domingo, 31 de dezembro de 2023

31.dez.2023 às 7h00 - 

Marcia Castro - Professora de demografia e chefe do Departamento de Saúde Global e População da Escola de Saúde Pública de Harvard.

Em 2024, que cada um faça a sua parte

Ao invés de criticar o SUS, se mobilize, cobre direitos; lembre-se de como era o Brasil antes dele.

Assisti à série documental "Betinho: no Fio da Navalha". É uma linda obra que retrata um passado nem tão distante. Um passado de luta pela democracia, pela dignidade, pela vida. A série é muito mais do que uma produção artística; é uma aula de história e de civilidade, uma inspiração para gerações atuais e futuras. Gostaria de destacar um aspecto da série documental: a importância do SUS na regulação da doação de sangue e no acesso aos medicamentos para tratamento da Aids.

Antes do SUS, grande parte das doações de sangue nos bancos públicos era feita por familiares e amigos de pacientes internados em hospitais. Militares e policiais por vezes eram recrutados para evitar baixas no estoque de sangue. Nenhuma remuneração era feita para os doadores.

Já nos bancos privados era comum que os doadores fossem compensados financeiramente. Isso garantia a manutenção do estoque e acabava por atrair pobres e vulneráveis. Chico Buarque imortalizou essa distorção no processo de doação de sangue na música "Vai Trabalhar Vagabundo": "Ganha no banco de sangue / Pra mais um dia".

Além disso, a vigilância sanitária era extremamente precária e não havia fiscalização sistemática para a detecção de doenças no sangue doado. Era comum adquirir hepatite e sífilis, dentre outras doenças, via transfusão de sangue. Com a chegada da Aids a situação se tornou ainda mais crítica. Betinho, seus dois irmãos e outras tantas pessoas adquiriram essa doença via transfusões de sangue.

Com a Constituição de 1988 e a criação do SUS, a comercialização do sangue passou a ser proibida e todo o sangue doado passou a ser rigorosamente testado.

Além disso, a série documental mostra a dificuldade de acesso aos medicamentos para tratamento do HIV nos anos 80. Atualmente, o SUS disponibiliza tratamento a todas as pessoas vivendo com HIV ou Aids, além de profilaxia pós e pré-exposição, sem custo.

É importante entender como era a saúde no Brasil antes do SUS, e ao entender esse contexto lutar por esse sistema de saúde que é uma das maiores conquistas da sociedade. Um sistema do qual dependem 

A série documental mostra a importância da solidariedade e o esforço incansável de Betinho. Em um vídeo produzido em 2007, durante a campanha da ação da cidadania contra a fome e pela vida, Betinho conta uma história que representa a metáfora da solidariedade.

Durante um incêndio na floresta, animais corriam apavorados tentando se salvar. Um leão parou ao ver um beija-flor que pegava água no rio, jogava no fogo e voltava para o rio para pegar mais água. O leão perguntou ao beija-flor se ele achava que iria apagar o fogo sozinho. O beija-flor respondeu que sabia não ser capaz de apagar o fogo sozinho, mas que estava fazendo a sua parte.

E você, está fazendo a sua parte? Em 2023 o Brasil atingiu a posição de nona economia do mundo. Entretanto, ainda é um país com desigualdades marcantes, fome, carência de moradia digna, problemas de segurança, atividades extrativas ilegais na Amazônia, dentre outros desafios que persistem na sociedade há décadas.

Imagine o Brasil campeão em respeito aos direitos humanos e em solidariedade...

Ao invés de criticar o SUS, lembre-se do que era o Brasil antes dele, e entenda que o sistema funciona com cicatrizes abertas e purulentas, resultado de anos de subfinanciamento que o impedem de atuar de forma plena. Ao invés de criticar, se mobilize, cobre direitos, faça a sua parte, por mais que ache que não será suficiente.

Em 2024, que haja solidariedade, empatia, humanidade, respeito.

Por mais beija-flores e menos leões!



31.dez.2023 às 7h00
Giovana Madalosso - Escritora, roteirista e uma das idealizadoras do movimento Um Grande Dia para as Escritoras.

Me recuso a perder a esperança

Sentimento cigano, a esperança nunca vem para ficar; tudo o que podemos fazer é tentar segurá-la pelo maior tempo possível

Neste ano que vai embora, a esperança tentou ir embora junto. Ou será que fomos nós a afugentá-la? Já começou no 8 de janeiro, quando homens atacaram com paus e pedras a imberbe democracia. Lembro da hora em que minha esperança fugiu sem dizer se voltava: foi quando um deles mostrou a bunda enrolada em uma bandeira —como é feia a face glútea da ignorância.

Não sei bem quando a minha esperança reapareceu, mas me lembro de senti-la ao meu lado meses depois ao ver uma garota cruzar o Círculo Polar Ártico sozinha a bordo de uma embarcação de nome Sardinha. Se dois bíceps tão finos e um veleiro tão frágil podem enfrentar o mar revolto, quantas coisas uma população de 8 bilhões de pessoas não podem enfrentar juntas?

Pena que nem sempre 8 bilhões de pessoas estão juntas, como a guerra logo veio para lembrar. Um certo horror, que julgávamos enterrado, reapareceu na estrela de Davi pichada de forma antissemita numa porta, em bebês feitos de refém, em hospitais bombardeados, em 8.000 crianças palestinas mortas, em outras sendo amputadas sem anestesia, na fome sendo usada como arma de guerra, no mundo assistindo a isso calado. Sem falar nos outros conflitos.

Nem os donos das esperanças mais aguerridas foram capazes de mantê-las por esses meses. E a minha só deu as caras (para sumir logo depois) quando uma refém desta mesma guerra, recém liberta, virou para o seu algoz, apertou sua mão e disse: shalom.

