29
de julho de 2012 | N° 17145
MARTHA
MEDEIROS
Sustento feminino
Participando
de um seminário sobre comportamento, foi dito que as mulheres estão de tal
forma cansadas de suas múltiplas tarefas e do esforço para manter a independência
que começam a ratear: andam sonhando de novo com um provedor, um homem que as
sustente financeiramente.
Não
acreditei. Outro dia discuti com uma amiga porque duvidei quando ela disse
estar percebendo a mesma coisa, que as mulheres estão selecionando seus
parceiros pelo poder aquisitivo não só as maduras e pragmáticas, mas também as
adolescentes, que ainda deveriam cultivar algum romantismo.
Então
é verdade? Pois me parece um retrocesso. A independência nos torna disponíveis
para viver a vida da forma que sonhamos, sem ter que “negociar” nossa
felicidade com ninguém, e são poucos os casos em que se pode ser independente
sem ter a própria fonte de renda (que não precisa obrigatoriamente ser igual ou
superior a do marido). Não é nenhum pecado o homem pagar uma viagem, dar
presentes, segurar as pontas em despesas maiores, caso ele ganhe mais – é distribuição
de renda.
Mas
se é ela que ganha mais, a madame também pode assumir o posto de provedora sênior,
até que as coisas se equalizem. Parceria é uma relação bilateral. É importante
que ambos sejam autossuficientes para que não haja distorções sobre o que
significa “amor” com aspas e amor sem aspas.
As
mulheres precisam muito dos homens, mas por razões mais profundas. Estamos
realmente com sobrecarga de funções – pressão auto-imposta, diga-se –, o que
faz com que percamos nossa conexão com a feminilidade: para ser mulher não
basta usar saia e pintar as unhas, essa é a parte fácil.
A
questão é ancestral: temos, sim, necessidade de um olhar protetor e amoroso, de
um parceiro que nos deseje por nossa delicadeza, nossa sensualidade, nosso mistério.
O homem nos confirma como mulher, e nós a eles. Essa é a verdadeira troca, que
está difícil de acontecer porque viramos generais da banda sem direito a vacilações,
e eles, assustados com essa senhora que fala grosso, acabam por se infantilizar
ainda mais.
Podemos
ser independentes e ternas, independentes e fêmeas – não há contradição. Estamos
mais solitárias porque queremos ter a última palavra em tudo, ser nota 10 em
tudo, a superpoderosa que não delega, não ouve ninguém e que está ficando
biruta sem perceber.
Garotas,
não desistam da sua independência. Façam o que estiver ao seu alcance, seja
através do trabalho ou do estudo, em busca de realização e amor próprio. Escolher
parceiros pelo saldo bancário é triste e antigo, os tempos são outros. É plausível
que se procure alguém com o mesmo nível intelectual e social, com um projeto de
vida parecido e com potencial de crescimento – mas para crescerem juntos, não
para garantir um tutor.
A
solidão, como contingência da vida, não é trágica, podemos dar conta de nós
mesmas. Mas, ainda que eu pareça obsoleta, ainda acredito que se sentir amada é
que nos sustenta de fato.
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