quarta-feira, 31 de maio de 2017

31/05/2017 02h00
vinicius torres freire


Temer e o otimismo do dinheiro


Eduardo Knapp/Folhapress
Sao Paulo, SP, BRASIL, 30-05-2017: Presidente Michel Temer (PMDB) passa ao lado do prefeito Joao Doria (PSDB) na abertura do Forum de Investimentos Brasil 2017 no Hotel Grand Hyatt, em Sao Paulo (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, PODER).
O presidente Michel Temer durante evento com empresários em SP

O CLIMA ERA estranho em uma grande reunião do poder político com donos do dinheiro. Ouvia-se tanto otimismo como preocupação contida nas análises do efeito econômico do choque político causado por todos os grampos do presidente. 

Michel Temer parece ter chance de reter apoio, tanto na política como nas bases empresariais.
Muita gente reunida no Fórum de Investimentos Brasil 2017, nesta terça (30), em São Paulo, parecia acreditar no discurso do presidente da Câmara, também presidenciável da República, Rodrigo Maia (DEM), para certa surpresa deste jornalista. 

"A agenda da Câmara, em sintonia com a do presidente, tem como foco o mercado, o setor privado"; "a Câmara mantem a defesa da agenda do mercado", disse Maia, no Forum, promovido pela Apex, agência oficial de marketing econômico. 

Não que os participantes do evento estivessem flutuando na estratosfera. As perspectivas são agora piores do que antes do grampo e do inquérito contra Temer, mas a impressão geral é de que o "jogo não está perdido". 

Isto é, ainda seria possível aprovar a reforma da Previdência, outras reformas importantes ainda passarão e ainda está difícil de avaliar qual o impacto do choque sobre a confiança de consumidores e deles mesmos, empresários e banqueiros. 

O rumo geral do governo não mudaria tão cedo, de resto. Gente da política deve estar ouvindo essa conversa. 

Como se fosse necessário, Maia deu outra demonstração de sua estratégia: manter-se no mesmo lugar. Assim, fica bem com Temer, com o núcleo do governismo, com o "mercado" e vai negociando com sua base eleitoral, o baixo clero, a maioria do Congresso. Ou seja, toca "reformas" dourando a pílula e mantém aberta a discussão de como aliviar as ameaças de cadeia ou ficha suja que vêm da Lava Jato. 

Temer, por sua vez acredita que não ficará só, se o tempo for o senhor da razão. Quer dizer, se conseguir ganhar semanas de sobrevida com um julgamento arrastado no TSE. 

O governo então poderia talvez demonstrar alguma força no Congresso, aprovando "reformas e reforminhas". Mostraria assim que é um bom regente da coalizão reformista liberal. Essa é a estratégia do governo, que voltou a barganhar votos para mudar a Previdência. 

Para a sorte de Temer, o PSDB ora está meio isolado. Um relato de segunda mão diz que a conversa de Temer com FHC e Tasso Jereissati foi "diplomática", "cortês", mas "não foi boa". 

Temer chiou e acuou o PSDB. Tucanos dizem que estão indo, mas não foram, até porque o partido está, para variar, sobre um muro rachado. 

Está aí um problema para a estratégia de Temer.

Depois do grampo, a coalizão do governo perdeu oficialmente três ou quatro dúzias de parlamentares, isso sem contar as defecções oficiosas dentro do PSDB. 

Ainda pior, a crise deu a oportunidade para muito deputado federal dizer que a crise criou problemas de "legitimidade" ou outra conversa qualquer para se livrar de um problema que era eleitoral.
Um terço da "base" do governo não queria votar a reforma da Previdência apenas por medo de não se reeleger.

Mas o governo espera fazer mais barulho otimista com PIBinho maior, com a mudança no BNDES e a queda de juros. Respira por aparelho e aparelhamento.

31/05/2017 02h00 
elio gaspari

O vice que oferecia uma pacificação joga o país num confronto irracional


Eduardo Knapp/Folhapress
Sao Paulo, SP, BRASIL, 30-05-2017: Presidente Michel Temer (PMDB) passa ao lado do prefeito Joao Doria (PSDB) na abertura do Forum de Investimentos Brasil 2017 no Hotel Grand Hyatt, em Sao Paulo (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, PODER).
O governo do "pacificador" de 2016 dá sinais de que joga na estratégia da tensão
 
Serão necessários alguns meses e muita paciência para que se reconstruam os acontecimentos da tarde de quarta-feira passada, quando Michel Temer botou a tropa do Exército na Esplanada dos Ministérios. Foi um lance de baderna institucional de um governo que não tem o adequado planejamento da segurança da capital. Até que se possam comparar versões, vale o que está escrito: o decreto tem a assinatura de Temer. 

O governo do "pacificador" de 2016 dá sinais de que joga na estratégia da tensão. Precisa de "black blocs" para desqualificar as manifestações do "Fora Temer" e das "Diretas-Já.

