quinta-feira, 31 de outubro de 2019



31 DE OUTUBRO DE 2019
DAVID COIMBRA

Houve armação contra Bolsonaro

Disse no Timeline dessa quarta-feira, e repeti no Sala de Redação, que a história do porteiro do condomínio de Bolsonaro era estranha e que, provavelmente, tratava-se de armação contra o presidente da República. Estava certo, como se vê. O Ministério Público revelou que ele mentiu no depoimento.

Tenho de destacar meus acertos, porque, quando erro, 1 milhão vêm me cutucar e me chamar de coisas rastejantes e pouco higiênicas.

Cheguei a essa conclusão devido à lógica torta da narrativa do porteiro: por que o bandido informaria que ia numa casa, se queria ir noutra? O que ele ganharia com isso? Além do mais, ele frequentava a casa do seu parceiro de crime, por que agora tentaria "disfarçar"?

É óbvio que alguém quis comprometer Bolsonaro. Para descobrir quem foi, não adianta olhar para os que se beneficiariam com a queda do presidente - seriam muitos. Melhor procurar entre os que tinham mais acesso e poder de pressão sobre o porteiro.

Era justa, portanto, a indignação de Bolsonaro quando ele fez aquele vídeo na madrugada da Arábia Saudita. Injusta foi a sua raiva contra a imprensa, em especial contra a Rede Globo. Se um jornalista sabe que foi prestado à polícia um depoimento que cita o presidente da República num caso rumoroso como o do assassinato de Marielle, ele tem obrigação de fazer matéria a respeito. Se não fizer, o jornalista trai a confiança do público, que pode muito bem questionar, com indignação: "Você sabia e não divulgou???".

A Rede Globo divulgou e fez mais: acionou seus repórteres de Brasília e forneceu álibi a Bolsonaro, provando que, no dia mencionado pelo porteiro, ele, Bolsonaro, estava na Câmara dos Deputados, a quase 1.200 quilômetros de distância do Rio.

O que a Globo devia fazer, no entender de Bolsonaro? Omitir a matéria? Esconder uma informação de tal relevância de seu público?

É claro que não. A Globo agiu com correção. Bolsonaro é que se exaltou além da racionalidade em seu pronunciamento, chegando a fazer uma ameaça pouco sutil de que não renovará a concessão da Globo em 2022. Ora, não é o governo que faz concessões; é o Estado. Há leis que regem essa atividade e Bolsonaro tem de se submeter a elas.

Todos os presidentes do Brasil criticaram a imprensa, absolutamente todos, mas são dois os mais veementes: Bolsonaro e Lula.

Lula foi capaz de dizer que o maior erro de seu governo teria sido não promover a regulação da imprensa, que, qualquer um sabe, é eufemismo para censura. E, há seis anos, antes mesmo da Lava-Jato, declarou, da tribuna do Senado, que a imprensa "avacalha a política" e que quem faz isso "propõe a ditadura". Para Lula, não são os políticos que avacalham a política: é a imprensa!

Não é por acaso que os dois se comportam assim. São dois populistas, e populistas têm de cultivar inimigos para se justificar. Cada vez mais, Lula e Bolsonaro andam de mãos dadas. Eles realmente se odeiam, eles realmente são inimigos e realmente são muito diferentes. Mas precisam um do outro para existir.

DAVID COIMBRA


31 DE OUTUBRO DE 2019
O PRAZER DAS PALAVRAS

Argentina

Várias vezes eu evoquei, nesta coluna, o prazer que todos sentimos no momento em que vislumbramos, através do opaco véu que encobre as palavras, uma semelhança ou um parentesco que jamais tínhamos percebido. O multitalentoso Alberto Savinio, irmão do conhecido pintor De Chirico, registrou, comovido, o momento em que sua filhinha de cinco anos viu se abrir diante dela, pela primeira vez, esta caverna de tesouros infinitos, ao se dar conta de que os fiammiferi ("fósforos", em Italiano) tinham esse nome porque "trazem uma chama" (fiamma).

Diz ele: "Em seus olhinhos dourados senti brilhar uma nova luz, primeiro reflexo de uma compreensão mais sólida das coisas, de uma felicidade emanada da razão". E continua: "A descoberta etimológica é uma iluminação. Ela nos dá a impressão (ou a ilusão) de tocar na Verdade com as mãos - e daí nos vem este raro prazer".

Este texto está na Nuova Enciclopedia, escrita nos anos 40; não sei se a filha de Savino ainda se encontra neste mundo, mas me atrevo a imaginar quantas vezes não terá ela revivido aquele momento mágico que seu pai descreveu - e não poderia ser de outra forma, pois quem prova a fruta uma vez nunca mais vai esquecê-la.

Ao rosário iniciado por fiammiferi, suponho que vieram se acrescentar as contas inflamar, inflamável e inflamação, todas nascidas da mesma flama (o termo latino para chama). E depois certamente ela viu passar alguma Ferrari, desfilando o seu vermelho flamante, provado alguma iguaria flambada na nobre chama do conhaque ou ouvido algum padre falar na espada flamejante que impedia o acesso ao Paraíso. Finalmente, se fosse leitora desta coluna, também haveria de incluir neste grupo a inocente flâmula (literalmente "chaminha", diminutivo latino de flamma), nome dado àquelas bandeirolas coloridas que têm a forma de um triângulo alongado e que, soltas ao vento, tremulam como as labaredas de uma fogueira...

Como todos os que leem esta coluna, eu também tive o meu "Abre-te, Sésamo" etimológico. Andava eu pela casa dos oito anos quando meu pai apareceu em casa com um exemplar de O Guarani, impresso em papel de segunda e ostentando uma capa de terceira. Para mim, foi um amor à primeira vista que muitas marcas deixou. A primeira foi no estilo: até fazer a minha primeira barba, não consegui escrever uma redação que não fosse um pastiche deslavado de Alencar. Só não escrevia "A tarde ia morrendo. O sol declinava no horizonte e deitava-se sobre as grandes florestas que iluminava com os seus últimos raios" porque ele já o tinha feito antes...

A segunda foi na minha vida amorosa: a total submissão de Peri à louríssima Cecília - a sua Ceci -, de quem se considerava um simples escravo; o estoicismo com que ele suportava os maiores sofrimentos sem nada exigir em troca, além de um sorriso de aprovação de sua deusa; enfim, o desprendimento absoluto com que oferecia a própria vida para assegurar o bem-estar de sua amada - tudo isso achou campo fértil no adolescente romântico e inseguro que fui, atrapalhando bastante, como hoje sei, as minhas relações com as diversas Cecílias que encontrei por este mundo. Os entendidos entenderão: Peri foi meu Werther.

Pois é a este livro que devo a minha "iluminação etimológica": a folhas tantas, quando a mãe de Peri vem tentar convencê-lo a sair da propriedade dos brancos e voltar para sua aldeia natal, ele recusa. Ela então se afasta lentamente: "Peri seguiu-a com os olhos até que desapareceu na floresta; esteve a correr, chamá-la e partir com ela. Mas o vento lhe trazia a voz argentina de Cecília que falava com seu pai; ficou". Que diabos seria isso? A palavra argentino era bastante usada por minha avó, que tinha lá suas diferenças com os portenhos e praguejava contra eles sempre que tinha oportunidade. Mas voz argentina? E logo na imaculada Ceci?

