20
de julho de 2012 | N° 17136
DAVID
COIMBRA
Sentir orgulho
Escrevi
sobre a demasia de se publicar os nomes e os salários dos funcionários públicos,
e, de sexta passada para cá, todos os dias, venho recebendo manifestações de
servidores que se queixam da forma como seu trabalho é visto pela população. “Depois
da tua coluna, voltei a sentir orgulho do que faço”, escreveu-me uma juíza.
Essa
frase foi reveladora: “Voltei a sentir orgulho do que faço”. As pessoas querem
sentir orgulho do que fazem, porque o que elas fazem é parte delas. É claro que
há muitas pessoas que fazem mal o seu trabalho, por vários motivos. Mas esses
mesmos motivos as levarão a trabalhar mal na iniciativa privada, tanto quanto
na pública. A ameaça de demissão, de punição ou a vigilância inclemente do
chefe não são suficientes para transformar um trabalhador incompetente ou
desinteressado em eficiente e motivado.
Todos
os dias você depara com péssimos trabalhadores na iniciativa privada – péssimos
garçons, péssimos atendentes de operadoras de celular, péssimos advogados, péssimos
jornalistas, péssimas faxineiras, péssimos balconistas.
Todos
os dias você depara com ótimos trabalhadores na iniciativa privada – ótimos garçons,
ótimos atendentes de operadoras, ótimos advogados, ótimos jornalistas, ótimas
faxineiras, ótimos balconistas. O mesmo, exatamente o mesmo, ocorre no serviço
público. Há bons e maus trabalhadores em toda parte, e isso depende mais do
trabalhador do que da empresa.
Por
que, então, o servidor público é achacado por parte da população?
Porque
o brasileiro tem uma noção equivocada do Estado.
Para
o brasileiro, o Estado é uma entidade da qual ele, brasileiro, não faz parte. É
algo fora e acima dele. Quando se sente oprimido (às vezes com justiça) pelo
Estado, o brasileiro não identifica como responsáveis pela opressão os
legisladores ou os executivos que ele próprio escolheu.
Não.
Ele não é parte de tudo aquilo, ele é uma vítima indefesa, um explorado que,
com sua pobreza, produz a fortuna de outros, “deles”, dos nababos donos das
empresas que sugam os empregados ou dos privilegiados marajás do Estado.
Assim,
o brasileiro não sente amor nem por sua cidade, porque a cidade é o espaço PÚBLICO,
e tudo que é público é do Estado, situa-se além, não tem a ver com ele e até é contra
ele. Não é por outra razão que o brasileiro depreda por depredar – ele pensa
estar agindo contra o Estado.
Nenhum
cidadão precisa sentir amor pelo Estado, mas precisa compreender que ele, por
ser cidadão, é parte do Estado. Nenhum cidadão precisa sentir amor pelo
servidor público, mas precisa compreender que o servidor público, como qualquer
outro trabalhador, é exatamente isso: um trabalhador. Ele está naquela função
para prestar um serviço e, como a maioria das pessoas, tenta fazê-lo bem. Não
porque alguém o obriga. Porque ele também quer sentir orgulho do que faz.
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