"O punho uma vez foi uma mão aberta e dedos", escreveu o poeta Yehuda Amichai, conterrâneo desta mesma refém, uns anos antes.

"Para escrever um poema que não seja político / devo escutar os pássaros / mas para escutar os pássaros / é preciso que cesse o bombardeio", escreveu o palestino Marwan Marhoul. A poesia não salva a humanidade, não salva o leitor, não salva sequer o poeta, mas às vezes a sua beleza pode salvar o minuto. E é na trégua dos minutos que a esperança reaparece.

Sentimento cigano, a esperança nunca vem para ficar. Tudo o que podemos fazer é tentar segurá-la pelo maior tempo possível. Como a respiração de um mergulhador, o peito se expandindo, se exercitando para tirar o máximo do pouco que se tem.

Agora em novembro, quase perdi de vez a esperança ao acompanhar uma mesa de negociações que decidia a temperatura da Terra e, portanto, se será viável a vida neste calejado planeta.

Por alguns dias pensei que estávamos fritos, totalmente vendidos para os produtores de petróleo que sediavam o encontro e já começavam a redigir um acordo drástico, mas então uma criança invadiu com um cartaz a mesa da ONU e o representante de um país insular que poderá ser engolido pela água levantou a voz "não desceremos silenciosamente aos nossos túmulos aquosos!", e as negociações foram interrompidas para serem retomadas em melhores termos (ainda que bem longe dos ideais).

Quando tudo parece perdido, há sempre uma pessoa que aparece com um discurso, um aperto de mão, um poema, um cartaz, um veleiro, uma perspectiva, um grito, uma proposta, um aceno, uma escola de dança em uma terra devastada. Não sei se acredito na humanidade, mas ainda acredito nas pessoas.

Pode parecer inocência tentar manter alguma esperança (e é mesmo), mas qual o sentido de viver sem ela? Que nesta virada de ano esse sentimento duro de agarrar esteja com você.

sábado, 30 de dezembro de 2023


30 DE DEZEMBRO DE 2023
LEANDRO KARNAL 

Muita gente tenta. A pergunta percorre a história: como mudar o mundo? Os céticos apostam no imobilismo; os otimistas e românticos revolucionários falam de um mundo novo possível. Quem pode mudar o mundo? Como fazer isso?

Parece que as mídias sociais aumentaram nossa crença no abaixo-assinado. Que instrumento é esse? Um cabeçalho que identifica a primeira do plural (nós), uma causa explicitada e um conjunto expressivo de assinaturas: eis a fórmula.

Funciona? A história é boa para ser estudada, porque fornece qualquer argumento a qualquer convicção. Exemplo de sucesso? Para convencer o príncipe regente Pedro a ficar no Brasil e contrariar as ordens das Cortes de Lisboa, surgiu um abaixo-assinado. Frei Francisco de Sampaio redigiu e José Clemente Pereira entregou o documento. Oito mil assinaturas pediam que o Regente desobedecesse à ordem de retorno à Europa. Funcionou! O Dia do Fico, 9 de janeiro de 1822, surgiu de um abaixo-assinado.

Foi mesmo? A elite brasileira, os grandes senhores de terras e de escravizados, a maçonaria, uma parte importante do clero e muitas camadas urbanas desejavam a permanência de D. Pedro. O documento foi apenas um arabesco para uma decisão já tomada?

Resta algo a debater: o abaixo-assinado funciona, mas seria desnecessário? O simbolismo de 8 mil assinaturas seria apenas um teatro para um fato já decidido? Se houvesse um documento concorrente ao histórico, com 12 mil assinaturas pedindo que D. Pedro partisse, ele teria optado pelo numericamente mais forte?

A internet está cheia de abaixo-assinados. Tenho experiência que nem sempre são entregues. Reúnem dezenas de milhares e até milhões de assinaturas, sobre uma causa, divulgada em grupos específicos. Os amigos, irmanados nela, questionam: você já assinou?

Sentado no meu sofá, recebo a mensagem sobre um drama real que me comove. Vejo que há nomes de peso (fulano já assinou!) e coloco minha identidade a serviço daquilo em que acredito. Relaxo. Fiz parte da mudança. O mundo está melhor ou, ao menos, aquele do abaixo-assinado. O silêncio seria abominável, a omissão, criminosa! 

Minha consciência pede pela Amazônia, pela mudança na lei ignominiosa ou pelo fim da violência policial em tal lugar. Causa boa, nomes famosos, documento elaborado: tudo foi feito. E agora? O mundo mudará? A resposta é sempre complexa. Digam ao povo que fico, com esperança, para o bem de todos e felicidade geral da nação.

LEANDRO KARNAL

30 DE DEZEMBRO DE 2023
cARPINEJAR

O recomeço do amor a cada ano 

Se você pedir para Beatriz contar como me conheceu e depois pedir para mim, numa acareação em salas separadas, achará que não se trata do encontro do mesmo casal. Serão narrativas absolutamente diferentes, com detalhes pessoais e apanhados particulares do enlace. Ela poderá me contradizer, eu poderei contrariá-la, mesmo partindo de um evento comum a ambos.

Entendemos a realidade de um jeito emocional, subjetivo. Eu vou alegar que ela já estava a fim de mim e tomou a iniciativa, ela dirá que eu insisti e não larguei do seu pé. Quem está com a razão? Os dois!

Quando o par conta como se conheceu em versões distintas, significa que se respeita. Não ocorreu sufocamento de uma personalidade, de uma identidade, para que sobressaísse um olhar dominante. A convivência não é de cima para baixo, não há mandachuva, prevalecem a democracia e a diversidade.

Um agouro fúnebre de relacionamento unilateral e dependente é quando a lembrança é igual. Alguém se apagou na convivência. Alguém se anulou. Alguém não discorda mais. Alguém silenciou suas percepções. Existe quem compreenda o companheiro ou a companheira como parte do seu desejo, sem vontade própria, caminhando a passos firmes para o precipício da simbiose.