Nunca uma palavra tinha me chamado tanto a atenção; recorri ao dicionário, à enciclopédia, ao Lelo Universal, aos tios, à mãe professora, às colegas da mãe professora e aos anciãos da vizinhança e descobri que tudo vinha de argentum ("prata", no Latim), e que os espanhóis tinham dado a esta nova conquista o nome de Argentina porque ainda não sabiam que o grosso da prata vinha do Peru, mas acertadamente chamaram de Rio da Prata o curso d?água por onde escoava a produção deste metal, e que por isso a prata era Ag na tabela periódica, e que não por acaso "dinheiro", em Francês, é argent, e argentário é o dinheirista, e que uma voz argentina, como a de Ceci, tinha o timbre fino como o da prata. Bem, mas aí já era irremediável: como Ali Babá, fascinado, eu tinha descoberto a entrada do tesouro.

CLÁUDIO MORENO

31 DE OUTUBRO DE 2019
ARTIGOS

A FESTA DOS LIVROS

Estamos nos aproximando de mais uma Feira do Livro de Porto Alegre, em novembro. É a época da festividade dos livros para os sacerdotes das letras e os amantes dos livros em geral.

A Feira de Porto Alegre é a única, talvez, no Rio Grande do Sul a beneficiar quem realmente ama a literatura, porque lá se encontram os clássicos de todas as áreas e naturezas. Mas o evento ainda traz os best-sellers, os livrinhos da moda e os tops de todos os setores. Há livros caros, mas também há os baratos. Algumas bancas já chegaram a fazer promoções absurdas, R$ 1 por livro, mas foi anos atrás. Hoje talvez os mais baratos girem em torno de R$ 5.

Os viciados em livros, os escritores, estão sempre caminhando pela maior feira do Estado. Já identificamos nela José Eduardo Degrazia, Armindo Trevisan, Joaquim Moncks, Rossyr Berny, Jaime Vaz Brasil, Luiz Nicanor, Delalves Costa, Roberto Schmitt- Prym, Círio de Melo, Borges Neto, Fernando Medina, alguns menos, outros mais conhecidos, mas todos com talento para mostrar.

Alguns desses escritores visitam os colegas que estão lançando, vão às bancas para comprar livros às pencas e depois se reúnem com amigos para conversar sobre literatura ou mesmo compram um café para já ir lendo alguma coisa do que adquiriram.

São dias de êxtase para quem ama os livros. E sempre há as bancas preferidas por uns ou por outros. Um crítico literário amigo nunca deixa de dar uma passada no IEL ou na Movimento para conhecer os novos autores do Estado e também adquirir os lançamentos dos mestres. Também vai às bancas de universidades para comprar as dissertações ou teses de crítica literária sobre os mais variados escritores. Compra dezenas dessas obras.

Para quem ama a Feira de Porto Alegre, é uma enorme emoção aguardar o momento do início, contar as semanas, os dias e as horas, nervoso, para ter o direito de percorrer a Praça da Alfândega e viajar pelos mestres do Estado, Carlos Nejar e Mario Quintana na poesia; Erico Verissimo e Moacyr Scliar na prosa; Luís Augusto Fischer e Antonio Hohlfeldt na crítica.

Professor e crítico literário | evjj1969@gmail.com - EDUARDO JABLONSKI

31 DE OUTUBRO DE 2019
EM DIA

RICOS REBELDES

As megamanifestações separatistas em Barcelona mostram que mesmo povos cultos e de bem com a vida podem cair na armadilha do radicalismo e da xenofobia. Por isso, não considero razoáveis nem folclóricas as vaias das torcidas locais ao hino nacional antes dos jogos. Separatismos, racismos e outros preconceitos alimentam-se da tolerância quando parecem inofensivos, mas são de difícil reversão depois de se alastrarem. Todo separatismo acena para uma utopia: o mundo será outro após a secessão. Comove adeptos pela simplificação do diagnóstico: os problemas - existentes em qualquer lugar e tempo histórico - teriam uma única causa. E a solução viria como mágica após uma independência enaltecida.

Não me refiro às manifestações legítimas de povos que se rebelam por serem colonizados ou subjugados, ou por uniões e anexações artificiais, como o Império Austro- Húngaro, o Leste Europeu na Guerra Fria ou a antiga Iugoslávia. A novidade dos atuais separatismos é partirem das partes ricas de seus países, como é o caso da Catalunha. 

Mas também da Lombardia e de Vêneto (da Itália), Antuérpia (Bélgica) e até Califórnia (EUA). São regiões de países democráticos, que já gozam de autonomia e forjam o imaginário de serem exploradas pelo "resto do país", que as sugaria com a transferência de impostos. No caso da Catalunha, faziam sentido os protestos na era franquista, quando se proibiram a língua e a cultura catalãs, bem como a autonomia política local. 

Hoje há ampla liberdade, tal como em qualquer federação democrática. Sentir-se subjugada e recorrer à História para justificar é de difícil sustentação: a Espanha resulta de união de reinos (Castela, Leão, Aragão, Galiza, Navarra) cuja unidade ganhou impulso para enfrentar um inimigo comum: os mouros, que dominaram a península Ibérica por mais de cinco séculos. A Catalunha era um pequeno condado cristão que poderia ser mouro ou francês, pois a vassalagem era reivindicada pelos reis da França.

A contradição dos separatistas é não reconhecerem que enriqueceram justamente por gozar das externalidades positivas de pertencerem a um todo que lhes assegurou mercado consumidor e matérias-primas para expandirem suas indústrias, segurança militar e institucional, transportes e infraestrutura. Seriam ricas e exploradas. A riqueza caiu do céu.

PEDRO DUTRA FONSECA

31 DE OUTUBRO DE 2019
DÉFICIT DE R 20,4 BI

Governo central tem melhor setembro em quatro anos

As contas do governo federal registraram, em setembro, déficit de R$ 20,4 bilhões, informou ontem o Tesouro Nacional. Embora negativo, o dado é o melhor observado para o mês em quatro anos.

O alívio no resultado foi proporcionado por aumento na arrecadação, principalmente de dividendos. Em setembro, o governo recebeu R$ 3 bilhões da Caixa Econômica Federal e R$ 1,8 bilhão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O número do governo central engloba os resultados do Tesouro Nacional, da Previdência Social e do Banco Central. No acumulado de janeiro a setembro, o déficit nas contas do governo federal está em R$ 72,5 bilhões.

Mesmo com a autorização para encerrar o ano com rombo de R$ 139 bilhões, valor da meta fiscal para 2019, o governo vem enfrentando aperto. A lenta evolução da economia e a frustração de receitas obrigou o Ministério da Economia a travar parte dos recursos previstos inicialmente para os ministérios.

O bloqueio de verbas, que chegou a ultrapassar R$ 30 bilhões, gerou dificuldades na operação da máquina pública e comprometeu serviços, como a suspensão de bolsas de estudos. Após liberações parciais nos últimos meses, o total de recursos discricionários travados está agora em R$ 17,1 bilhões.

