24
de julho de 2012 | N° 17140
CLÁUDIO
MORENO
Homens e mulheres (17)
Quem
frequenta a mitologia grega sabe que os incontáveis filhos que Zeus trouxe ao
mundo só vieram melhorar a vida de todos, fossem deuses ou mortais. Preocupado
em tornar o mundo mais cheio de justiça e de beleza, o rei do Olimpo visitou,
por nove noites sucessivas, o leito de Mnemósine, a deusa da Memória; nove
meses depois, nasceram as nove Musas, a quem devemos dons maravilhosos como a música,
a dança, a poesia e todas as outras artes, bem como o talento, a intuição e a
capacidade de aprender e lembrar.
Eram
jovens alegres e sorridentes; acompanhadas pela lira de Apolo, a quem
obedeciam, dançavam e cantavam com extrema doçura e leveza, enchendo de graça e
encantamento o eterno banquete do Olimpo. As roupas diáfanas e esvoaçantes que
usavam mal e mal ocultavam o seu corpo escultural, e, para o ódio de suas rivais
e inimigas, tinham sido aquinhoadas com belíssimos olhos cor de violeta.
Sendo
mulheres exemplares, tudo nelas estava voltado para a preservação da vida. Embora
o sacrifício de animais fosse comum nos altares gregos, as Musas rejeitavam
qualquer derramamento de sangue e só aceitavam oferendas de água fresca, leite
ou mel. Além disso, amavam a paz, e jamais escultor ou pintor ousou representá-las
armadas, como costumavam fazer com Atenas ou Artêmis, deusas guerreiras.
Sim,
eram delicadas, pacíficas e benfazejas, mas tolo seria quem pensasse que isso
era sinal de fraqueza. Que o digam as nove Piérides, filhas do rei Pieros, que
se julgavam tão boas cantoras que desafiaram as Musas para um concurso “musical”
(eram tão presunçosas essas princesas que não perceberam o absurdo etimológico
que estavam cometendo). Como era de esperar, as Musas as derrotaram e, para que
servissem de exemplo, transformaram-nas num bando de gralhas de voz estridente.
As
sereias, que tinham corpo de ave e rosto de mulher (as outras, com cauda de
peixe, são da mitologia celta), deveriam ter entendido o aviso, mas, induzidas
por Hera, a esposa de Zeus, que vivia perseguindo os filhos extraconjugais do
marido, caíram no mesmo erro e foram procurar encrenca.
Não
deu outra: nunca mais puderam voar, pois foram literalmente depenadas pelas
musas, que usaram suas penas mais coloridas para fazer adereços para o cabelo. Assim
eram elas, e sempre o serão, as nossas musas: doces e suaves de nascença, foram
feitas para trazer beleza e paz para o mundo, mas - é essa a clara lição deste
mito - não mexam com elas, se não quiserem sofrer as terríveis consequências.
Lembrete
– Em agosto, começa na Casa de Ideias meu curso “Introdução à Mitologia 2 – Os
Heróis”. Todos os detalhes no site www.casadeideias.com
ou no fone (51) 3018-7740.
Nenhum comentário:
Postar um comentário