Forma-se uma só entidade, em detrimento da autonomia. Você vive a vida de quem está ao seu lado, para quem está ao seu lado, e se esquece perigosamente de seus projetos e sonhos. Passa a se desculpar pelo outro, a discutir pelo outro, a amar pelo outro, a falar ou se calar pelo outro. Com o tempo, não sabe mais quem se tornou.

Dividir a rotina não é planificar a memória. Não dá para adulterar o passado em benefício de um dos dois. Se o retrato falado do início do amor revela o quanto as pessoas preservam suas individualidades, a saúde do romance depende de jamais deixar de enxergar o seu marido ou a sua esposa como namorado ou namorada.

Evite pensar que o casamento é para a existência inteira. Ame dia a dia, numa decisão sempre renovada. A imortalidade nos adoece. Tudo fica sério demais, grave demais, imperdoável demais no matrimônio se colocamos a posteridade como régua. Somos esmagados pelas expectativas absurdas e longevas.

Raciocinar que estará com a pessoa por toda a vida não acalma nem garante estabilidade e segurança. Pelo contrário, produz angústia e ansiedade, fazendo com que exija mais do que a sua companhia é capaz de oferecer no momento. Você pesa os acontecimentos com o futuro, não com o presente.

Namorados são mais atentos e mais leves do que os casados, pois a sua previsão de relação é diária. Estão sempre saindo pela primeira vez. A primeira vez nunca termina de acontecer. É realmente um ano novo para o amor a cada ano que começa.

CARPINEJAR

30 DE DEZEMBRO DE 2023
FLÁVIO TAVARES

ANO NOVO, VIDA NOVA? 

O novo ano está aí, renovando esperanças ou relembrando o que deu certo. Mas, em alguns aspectos, 2024 não está por iniciar-se, pois 2023 ainda não terminou. Continuamos a reter na retina e na memória aquele 8 de janeiro quando turbas enfurecidas, vindas de diferentes Estados, atacaram as sedes dos três poderes em Brasília, destruindo o que encontravam.

Buscavam criar o caos para um golpe de Estado, desconhecendo o pleito que elegeu Lula da Silva.

Até então, só sucedera algo similar nos Estados Unidos, quando partidários do derrotado Donald Trump invadiram o Capitólio. Inauguramos a versão brasileira num episódio sórdido em que não aparecem os financiadores do terror.

A marca indelével, porém, respingou no cotidiano. Cada vez mais a política transforma-se em sordidez. A perversão chega ao modo de vida. Nas trocas comerciais, já não sabemos se o que nos oferecem corresponde ao que nos dizem que é.

Na política, esbanja-se o dinheiro público, como quando Lula da Silva e a esposa Janja gastam R$ 114 mil na compra de um tapete para o Palácio da Alvorada, onde residem. Mais ainda - compraram um sofá por R$ 65 mil para os fins de semana na Granja do Torto. O vice-presidente Geraldo Alckmin gastou R$ 156 mil para mudar o piso do dormitório do Palácio Buriti, onde mora.

Mas não há verba para prevenção da saúde, mesmo que a OMS aponte o Brasil como o país com maior incidência da dengue no mundo. A covid-19 reapareceu em nova cepa e matou no Ceará, mas não há sequer prevenção.

É inegável que demos um passo à frente elegendo Lula. Já não "passamos a boiada" como antes, quando o então presidente da República chegou a inventar que a vacina contra a covid "provocava aids".

Nem o passo à frente leva a desconhecer as invencionices e bravatas. Como o fez Lula na Cúpula do Clima, em Dubai, ao prometer que seu governo "tudo faria" para frear o aquecimento global que ameaça a vida no planeta. Logo o Brasil quis filiar-se à Organização dos Países Produtores de Petróleo, que é o grande poluidor. Mais ainda - a Petrobras vai explorar a área meridional do Rio Amazonas, contrariando até a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

Estaremos em novo ano com vida nova?

FLÁVIO TAVARES

30 DE DEZEMBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

LIÇÕES DE 2023 

O ano que se despede deixa lições importantes para os brasileiros superarem mazelas históricas e encaminharem o país para um futuro melhor. Foi um período de turbulências políticas e sociais, como tantos outros que o Brasil já vivenciou ao longo de sua existência, mas chega ao final com um saldo promissor: a democracia consolida-se depois de passar por sobressaltos, a economia se beneficia de reformas há muito desejadas e até a polarização política abre brechas para o diálogo. Mas são ainda conquistas frágeis, que necessitam de permanente vigilância da sociedade para não se diluírem em novos retrocessos.

Nesse contexto, o que passou não deve ser considerado apenas passado, para que haja efetivo aprendizado. Com esse propósito, concentramos nesta breve retrospectiva os três principais temas que afetaram a vida dos brasileiros e dos gaúchos nos últimos 12 meses: instabilidade política, mudanças climáticas e reformas econômicas.

Não há como repassar 2023 sem começar pelo ataque à democracia caracterizado pela invasão e pelo vandalismo às sedes dos três poderes da República, em Brasília, no dia 8 de janeiro. Resultado direto da polarização política e do inconformismo do segmento derrotado na eleição presidencial, a tentativa de golpe provocou imediata reação dos brasileiros fiéis à Constituição e ao ordenamento democrático. Em consequência, as instituições reagiram, a ordem foi restabelecida, os golpistas foram contidos e estão respondendo à Justiça pelo delito. A lição daquele episódio é clara e insofismável: a democracia até saiu fortalecida, mas precisa de constante vigilância.

