terça-feira, 31 de julho de 2012



31 de julho de 2012 | N° 17147
LUÍS AUGUSTO FISCHER

Fora de foco

Livro arrepiante, magnífico, imperdível: Ligeiramente Fora de Foco, de Robert Capa (editora Cosac Naify, tradução de José Rubens Siqueira). O nome do autor é que me chamou primeiro, na estante da livraria de onde o resgatei: sabia que era um fotógrafo, vagamente. E era mesmo.

Ele é o autor da polêmica foto de um republicano espanhol recebendo um tiro na cabeça, numa coxilha descampada, ele com trajes civis como ocorria bastante entre os que resistiram a Franco, naquela jornada heroica. Capa começou ali sua intensa trajetória de fotógrafo de guerras.

Nascido Endre Friedmann, em Budapeste, 1913, ele migrou para a Alemanha (até a ascensão de Hitler, em 1933), dali para a França pré-II Guerra, depois para os States. Em Paris, ele e sua namorada inventaram um fotógrafo, Robert Capa, como estratégia para vender fotos do jovem Endre para agências.

Como deu certo, ele resolveu encarnar o personagem inventado, e estava criado o mito. Aos 22 anos, já estava cobrindo a Guerra Civil Espanhola; em 1938, estava na China; esteve em vários cenários da II Guerra, foco deste livro; morreu em 1954, ao pisar numa mina, no sudeste asiático. Mas teve tempo de escrever muito, além de fotografar. Era amigo de Hemingway e de Steinbeck.

Mas o livro: narrado com humor e verve, ilustrado pelas fotos do autor, é de arrepiar, quase do começo ao fim. Ele relata sua participação na II Guerra, no norte da África, depois na Itália e nada menos que no famoso Dia D, no desembarque dos Aliados na Normandia, iniciando a derrota do nazifascismo.

Mas essa história vem enquadrada num longo e mal resolvido enlace amoroso. Sim, ele também foi um emérito “lover”. Grace Kelly, por exemplo. Aliás, foi no affair dele com a loira que Hitchcock se inspirou para o clássico Janela Indiscreta.

Eu não disse nada sobre o choro que me atropelou duas vezes na leitura, mas digo agora: seu relato do famoso desembarque, ele no primeiro barco militar a chegar lá, é qualquer coisa de definitivo, uma experiência de leitura que repõe como talvez nenhuma outra a força do que foi aquele Dia D.

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