção do Executivo. Nessas comissões havia parlamentares de partidos comprometidos com a democracia, que se omitiram por negligência ou até votaram contra, mas sem denunciar o desatino com a devida veemência. 

Por fim, para não se indispor com eleitores mais conservadores, o prefeito Sebastião Melo deixou passar a oportunidade de vetar uma lei escancaradamente inútil, antidemocrática e provocativa. Promulgada a sandice, resta esperar agora que o parlamento da Capital tenha sensatez e agilidade suficientes para revogar a aberração, até como forma de pedir desculpas à população pela trapalhada coletiva.


28 DE AGOSTO DE 2023
CAXIAS DO SUL

Festa da Uva elege corte para 2024

Lizandra Mello Chinali é a rainha da 34ª Festa da Uva, que será realizada em 2024, em Caxias do Sul. Ao lado dela foram escolhidas, no sábado, as princesas Eduarda Ruzzarin Menezes e Letícia de Carvalho. A rainha representa o Esporte Clube Juventude, enquanto Eduarda é representante do Recreio da Juventude e Letícia tem a União de Associações de Bairros (UAB) e Shaiane Paim Makeup como entidades. O trio sucede Pricila Zanol, Bianca Fabro Ott e Bruna Mallmann.

- Muito obrigada por confiarem a mim esse cargo. Nós vamos fazer essa festa ser épica. Obrigada mais uma vez, é um momento muito emocionante para mim - disse Lizandra.

Após o primeiro desfile como rainha, ela voltou a falar sobre o que sentiu ao ser confirmada como nova representante de uma das festas populares mais tradicionais do Rio Grande do Sul:

- Foi muito trabalhoso, mas muito gratificante. Não tem como explicar em palavras.

Perfil

Lizandra tem 24 anos e é designer. O vestido usado por ela na cerimônia foi inspirado na devoção por Nossa Senhora de Caravaggio. O avental foi unido à sobressaia e transformado em um grande manto. A saia em tecido plissado possui barrado em crochê, feito à mão, remetendo à paixão que as imigrantes possuíam pela arte trazida por elas da Itália. A estilista e costureira da peça foi Rafaela Torelly Costamilan.

- Ela está realizando um sonho de infância. Estou muito emocionada por essa conquista dela - contou Alessandra Mello, mãe de Lizandra.

A cerimônia foi marcada pelo retorno das torcidas, que ocuparam as arquibancadas, com instrumentos, coreografias e adereços, como chapéus e balões estilizados. A última vez que a escolha da rainha e das princesas contou com torcidas havia sido em 2018. Em 2021, a cerimônia foi restrita devido às limitações impostas pela pandemia.

O protocolo começou minutos depois das 20h, com condução dos comunicadores Daniela Fanti e Luiz Almeida. Após a apresentação dos jurados, o palco recebeu o prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico, e o presidente da comissão comunitária da Festa da Uva 2024, Fernando Bertotto.

Na primeira aparição das embaixatrizes, elas passearam coletivamente na passarela. Depois, o desfile individual seguiu ordem alfabética, com música temática e explicações sobre o traje de cada uma.

Uma coreografia das candidatas, seguida por outro desfile coletivo, marcou o momento que precedeu a apresentação da música tema da próxima festa, Mérica, de Éder Bergozza. A canção foi apresentada pelos músicos Tita Sachet e Rafa Gubert.

O anúncio do novo trio ocorreu nos primeiros minutos da madrugada de domingo. De forma inédita, os nomes foram anunciados pelas antecessoras.

O novo trio ganhará uma viagem de sete dias para a Praia do Forte, na Bahia, onde se hospedará no Grand Palladium Imbassaí Resort & Spa, além de um curso de italiano. A rainha ainda será presenteada com um curso de pós-graduação.

A 34ª Festa Nacional da Uva 2024 ocorre entre os dias 15 de fevereiro e 3 de março de 2024.


28 DE AGOSTO DE 2023
CLÁUDIA LAITANO

Compasso de espera

Aos 90 anos, lúcida, trabalhando, cercada de carinho e a ponto de receber um prêmio pelo conjunto da obra no Festival de Gramado, a atriz Léa Garcia teve o tipo de morte que todos consideram uma bênção. Ainda assim, a circunstância de ter sofrido um infarto poucas horas antes de receber o Troféu Oscarito nos deixa com a sensação de que a justa homenagem chegou um pouco tarde demais.

Poucas atrizes brasileiras tiveram uma trajetória tão longa e bem-sucedida. Léa estava no elenco da primeira montagem do musical Orfeu da Conceição (1956) e de sua oscarizada adaptação para o cinema, Orfeu Negro (1959), que lhe rendeu uma indicação ao prêmio de melhor atriz em Cannes. Na televisão, além da inesquecível vilã Rosa de Escrava Isaura (1976), interpretou incontáveis empregadas domésticas, secretárias, governantas. Dos três trabalhos que lhe renderam mais prêmios e reconhecimento, dois se passam em uma favela e o terceiro no período da escravidão.

Pouco conhecido do grande público, o filme Compasso de Espera (1969) não tem escravos nem favela nem domésticas - mas tem Léa Garcia. Se você nunca ouviu falar, bem-vindo ao clube. Também não conhecia até a semana passada. Em Porto Alegre, o filme ganhou uma exibição especial, em junho, na sempre antenada Cinemateca Capitólio. Quem perdeu ainda pode assistir no YouTube. Vale a pena.

Com um elenco cheio de nomes conhecidos (Renée de Vielmond, Stênio Garcia, Antônio Pitanga) e uma pegada godardiana na direção de Antunes Filho, o filme é uma pequena joia esquecida da cinematografia nacional. Zózimo Bulbul, igualmente pouco lembrado, interpreta o protagonista Jorge, um homem negro de classe média que escreve poesia, trabalha em uma agência de publicidade e namora uma mulher branca.

Se parasse por aí, o filme já seria excepcional: um protagonista negro, de classe média, vivendo sua vida. Mas Compasso de Espera vai além, trazendo para o contexto brasileiro as discussões sobre racismo que estavam incendiando os Estados Unidos naquele momento. Em plena ditadura, quando muita gente ainda gostava de acreditar que racismo era problema de gringo, o filme desacomoda o espectador ao mostrar episódios de preconceito nas versões velado, explícito e violento - bem ao gosto nacional. Poucas vezes o cinema brasileiro foi tão fundo na abordagem do tema.

Galã, cineasta, ator de filmes como Cinco Vezes Favela e Ganga Zumba, primeiro negro a ter um papel de destaque em uma novela e ícone da cultura afro-brasileira, Zózimo Bulbul morreu em 2013, aos 75 anos. Também não deu tempo para homenageá-lo em Gramado. Outro grande nome da cultura negra brasileira que morreu em compasso de espera.

CLÁUDIA LAITANO