Também o clima precisa de monitoramento permanente, como se viu no decorrer do período que finda. Secas, enchentes, ciclones e temperaturas difíceis de suportar afetaram a vida de milhões de brasileiros nos últimos meses, castigando especialmente o Rio Grande do Sul, que passou de uma estiagem severa no primeiro trimestre para enchentes sem precedentes no mês de setembro, atingindo cidades inteiras no Vale do Taquari. Tudo isso entremeado por ciclones devastadores. O ano mais quente do planeta nos últimos 125 anos deixou lições que já deveriam ter sido aprendidas: sem cuidados ambientais pelos cidadãos e medidas preventivas pelos governantes, as perdas econômicas e de vidas se tornarão cada vez mais frequentes.

Na economia há avanços inegáveis, mas o país ainda não alcançou suficiente segurança jurídica que o proteja de recaídas populistas e de tentativas inoportunas de interferência nas leis do mercado. Ao mesmo tempo que reconhecem como meritória a aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária, o setor produtivo e a sociedade em geral veem com desencanto a inapetência governamental para o controle das contas públicas e a consequente obsessão pelo aumento da arrecadação. 

Tanto que, nos estertores do ano, o Executivo volta a cogitar medida provisória para reverter a manutenção da desoneração da folha de pagamento dos setores empresariais que mais empregam. A lição do bom senso, ao que parece, ainda não foi totalmente assimilada.

OPINIÃO DA RBS

30 DE DEZEMBRO DE 2023
EDUCAÇÃO

O sonho da universidade mais próximo 

Quando Isabela Danzmann, 18 anos, recebeu a reportagem de GZH em sua casa, em Cachoeirinha, ainda não tinha se formado no Ensino Médio, o que aconteceria no dia 23 de dezembro. Já havia recebido, porém, a melhor notícia do ano: conseguiu uma vaga em Fonoaudiologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ainda havia temores sobre a aprovação ou não da sua documentação, mas a jovem resolveu deixar o destino fazer a sua parte e comemorar sua conquista.

- Eu faço o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) desde o 1º ano e, desde o 9º ano do Fundamental, já fazia alguns vestibulares. Foram muitos anos me preparando. Sempre foi um sonho. Desde pequenininha, eu lembro de pesquisar a cor da toga de cada curso - recorda a caloura.

Aluna da Escola Estadual Presidente Kennedy, em Cachoeirinha, Isabela contou a novidade da aprovação, em seu Instagram, em um post com a seguinte frase: "O maior ato de rebeldia de um aluno de escola pública é estar dentro de uma universidade".

- Por eu ser filha única e os meus pais não terem conseguido se formar na faculdade, eles sempre tiveram muito essa preocupação. Comecei cedo a fazer o Enem até para ir trabalhando essa ansiedade - conta.

Terapia

A estudante conta também com o suporte da terapia com uma psicóloga para lidar com esse momento. Independentemente do que acontecer, ela está animada: se não der para ingressar na UFRGS, vai trabalhar ou tentar algum tipo de bolsa em uma instituição privada. Só não vai desistir do sonho.



30 DE DEZEMBRO DE 2023
MERCADO DE TRABALHO

Carreiras de TI e ESG estarão em alta em 2024

Profissões ligadas a Tecnologia da Informação (TI) devem permanecer em alta em 2024, área que cresceu nos últimos anos e precisa de trabalhadores qualificados. Um dos motivos para a alta demanda é a ascensão do uso de Inteligência Artificial (IA) nas empresas e a necessidade de profissionais capacitados para lidar com essas ferramentas, bem como a questão da segurança dos dados, conforme especialistas ouvidos por ZH.

Segundo a consultora Thaline da Cunha Moreira, do PUCRS Carreiras, também haverá aumento na busca por profissionais focados em carreira e desenvolvimento profissional, tendo em vista a transformação em diversas áreas e a necessidade de adaptação:

- Pensando na transição, como a implementação de novas tecnologias e a necessidade de adequação de algumas profissões, os profissionais de carreira serão cada vez mais importantes. O mercado vai exigir que os trabalhadores desenvolvam novas habilidades e competências, e esses profissionais terão importante papel nesse processo.

"Aquecimento"

A diretora regional da Robert Half, Flávia Alencastro, destaca que saímos de um cenário de "superaquecimento" para um de "aquecimento" da área de TI:

- Mirando no futuro do mercado, as empresas seguem investindo em tecnologia. Agora, por mais que o cenário tenha dado uma equilibrada, não há dúvidas de que a área continua aquecida e permanecerá assim por um tempo.

A 16ª edição do Guia Salarial da Robert Half, divulgada em novembro, traz cargos em alta nas áreas de atuação da consultoria. No RS, além da TI, as áreas de maior relevância no próximo ano serão Engenharia, Finanças e Contabilidade e Vendas e Marketing.

Dentro da Engenharia, por exemplo, profissionais voltados para questões de ESG (governança ambiental, social e corporativa) são considerados promissores. Segundo o guia, gerente de Supply Chain, gerente de projetos, gerente de produção e especialista de ESG serão as funções com maior procura de trabalhadores no segmento.

- A demanda por colaboradores focados em ESG existe e ainda não é equilibrada, especialmente nas grandes empresas. O maior desafio está na junção de três cargos em um único. O que antes era um profissional de meio ambiente, um profissional da parte social e um profissional de governança agora forma o profissional de ESG, por isso é tão desafiador - explica Flávia.

A professora Karen Louise Mascarenhas, do Programa de Pós-Graduação em Administração da FGV, ressalta a relevância da sustentabilidade no mercado de trabalho. Para ela, 2024 será o ano de virada, com crescimento da área.

- Em 2023, as pessoas perceberam que a questão das mudanças climáticas é real, tivemos vários eventos extremos em diversas partes do mundo que mostraram isso. Com isso, todas as profissões voltadas para sustentabilidade, tanto para a mitigação desses problemas quanto à comunicação e divulgação disso, tornam-se cada vez mais importantes - destaca.