Não se diga que os mascarados saem da periferia do Planalto, como em 1968 os terroristas que praticavam atentados a teatros saíam do Centro de Informações do Exército. No ano passado, um capitão da ativa foi detido numa manifestação em São Paulo, numa história para lá de girafa. (No século passado, quando oficiais se metiam em atentados sem vítimas fatais, terroristas de esquerda já haviam matado gente com uma bomba no saguão de aeroporto de Guararapes e assassinado um capitão americano.) 

A estratégia da tensão tem um efeito narcótico para um governo fraco. Ela cria problemas novos, graves, sejam quais forem. 'Black blocs" noturnos incendiando ministérios depois de uma manifestação programada com antecedência e realizada em paz são uma flor dessa estratégia. O Exército entrando na Esplanada a pedido do presidente fecha a corbeille. 

Temer prometeu um ministério de notáveis e nomeou uma equipe de suspeitos. No domingo, o governo anunciou uma dança das cadeiras do ministro Osmar Serraglio da Justiça, com Torquato Jardim, da Transparência. Tirar Serraglio da Justiça remediava o erro de tê-lo posto, mas por que deveria ir para a Transparência? Serraglio recusou a proposta e voltará à Câmara. No mundo das transparências, seu suplente, o deputado Rodrigo Rocha Loures, foi filmado carregando uma mala de dinheiro da JBS e Serraglio, grampeado chamando um urubu da Operação Carne Fraca de "meu chefe". 

Numa entrevista à repórter Daniela Lima, Torquato Jardim disse o seguinte: "O que interessa, em primeiro lugar, é a economia. A crise não é política –a mídia transformou em crise política–, mas econômica."
Alô, alô, doutor, dois ministros de Temer foram-se embora porque meteram a mão onde não deviam, outros nove estão sendo investigados a pedido da Procuradoria-Geral da República, e foi vosso chefe quem teve sua conversa com Joesley Batista. A imprensa nada teve a ver com esses episódios. 

Temer, como todos os seus antecessores (e sucessores), tem enormes queixas da imprensa. Ele tem razão quando reclama de que o fatídico "tem que manter isso aí" seguiu-se a uma frase na qual Joesley dizia que estava "de bem" com Eduardo Cunha. Nada a ver com o trecho em que o empresário trata de ajuda pecuniária ao encarcerado. 

Quando a charanga do Planalto atribui o conjunto da conversa a um momento de inocência de Temer, zomba de inteligência alheia. 

O doutor Rodrigo Janot e o ministro Edson Fachin tornaram espinhosa a defesa do varejão da Lava Jato, mas ministro da Justiça gesticulando contra serve só para agravar a situação.

31/05/2017 02h00 
hélio schwartsman

Conspiração contra o público


Ricardo Borges/Folhapress
Rio de Janeiro, RJ,BRASIL, 28- 05- 2015; Apos prisao do ex-presidente da CBF, Foi retirado da faixada da sede no Rio o nome de Jose Maria Marin. (Foto: Ricardo Borges/Folhapress. ) *** EXCLUSIVO FOLHA***
Sede da CBF, no Rio de Janeiro

SÃO PAULO - "Pessoas do mesmo ofício raramente se encontram, mesmo que em alegria ou diversão, mas, se tiver lugar, a conversa acaba na conspiração contra o público, ou em qualquer artifício para fazer subir os preços." A frase, de Adam Smith, captura algo essencial sobre a natureza humana: tendemos ao corporativismo. 

E os traços dessa contínua conspiração contra o público aparecem onde menos se espera. Foi com surpresa que li na Folha de terça-feira que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) criou uma norma, a vigorar a partir de 2019, que obrigará todos os técnicos de futebol a passarem por um curso oferecido pela... CBF. 

Tal regra, que não tem força de lei, mas tende a ser seguida pelos clubes, é mais bem descrita como uma mistura de advocacia em causa própria com venda casada. O curso nível C, que autoriza o egresso a atuar como técnico em escolinhas de futebol, sai por R$ 5.267,00; o A, que licencia para trabalhar em clubes profissionais, fica em mais salgados R$ 9.926,00. 

O problema com essa norma é que ela contraria o princípio da liberdade profissional, consagrado no inciso XIII do art. 5º da Constituição: "É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer". Nesse caso específico, parecem sábias as palavras da Carta. 

A liberdade como regra geral tende a dar mais opções de vida aos cidadãos e produzir melhores soluções econômicas. É só em algumas poucas situações, normalmente de atividades que requeiram um saber técnico muito preciso cujo desconhecimento coloque a população em perigo físico, que se justifica a regulamentação. Mas estamos aqui falando de casos bem específicos, como medicina, engenharia e talvez direito. 

