sábado, 14 de julho de 2012



14 de julho de 2012 | N° 17130
ARTIGOS - Wilen Manteli*

Um Porto Alegre sem porto

A cidade e o Estado optaram, acertadamente, em destinar extensa faixa do antigo porto para um empreendimento que embelezará a capital dos gaúchos, criando um novo espaço para lazer, diversão e negócios. Porto Alegre, com a dimensão e a qualidade do projeto de revitalização do antigo cais Mauá, seguiu o caminho de Barcelona, Buenos Aires e outras grandes metrópoles que fizeram de seus antigos portos locais de atração de investimentos turísticos e de lazer para a população.

Os governos estadual e municipal foram competentes em se unir e mobilizar investidores privados que transformarão radicalmente uma área até agora pouco valorizada em termos comerciais, de serviços e de espetáculos.

Toda a estrutura portuária de movimentação de cargas foi deslocada para o cais Navegantes, numa extensão de cerca de oito quilômetros que vai da frente da Rodoviária até próximo à ponte, nos clubes náuticos. Por que os administradores públicos não incluíram esta parte num grande projeto, contemplando esta outra finalidade, junto com a transformação do cais Mauá?

Se a exploração turística e de lazer é de grande importância econômica, não dá para esquecer que um porto dinâmico, a exemplo do que existe em todos os países desenvolvidos, é essencial para baratear custos de transporte e atrair empresas grandes geradoras de empregos.

Certamente, se um modelo semelhante ao que atraiu investidores ao antigo cais Mauá fosse adotado para o porto de Porto Alegre, haveria interessados em fazer do local um importante centro logístico. Não há planos de utilização do trecho após a ponte, onde se localizam perto de uma dúzia de areeiros e concreteiras. O governo estadual quer de volta a área, mas não tem destinação clara para ela. Abrir mão de planejamento, significa o risco de autorizar empreendimentos isolados.

Seria perdida excelente oportunidade de transformar também esta parte portuária em grande atração de investimentos. O mesmo fundamento que viabilizou o cais Mauá deveria valer para a parte de movimentação de cargas.

Sob pena de o porto da Capital se tornar apenas alegre, o que não é condenável, mas sem desperdiçar a chance de aproveitá-lo como importante centro logístico e tirá-lo na inexpressividade atual. Toda movimentação anual de cargas, cerca de 800 mil toneladas, cabe em dois grandes navios.

Os programas de governo de atração de investimentos colocaram em segundo plano os portos interiores, não só o da Capital. Os gaúchos pouco aproveitam do privilégio de ter uma via navegável de baixo custo de manutenção que liga diretamente ao porto marítimo.

*PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TERMINAIS PORTUÁRIOS (ABTP)

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