09
de julho de 2012 | N° 17125
ARTIGOS
- Paulo Brossard*
Da gabolice à realidade
No
fim de maio, faz pouco mais de mês, a senhora presidente da República declarou
que o Brasil estava preparadíssimo para enfrentar os efeitos da crise que se
repetia na Europa; assoalhou que, se em 2008 o Brasil fora o último país a nela
entrar, o primeiro a dela sair, agora estava em situação muito mais cômoda, 100%,
200%, 300% melhor; indo à Feira de Hannover, com uma parada no Porto para
nutrir-se com memorável bacalhoada, que atrasou sua chegada à Alemanha,
distribuiu conselhos aos governantes europeus. No entanto, a desindustrialização
de importante setor da indústria soou como severa advertência acerca da nossa
situação.
É claro
que o inusitado dessa declaração, partindo de uma chefe do Estado e do governo,
não poderia causar-me boa impressão, a começar de sua gratuidade e da óbvia
inconsequência. De mais a mais, jactar-se de uma superioridade sobre dados
estranhos a seu domínio, soa como mera jactância.
Outrossim, a assertiva
segundo a qual os efeitos da crise estancavam nas fronteiras brasileiras não
passava de vã pretensão. Basta lembrar, v.g., que o fato da China suspender a
importação do minério de ferro foi o suficiente para a queda do seu preço e uma
queda vertical nas exportações brasileiras.
Mais
ou menos coincidente com o fenômeno lúgubre da desindustrialização foi o
crescimento do PIB no segundo trimestre, em apenas 0,2%, comparado com o do último
trimestre do ano passado.
Evidentemente,
a proclamada inviolabilidade das nossas fronteiras lembrava a da Linha Maginot...
e os fatos se encarregaram de demonstrar. O Banco Central, nada menos que o
Banco Central, contestou frontalmente a versão presidencial.
Em
audiência pública, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o presidente
do Banco Central declarou que os sinais de desaceleração econômica “vêm de
todos os lados”, isto porque “longe de uma solução, a crise externa fará com
que os mercados financeiros operem voláteis e a economia global tenha ritmo
fraco em um período de até dois anos” e, para quem ainda duvidasse, aditou que
a economia global deveria seguir em ritmo aquém do previsto.
Suponho
que ninguém atribuirá malquerença a essa alta autoridade que, em lugar público
e perante uma comissão do Senado, fez as declarações ora reproduzidas, bem como
ninguém pode deixar de dar-lhes natural importância.
Não
ficou nisso. Além da advertência do presidente do Banco Central, o próprio
Banco Central, em exposição trimestral em que avalia as variações da economia
nacional, corrigiu de 3,5% para 2,5% sua projeção para o crescimento do PIB em 2012.
É de lembrar-se que quando se tornou conhecido o aumento do PIB no segundo
trimestre de 2012, em apenas 0,2%, o ministro da Fazenda entrou a delirar,
afiançando que seria tão grande o crescimento no terceiro trimestre que já estava
a assegurar um crescimento esplêndido de todo o ano em curso!
Desde
o fim do ano passado, o governo fez sete anúncios de pacotes na expectativa de
reverter a desaceleração da economia interna. O último, no final de junho, foi
recebido com ceticismo, diante de redução da produtividade da economia
brasileira. O Instituto Brasileiro de Economia da FGV prevê queda de 4,3% da
produção industrial, a maior em 32 meses, e a previsão de redução do PIB para 2%,
analistas já admitem chegar a 1,7%.
Não
me considero habilitado a opinar em matéria dessa delicadeza, mas me parece
claro que a situação não se apresenta como tranquila.
*JURISTA,
MINISTRO APOSENTADO DO STF
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