O futebol não reúne nenhuma dessas características. Ele é só um jogo, o que o torna terreno propício para todo tipo de experimentação, desregulamentação e iconoclastia.

terça-feira, 30 de maio de 2017

30/05/2017 02h00

Debate público deveria sair do tribalismo

Antônio Gaudério - 30.abr.2003/Folhapress
Receita Federal deposita 4º lote do Imposto de Renda 2016
Ambiente das redes sociais está cada vez mais polarizado



mas a minha vida nas redes sociais está cada dia mais infernal. A polarização não dá trégua. Para cada novo tema –que não dura mais do que três dias– uma torrente de textos para os dois lados. O tema da vez é a manifestação das "Diretas-Já" (ou seria "Volta Lula"?) no Rio. Foi sucesso ou fracasso? Ninguém sabe e todos têm certeza.

Não chegamos aos excessos partidários de nossos vizinhos hispânicos e nem somos como os EUA, em que a divisão é tão profunda que muitos eleitores nem sequer conhecem alguém do partido rival. Mas deu para sentir que o clima mudou e segue se acirrando.

Eu gostaria de ver o debate público sair do tribalismo e desconfio que não sou o único. É o que indica, por exemplo, a Diretoria de Análises de Políticas Públicas (DAPP) da FGV-SP : há um grande contingente de usuários de redes sociais (cerca de 32%) que compartilham temas políticos mas não se alinham a um dos dois lados. E isso para não falar daqueles que não discutem política nas redes. Nem só de eleição vive o homem.

O grosso da população brasileira não é ideológico e tem pouca fidelidade partidária. Por isso sempre escapamos de guerras civis e revoluções. Estamos é fartos dos políticos e partidos de sempre. A maioria não é socialista nem liberal. Quer, simplesmente, um Brasil que funcione.

Em outras palavras, quer o exato oposto do que temos: um Estado ingerente, corrupto e mandão, que escolhia campeões nacionais (Odebrecht, Grupo X, Oi, JBS"¦) e os subsidiava com crédito barato e isenções fiscais, enquanto o resto vivia em um inferno fiscal, trabalhista e burocrático. Que fez obras faraônicas que destruíram a economia e o meio ambiente, mas na educação e no saneamento básico nem tocou. Quebrou gastando mal.

Para além das mistificações, o Estado é um prestador de serviços. Ele não precisa responder a nossos anseios existenciais; precisa fazer valer o dinheiro dos nossos impostos. E aqui há consenso: recebemos muito menos do que pagamos. O tamanho ideal do Estado é algo a se discutir; o indiscutível é que daria para fazer muito mais com o que se tem.

Para isso, temos que focar recursos na base de nossa pirâmide social e acabar com transferências de renda que beneficiam os mais ricos: bolsa empresário e isenções fiscais, funcionalismo público privilegiado, universidade de graça para os filhos da elite econômica etc.

Nossos impostos –mantendo a carga atual– poderiam ser mais simples (o Brasil é o recordista mundial no tempo que uma empresa gasta para calcular e pagar seus impostos) e mais bem distribuídos: não é aceitável que os ricos paguem uma parcela menor da sua renda em impostos do que os pobres. Corrigir isso por si só já traria ganhos sociais e econômicos.

Ao mesmo tempo, é preciso crescer. E, para isso, a economia precisa ser mais dinâmica e aberta ao mundo, a propriedade privada mais bem assegurada e a criação de valor menos sabotada por regulamentações e incerteza jurídica.

Um Estado eficiente, que foque recursos em quem precisa e que mantenha um ambiente livre para a geração de valor, reconhecendo a primazia dos indivíduos na construção de seu próprio destino e fazendo jus, finalmente, ao caráter empreendedor de nossa população. Aí sim teremos um Brasil maior do que coxinhas e petralhas.

30/05/2017 02h00hélio schwartsman


'Lettres de cachet'





SÃO PAULO - Ainda há juízes em São Paulo. Um desembargador teve o bom senso de revogar as "lettres de cachet" que, a pedido da prefeitura, foram expedidas por um magistrado de primeira instância, permitindo que equipes de saúde e a guarda municipal catassem à força aqueles que julgassem ser dependentes de drogas e os obrigassem a submeter-se a avaliação médica para eventual internação compulsória.

"Lettres de cachet", para quem não se lembra das aulas de história, eram as cartas seladas (secretas) assinadas pela coroa francesa que determinavam o aprisionamento ou a internação hospitalar de inimigos políticos, loucos, ébrios, prostitutas e outras pessoas indesejáveis. Em todos os casos, a privação da liberdade era automática e não dependia de julgamento. Essas epístolas se tornaram o símbolo das arbitrariedades cometidas pelo rei, um dos fatores que levaram à Revolução Francesa.

Traço o paralelo histórico na esperança de mostrar que a medida judicial que a prefeitura tentou implantar, ao enfraquecer as garantias individuais de todos, é um problema que vai além da cracolândia. Não seria difícil, afinal, argumentar que a internação, ainda que peque por autoritarismo, visa ao bem dos dependentes. Mais até, as pessoas que vivem nas áreas próximas às frequentadas pelos usuários de drogas têm direito a uma vizinhança menos inóspita.