O relatório Futuro do Trabalho 2023, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial com o apoio da Fundação Dom Cabral, aponta essa tendência. Ao todo, 23% das ocupações devem se modificar até 2027. O estudo demonstra ainda que a adoção de novas tecnologias e a implementação de práticas ESG vão transformar o mercado de trabalho nos próximos anos.

SOFIA LUNGUI

30 DE DEZEMBRO DE 2023
+ ECONOMIA

As muitas surpresas de 2023 que marcaram a economia 

2023 foi o ano em que os economistas erraram quase tudo. Mas as surpresas foram muito além de equívocos e, infelizmente, nem todas positivas. No Rio Grande do Sul, a violência das tempestades e de seus efeitos foi inesperada até para quem acompanha com atenção as consequências das mudanças climáticas. A coluna lista episódios mais inesperados, mas algum importante vai faltar, já que foram tantos.

A maior de todas

O desempenho do PIB surpreendeu em todos os trimestres. E a estimativa para 2023, que havia começado com 0,78%, saltou para 2,92%. No ano em que o juro real (descontada a inflação) esteve no topo histórico, havia expectativa de fraca atividade econômica. Como sempre lembra o Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic está em "nível contracionista", ou seja, deveria forçar a desaceleração. Ocorreu o oposto, porque a agropecuária tem taxas subsidiadas e financiamento público.

Ministro resiliente

Quando ficou claro que Fernando Haddad seria ministro da Fazenda, o mercado fez muxoxo. Com um discurso diferente da chamada "ala política" do governo, ganhou respeito e confiança. O economista Roberto Luis Troster, que se define como liberal, repetiu o que a coluna ouviu de um operador de mercado: o atual ministro é melhor do que seu antecessor, Paulo Guedes. Também se soube que Haddad chegou a pensar que não emplacaria 2024 na cadeira. A foto acima ajuda a entender.

Dragão anestesiado

O último IPCA-15 do ano veio acima das expectativas. Mas ainda com a perspectiva de que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não precise escrever a carta aberta em que explica porque a meta estourou, como fez em 2021 e 2022. Há suspense, porque fechou em 4,72% - uma "folga" de 0,03 ponto percentual. Se o IPCA cheio, que será conhecido só em 2024, passar do teto de 4,75%, vai ter carta.

As trocas na Petrobras

Não houve apenas troca de gestão, também mudança na política de preços e de distribuição de dividendos, ambas recebidas com certa boa vontade no mercado. As ações da companhia acumularam alta de 62,48% em 2023. Isso, mesmo com ruídos gerados pela flexibilização dos critérios de governança, que gerou suspeitas de retomada da interferência política.

Brasil na Opep

Houve outros convites, mas o governo Lula aceitou aderir à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). E foi às vésperas da COP28, o que deu ao país o "antiprêmio" Fóssil do Dia na cúpula do clima em decorrência da antifaçanha. A formalização deve ocorrer em janeiro de 2024, segundo o governo como "observador", situação dos países não submetidos à obediência das cotas de produção impostas pelo cartel dominados pelos árabes.

Mistério do emprego

No último dia útil de 2023, saiu o dado que quase superou o PIB em surpresa: o desemprego caiu para 7,5% em novembro.Redução de desemprego e queda de inflação não costumam ocorrer ao mesmo tempo. Os mais intelectualmente honestos admitem: "Ninguém esperava isso, ninguém sabe explicar", disse à coluna o ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida.

Reforma tributária

Foram quase 40 anos de espera, mas uma parte foi aprovada. O resultado da mudança nos impostos sobre o consumo não é o ideal, mas projeta economia de R$ 28 bilhões. E o presidente tem ao menos meia reforma no currículo. Ainda deve a segunda metade, prevista para 2024.

Recordes na bolsa

A bolsa de valores no Brasil teve alta acumulada de 22,28%, a maior desde 2019. Ajudaram a baixa do juro (que começou em 13,75% e terminou em 11,75%), a reforma tributária, a melhora de avaliação sobre o ministro da Economia e, sobretudo, a perspectiva de outro ciclo de baixa, nos EUA.

Violência climática

Apesar dos reiterados alertas dos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), terríveis consequências vieram antes do esperado. No Rio Grande do Sul, tempestades foram fatais. Como disse em entrevista à coluna o australiano John Nairn, consultor sênior da Organização Meteorológica Mundial (OMM), se as mudanças se aceleram, é preciso apressar as respostas.

Petróleo na costa do RS

A jornalista que assina esta coluna antecipou informações sobre interesse crescente na exploração da Bacia de Pelotas e, ainda assim, surpreendeu-se. É que se imaginava um número inédito de blocos arrematados (mas não tão grande) e empresas interessadas (mas não tão grandes). É um tanto espantoso que isso ocorra justo quando o planeta está comprometido com a transição energética. Mas tudo indica que, sim, desta vez haverá exploração "séria", para a qual é preciso adotar os devidos cuidados ambientais.

MARTA SFREDO

30 DE DEZEMBRO DE 2023
MARCELO RECH

A grande volta 

Concluí há algumas semanas um antigo plano: fazer o contorno do Rio Grande do Sul sobre duas rodas. Batizei-o de A Grande Volta do Rio Grande. Após percorrer 2,5 mil quilômetros, dos quais um terço em estradas de chão, e de muitas reflexões com o capacete, pude chegar a algumas conclusões:

- O Rio Grande do Sul é enorme - maior do que o Reino Unido e sete vezes a Holanda. Meio óbvio, por certo, mas geralmente só vamos de um ponto a outro. Ao se dar a volta no Estado, contempla-se a real extensão do Rio Grande do Sul e sua incrível diversidade. Tenho a impressão de que se poderia viajar todos os dias por décadas e não se conheceria todas as maravilhosas estradinhas gaúchas.