Apesar das dificuldades, o Tesouro afirma que a perspectiva para este ano é de que o resultado das contas públicas seja melhor do que o valor estabelecido na meta. Entre os fatores que devem levar a essa situação estão os leilões de petróleo, a dificuldade de ministérios em gastar recursos, saldo mais positivo do que o esperado para as estatais e o atraso na entrada de Estados no programa de socorro do governo federal.

O Tesouro Nacional pondera que o governo central deve voltar a ter resultados positivos apenas em 2022 ou 2023. "Um passo importante foi dado com a aprovação da reforma da Previdência, mas faz-se necessário ainda uma reforma administrativa e uma redução do excesso de vinculações do orçamento", afirma em nota.


31 DE OUTUBRO DE 2019
MORTE DE CELSO DANIEL

Bolsonaristas cobram apuração de depoimento de Marcos Valério sobre Lula

A citação do presidente Jair Bolsonaro na investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco deflagrou uma batalha nas redes sociais. Enquanto os críticos do presidente cobram explicações sobre eventual relação de Bolsonaro com os acusados do crime, seus simpatizantes exigem apuração da denúncia de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria ligação com a morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel.

O suposto vínculo de Lula com o crime foi noticiado semana passada pela revista Veja. Em reportagem de capa, a publicação revelou trechos de um depoimento do empresário Marcos Valério ao Ministério Público (MP) de São Paulo no qual o operador do mensalão teria implicado o petista na morte de Daniel.

Condenado a mais de 50 anos de prisão no julgamento do mensalão, Valério cumpre a pena em regime semiaberto. Desde a condenação, ele afirma que teria revelações a fazer sobre o rumoroso assassinato do prefeito, em 2002. Agora, 17 anos após o crime, ele disse que Lula e outros petistas graduados estavam sendo chantageados por um empresário de Santo André.

Valério declarou ter ouvido desse empresário que o próprio Lula teria sido o mandante do crime. Segundo Veja, o depoimento do operador do mensalão foi gravado em vídeo, nas dependências do Departamento de Investigação de Homicídios de Minas Gerais. A gravidade do relato teria levado o promotor Roberto Wider Filho a encaminhar o interrogatório ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

Valério diz ter sido chamado a uma reunião no Palácio do Planalto com Gilberto Carvalho, então chefe de gabinete de Lula, em 2003. Na conversa, Carvalho teria dito que o empresário Ronan Maria Pinto, cúmplice em esquema de cobrança de propina na prefeitura de Santo André, ameaçava envolver a cúpula do governo no assassinato de Daniel.

- Marcos, estamos com um problema. Ronan está nos chantageando, a mim, ao presidente Lula e ao ministro José Dirceu, e preciso que você resolva - teria dito Carvalho, de acordo com a revista.

Contraponto

O operador do mensalão teria conversado ainda com Dirceu sobre o caso, ouvindo como resposta "vá e resolva". A partir daí, numa sequência de contatos com petistas graúdos, Valério teria se reunido com Ronan em um hotel em São Paulo. Mais tarde, um empréstimo de R$ 12 milhões feito pelo banco Schain a José Carlos Bumlai, amigo de Lula, teria sido realizado como fachada para o pagamento de R$ 6 milhões ao chantagista. O restante teria sido entregue a Jacó Bittar, também amigo de Lula e pai de Fernando Bittar, um dos donos do sítio de Atibaia.

As novas revelações sobre a morte de Celso Daniel estariam ocorrendo em um inquérito sigiloso. O caso, porém, sempre foi tratado como crime comum pela Polícia Civil de São Paulo.

Lula não se manifestou sobre a reportagem. Em nota oficial, Carvalho disse que Veja "requenta matéria dando voz a um bandido interessado em diminuir suas penas". O petista declarou ainda que nunca esteve com Valério, desafiando o empresário a exibir provas das acusações, criadas "pela fantasiosa mente do bandido", como escreveu. 

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Para concluir bem o dia....



Dorme e Sonha Ana Maria - Juca Chaves




Por quem sonha Ana Maria - Emilio Santiago






Por Quem Sonha Ana Maria- Juca Chaves




Our Love Dream - Terry Winter





30 DE OUTUBRO DE 2019
DAVID COIMBRA

A operação salva-corruptos

Havia uma figura por quem sentíamos um suave desprezo, nos meus tempos de IAPI: o político. Não era um pensamento que se expressava, ninguém falava disso abertamente. Era só um desdém que manifestávamos quando algum candidato aparecia por lá ou se ouvíssemos elogios a uma dessas autoridades engravatadas. Políticos? Que nojo.

Mais tarde, quando entrei na faculdade de jornalismo, encontrei o mesmo sentimento, desta vez acompanhado por boa justificativa teórica: o jornalista tinha obrigação de desconfiar a priori de qualquer político, fosse qual fosse o seu espectro ideológico, porque os políticos lutam pelo poder e quem luta pelo poder faz as coisas por interesse e quem faz coisas por interesse engana e mente.

É claro que existem políticos dignos e é claro que, nessas décadas todas de profissão, conheci muitos dos quais gosto, mas é preciso sempre, SEMPRE, fiscalizá-los e jamais, JAMAIS, aderir a eles.

Vou citar cinco políticos de conduta reta, cinco gaúchos que já se retiraram da atividade: Guilherme Socias Villela, Olívio Dutra, Germano Bonow, Leonel Brizola e Pedro Simon. Não por acaso, relacionei homens de partidos diferentes, porque também das ideologias é preciso desconfiar. O dogma empareda o crente em uma única solução, e os problemas em geral exigem flexibilidade para serem solucionados.

O fato é que aprecio a política, mas nem tanto os políticos. Eles fazem mais mal do que bem à sociedade. Por enquanto, são necessários. Mas o mundo está mudando, as democracias estão se transformando e logo vamos achar uma forma de gerir uma nação sem eles. Ou, pelo menos, sem esse tipo de político profissional, interesseiro, perigoso. É o que espero. Por isso, sinto certa ojeriza por quem os bajula. Adventos como o lulismo e o bolsonarismo me provocam repulsa.

Hoje, é com profunda tristeza que assisto aos puxa-sacos de Lula se baterem contra a prisão em segunda instância. Vão causar um terrível dano ao país e aos seus próprios filhos apenas para beneficiar um político. É repugnante.

Francamente, pouco se me dá que Lula continue preso ou vá para casa. Não faz diferença. Lula é só mais um desses deprimentes personagens do Brasil. Mas a consagração da impunidade fará, sim, muita diferença. O sentimento de impunidade, de que a Justiça é lenta e não funciona, é um dos maiores males de uma nação. E essa campanha pela impunidade fará o Brasil sofrer ainda mais, porque é uma campanha para salvar políticos corruptos, é o exemplo que vem de cima e que deforma a sociedade. É o cinismo instituído em forma de lei.

É óbvio que também há advogados interessados nisso, eles ganham com a infinidade de recursos, mas o que está em jogo, realmente, é a salvação dos corruptos. Porque a prisão em segunda instância só foi impedida durante sete anos, no Brasil - só entre 2009 e 2016. O que houve agora, para que essa questão virasse um cavalo de batalha judicial? A resposta é simples: a Lava-Jato! A prisão de Lula! O medo que os políticos têm de ir para a cadeia!

