terça-feira, 24 de julho de 2012



24 de julho de 2012 | N° 17140
PAULO SANT’ANA

Os agiotas

Há uma crise financeira que se transferiu da Europa para o Brasil em pouco mais de um mês.

Já tenho falado aqui da alta vertiginosa nos preços dos alimentos que adquirimos nos supermercados.

E a inadimplência em todas as aquisições a crédito tem subido a níveis assustadores.

Sendo assim, esses dias eu estava em um restaurante, e o garçom me disse reservadamente que naquele momento havia no restaurante exatamente 33 pessoas, que representavam por suas condições todos os brasileiros.

Disse-me o garçom que havia no restaurante três senhorios (pessoas que alugam prédios) e 23 inquilinos.

Quando eu me disse impressionado com o conhecimento que o garçom tinha de sua clientela, ele me falou: “Revelo ao senhor mais ainda: aqui neste restaurante, praticamente, só existem dois tipos de pessoas, as que pedem dinheiro a juros e os agiotas. Para cada 100 clientes que pedem dinheiro a juros, dois agiotas.

E saiba o senhor Pablo Sant’Ana que atualmente para cada 100 clientes que tomam empréstimos dos agiotas, 95 estão inadimplentes. E ainda acrescento: quando ficam devendo para os agiotas, recorrem a outros agiotas para socorrê-los. É uma ciranda financeira, tipo vertigem, que não deixa que os inadimplentes consigam conciliar-se com o sono à noite. Que crise, seu Sant’Ana! Já passei por muitas, mas esta dos dias de hoje é uma das piores.”

Estava eu cismando no fim de semana sobre quantas vezes escrevi em minha coluna que o ser humano é o pior vivente entre os seres que têm vida na face da Terra. Mas reconheci depressa a minha injustiça: os humanos são piores que os animais, mas também são os seres vivos melhores que existem no planeta, tantos são os exemplos de grandiosidade de homens destacados.

Ou seja, a humanidade já produziu um Calígula mas também já viu nascer no seu seio um Jesus Cristo. A mesma humanidade que viu nascer um Gengis Khan revelou para o mundo um Mahatma Gandhi.

A banca paga e recebe. Átila foi o tirano que mais cometeu atrocidades nas guerras que travou, mas a sociedade dos homens já teve a bondade e a compaixão piedosas de uma Madre Tereza de Calcutá.

Então nós, os humanos, somos ao mesmo tempo os melhores e os piores espécimes vivos.

O radiologista Jurandi Bettio me disse que esteve este mês em Barcelona e achou impressionante, nos bares e restaurantes que frequentou por lá, o número de gaúchos residentes na Espanha que todos os dias pagam pela Internet US$ 1,99 para lerem minha coluna em Zero Hora. Ele diz que é a maneira que encontram para matar a saudade do pago.

Nos três últimos jogos ganhos pelo Grêmio no Brasileirão, Marcelo Moreno fez quatro gols como centroavante.

Vocês se lembram de quando Luxemburgo decidiu contra o Palmeiras a Copa do Brasil no Olímpico? Perdemos de 2 a 0 e eu botei a boca no trombone contra Luxemburgo por ter deixado no banco – é incrível – os dois centroavantes que tinha: Moreno e André Lima.

Mas tem mais: Luxemburgo também jogou sem centroavantes contra o Santos, quando perdemos de 4 a 2, Moreno estava no banco e só entrou quando era tarde demais.

Parece que, alertado por mim, Luxemburgo passou agora a sair jogando sempre com Moreno e o Grêmio assim acaba de ingressar no G4.

Futebol é uma ciência que não tem mistérios.

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