22 de julho de 2012 | N°
17138
EDITORIAIS ZH
ENTRE O DIREITO E O ABUSO
O país acompanhou esta semana
desconcertantes manifestações de servidores públicos por melhores salários e
reformas em seus planos de carreira. Comandados pelo Fórum Nacional das
Entidades dos Servidores Públicos Federais, que reúne 33 associações sindicais,
milhares de funcionários em greve fizeram passeatas em Brasília, pararam o
trânsito na Esplanada dos Ministérios, bloquearam a entrada de instituições
públicas e gritaram palavras de ordem contra o governo, acusando-o de utilizar
a crise econômica como pretexto para não atender às suas reivindicações.
Na semana anterior, depois de ter
sido vaiada em São Bernardo do Campo e no Rio de Janeiro por manifestantes, a
presidente Dilmar Rousseff chegou a autorizar o Ministério do Planejamento e
Gestão a cortar o ponto dos grevistas.
A greve é um direito do
trabalhador, seja ele pertencente à iniciativa privada ou ao serviço público.
Este direito está garantido a todos os brasileiros pelo artigo 9º da
Constituição Federal. Já o capítulo da Carta destinado à Administração Pública
diz, no seu artigo 37, que o direito de greve do servidor público será exercido
nos termos e nos limites definidos em lei específica. Como a referida lei não
foi aditada até hoje, fica o vácuo legislativo para interpretação de
julgadores, que raramente admitem qualquer penalização aos servidores
grevistas.
Mesmo quando o Executivo autoriza
corte de ponto e desconto salarial, a regra geral tem sido a anistia. Por isso,
as greves do setor público tornaram-se muito mais frequentes do que no setor
privado, onde o mesmo direito do trabalhador tem uma contrapartida rigorosa em
suspensão de pagamento e até mesmo em demissão.
Só que as paralisações do serviço
público costumam causar danos maiores à sociedade, pela absoluta inexistência
de alternativa para os usuários. Quando os professores universitários suspendem
suas atividades, como vem ocorrendo há mais de dois meses, milhares de
estudantes ficam impossibilitados de dar sequência aos estudos e de galgar
outros degraus de sua formação. Quando os trabalhadores da saúde pública cruzam
os braços, a população mais carente fica sem atendimento. Quando os agentes da
burocracia oficial param de trabalhar, os cidadãos ficam sem soluções para suas
demandas.
Não é o governante, o ministro ou
mesmo o reitor da universidade que sofre o maior dano numa paralisação. É o
cidadão, o contribuinte, o estudante. Para estes, portanto, não é justo que o
servidor inadimplente com o seu trabalho, por mais justa que seja a sua causa,
não arque com as consequências de sua decisão. Obviamente, os cidadãos também
preferem que os seus representantes no setor público sejam dignamente
remunerados, até mesmo para que possam receber deles serviços qualificados.
Mas não podem aceitar como normal
a suspensão por tanto tempo de atividades essenciais sem que os grevistas sejam
devidamente responsabilizados. E responsabilização significa, sim, como propõe
a presidente Dilma, corte do ponto e desconto salarial de quem não comparece ao
trabalho nem executa as funções para as quais foi contratado.
Sem contrapartida, o direito se
transforma em abuso.
O editorial ao lado foi publicado
antecipadamente no site e no Facebook de Zero Hora, na sexta-feira. Os
comentários selecionados para a edição impressa mantêm a proporcionalidade de
aprovações e discordâncias. A questão proposta aos leitores foi a seguinte:
Editorial defende a responsabilização de grevistas no setor público. Você
concorda?
O leitor
concorda
Concordo plenamente, pois o
cidadão, ao prestar um concurso público, tem conhecimento de seus direitos,
seus deveres e obrigações. Tem ciência do bom salário que irá ganhar e da
estabilidade que terá, coisa que não acontece na iniciativa privada. Os
servidores são os que ganham os melhores salários e benefícios, além de boas
condições de trabalho. Quem não estiver contente que peça exoneração. Se está
de greve e não trabalha, não tem direito a receber seu salário e benefícios,
pois está indo contra os princípios de um “servidor público”.
Nós, povo, que pagamos seus
salários, não somos contrários à greve, mas somos favoráveis ao corte dos dias
parados e das vantagens. Em particular, sou totalmente contra o concurso
público, pois isso é privilégio de alguns poucos. Os demais são prejudicados e
discriminados por quem fez as leis. O concurso público não mede competência e
nem capacitação técnica para ocupação de cargos e funções. Deveria ser avaliado
pelo currículo e capacitação.
Jussemir
Martins
Florianópolis (SC)
Com algumas exceções, o
funcionalismo público recebe um salário bem maior do que na iniciativa privada.
O direito à greve é legal, só que, da maneira como está sendo exercido, é um
abuso. Penaliza toda a sociedade, que nada tem a ver com suas reivindicações.
Isto tem de ser resolvido entre empregador e empregado, sem danos à população
em geral.
Acho mais do que justo que tenham
seus salários e ponto cortados, e que o sindicato que os representa pague aos
prejudicados por todo o prejuízo sofrido. Simplesmente parar de trabalhar e
continuar recebendo é, a meu ver, uma afronta para toda a sociedade. Isto tem
de acabar. Se não estão satisfeitos, procurem outro emprego, mas não
prejudiquem os outros, leia-se contribuinte, que é realmente quem paga seus
salários.
Henrique Weidle Neto
Novo Hamburgo (RS)
Como diz aquele ditado: eu era
feliz e não sabia... A falta de percepção dos sindicatos representativos do
corporativismo público é de uma enormidade sem limites, eles parecem que não
têm conhecimento da grave crise econômica que o mundo atravessa e, por
conseguinte, o nosso país. Longe de mim a ideia, mas eu queria ver o que eles
fariam se chegasse a se desenhar aqui a situação por que passam países como
Grécia, Espanha, Portugal, com centenas de milhares de funcionários públicos
demitidos, e os que ficam, com salários extremamente reduzidos. Pensem nisso,
meus caros compatriotas funcionários públicos!
Paulo Vicente Zolate - São Borja
(RS)
O leitor discorda
Discordo completamente do
editorial: a greve é um direito em toda a sociedade democrática.
Responsabilizar os servidores é um ataque aos direitos do trabalhador. As aulas
serão recuperadas, sempre são. Os serviços essenciais nunca param completamente
de funcionar. Será que devemos voltar ao tempo da ditadura militar?
Fernanda Rosa - Pelotas (RS)
Só uma coisa: já viu algum
aumento ou melhoria do serviço público sem greve ou pressão? Então, a greve é e
sempre será um meio de atingir como fim, a melhoria tanto salarial quanto dos
serviços prestados, bem como da infraestrutura.
Luiz Lied - Porto Alegre (RS)
Discordo do editorial quando
menciona que o direito se transforma em abuso e concorda que haja desconto dos
dias parados. Deveria saber o editor que o governo não negocia com seus
funcionários, e somente concede aumento em seus vencimentos quando a sociedade
civil começa a sentir falta dos serviços a que tem direito e a rebelar-se
também. Infelizmente esta gente, que só está onde está porque votamos neles e
eles somente olham para seus umbigos.
Milton Ubiratan
Rodrigues Jardim Torres (RS)
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