É isso que interessa a eles. Apenas isso. Não acredite nessa balela de discursos libertários, de amor à Constituição. É amor aos políticos! É a bajulação, o puxa-saquismo, a rastejante adulação aos políticos! Que nojo.

DAVID COIMBRA


30 DE OUTUBRO DE 2019
TE MOSTRA RIO GRANDE

Empresa de Santa Cruz se aproxima da comunidade e impulsiona negócios

Mercur criou Laboratório de Inovação Social, no qual desenvolve produtos de tecnologia assistiva que beneficiam a população.
O negócio tinha mais de 80 anos e nome internacional quando Jorge Hoelzel Neto, terceira geração da família à frente da Mercur, de Santa Cruz do Sul, decidiu virar a chave. Ainda que os itens para educação e saúde fabricados pela empresa já tenham sido exportados para Ásia e América Central - inclusive com uma subsidiária em Miami -, há 10 anos a decisão foi olhar para perto e ouvir o que a comunidade tinha a dizer.

- Temos muitas coisas para consumir, mas poucos relacionamentos. Acreditamos muito que a construção de relacionamentos que valorizam a vida é o que vai nos fazer evoluir - explica Hoelzel, neto e sobrinho- neto dos irmãos fundadores da Mercur, empresa de 1924.

Uma série de mudanças de gestão foi tomada para reduzir impactos negativos causados pela indústria e sustentar o projeto no longo prazo. Uma delas foi o foco no mercado interno. Antes, fazia vendas relevantes para o Exterior e, hoje, exporta apenas para o Uruguai e a Guatemala, mas tem aumento nas vendas nacionais.

Virada ainda mais profunda foi na forma de criar produtos. Um exemplo foi a decisão de não produzir mais materiais escolares licenciados, que veio a partir da provocação de professores da rede de ensino de Santa Cruz do Sul. Em contato com a empresa, eles justificaram que uma borracha de desenho animado, além de não contribuir com a aula, mais divide do que aproxima as crianças, já que nem todas podem ter o objeto.

Rodas de conversas, oficinas e espaços de aprendizagem entraram no cotidiano da Mercur.

- Reunir as pessoas envolvidas nos diversos assuntos que são tratados na empresa é uma prática que foi tomando forma, por entendermos que qualquer decisão só se legitima a partir da participação de todas as pessoas que são impactadas de alguma forma - afirma.

Engajamento

Há quatro anos, a Mercur criou o Laboratório de Inovação Social. Ali, o foco é usar a experiência da empresa para criar produtos de tecnologia assistiva - artigos que ajudam pessoas com deficiência ou em recuperação médica. Além dos técnicos da Mercur, consumidores e profissionais de saúde, educação e design criam juntos as soluções. Um fixador de mão em tira, por exemplo, pode ajudar alguém que perdeu movimentos a voltar a escrever. Ou um giz de cera robusto e um tubo de tinta que foram pensados para quem tem dificuldade de preensão palmar podem ajudar alguém a se expressar artisticamente.

Mais de 20 recursos de tecnologia assistiva, feitos com a participação da comunidade, já foram produzidos. Um deles veio da ideia de uma mãe em busca de autonomia para a filha com paralisia. Depois de uma das oficinas de cocriação, ela recortou uma bolsa para água quente, feita de borracha, e improvisou um fixador em alça para ajudá-la a segurar a mamadeira. Virou protótipo, em um processo cada vez mais colaborativo.

- As pessoas com deficiência vêm até aqui, trazem os seus pais, seus cuidadores, o terapeuta ocupacional, todos aqueles que estão envolvidas na vida dela. A partir disso, criamos um produto para ela - explica Hoelzel.

O jeito diferente de enxergar a relação entre negócios e comunidade vem dando certo. Com frequência, a Mercur é procurada por universidades e outras empresas, inclusive de fora do Estado, para contar a experiência. Os aprendizados até já viraram curso em uma universidade em Santa Cruz do Sul e em outra de São Paulo.

MAIARA MEDINA

30 DE OUTUBRO DE 2019
OPINIÃO DA RBS

A BANCARROTA E O ABALO MORAL

Julgou com bom senso o Tribunal de Justiça do Estado ao decidir, na segunda-feira, que não há dano moral automático e coletivo por atraso no pagamento dos salários do funcionalismo. É preciso reconhecer os tormentos causados pelos vencimentos que não são quitados em dia pelo governo gaúcho, mas este não é um problema que possa ser resolvido com um canetaço e também independe apenas da boa vontade do Piratini. Uma eventual decisão no sentido contrário, além de não solucionar na prática as agruras dos servidores, apenas pioraria a penúria escancarada das finanças do Estado, criando um novo e imenso esqueleto.

Não é sensato contar com saídas mágicas ou simplistas para o Executivo voltar a pagar salários na data certa, minimizando os riscos de novos atrasos no futuro. É algo que será conquistado a duras penas, ao longo do tempo, conforme o Estado for reduzindo e racionalizando as suas despesas e, na coluna da receita, elevando a arrecadação com a retomada da economia e do desenvolvimento do Rio Grande do Sul. O Piratini, com a colaboração dos demais poderes, precisa perseverar em um novo modelo administrativo que tenha a responsabilidade fiscal como guia. 

Só assim poderá voltar a atrair investimentos, tanto de grandes empresas quanto de pequenos e médios empreendedores que, confiantes em uma nova era por estes pagos, estarão mais propensos a apostar no Estado. Esta confiança, é importante reforçar, não nasce por geração espontânea, mas por um conjunto de sinalizações que vão desde um horizonte melhor para as finanças gaúchas até a certeza de que não serão perseguidos ou afugentados por exigências estapafúrdias ou obstáculos burocráticos intransponíveis.

Os gaúchos já sofrem uma espécie de dano moral e material coletivo produzido pela bancarrota do setor público. De uma forma ou de outra, todos os cidadãos são afetados: os que são assaltados nas ruas e padecem com a criminalidade, as crianças que recebem uma educação insuficiente, o cidadão carente que precisa de atendimento de saúde mas encontra um serviço precário e o motorista que tem o carro danificado em estradas esburacadas espalhadas pelo mapa do Rio Grande do Sul. 

Todos são vítimas do desleixo e da irresponsabilidade reinantes há décadas. É esta negligência a origem da façanha às avessas que criou uma folha de pagamento com mais inativos do que servidores em atividade. Reordenar o Estado é começar a pagar essa dívida com toda a sociedade.


30 DE OUTUBRO DE 2019

INFRAESTRUTURA

BR-386 já passa por obras de melhorias

Melhorias na cobertura asfáltica e na sinalização são algumas das intervenções que quem trafega por 290 quilômetros da BR-386, entre Canoas, na Região Metropolitana, e Carazinho, no Norte, já percebe. Em diversos trechos da rodovia há interrupções na circulação ao longo do dia para realização das obras.