- O Rio Grande do Sul é tremendamente subaproveitado para o turismo. É preciso conhecer para proteger. Só aquilo que valorizamos tem defesa permanente. A Serra e o Litoral estão bem consolidados e merecem a fama e os recursos do turismo. Mas há um potencial extraordinário em outras regiões. Para ficar só nos contornos, o interior de Caçapava do Sul, o Pampa e as margens do Rio Uruguai, além dos extraordinários Campos de Cima da Serra, são algumas das áreas que deveriam atrair mais atenção. Já o miolo do Estado teria uma lista telefônica de outras atrações.

- Na maioria das regiões acima, pode-se fugir das muvucas turísticas e mergulhar no Rio Grande mais profundo, com boas opções de hospedagem e gastronômicas. Mas há muito por que avançar. O Parque Estadual do Turvo, por exemplo, que foi corretamente concedido à iniciativa privada, só abre de quinta a domingo. Como atrair turistas de passagem pelo noroeste do Estado com tal restrição? Quem vem ao Rio Grande também espera encontrar costumes gaúchos - e não música sertaneja estourando nos alto-falantes de restaurantes ou só pizzarias em cidades menores.

- Se seus interesses primeiros forem história e cultura, Porto Alegre, Santa Maria, Pelotas, Caxias, Rio Grande e outras cidades dão conta do recado. Mas me arrisco a dizer que a natureza gaúcha, do que resta da Mata Atlântica às lagoas e à vastidão do Pampa e do Litoral Sul, são o que o Rio Grande tem de mais diferenciado. Proteger e valorizar o ambiente no Rio Grande do Sul é um patrimônio insubstituível.

- Você não pode querer conhecer o Rio Grande e ficar com o carro limpo. Grande parte desse território mais diverso só é alcançável em estradas de chão. Há lugares, como o antigo Forte do Caty, no interior de Livramento, quase inacessíveis e fechados ao turismo. Fosse na Escócia, haveria ônibus de excursão na porta e atores reencenando as histórias de degolas no local. Por enquanto, até o Google Maps se atrapalha em indicar o caminho para lá.

MARCELO RECH

Um brinde à infelicidade 

Você leu certo: nesta virada de ano, eu não vou desejar que você seja feliz - pelo menos não no sentido opressivo do termo, que nos obriga a ser quem não somos.

Eu sei que parece meio ridículo escrever algo assim, mas já reparou como o conceito de felicidade permanente - inventado no século 18 e elevado ao nível da obsessão na era pós-moderna - tem essa conotação?

Já não basta viver momentos alegres e ser uma pessoa de bom astral: você precisa mostrar ao mundo o quanto é feliz o tempo todo. É preciso ser realizado(a), autossuficiente e bem-sucedido(a). É importante sorrir e estar com a pele boa (ou usar um bom filtro nas redes sociais).

E, claro, é fundamental fazer o que os outros esperam que você faça. Sempre "os outros". Até quando vamos viver para agradar os outros? Tem gente que passa a vida agindo dessa forma, sem nunca criar coragem para romper as correntes.

Não é à toa que a "obrigação de ser feliz" (e de gritar isso no megafone) virou tema de livros e debates mundo afora. Em A Euforia Perpétua, o filósofo francês Pascal Bruckner mostra como o culto à felicidade eterna condenou os ocidentais a serem eufóricos o tempo todo. E sabe qual é a consequência imediata disso? A frustração perpétua. A infelicidade, ironicamente.

Antes do século 18, com o despontar dos ideais iluministas e a certeza de que o homem (naquela época, as mulheres eram invisíveis) tudo podia, havia até um certo orgulho na melancolia. Demonstrar felicidade demais, em certos lugares, era quase uma afronta divina.

Duvida? Pois então leia História da Felicidade, de Peter Stearns, professor da George Mason University, nos Estados Unidos. O conceito mudou por volta dos anos de 1.700, inclusive com uma citação na declaração de independência norte-americana e na Constituição francesa de 1793. A felicidade passava a ser um direito. Daí para virar obrigação foi um pulo.

A partir de então, surgiu a ideia de que era legal sorrir e esperar sorrisos em retribuição. Como escreve Stearns, "as boas maneiras começaram a ser redefinidas no sentido de enfatizar o positivo".

Até nos romances literários as "mocinhas" eram descritas com "sorrisos encantadores e doces" e passou a haver pressão por "finais felizes". Também foi nessa época, segundo Stearns, que passaram a ganhar terreno novos dentistas, com técnicas para deixar as arcadas dentárias mais bonitas. Eram os novos tempos chegando.

Depois disso, você já sabe: tudo acabou contribuindo para disseminar e amplificar o ideal da felicidade permanente.

Hoje, talvez sejam as redes sociais os principais vetores disso, com seu exército de influenciadores digitais e as fotos de comerciais de TV que nós mesmos insistimos em postar, afinal, fazemos parte do "esquema". Queremos ser bem vistos.

É por isso que, nesta virada de ano, não desejo felicidade. O que almejo é autenticidade e coragem para quebrar padrões e fazer o que realmente se quer. Mais olho no olho e menos telas, mais vida real e menos redes sociais. Que tenhamos os amigos e os familiares por perto, fisicamente, não apenas em trocas de mensagens. Que sejamos nós mesmos, sem tanta cobrança e pressão, sem querer agradar ninguém.

Ou melhor, que queiramos, sim, contentar alguém: nós mesmos, ainda que isso signifique dizer "não" e perder seguidores no Instagram, no TikTok ou seja lá onde for.

Façamos, pois, um brinde à "infelicidade"!

