22 de julho de 2012 | N°
17138
VERISSIMO
Gravata prateada
Belinha e Saul tinham 15 anos de
namoro e cinco morando juntos quando decidiram se casar a pedido do pai da
Belinha, Dr. Haroldo. O Dr. Haroldo possuía uma gravata prateada que usara só
três vezes na vida: na sua formatura, no seu próprio casamento e nos 15 anos da
Belinha. Queria usá-la só mais uma vez, levando Belinha ao altar.
Queria um casamento completo
igreja, recepção, tudo e pagaria o que fosse preciso para ter aquela alegria,
levar a Belinha ao altar com sua gravata prateada.
O próprio Dr. Haroldo não
confessaria, mas havia um toque de vaidade no seu pedido. Ele ficara com os
cabelos grisalhos nas têmporas, o que combinaria bem com a gravata prateada.
Mas não era só isso. O fato de Belinha e Saul morarem juntos não o incomodava.
Aceitava os novos tempos, sempre fora um homem sem preconceitos. Mas também
acreditava que deveria haver uma certa cerimônia, um certo ritual – uma
liturgia, era esse o termo que procurava – em ocasiões como um casamento, que
marcavam a vida das pessoas para sempre.
Se demorara tanto tempo para
pedir aquilo à Belinha era porque suas têmporas ainda não estavam
suficientemente prateadas para acompanhar a gravata na sua última aparição em
público. Pagaria pelo vestido da noiva, pagaria pela recepção, pagaria por tudo
para que o casamento de Belinha fosse inesquecível. E a data do casamento foi
marcada.
O engraçado é que, à medida que
se aproximava a data, Saul, o noivo, ia ficando cada vez mais nervoso. Os
amigos tentavam acalmá-lo.
– Que é isso, cara? Casados vocês
já estão. Esse casamento não muda nada.
– É só uma pantomima.
– É só uma formalidade.
– Isso é que me assusta – dizia
Saul. – Essa palavra. Formalidade. Não sei se eu estou preparado para a
formalidade.
A verdade era que Saul ficara
impressionado com os argumentos do futuro sogro. Era importante a liturgia.
Eram importantes o respeito à tradição e às convenções sociais, era importante
a formalidade. Enfim, era importante tudo que a gravata prateada representava.
Casamento era coisa séria.
– Que nada, cara – diziam os
amigos. – Você e a Belinha se dão bem sem casamento. A formalidade vai ser só
pra agradar o velho. Não muda nada.
– Muda – insistia Saul. – Agora
tudo vai ter outro significado. E eu não sei se estou pronto pra isso...
O casamento foi tudo o que o Dr.
Haroldo sonhava. A igreja decorada com flores, o órgão, Belinha linda no seu
vestido de noiva, e o pai da noiva resplandecente com suas têmporas grisalhas e
sua gravata prateada. Saul não pôde conter as lágrimas quando viu Belinha
entrar na Igreja de braços dados com o pai. Aquele era mesmo um momento sublime
que marcaria sua vida para sempre. A recepção não ficou atrás da cerimônia e
também foi perfeita. E inesquecível.
Semanas depois do casamento Saul
confidenciou aos amigos que tinha falhado. Como, falhado? Na lua-de-mel. Não
conseguira. E continuava não conseguindo. Ele e Belinha não tinham relações
desde o casamento, e a culpa era dele.
– É que eu nunca transei com uma
mulher casada – explicou Saul.
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