É difícil discordar disso. Buscar uma resposta para o problema da cracolândia é um dever do prefeito e da própria sociedade. Mas qualquer solução precisa necessariamente estar de acordo com a lei e com a ciência. A iniciativa da prefeitura, infelizmente, contrariou ambas. Passou como um trator por cima dos direitos e garantias fundamentais e ignorou o que a psiquiatria tem a dizer sobre o papel das internações em casos de dependência. E tudo o que conseguiu foi propagar a cracolândia por outras áreas da cidade, multiplicando os transtornos sem nada resolver. 


30 de maio de 2017 | N° 18858 
CARPINEJAR

Bem depois

A dor da perda exige tempo para doer. Saber não é ainda sofrer.

Despedimo-nos de alguém por fora, pelas palavras, mas demora para se despedir por dentro, pelo silêncio e pela saudade. Demora a se desapegar pelos hábitos e pela rotina. Demora muito tempo para uma ferida encontrar a sua saída.

Uma coisa é dizer adeus, outra é não ter mais como telefonar ou visitar ou abraçar ou beijar ou partilhar uma casualidade fora de hora. Ficar sozinho é muito mais fundo do que falar sozinho.

Há conversas que só poderiam ser feitas com um ente que não existe mais. Com o confidente, morrem os nossos segredos. Morre parte de nossa intimidade. A voz prosseguirá apartada dos ouvidos prediletos.

Quando um amigo enfrenta a morte do pai ou da mãe, não me arrisco a elogiá-lo por estar reagindo com coragem. O susto da notícia não é a dor. A surpresa é apenas o começo do luto.

Os dias serão definitivamente diferentes dali por diante. Os sonhos serão as únicas lembranças novas daquela relação.

Por mais que a morte signifique um alívio, com o fim do sofrimento da pessoa amada, sentiremos a falta bem depois. Nenhuma justificativa preencherá a lacuna. Nenhuma religião amenizará a violência de não mais ver e ser visto.

A dor explodirá bem depois, quando ninguém mais comentará o assunto, quando todos continuarem com as suas urgências e o funeral já não provocar condolências.

A esperança confunde nas primeiras semanas, nos primeiros meses, nos primeiros anos, pois ela ainda se alimenta de um passado recente. Complicado quando a esperança também vai se apagando, e você percebe que “até um dia” dito pelo padre era uma metáfora, não acontecerá nesta vida, não terá chance de dizer mais nada, de repor mais nada. Por isso os familiares retardam ao máximo a visita à lápide querida, realmente acreditam que o morto surgirá de repente e que tudo foi um engano.

O velório e o enterro não machucam tanto porque se tem o corpo perto para chorar. O difícil é a lágrima na distância, a lágrima sem pele nenhuma pela frente, a lágrima órfã, a lágrima no futuro.

Triste não é seguir atrás do caixão até a terra, no cortejo melancólico pelos corredores de pedra, apoiado pelos colegas e conhecidos.

É seguir à frente do caixão na próxima década, após o portão do cemitério se fechar, tendo que cobrir um nome com as próprias lembranças e se virar com as perguntas.

A verdadeira dor da perda é falar sozinho. Enfrentar a loucura de falar sozinho.



30 de maio de 2017 | N° 18858
EUROPA 

Lisboa de cara nova

CAPITAL DE PORTUGAL é coroada Cidade Destaque de 2017 com série de novidades de design urbano e arquitetura que tem transformado o dia a dia dos portugueses e surpreendido os turistas

Lisboa é daqueles lugares que não exigem muito esforço para cair na graça do visitante. A arquitetura histórica, de pequena escala e quase despretensiosa, é responsável por grande parte do charme. Há alguns anos, porém, a cidade se abriu para a possibilidade do redesenho urbano. Fez um plano de reabilitação, encomendou novos espaços e repensou as áreas existentes.

A atividade chamou a atenção do Banco Europeu de Investimento, que liberou 250 milhões de euros para a capital portuguesa investir na renovação urbana até 2020. O resultado veio agora: Lisboa renasceu e foi eleita a Cidade Destaque de 2017. A coroação vem de um seleto júri de design e arquitetura da revista britânica Wallpaper, uma das mais renomadas do mundo.

– Essas iniciativas são uma boa maneira de expandir, renovar e estabelecer um diálogo urbano sensível e maduro entre o antigo e o novo, onde uma arquitetura de qualidade faz toda a diferença – diz o arquiteto e urbanista Marco Dudeque, que leciona na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Ele compara:

– Boa parte das cidades europeias já passou por algum tipo de renovação urbana. Talvez a mais conhecida se deu em Paris que, nas mãos do barão de Haussmann, passou por uma revolução urbana até 1870. Lisboa, nas últimas décadas, tem investido na construção de edifícios projetados por arquitetos de renome internacional, criando assim novos marcos urbanos e incrementando o turismo.