INFORME ESPECIAL 

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023



29 DE DEZEMBRO DE 2023
CARPINEJAR

Lanche "feliz"

Ao sair do cinema no Bourbon Shopping Country, vi uma mãe de mãos dadas com o seu filho. Era o campo de visão à minha frente. Desci a escada rolante, atravessei o hall principal, sempre com os dois na minha mira emocional. A princípio, tinham ido assistir a um filme da preferência do menino. Ela perguntava se ele havia gostado do passeio, da pipoca, se estava se divertindo. Inclinava o rosto gentilmente na sua direção. O menino nada respondia.

Quando chegaram perto da faixa de pedestres, a criança se desvencilhou da proteção materna e partiu em disparada até o outro lado da calçada. A mãe entrou em pânico. A sorte é que a cidade está morta neste período entre Natal e Ano-Novo. Nenhum carro passava.

Ela apanhou o braço do filho e o repreendeu em bom tom: - Isso não é mais filme, é realidade. Deve se comportar!

Para quê? A partir dessa convocação para o cotidiano, da seriedade instalada, o menino enlouqueceu. Eu fiquei com pena. Eu fiquei escandalizado com o que testemunhei. Percebi que estamos errando com a educação dos nossos filhos por medo da autoridade, por receio de disciplinar, por culpa de trabalhar tanto, por ressaibo de não sermos amados. Compensamos a ausência constante com presentes e licenciosidade.

O menino chutou o traseiro da sua mãe. Uma vez, duas vezes, três vezes. Chutava as pernas de sua mãe em público. Foi a resposta que deu à primeira censura. Ele se agigantou em desobediência. Certamente não está acostumado a ser negado, não aceita mais nenhum "não", esnoba os limites, rivaliza com o perigo.

A mãe, desesperada, tentou contê-lo oferecendo um abraço. "Que ideia é essa de dar um abraço depois de pontapés?", eu pensei. É como abençoar a violência.

Se não funcionam palavras confortantes, o que sobrará a gestos carinhosos? Ele não apresentava nenhum distúrbio, nenhum problema aparente, era tão somente malcriado.

No momento em que a ordem desanda na família e a hierarquia desaparece, nada mais pode ser feito, o escândalo é frequente. O filho não diferenciará a casa da rua, o público do privado. A truculência emergirá em qualquer ambiente.

Ela chamou o filho para um canto, e ele estapeava a mãe gritando: - Ninguém manda em mim! e um menino de oito, nove anos agride sua mãe, o que acontecerá quando ele for adulto?

Nem a sagrada mãe é respeitada. Eu não poderia chamar a polícia ou acionar a Maria da Penha, tratava-se de um piá endiabrado. Logo ele seria calado com um hambúrguer e batatas fritas em uma lanchonete do Shopping Iguatemi. Eu não acreditei!

Em vez de aplicar castigo, a mãe realizava os desejos dele para que se comportasse no resto do tempo. Assim incentivava o surto, justificava a desordem, cedia a chantagens, mostrava quem mandava ali, transmitindo a mensagem de que, toda vez que ele bater nela, receberá um lanche "feliz".

Costumamos nos preocupar: que mundo deixaremos para os filhos? Talvez seja a hora de inverter a pergunta: que filhos deixaremos para o mundo?

CARPINEJAR

29 DE DEZEMBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

CRIANÇAS MAIS PROTEGIDAS

Merece ser saudada a informação de que o Brasil começa a reverter a tendência de queda nos índices vacinais observada nos últimos anos. A mais recente notícia vinda do Ministério da Saúde aponta que, de nove imunizantes recomendados para crianças de um ano, em oito observou-se aumento da cobertura entre janeiro e outubro em comparação com o ano passado inteiro. O Rio Grande do Sul segue essa tendência, mostram os dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES).

No país, avançou a vacinação contra enfermidades como hepatite A, poliomielite, coqueluche, sarampo, caxumba, rubéola e as doenças pneumocócica e meningocócica. A exceção foi a proteção contra a catapora.

O fato, sem dúvida, é positivo. Até porque foi uma evolução notada em todo o território nacional. Mas isso não significa que seja uma batalha vencida. Ainda é necessário ampliar os índices. Afinal, mesmo com a melhora da cobertura, as metas - alcançar entre 90% e 95% do público-alvo - não foram atingidas. O melhor resultado foi o da tríplice viral de 1ª dose (85,6%).

No caso do Estado, conforme as estatísticas da SES, também até outubro, foram verificados melhores índices em todas as vacinas recomendadas para os pequenos de um ano. Para os bebês com menos de um ano, seis dos oito imunizantes indicados apresentaram maior procura.

Especialistas e autoridades da área da saúde apontam uma série de razões para a queda notada desde meados da década passada na cobertura das vacinas infantis recomendadas. Entre elas, a percepção equivocada de pais de que não seria preciso imunizar os filhos pelo desaparecimento de doenças, o desconhecimento de quais doses integram o calendário nacional e até falta de tempo para levar as crianças aos pontos de aplicação. Mais recentemente, com a pandemia, o movimento global antivacina, com braços no Brasil, fez o desserviço de semear dúvidas sobre a segurança e a efetividade dos fármacos, elevando a hesitação vacinal.

O resultado nefasto dessa soma de fatores é a possibilidade da volta de doenças como a poliomielite, erradicada no país desde 1989. O risco do retorno é hoje considerado alto. Foi o que já ocorreu com o sarampo. O Brasil recebeu certificado internacional de eliminação da enfermidade em 2016, mas dois anos depois o vírus voltou a circular no país.

Um ponto de significativa relevância, neste tema, é o da comunicação. Felizmente, não há mais dubiedade nas mensagens passadas pelo Ministério da Saúde. Pelo contrário, existe um esforço para ressaltar a importância da vacinação e de fortalecer o Programa Nacional de Imunizações (PNI), iniciativa que em 2023 completou 50 anos e é considerada referência mundial. Ações efetivas e informações corretas levadas à população devem fazer o Brasil melhorar ainda mais seus índices no futuro próximo.