O número exato de locais bloqueados temporariamente varia a cada dia, o que obriga os motoristas a aguardarem entre 10 e 15 minutos para seguir viagem - uma das faixas da estrada é bloqueada momentaneamente para consertos. Com isso, o percurso, que costuma ser feito em menos de quatro horas, tem levado mais de cinco.

Na última quinta-feira, ZH constatou filas de até 10 quilômetros de veículos em pontos de obras. Para evitar atrasos, a recomendação é de que, antes de pegar a estrada, os usuários verifiquem no site da CCR ViaSul - ccrviasul.com.br - os locais nos quais haverá interrupção e os deslocamentos sejam iniciados mais cedo.

As obras ficam nos trechos que terão cobrança de pedágio a partir de 15 de fevereiro do próximo ano. As praças de estão em construção em Montenegro, Paverama, Fontoura Xavier e Victor Graeff.

Os congestionamentos se devem ao conserto do asfalto, nos trechos entre essas cidades. As intervenções integram as obrigações assumidas pela concessionária, que deverá conservar e promover melhorias na BR-386 pelos próximos 30 anos.

Os reparos iniciais são superficiais, incluindo recapeamento e tapa-buracos. A partir dos próximos anos de concessão, serão feitas obras mais profundas, como restaurações, que devem prevenir a deterioração.

Investimentos

Estão previstos, entre 2021 e 2036, 225 quilômetros de duplicação na BR-386 (ver cronograma ao lado). Além disso, a empresa deverá construir 56 acessos, 27 retornos e 18 passarelas, assim como vias marginais e iluminação.

Para reduzir os transtornos, a CCR ViaSul afirma que tem evitado realizar obras em horários de grande movimento, pelo menos em dois pontos: Lajeado- Estrela e Nova Santa Rita- Canoas. O ideal, segundo a empresa, seriam obras noturnas, mas isso não é possível em razão necessidade de o asfalto estar em alta temperatura.

Antes de sair de casa

• A BR-386 registra maior movimento em três horários – início da manhã, até 8h, próximo ao meio-dia e depois das 16h30min –, segundo o chefe da 4ª Delegacia da Polícia Federal (PRF), com sede em Lajeado, Paulo Reni da Silva.

• Portanto, o melhor é procurar viajar fora desses momentos.

• Como as obras mudam de trecho, a recomendação é de que os motoristas reservem mais tempo para a viagem, já que não há rotas alternativas nos trechos.

• É possível conferir no site da CCR ViaSul onde haverá interrupção: ccrviasul.com.br.

Duplicações

• De Marques de Souza a Lajeado: entre 2021 e 2023.

• De Lajeado a Estrela: entre 2022 e 2023.

• De Soledade a Fontoura Xavier: entre 2023 e 2024.

• De Tio Hugo a Soledade: entre 2024 e 2025.

• De Fontoura Xavier a Marques de Souza, entre 2026 e 2028.

• De Carazinho a Tio Hugo: entre 2029 e 2030.

• De Tabaí a Canoas: entre 2034 e 2036.

HUMBERTO TREZZI

30 DE OUTUBRO DE 2019
NÍLSON SOUZA

O que será será


A semana começa nublada. Saio para a caminhada matinal e cruzo com uma moradora da vizinhança cujo nome ainda não registro no arquivo da memória, o que talvez seja recíproco. Ainda assim, ela me cumprimenta e lança uma dúvida na minha direção:

- Será que chove? Meu primeiro impulso é ser sincero. Penso em responder:

- Não sei, só perguntando ao Cléo Kuhn. Soaria como grosseria, evidentemente. Até mesmo porque, num raciocínio rápido, percebi que a pergunta não era exatamente dirigida a mim. Se fosse, seria algo assim:

- O senhor acha que vai chover hoje?

Nesse caso, eu poderia responder "acho que sim" ou "acho que não" e seguiria adiante, com a consciência tranquila. Mas a expressão "será que..." é sempre mais metafísica do que pragmática. Reflete dúvidas existenciais.

- Será que a vida tem sentido? Será que a felicidade existe? Será que alguém gosta de mim?

Além disso, o tempo verbal utilizado remete para o misterioso território do futuro. E falar sobre o imprevisível exige, no mínimo, alguma reflexão. Como eu não tinha tempo para filosofar naquele momento, resolvi ser assertivo como me ensinaram nos meus tempos de executivo:

- Chove! - respondi, fingindo convicção. Ela não pareceu gostar da resposta. Olhou para o céu, que talvez fosse o verdadeiro destino da pergunta, e exclamou baixinho:

- Meu Deus...

O rápido e inocente diálogo tirou a paz da minha caminhada. Segui adiante pensando na imponderabilidade do clima e no zagueiro fulminado pelo raio que também acabou com o futebol de domingo no Rincão da Madalena, em Gravataí. Muito deprimente aquilo: uma jovem vida perdida, uma criança órfã, uma família enlutada. Bater uma bolinha na chuva é uma das grandes alegrias da vida. De repente, sem qualquer aviso, um estrondo e vários corpos estendidos no chão. Será que há algum sentido nisso?

Já joguei na chuva, já brinquei na chuva, já fiz ordem unida na chuva na época em que prestei o serviço militar obrigatório. Lembro-me bem que o sargento dizia:

- O soldado é superior ao tempo! Bravata, evidentemente. Nem o soldado, nem o zagueiro, nem ninguém. Não somos mais do que "un grano de sal", como diz a canção de Jorge Drexler. Uma chispa, e tudo se acaba.

Talvez esse seja o sentido: nossa fragilidade diante da natureza sugere que, em vez de lamentar o passado ou tentar prever o futuro, devamos viver plenamente o momento presente, conviver mais com a família, valorizar amizades e afetos, desfrutar das coisas que nos dão prazer, brincar com as crianças, amar, produzir, dançar, sonhar e respeitar os sentimentos e os pensamentos dos outros para que possamos compartilhar a paz de forma coletiva.

E ter dúvidas. Será que os assertivos entrarão no reino dos céus? Naquele dia, não caiu uma só gota de água na minha vizinhança.

NÍLSON SOUZA

terça-feira, 29 de outubro de 2019



29 DE OUTUBRO DE 2019
DAVID COIMBRA

O Grêmio tem de desistir da Libertadores de 2020

Só há uma maneira de o Grêmio voltar a conquistar um título importante: dedicar-se com força e exclusividade ao Campeonato Brasileiro. Porque o Grêmio, já faz dois anos, deixou de ter um time copeiro, como seus torcedores gostavam de apregoar. Ao contrário, o Grêmio perde decisões sistematicamente. As que venceu, nesse período, nem venceu: empatou com Inter e Independiente, no Gauchão e na Recopa, e ganhou os títulos nos pênaltis.

É uma estranha mudança de personalidade, algo a ser investigado. Tempos atrás, o Grêmio era conhecido por se superar em situações-limite. Às vezes, possuía um time inferior ao adversário, mas, na hora de decidir, se agigantava, buscava forças de lugares recônditos e arrebatava vitórias pouco prováveis. Assim aconteceu nos dois Brasileiros que o clube conquistou: em 1981, o São Paulo era uma Seleção, e o Grêmio venceu até no Morumbi; em 1996, a Portuguesa havia feito 2 a 0 no primeiro jogo da final e, no segundo, o time de Luiz Felipe reverteu nos últimos minutos, quando tudo parecia perdido. 