Para o arquiteto e urbanista português Miguel Baptista-Bastos, da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, a premiação é justa.

– As novas edificações têm contribuído para a melhora da cidade e a maneira como ela é usufruída pelos cidadãos, trazendo novos estímulos – explica ele. – Lisboa é uma das metrópoles mais belas do mundo, não só pela sua história, morfologia, diferentes tipos de arquitetura no mesmo local, uma luminosidade única, como também por sua população, que é de uma enorme simpatia e tem um desprendimento muito salutar.

Confira algumas das novas edificações que redefiniram a linguagem arquitetônica da capital portuguesa, principalmente na região de Belém e nas proximidades do Rio Tejo.

CENTRO CHAMPALIMAUD

A Fundação Champalimaud é uma instituição privada de utilidade pública que se dedica a desenvolver pesquisas biomédicas, principalmente nas áreas de oncologia e neurociências. Em 2010, inaugurou um centro de mesmo nome para fomentar ainda mais pesquisas científicas multidisciplinares.

O projeto é do arquiteto indiano Charles Correa, que criou uma bela relação com a paisagem, devolvendo à cidade uma importante área na zona ribeirinha de Pedrouços, junto a Belém, onde o Rio Tejo encontra o Atlântico, como lembra o arquiteto Marco Dudeque.

O centro é formado por três grandes edifícios interligados e um jardim tropical.

– Neste edifício, percebemos de modo subliminar, porém, visível, a influência do arquiteto Álvaro Siza, nome que não pode ficar de fora quando se trata de arquitetura contemporânea em Portugal – destaca o professor da UFPR.

MAAT

O novo hotspot da cidade é o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), com projeto da arquiteta britânica Amanda Levete. Inaugurado em 2016 no local da antiga central elétrica Central Tejo, em Belém, o museu traz uma linguagem mais fluida e escultural, em que a arquitetura se mimetiza com o terreno em suaves curvas rampeadas, reconectando a cidade à orla marítima, como avalia o professor da UFPR Marco Dudeque.

Apesar do diálogo inteligente com o entorno, a obra de Levete parece com um monstro saído das profundezas do rio, já que sua fachada é coberta por um revestimento geométrico que lembra a pele de uma cobra. A obra custou um total de 17 milhões de euros, que foram subsidiados pela Fundação EDP, um braço empresarial da maior compa- nhia de energia de Portugal. Existem planos de transformar um grande reservatório de gás da região em um restaurante assinado pelo astro Philippe Starck.

MUSEU DOS COCHES

O museu público, que abriga uma das maiores coleções de carruagens do mundo, é o mais visitado de Portugal e precisou sair de um antigo palácio neoclássico do século 18 em meados dos anos 2000, quando a questão ganhou a pauta política.

O arquiteto comissionado foi o brasileiro Paulo Mendes da Rocha, um dos últimos da heroica geração de modernistas brasileiros da Escola Paulista e o único brasileiro vivo a ter um Pritzker na prateleira, o prêmio de arquitetura mais importante do mundo. O museu continuou na região de Belém e assumiu a ideia de uma praia comunal, elevando-se do chão e criando um novo espaço público. Foi aberto em 2015.

Agência Gazeta do Povo -LUAN GALANI

DICAS DE QUEM MORA POR LÁ

Nascida em Cruz Alta, a jornalista Mariana Scalabrin Müller, 28 anos, está em Lisboa fazendo doutorado. A seguir, ela dá dicas muito legais para aproveitar a capital portuguesa fora das grandes atrações turísticas.

Fundação Gulbenkian

Fora do centro histórico está a Fundação Calouste Gulbenkian (gulbenkian.pt), um espaço lindo que reúne museu, teatro e jardim aberto ao público. Quem gosta de arte pode visitar a Coleção do Fundador, que tem obras de diferentes períodos e áreas. Arte egípcia, greco-romana, islâmica e do extremo oriente são exemplos do que você pode encontrar por lá. Todos os domingos, a partir das 14h, a entrada no museu é gratuita para a coleção permanente e para as temporárias. Também é possível só passear pelos jardins da Fundação, que tem entrada gratuita sempre. Muita gente aproveita os gramados da Gulbenkian para tomar sol, fazer piquenique ou trabalhar (o wi-fi é liberado!). Dá para chegar pela linha azul do metrô, descendo na estação São Sebastião.
Campo de Ourique

O Mercado da Ribeira (ou Time Out Market Lisboa) já é um dos lugares onde mais se encontra turistas em Lisboa. O que nem todo mundo sabe é que a cidade tem outros mercados fora da região central. Um deles é o Mercado de Campo de Ourique (mercadodecampodeourique.pt), reformado em 2013. O espaço é bem menor, costuma estar menos muvucado e tem opções gastronômicas para todos os gostos: bacalhau, carpaccio, hambúrgueres veganos e, claro, doces incríveis.

