Eliane Cantanhêde
Central Única dos Aloprados?
BRASÍLIA - Tem alguma coisa
invertida nessa história: a maior central sindical do país não se mobilizou
para protestar contra nenhum dos escândalos e escandalosos nacionais pós-2003 e
agora fala em "ataque à democracia", ameaçando "ir às ruas"
para defender os réus do mensalão. Dá para entender?
Segundo o atual presidente da
CUT, Artur Henrique, "o ataque à democracia" que ocorreu no Paraguai
pode se repetir no Brasil: "Ou não foi isso que tentaram neste país em
2005? Ou não tentaram depor e derrubar o presidente Lula com o apoio da
imprensa?", disse ele ontem, no congresso da central. E decretou:
"Não vamos permitir a volta dos tucanos, do PSDB".
Seu sucessor, Vagner Freitas,
avisou, antes mesmo de assumir, que está de olho no julgamento do mensalão:
"Não pode ser um julgamento político. Se isso ocorrer, iremos às
ruas", disse, pronto para uma guerra, como se estivesse de dedo em riste
na cara do Supremo Tribunal Federal.
São deveras curiosos esses
arroubos democráticos, mas vamos ao que mais interessa: as greves. Sem falar no
setor privado, os professores de universidades federais estão parados há um mês
e meio e funcionários de 12 órgãos federais cruzaram os braços. Dilma acaba de
mandar cortar o ponto dos faltosos. E isso não é nada, perto do que vem por aí.
A data-base de algumas das
categorias mais poderosas, como metalúrgicos, químicos, petroleiros, bancários
e carteiros, é no segundo semestre, a partir justamente de agosto -que vem a
ser o mês do julgamento do mensalão. Vai ficar animado.
A dúvida, hoje, é se a CUT vai
para as ruas a favor dos mensaleiros de Lula, contra o Supremo, ou se vai a
favor dos trabalhadores, contra Dilma. Em última instância: a favor de Lula e
contra Dilma?
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