Houve outras vitórias tão difíceis quanto essas e pelo menos uma completamente inverossímil, a Batalha dos Aflitos. Eram times de qualidade, sim, não se vence sem qualidades, mas, mais do que tudo, times com têmpera de aço. Mas, agora, o Grêmio deixou de ser o time das vitórias impossíveis. Em decisões, ele é que se tornou a vítima das improbabilidades.

No ano passado, arrancou uma vitória do River Plate no Monumental de Núñez e saiu ganhando na segunda partida, na Arena. A lógica da velha mística gremista dizia que o time seguraria o resultado, ainda que sofrendo pressão do adversário. Não foi o que se deu. Faltando sete minutos para o fim, o time levou dois gols e o River se classificou diante de 50 mil gremistas perplexos.

Em 2019 foi ainda pior. Contra o Athletico, na Copa do Brasil, o Grêmio foi a Portuguesa de 1996: venceu por 2 a 0 no primeiro jogo e foi amassado no segundo, sofrendo a reversão do resultado quase que sem reação.

Finalmente, veio o revés diante do Flamengo, no Maracanã lotado, observado por, literalmente, meio mundo: um fiasco absoluto justamente em um dia de decisão, um daqueles dias que o velho Grêmio transformava em heroicos.

Três dias depois daquele vexame, livre da pressão de uma partida eliminatória, o Grêmio recuperou a naturalidade e fez 3 a 0 no Botafogo. Ou seja: o Grêmio tem futebol, mas não tem a fibra que o distinguia nos momentos críticos. Continuando assim, seria sensato evitar esses momentos críticos e apostar na normalidade do futebol bem jogado para vencer. Donde, torna-se necessário apostar no Campeonato Brasileiro, que pode ser conquistado por uma soma de vitórias em que o time é interessado e concentrado sem precisar realizar façanhas.

Aquele espírito bravo de Foguinho, Juarez, Danrlei, Dinho, De León e do próprio Renato foi trocado pelo espírito leve do futebol-bailarino. O que terá acontecido em menos de dois anos para que uma índole centenária fosse transformada? É uma pergunta complicada de responder.

Há outra: essa mudança, afinal, será positiva? O novo Grêmio, de jogo bonito e suave, vencerá mais do que o antigo, de jogo duro e pragmático?

Aí depende do desafio que escolher enfrentar. Por isso, a Libertadores, nesta hora, é não apenas dispensável: é inconveniente. Melhor investir na morna regularidade dos pontos corridos. Grêmio novo, estratégia nova: reservas nas Copas, titulares no Brasileirão.

DAVID COIMBRA

29 DE OUTUBRO DE 2019
FESTIVAL

Inovação tecnológica pauta evento na Capital

Um antropólogo que dá palestra em evento de tecnologia, uma empresa de tecnologia com departamento de pesquisa focado em design antropológico, uma marca que assume o propósito de tornar o mundo mais bonito. Três falas do primeiro dia do Festival de Interatividade e Comunicação (FIC19) atravessadas por uma perspectiva mais "humana" da inovação. Na 15° edição, o evento, que começou ontem, na Unisinos, na Capital, já não discute a virada para a vida digital, mas a nova ordem digital em todas as dimensões da vida, a começar pela relação com o tempo.

O antropólogo Michel Alcoforado, criador da Consumoteca, consultoria para ajudar as marcas a entenderem o que está acontecendo, arrancou risos em uma palestra cheia de alegorias do cotidiano:

- Tá tudo um caos! Até alguns anos, você só tinha uma preocupação ao acordar, que era apagar o rádio-relógio quando despertava. Agora, quando toca o despertador do celular às 6h30min, você já tem todas as patacoadas do presidente, as notificações do grupo do trabalho, o tio reclamando do tempo no grupo da família, e você ainda dá uma olhada se deu algum match no aplicativo de relacionamento.

Em tom bem-humorado, o pesquisador apresentou uma perspetiva histórica de como a humanidade se relacionou com o tempo desde os primórdios até hoje, quando os dispositivos digitais, objetos conectados e inteligentes mudaram radicalmente a noção de agilidade, demora e até de idade.

De um holandês que entrou na justiça para alterar a idade civil ao tempo de espera por um carro em aplicativos, os casos são autoexplicativos. Quem, por exemplo, nunca partiu para outro app em busca de um motorista que chegue mais rápido quando aparece o aviso de que o tempo de espera será de quatro minutos?

- A gente tem uma série de dispositivos para agilizar processos e está sempre sem tempo - resume.

Estratégias

Para complicar, diz o pesquisador, não é só uma questão de tempo, mas também de espaço. Usando uma consulta astrológica como exemplo, Alcoforado conta que perturbou o mapa astral diante da simples pergunta sobre onde havia passado o último aniversário, pois acordou em Montevidéu, almoçou em Porto Alegre e jantou no Rio de Janeiro.

Nessa relação acelerada, muda também a estratégia das marcas ao desenvolver e lançar produtos e serviços: o tempo de planejamento está encurtado, esperar pode deixar brecha para a concorrência sair na frente ou o interesse do consumidor já ter se direcionado a outra coisa. Nesse contexto, "mínimo produto viável", o MVP, deixa de ser propriedade de startups, e metodologias ágeis, como o design thinking, tornam-se cada vez mais presentes em grandes corporações.

- Numa abordagem sociológica, a inovação passa a ser uma produção coletiva, multidisciplinar e colaborativa - descreveu a líder do time de experiência do usuário da Samsung, Renata Zilse Borges.

Nessa perspectiva, o consumidor deixa de ser aquele que compra um produto e passa a ser o que usa um produto. E aí vem outra dimensão antropológica da inovação na contemporaneidade: propósito. As novas gerações se relacionam com marcas com as quais que se identificam e buscam construir carreiras que façam sentido.

Marcas com propósito foi o tema da gerente global da Natura Ana Carolina Soutello. Posicionada como uma indústria de cosméticos que quer deixar o mundo mais bonito, a empresa busca reforçar a associação da marca a causas como a redução de lixo e a preservação da Amazônia.

- Marcas com propósito não são perfeitas, mas são mais abertas a repactuar seu papel com a sociedade - disse a executiva.

O FIC19 segue hoje, com inscrições no local, a R$ 320.

TAÍS SEIBT

29 DE OUTUBRO DE 2019
OPINIÃO DA RBS

O DESAFIO DA ARGENTINA


A vitória do peronista Alberto Fernández na eleição presidencial argentina de domingo comprova o quanto os cidadãos, de qualquer nação, demonstram nas urnas os seus humores conforme a situação do próprio bolso. O atual mandatário derrotado, Mauricio Macri, frustrou expectativas e fracassou de forma retumbante na economia, ao demorar e hesitar em fazer as reformas de que o país precisava. Aumento da pobreza, disparada do dólar, inflação descontrolada e outro pedido de socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI) levaram o atual presidente à lona ainda no primeiro turno.