Sugiro aproveitar para visitar a Casa Fernando Pessoa (casafernandopessoa.cm-lisboa.pt), que fica a três quadras do mercado e vende livros e lembrancinhas do poeta. Se tiver sol, caminhe até o Jardim da Estrela, um parque que tem lago, brinquedos para crianças e um coreto fofíssimo. Fica a poucas quadras do mercado, também no bairro de Campo de Ourique. Quem estiver no centro histórico pode chegar até a região com o elétrico 28, famoso por estar sempre lotado e pelos furtos ocasionais. As outras opções são ônibus, táxi, Uber ou Cabify.



30 de maio de 2017 | N° 18858 
DAVID COIMBRA

Astronautas não tomam banho

Ontem foi o dia do centenário de Kennedy. Há um século cheio, mais um dia, ele nasceu nesta vizinhança, a duas quadras de distância. Sua primeira escola é a escola pública em que meu filho estuda. A mãe dele, Rose, era filha de um prefeito de Boston.

No filme Jackie, protagonizado pela inhugazinha Natalie Portman, Rose aparece pedindo que o corpo do filho fosse enterrado exatamente aqui, no solo antigo da cidade de sua infância, Brookline. Jackie torce o nariz:

– Brookline?... Brookline não é lugar para se enterrar um presidente...

Assisti ao filme em um cinema de Brookline. Quando se deu essa cena, a assistência caiu na gargalhada. Já eu fiquei meio ressentido com Jackie. Bem coisa de nova-iorquino, tamanho desprezo pela vida simples do interior.

De qualquer maneira, o que queria contar é que essa ligação de Boston com os Kennedy tornou o centenário assunto ubíquo na cidade. Há eventos relacionados a Kennedy por toda parte.

Lá na zona sul, à beira do oceano, há um museu que foi construído pelo irmão caçula de JFK, o senador Edward, conhecido como Ted. No museu, há um prédio que reproduz com exatidão o Senado americano. Ted acreditava na importância do Senado, tanto que foi eleito sete vezes, consagrando-se como defensor de causas progressistas, como o aborto e o casamento de pessoas do mesmo sexo.

Mas o que interessa é que o museu de Ted Kennedy dedicou o fim de semana passado a um dos temas preferidos de JFK, a exploração do espaço. Homem de grandes ambições e grande arrojo, como sua mulher Jackie, JFK não se contentava com os continentes da Terra. Queria o universo.

Então, no belo museu à beira do mar, estava exposta até uma das cápsulas usadas em viagens ao redor do planeta e, no domingo, um astronauta da Nasa deu palestra. Como o meu filho está numa fase, digamos, espacial, lá fomos nós, ver o astronauta.

Foi interessante. O homem passou seis meses dentro de uma nave pendurada no vazio do espaço. Fiquei me imaginando em seu lugar, flutuando devido à falta de gravidade e vendo o nosso pequeno planeta azul pelo vidro da escotilha, até que ele contou que não há como tomar banho no espaço. Arregalei os olhos. Como é que é? O astronauta confirmou.

– A gente não toma banho – disse, com muita naturalidade, e enveredou por outra questão.

Já eu continuei naquela questão e dela não saí mais. Seis meses sem tomar banho? Meu interesse pela profissão de astronauta terminou ali. Não iria para o espaço se tivesse de ficar seis meses sem tomar banho.

Suponho que o ambiente da nave tenha se tornado desagradável com todos aqueles astronautas suando debaixo de seus macacões cor de prata e exalando diferentes fluidos corporais, mas esse nem seria realmente o problema. O problema é que o banho é um momento importante do dia. Um momento em que você se dedica inteiramente a você mesmo, remove com a água quente o peso e a poeira da jornada e, enfim, relaxa. Ah, agora estou pronto para um tinto suave e um livro denso.

Não trocaria o meu banho pelo espaço. Foi pensando nisso que tomei consciência da minha pequeneza. Não é só em relação ao banho. É em tudo. Pergunte-me:

1. Onde preferia estar? Num restaurante três estrelas de Paris ou numa mesa de subúrbio em Porto Alegre, bebendo chope com os amigos? Resposta: o chope e os amigos.

2. Que férias são melhores? Lugares exóticos na Ásia ou a mesma praia brasileira, na mesma casa, com as mesmas pessoas? Resposta: a praia brasileira.

3. A escolher: um milhão de dólares ou aquela casinha de madeira com pátio que descrevi semana passada? Resposta: bem, vou ficar com o milhão e comprar a casinha.

Não vou ser burro, também, né?

