11
de julho de 2012 | N° 17127
EDITORIAIS
ZH
DESCONTROLE ESCANCARADO
Ninguém
precisa ser fundamentalista da transparência para perceber a total falta de
controle de uma parcela considerável de administradores públicos no uso dos
recursos dos contribuintes, especialmente no que se refere ao pagamento
generoso de servidores privilegiados. A reportagem publicada por Zero Hora
sobre a recepcionista da Assembleia que percebe vencimentos superiores aos do
governador e só trabalha meio turno é apenas um exemplo desse descalabro.
Se o
dinheiro do pagamento da funcionária saísse do bolso do parlamentar que a
protege, ou de seu chefe de gabinete, ou do superintendente do parlamento, ao
qual responde, certamente haveria mais cuidado. Mas não: sai do bolso sem fundo
do contribuinte, que só tem a oportunidade de conferir para onde vão os
recursos públicos quando a imprensa exerce o trabalho de vigilância, mesmo sob
a crítica de autoridades inconformadas com a exposição de benesses inacessíveis
à maioria dos brasileiros.
Uma
das atribuições constitucionais do Legislativo é justamente a de zelar pela
adequada aplicação de verbas oficiais por parte do Executivo. Quando essa
prerrogativa não é exercida com um mínimo de eficiência nem mesmo internamente,
a sociedade se sente incentivada a desconfiar que há sinais de fragilidade nos
sistemas de fiscalização.
Até porque
o fato não é o primeiro indicador de desvios num poder que já foi abalado por
fraudes como a dos selos e ainda neste ano teve 11 pessoas indiciadas pela Polícia
Federal pela suspeita de terem recebido do Legislativo sem trabalhar.
As
alegações de quem deveria impedir esse tipo de deformação reforçam a sensação
de descalabro autorizado. No episódio atual, vão desde evasivas dos supostos
responsáveis por evitar esse tipo de situação, como a de que se trata de “responsabilidade
de cada um”, até exigências vagas de cobrança do cumprimento de horário, e
mesmo a tentativa de associar a Assembleia e o caso específico a termos como “elasticidade”
e “flexibilidade”.
E é particularmente
preocupante que a detentora de um dos maiores salários pagos pelo Estado alegue
embolsar menos, na prática, do que o valor tornado público no Diário Oficial e
que é, de fato, bancado pelos contribuintes. Todas essas contradições reforçam
a importância da investigação anunciada pelo Ministério Público a partir do
momento em que o fato foi divulgado.
O
que precisa ficar claro é que o caso do supersalário não reflete a realidade do
conjunto dos servidores, em sua maioria qualificados para o exercício do cargo,
cumpridores de jornada e mal remunerados. Por isso, o caso da recepcionista da
Assembleia com vencimentos acima do teto salarial que encontra tempo para
passear com o cachorro no horário de expediente exemplifica uma situação que não
pode ser tolerada no setor público.
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