O retorno do kirchnerismo à Casa Rosada, mesmo que em sua versão light, não é motivo de entusiasmo. Pelo contrário. Basta lembrar o quadro de descontrole das contas públicas deixado por Cristina Kirchner quando passou o cargo, ao final de 2015. O populismo alicerçado em compromissos corporativos e sindicais tende a conservar a situação da Argentina no estado em que sempre esteve nas últimas décadas: em crise quase permanente, mesmo que vez ou outra apareçam espasmos de crescimento. A volta do peronismo pouco ou nenhum espaço cria para se acreditar que os velhos vícios que aprisionam o país ao passado serão rompidos.

As relações de Buenos Aires com Brasília também não devem ser motivo de esperança de maior integração. Se é fato que o presidente Jair Bolsonaro não se caracteriza pela polidez e elegância no trato com pensamentos discordantes, também deve-se lamentar o descabido gesto, ainda no domingo, de Fernández, ao defender a liberdade de Luiz Inácio Lula da Silva, condenado duas vezes, como se o petista fosse vítima de um aprisionamento ilegal. Foi um sinal de desrespeito ao Judiciário e à soberania do Brasil que, espera-se, deva-se mais à inexperiência do novo líder argentino, inebriado pela emoção da vitória iminente.

Infelizmente não é o que parece ser o mais provável, mas Brasil e Argentina, os dois principais parceiros do Mercosul, deveriam tentar manter relações cordiais, em benefício de ambos e do próprio bloco. Apesar do risco de novos tempos turbulentos embalados por ações populistas, o futuro governo, eleito democraticamente pelo povo argentino em um pleito livre, também merece respeito do lado de cá da fronteira.

É preciso ainda registrar e louvar a atitude desprendida de Macri ao convidar o seu oponente nas urnas para um café da manhã, como forma de dar a largada em um processo civilizado de transição. Uma iniciativa cortês, que, aliás, não teve em Cristina, quatro anos atrás, qualquer correspondência.


29 DE OUTUBRO DE 2019
FUNCIONALISMO

Desafio é repor com mesma qualificação


Vice-presidente do Tribunal de Justiça do Estado, o desembargador Túlio Martins afirma que será complicado preencher as vagas.

- É um prejuízo enorme para o poder público. Será uma reposição difícil e cara, porque essas pessoas continuarão ganhando a mesma coisa como aposentadas. Além disso, é uma mão de obra extremamente qualificada, que teve investimento pesado do Estado e que está sendo entregue pronta para a iniciativa privada - lamenta Martins.

À frente da Secretaria de Planejamento, Leany Lemos tem dito que a corrida por aposentadorias já era esperada - os números costumam aumentar sempre que há reformas ou mudanças nas carreiras, como propõe o governo Eduardo Leite. Ela reconhece dificuldades para preencher as lacunas:

- O Estado precisa se adaptar a essa situação, pois não há espaço para repor quadros diante da situação financeira que vivemos.

Professora do curso de Pós-Graduação em Políticas Públicas da UFRGS, a socióloga Marília Patta Ramos lembra que a burocracia qualificada, de alto escalão, é fundamental para o desenvolvimento de Estados e Nações.

- Muitos técnicos têm expertise que não se adquire do dia para a noite. São pessoas cruciais para elaboração, monitoramento e avaliação de políticas públicas. Até o momento, o governo não apresentou medidas claras de gestão que assegurem a mesma produtividade com um contingente menor de pessoas - avalia Marília.

Conforme Leany, a secretaria "vem atuando em várias frentes para que o Estado tenha uma política efetiva de gestão de pessoas" e prepara "amplo projeto" com apoio do terceiro setor, a ser lançado em 2020. Entre as iniciativas que já estão em andamento, a secretária destaca a reestruturação da Escola de Governo com foco na qualificação de servidores, a parceria com a Fundação Dom Cabral para a formação de lideranças e o programa Qualifica RS, voltado à seleção de pessoas para cargos estratégicos.


29 DE OUTUBRO DE 2019
FUNCIONALISMO PÚBLICO

Dano moral por atraso de salário será julgado caso a caso

Governo estadual obtém vitória após desembargadores do TJ negarem a servidores direito automático em indenização
Foi com alívio que o governo do Estado recebeu a decisão do Tribunal de Justiça (TJ) de negar aos servidores o direito automático a indenização por dano moral em razão de atraso nos pagamentos dos salários. Em julgamento realizado na tarde de ontem, a maioria dos desembargadores do Órgão Especial entendeu que eventuais compensações financeiras devem ser julgadas caso a caso.

O julgamento ocorreu a pedido da Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e serviu para unificar a postura da Corte diante de uma demanda que se multiplicava nos escaninhos do Judiciário. Conforme levantamento do relator do caso, desembargador Armínio José Abreu Lima da Rosa, há em torno de 4,5 mil ações semelhantes no Estado, com "decisões radicalmente conflitantes". Desde então, estavam suspensos todos os processos pendentes de decisão, individuais e coletivos, seja na primeira instância ou no próprio TJ.

Processos

Falando em nome da PGE, o procurador Victor Herzer da Silva salientou que a suspensão não impediu o ajuizamento de novas ações. Segundo ele, já são mais de 40 mil processos e havia expectativa de que o êxito da demanda poderia levar a mais de 1 milhão de pedidos de indenização. Ele também atacou o mérito dos pedidos, porém destacou que um eventual dano moral deve ser julgado caso a caso, com a devida comprovação dos prejuízos.

- O atraso ou parcelamento dos salários por si só não gera dano moral - argumentou.

Ao transformar o caso em um Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR), o TJ tentou esclarecer três questões: se atraso de salários configura dano moral, se há necessidade de comprovação caso a caso ou o constrangimento é presumido e, por último, se cabe uma ação distinta para cada mês de atraso. Advogado do Cpers, Marcelo Fagundes defendeu a tese do dano presumido sob pena da realização de milhares de audiências judiciais em todo o Estado.

- Não estamos falando de um, dois ou três salários atrasados, ou de um ou dois dias de atraso. São 47 meses de salários atrasados. O atraso virou política de Estado. Não há dúvida de que isso gera dano moral - emendou o advogado do Cpers.

"Sadismo"

Na defesa dos servidores, o advogado Fabrício Klein, da Associação dos Analistas do Estado, entidade que congrega 39 carreiras de Ensino Superior, disse que a demora no pagamento dos salários tira dos servidores a prerrogativa de se autodeterminar, violando sua própria liberdade.

Após as sustentações orais, o procurador-geral de Justiça, Fabiano Dallazen, leu parecer sustentando que não cabe adoção de entendimento geral para todos os pedidos de indenização, em razão da exigência de comprovação individual de cada dano.

No seu voto, o relator disse que não acredita que o governador do Estado atrase os salários por "sadismo" e disse que a demora nos pagamentos não gera dano automático.

- Atrasar ou parcelar vencimentos por si só não caracteriza dano moral - resumiu Lima da Rosa.

Citando decisões recentes do Tribunal Superior do Trabalho, o desembargador Rui Portanova divergiu do colega e foi taxativo ao caracterizar o prejuízo presumido.