Em todo caso, admito que me falta essa ambição que torna os homens gigantes. A ambição de Jackie e JFK. Eu, ao contrário, não negocio a doce rotina dos dias pela glória sem paz. Nunca seria presidente. Nunca viajaria pelo espaço. Deixem-me aqui, que já tenho muito a fazer. Tanto que vou agora mesmo tomar um banho quente, para relaxar. Aquele tinto e aquele livro estão me esperando.


30 de maio de 2017 | N° 18858
ARTIGO | DENIS LERRER ROSENFIELD

JANOT E A LAVA-JATO

Como se isto já não fosse bastante, o perigo vem também de onde menos se suspeitava, a saber, do próprio procurador-geral da República. Esse, em uma ação intempestiva, sem os devidos cuidados legais, deu início a um inquérito contra o presidente da República.

Não se quer com isto dizer que o presidente não deva eventualmente ser investigado, mas tão somente de enfatizar que, se este é o caso, tal processo deve ser feito segundo os mais estritos parâmetros legais.

Entre esses, não consta abrir inquérito com um áudio não periciado, com frase que nem aparece na edição deste, e, sobretudo, utilizando o nome da Lava-Jato em uma operação que com ela não guarda nenhuma conexão.

Deveria, então, ter encaminhado o novo inquérito à presidência do Supremo para sorteio do relator. No entanto, ao ter aberto essa investigação com o ministro Fachin, teve a intenção de vincular-se a esse patrimônio nacional, como se precisasse dessa cobertura para melhor apresentar-se à opinião pública. Ocorre, porém, que, ao colar-se à Lava-Jato, transmitiu-lhe a pecha de arbitrariedade de seu próprio ato.

Ministros do Supremo, políticos e partidos avessos à Lava-Jato aproveitaram-se imediatamente da ocasião, trazendo novamente à tona o debate sobre a prisão dos condenados em segunda instância. Note-se que essa decisão é de enorme importância por ter dado um basta à impunidade reinante, com processos que se alongavam por anos, terminando por ser prescritos. Trata-se de uma tentativa de volta à impunidade que vigorava até então.

A situação do procurador-geral não está cômoda internamente. Começa a ser cada vez mais contestado. Não foi bem vista entre os promotores sua ausência de cautela ao questionar o presidente da República, sem ter, como assinalado, periciado o áudio que o incrimina.

Ora, o procurador Rodrigo Janot foi açodado e, agora, não passa dia que não procure se justificar, mormente através de artigos em jornais. Em seu afã de se explicar, torna-se ainda mais inconvincente. A sua arbitrariedade está sendo aproveitada para rotular a Lava-Jato de “arbitrária”. Prestou, neste sentido, um desserviço à nação.

*Professor de Filosofia

segunda-feira, 29 de maio de 2017

A crise afeta investimento, renda e consumo e exige prudência

Quando a gente pensou que as coisas começavam a entrar nos eixos, ao menos na área econômica, surge um fato novo que cai como uma bomba, nos deixando estarrecidos com tamanha desfaçatez. Não vou comentar o fato em si, que conta com ampla cobertura da mídia e das redes sociais, mas quero refletir sobre como ele nos afeta, no tocante a trabalho, renda, consumo e investimentos.

TRABALHO

Os mais de 12 milhões de desempregados estavam começando a ver uma luz fraquinha, relutante, no fim do túnel. Os empresários, diante das perspectivas da aprovação das reformas trabalhista e da Previdência e da queda acentuada e acelerada nos juros básicos da economia, esboçavam sinais de retomada da produção, desengavetavam planos de expansão de seus negócios. O nível de desemprego começava a se estabilizar, e o fantasma da demissão, lentamente, abria espaço para estabilidade e, quem sabe, novas contratações.

O cenário de extrema incerteza política, independentemente de seu desfecho, atrasa o andamento das reformas e gera desconfiança na retomada do crescimento econômico e no ritmo de redução dos juros. Os empresários recuam. Quem está empregado dê o seu melhor, seja produtivo, seja fonte de solução, problemas seu empregador já tem bastante. O espirito de colaboração aumenta a chance de manter seu emprego.

RENDA

A economia ruim afeta diretamente seu nível de renda. Quem é assalariado vive um período de escassez de aumentos e gratificações e celebra receber seu salário em dia. Quem trabalha por conta própria ou tem um pequeno negócio vê sua renda cair. Não por acaso o governo liberou o saldo das contas inativas do FGTS visando ampliar a renda e estimular a economia.

O cenário não aponta para recuperação no curto prazo. Seja criativo e pense em alternativas de criar ou expandir renda. Valorize cada centavo para fazer mais com menos. Se não puder elevar a renda, reduza despesas, outra forma de melhorar o resultado líquido das contas.

CONSUMO

Se falta dinheiro até para fechar as contas do mês, a perspectiva de consumo, compra de bens e serviços, fica mais distante. Adie o que for possível adiar. Não caia nas armadilhas dos varejistas, as ofertas tentadoras podem esperar. Repense e adie a decisão de trocar o carro, os eletrodomésticos, o celular. Seria bom, mas não precisa, não é?

