23
de julho de 2012 | N° 17139
L. F.
VERISSIMO
O nada
“Nothing comes from nothing/nothing
ever could...”
(Nada
vem do nada/nada poderia vir…)
A
frase não é de nenhum físico ou filósofo. É do musical “A noviça rebelde”, e
seu autor é Richard Rodgers, que, no caso, além da música fez a letra, em vez
do seu parceiro Oscar Hammerstein (se pode-se confiar no Google). Rodgers, sem
querer, tocou num ponto muito discutido entre as pessoas que se interessam pelo
Universo e como ele ficou deste jeito.
Em
todas as teorias sobre a criação e a expansão do Universo, sempre se chega a um
ponto em que, ou você aceita que algo se criou do nada, ou você abandona
qualquer especulação científica e vai criar galinhas.
Hoje,
a própria hipótese de tudo ter começado com um Big Bang, que você e eu pensávamos
que não era mais hipótese, e sim uma verdade indiscutível, está sendo discutida.
E o problema é o que fazer com o nada. O que havia antes do Grande Pum era o
nada ou antes – só para complicar – não havia nem o nada?
Os físicos
dizem que o próprio tempo começou com o estouro inaugural que formou o Universo
em segundos e, portanto, não faz sentido falar-se em “antes”. Mas se antes não
havia nem antes, havia um nada absoluto, do qual, desmentindo o Richard
Rodgers, criou-se o Universo. Houve um tempo em que pensar muito sobre tudo
isso chamava-se “puxar angústia”.
A
descoberta do tal bóson de Higgs foi um feito extraordinário da física. Intuíram
a sua existência, concluíram que ele precisava existir mesmo que nunca o
tivessem visto, foram atrás e o encontraram. Chegou-se mais perto da chamada
teoria unificada do Universo, que já era o sonho do Einstein – agora só restam
umas duzentas perguntas para serem respondidas. E o nada continuará incomodando.
A mãe
do Woody Allen, num dos seus filmes semiautobiográficos, impacienta-se com a
preocupação excessiva do menino com o Universo e pergunta: “O que você tem a
ver com o Universo?” Muita gente prefere fazer como aquele inglês que passa por
um campo de batalha sem se abaixar ou tomar qualquer outra precaução com as
balas que voam ao seu redor, pois é um estrangeiro e a guerra não lhe diz respeito.
Não
temos como nos precaver contra o que o Universo nos reserva, mas ele
decididamente diz respeito a todos. Até criadores de galinhas.
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