- O atraso reiterado no pagamento do salário causa evidentes danos ao empregado e independe de comprovação. Configura ato ilícito patronal - reforçou.

Procurando construir um voto médio, o desembargador Tasso Delabary sugeriu a adoção de uma pirâmide salarial, com reconhecimento imediato aos servidores de salários mais baixos. Ao final, a tese do relator, de julgamentos individuais, venceu com 20 votos. Dois desembargadores se declararam impedidos e outros três mantiveram voto divergente.

FÁBIO SCHAFFNER


29 DE OUTUBRO DE 2019

CARPINEJAR

O vendedor de rosas

Não há maior golpe baixo do que vender rosas em restaurantes e bares de noite. Você está em seu primeiro encontro e o vendedor já fareja a sua culpa:

- Gostaria de dar uma rosa para ela?

Ele não disse "gostaria de comprar uma rosa?", mas "gostaria de dar uma rosa para ela?". A mensagem é para ela, não para você.

Não tem como dizer não, pois admitiria que não quer dar uma rosa para ela. Implicitamente, assumiria que ela não merece uma rosa. Seria uma grosseria.

É impossível recusar a oferta diante do silêncio de pétalas dos três se entreolhando por uma resposta.

Sim ou não? Bem-me-quer ou malmequer?

Dificilmente a conversa vai prosperar depois de sua avareza. Não existe como fazer propaganda de si se não é capaz de oferecer uma flor. A reputação murchará na hora. Não adianta descrever as suas façanhas no emprego e mostrar como é admirável e sensível com  os outros.

O canteiro de seus olhos estará seco e árido para a esperança das promessas a dois.

Se você perguntar o preço e achar caro, ela poderá concluir que não tem direito nem a R$ 15 de sua vida, que dirá à vida inteira. O vendedor de rosas é só espinho em sua fantasia de jantar e prazer.

Ele é a realidade testando as suas intenções. Não esperava por esse contratempo de verdade em relação tão recente. Ainda nem se beijaram, e se vê obrigado a adiantar parte do buquê do Dia dos Namorados. É uma precocidade que mexe com os ânimos masculinos.

Dar uma rosa é o ensaio da aliança para o homem. É se declarar encantado, enfeitiçado, apaixonado.

Caso você se encontre interessado apenas em sexo, o presente repentino aumentará a sua vergonha, denunciará a sua objetividade, complicará o desapego.

A vontade é de xingar o garçom e o dono do estabelecimento por terem deixado aquele simpático senhor de gravata borboleta entrar e se aproximar de sua mesa.

Poderá alegar que não tem troco. Mas o vendedor está preparado para todos os tipos de cafajeste e logo retirará uma máquina de cartão de seu bolso.

Sim! Você aceitará a rosa. Mesmo se fosse por R$ 50.

Não importa se está acompanhado de uma mulher que está conhecendo ou da filha ou da mãe ou da tia ou de uma amiga. É uma avaliação de sua decência, o bafômetro de sua dignidade. Sofre o risco de perder a carteira de habilitação de romântico.

Ninguém no mundo tem coragem de negar uma rosa. O vendedor sabe disso - aquele maravilhoso sacana.

CARPINEJAR

segunda-feira, 28 de outubro de 2019



Ave Maria do Peão…


Mano Lima - Ave Maria




Prece do gaúcho




28 DE OUTUBRO DE 2019
DAVID COIMBRA

Chile x Brasil - o fim de uma era

Há um tanto do Brasil de 2013 neste Chile de 2019. A ignição das revoltas foi a mesma: um pequeno aumento na tarifa do transporte coletivo. Mas isso é irrelevante. O relevante é entender que as economias dos dois países iam bem às vésperas das manifestações, o que tem seu significado.

No Brasil, três meses antes das chamadas Jornadas de Junho, Dilma usufruía dos maiores índices de popularidade jamais alcançados por um presidente na história do país. É verdade que alguns economistas já alertavam de que em breve a população pagaria a conta das irresponsabilidades de gestão do governo, mas ainda havia farta oferta de emprego e algum desenvolvimento.

Já no Chile de hoje, os índices econômicos são quase todos positivos, a ponto de os liberais brasileiros citarem-no como exemplo a ser imitado.

Dois modelos econômicos diferentes, que, na aparência, eram bem-sucedidos, mas que, na essência, não satisfaziam suas populações. Ou seja: governos contentes, povos descontentes.

No Brasil, se aquelas manifestações não chegaram a ser revolucionárias, representaram uma ruptura. No começo, tinham jeito de ser de esquerda. Os black blocs quebravam as vidraças dos bancos e incendiavam carros. No Rio Grande do Sul, governado por Tarso Genro, a polícia indiciou membros do PSTU e do PSOL por suspeita de "formação de milícia privada".

Mas aquela era só uma minúscula erupção que não mostrava o magma que efervescia camadas abaixo. Porque as Jornadas de Junho foram a escola da direita, no Brasil. Lembro-me de que estava cobrindo aquela gigantesca passeata do Rio de Janeiro, de 300 mil pessoas. Alguns petistas chegaram com suas bandeiras vermelhas. Os manifestantes investiram sobre eles, tiraram-lhes as bandeiras e as queimaram. Em volta, as pessoas gritavam:

- Sem partido! Sem partido! Uns petistas amigos meus foram às manifestações em Porto Alegre. Brinquei:

- Vocês estão prestigiando o movimento que vai derrubar o governo que vocês prestigiam.

Com as Jornadas de Junho, os conservadores brasileiros aprenderam a se mobilizar. As grandes manifestações que se seguiram foram todas protagonizadas por um setor da sociedade que não estava acostumado a sair às ruas, um setor que se organizava sem sindicatos, sem líderes, sem partido. E o governo, por fim, foi mesmo derrubado.

No Chile de 2019, parece haver idêntica explosão de descontentamento sem que tenha sido identificado um alvo preciso pelos descontentes. É o aumento do transporte coletivo, é a previdência, é a saúde, é "tudo o que está aí".

Em outros lugares do mundo houve agitações semelhantes. Na Espanha, no Haiti, em Hong Kong, no Líbano, no Equador, na Argentina? Não interessa se o país apresenta índices positivos ou negativos, as pessoas estão infelizes. Parafraseando aquele estrategista de Bill Clinton, "não é a economia, estúpido!"

Então, o que é?

É uma mudança profunda, que está acontecendo de dentro para fora e de baixo para cima. Uma mudança que está sendo tocada por um sentimento: o da liberdade. Porque a marca da liberdade é a angústia - a angústia de tomar as próprias decisões, de escolher o próprio destino. Fazer escolhas é duro e causa dor.

Esses povos que ora se rebelam são povos livres, de uma liberdade conquistada não pela política, mas pela mente. A internet, o telefone celular, a TV a cabo, as novas comunicações mostraram para as pessoas do mundo inteiro novas formas de viver, e elas estão irritadas, porque querem algo diferente. Os velhos métodos das nossas velhas lideranças estão mortos. O sistema está moribundo. A democracia terá de se renovar. "Sem partido!", exigiam os manifestantes de junho. As pessoas sabem o que querem jogar fora. Falta descobrir o que querem pôr no lugar.

DAVID COIMBRA