Tomar empréstimo para financiar consumo, nem pensar. Coloque o seu cartão de crédito no fundo de uma gaveta, tranque e perca a chave. Gaste apenas o dinheiro disponível para realizar as despesas essenciais.

INVESTIMENTOS

Muita gente aproveitou a recente queda nos juros para comprar ativos de taxa prefixada. Contentes com a perspectiva de rentabilidade atraente, os investidores foram pegos de surpresa com a reviravolta iniciada no dia 18, quando os mercados reagiram nervosamente ao fato novo.

A taxa Selic não mudou, mas a taxa dos títulos mais longos subiu diante do cenário de incerteza. Esse investidor está vivenciando o chamado risco de mercado e não está achando graça nenhuma. A valorização em abril e início de maio virou desvalorização.

A recomendação é cautela, não tomar decisões precipitadas. No vencimento do título receberá o capital investido acrescido da taxa pactuada no dia da compra. Quem é cotista de fundos deve confiar em que o gestor fará os movimentos necessários para ajustar a carteira e tentar recuperar eventuais perdas.

Para quem tem dinheiro novo, recursos que ainda não estavam investidos, a recomendação mais prudente é investir em ativos de taxa pós-fixada, como Tesouro Selic, fundos DI, CDB DI, assegurando a variação da taxa de mercado, seja ela qual for. Diversificar é sempre saudável. A taxa de juros dos títulos atrelados ao IPCA voltou para a faixa de 5,5% ao ano. 

Nada mal para proteger seu dinheiro contra a inflação e assegurar juro real atraente. Investir em ações ou moeda estrangeira é estratégia mais especulativa. Respeite seu perfil de risco, invista somente recursos de longo prazo e uma fatia pequena da carteira. Seja prudente.

A JBS e as artimanhas fiscais

O espetáculo da delação e subsequente deserção da JBS, que trocou a confissão de uma multitude de crimes pelo direito de transferir a sede para fora do país, causou indignação entre os brasileiros. E colocou em cima da mesa um tema quase tabu: a otimização fiscal, modalidade olímpica das multinacionais.

Perfeitamente legal, e por isso diferente da sonegação fiscal, a otimização fiscal é engrenagem essencial da máquina financeira moderna. A rota de fuga traçada pelos irmãos Batista, por exemplo, é de uma banalidade desoladora.
Com a abertura da holding na Holanda, a JBS se tornará vizinha de centenas de multinacionais que se instalaram por lá em busca de blindagem legal e institucional.

À imagem da Irlanda e de Luxemburgo, outros suspeitos de costume, o país oferece uma rede grande e confiável de acordos de dupla tributação. É mais vantajoso investir no Brasil através da Holanda do que de um parceiro privilegiado como Portugal.

Os defensores da otimização fiscal veem nela um "mal necessário" da economia globalizada. Os críticos denunciam uma prática perversa e pérfida, além de ser profundamente antipatriótica

Numa tentativa de resgatar a credibilidade da União Europeia nessa questão, Emmanuel Macron, em sua primeira entrevista coletiva com Angela Merkel, designou a harmonização fiscal dentro do espaço europeu como prioridade do seu governo.

Uma ameaça pouco velada ao Reino Unido, que planeja tirar proveito da disparidade existente na União Europeia para reduzir seus encargos tributários e assegurar o estatuto de praça financeira de Londres depois do "brexit".

Porém os governos que se insurgem regularmente contra a otimização fiscal também são os guardiões desse sistema.

Antes de assumir a presidência da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, interlocutor-chave de Merkel e Macron, conduziu enquanto premiê a transformação de Luxemburgo em centro de lavagem de dinheiro.

O pacato país de 500 mil habitantes, que tributa uma porcentagem ínfima dos dividendos, tem o maior volume de investimento externo da União Europeia.
Sem uma ação coordenada das autoridades da UE, os países-membros estão condenados a sacrificar a arrecadação tributária no altar da competitividade fiscal. Nessa corrida rumo ao abismo, quem ganha são as empresas, e quem perde são os Estados, da Europa e do mundo. As artimanhas fiscais, legais e ilegais, custam cerca de US$ 50 bilhões por ano aos países africanos, o equivalente do que recebem em ajuda e investimento externo.

Diante dessa constatação de impotência frente à manobra da JBS, resta a resistência cívica. O "tax shaming", movimento que revela e divulga as manobras fiscais das multinacionais, deixou os mastodontes GAFA –Google, Amazon e Facebook– numa saia justa.

Incapazes de obrigar todos os empresários a pagar impostos onde produzem lucros, os cidadãos podem, pelo menos, através de manifestações públicas, sinalizar que tais práticas não passarão mais despercebidas e não serão esquecidas.