segunda-feira, 23 de julho de 2012



23 de julho de 2012 | N° 17139
KLEDIR RAMIL

Diário de bordo – Triângulo das Bermudas – 2ª parte

Quando vi o caldeirão fumegando e me dei conta que estávamos sendo preparados para virar sopa de índio, pensei: “Isso só pode ser um pesadelo”. Não era. Fiz sinal pro meu companheiro que, com a cabeça embaralhada pelos efeitos do cachimbo de bambu, não havia percebido a gravidade da situação. Parti para uma ideia de risco. Me desvencilhei dos braços das nativas floridas, passei a mão no ukelelê e gritei: “Diz aí, ô do pandeiro”.

O grito de Carnaval acordou meu parceiro do delírio alucinógeno em que estava metido. Atacou um solo de pandeiro que, justiça seja feita, merecia nota 10 em todos os quesitos. Diante de uma plateia estarrecida, caiu de joelhos e fez o instrumento rodopiar na ponta do dedo indicador como se fosse um pião. Na sequência, sob aplausos entusiasmados, nosso malabarista fez o pandeiro rolar sobre seu braço direito, passar por trás da cabeça e ir parar na mão esquerda.

Foi quando ataquei um Ré maior em ritmo de samba e puxei: “Ô lelê, ô lalá, pega no ganzê, pega no ganzá”. A indiada enlouquecida pelo ritmo alucinante do samba brasileiro tentava requebrar as cadeiras, imitando nosso showman que, a essas alturas, gingava mais que rainha de bateria. Eu, iniciado apenas na Dança do Pezinho, emburaquei num frenesi descontrolado, com passos desconcertantes que, sinceramente, não sei de onde saíram.

O mais inacreditável é que foram ficando todos contagiados por aquele fuzuê carnavalesco. Bem, é possível que o tal cachimbo de bambu tenha contribuído um pouco. Quando notei que o próprio chefe bonachão já estava em transe, com os olhinhos revirados e um abacaxi na cabeça, tentando imitar Carmem Miranda, fiz sinal pro meu parceiro e saímos em desabalada carreira, em direção à praia. Corremos feito loucos, com aquela horda de canibais tentando alcançar nossos calcanhares.

Confesso que não sei se queriam continuar dançando ou se queriam jantar mesmo. Na dúvida, enfiei o ukelelê na cabeça de dois ou três nativos e empurramos a lancha pra dentro do mar. Aí, tudo começou a girar. Como eu não tinha fumado nada, imaginei que havíamos entrado na espiral ascendente, de volta à realidade.

Meu depoimento para o Fantástico se limitou a desmentir meu parceiro: “O sujeito bebe”. Claro, não vou me expor ao ridículo de afirmar coisas que não tenho como comprovar. Além disso, vai que a Globo Internacional passa lá na ilha e o chefe me enxerga na TV falando mal deles. Periga aqueles malucos saírem pelo redemoinho e virem até aqui me buscar. Eu hein?!?

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