OPINIÃO DA RBS

29 DE DEZEMBRO DE 2023
EDITORIAL

EDITORIAL

Após nos encontrarmos por 51 vezes neste ano, em todas as sextas-feiras, chegamos na última edição de 2023. Como é bom olhar para trás e ver tudo o que foi feito e vivido, né? Sem dúvida, a gastronomia foi uma parceira e tanto, ainda mais nos momentos alegres, divertidos e ao lado de quem amamos.

Seguindo tradições, que é o que mais fazemos em dezembro, fomos cheios de vontade testar novas receitas de Ano-Novo no Studio Destemperados, nosso espaço físico de produção de conteúdo, localizado no BarraShoppingSul, em Porto Alegre. Preparamos pratos com aqueles ingredientes que compõem a lista de compras da virada: lentilha, para dar sorte, cuscuz, chocolate, para uma boa sobremesa, especiarias, como amêndoas, uva-passa e temperos variados.

O resultado da nossa aventura com as panelas você confere nas próximas páginas. Garanto que todos os pratos são bem fáceis de fazer e vão ajudar quem procura praticidade, sem abrir mão do sabor, na ceia de Réveillon.

E em clima de retrospectiva, aproveitamos a última edição do ano para listar as experiências gastronômicas mais curtidas por vocês no nosso Instagram (aproveita e segue a gente no @destemperados). Semanalmente, publicamos por lá as mesmas resenhas de restaurantes compartilhadas por aqui, mas em formato de vídeo. O conteúdo é sempre muito positivo, e o retorno de vocês nos empolga bastante. O mais legal é perceber a variedade de lugares visitados durante um ano inteiro.

Que 2024 chegue com saúde, amor, paz e ainda mais histórias em volta da mesa.

CAPITAL MUNDIAL DO CHURRASCO

No último episódio, Diogo Carvalho e Lela Zaniol receberam um especialista quando o assunto é churrasco. Antônio Costaguta, mais conhecido como El Topador, participou do Foodcast #116 e compartilhou um pouco sobre a sua paixão pelo assado. Nascido na fronteira entre Brasil e Uruguai, ele fez da tradição o seu negócio e a sua missão de vida. Para completar, o trio também comentou sobre os motivos que tornaram Porto Alegre a Capital Mundial do Churrasco.

ACOMPANHAMENTOS DO CHURRASCO

Toda hora é hora de comer um baita churrasco. Mas, para não ficar só na carne, é sempre bom pensar no acompanhamento. Já que a maionese e a farofa são unanimidade, Lela Zaniol, nossa cozinheira de mão cheia, e Diogo Carvalho, que sempre se arrisca nas panelas, deram dicas de preparos que combinam muito bem com o assado durante o quadro Gigantes do Churras, no Que Papo É Esse?, da RBS TV. No último episódio, que vai ao ar neste sábado, a dupla fará uma baguete recheada com linguiça e queijo. Esse já pode ser o preparo principal do teu churras sem deixar ninguém com fome. A receita completa está no nosso site.

NO LITORAL, GIGANTES DO CHURRAS E ESPUMANTES

No último final de semana de 2023, na 102.3, vamos dar dicas infalíveis de lugares para quem estiver pelo Litoral Norte. Tem indicação de restaurante em Torres, em Atlântida e em Capão da Canoa. Se você está responsável pelo churrasco de fim de ano, compartilhamos uma receita de acompanhamento para fugir do convencional. Por fim, selecionamos algumas sugestões de espumantes para brindar o novo ano.


29 DE DEZEMBRO DE 2023
MERCADO DE TRABALHO

Estado tem saldo de 11,8 mil vagas formais em novembro

O Rio Grande do Sul fechou o penúltimo mês do ano com mais contratações do que demissões. O Estado criou 11.799 vagas com carteira assinada em novembro, engatando o quarto mês positivo no mercado de trabalho formal. Os dados são do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

O RS teve o terceiro melhor saldo entre os Estados em novembro, ficando atrás apenas de São Paulo (+47.273) e Rio de Janeiro (+23.514). No país, foram criados 130.097 postos de trabalho com carteira assinada em novembro. A maioria dos empregos formais foi criada principalmente no setor de serviços (92.620) e no comércio (88.706).

O saldo de novembro no RS decorre de 114.640 admissões e 102.841 desligamentos no período. O resultado veio em patamar acima do observado em outubro (10.605), segundo dados atualizados. Ante novembro do ano passado, quando o saldo ficou em 11.262, o nível também é ligeiramente maior, com status de estabilidade.

No acumulado do ano, são 76.457 postos gerados no Estado. Nesse recorte, o dado segue mostrando desaceleração em relação ao ano passado, marcado pela recuperação pós-pandemia de covid-19. No agregado de janeiro a novembro de 2022, o saldo ficou em 128.330 empregos.

Lisiane Fonseca da Silva, economista que atua na área do mercado de trabalho e professora da Universidade Feevale, afirma que o avanço de novembro espelha uma conjunção de fatores, com demanda gerada pelas festas de fim de ano. Também entra nessa conta uma tentativa de recuperação após efeitos de estiagem e aguaceiros que afetaram o Estado neste ano, segundo a docente:

- Tem esse conjunto de elementos. Uma retomada após questões climáticas que afetaram o Estado e a própria questão do movimento de final de ano, tanto que os setores com maior movimento são serviços e comércio.

Sazonalidade

Entre os setores, serviços voltaram a anotar o melhor resultado, com a abertura de 6.450 vagas. Em seguida, aparecem comércio (+4.838) e agropecuária (+2.649). A construção apresentou certa acomodação, com geração de 87 postos. A indústria é o único setor no vermelho em novembro, com fechamento de 2.225 postos.

A economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio- RS), Patrícia Palermo, avalia que o desempenho de serviços e comércio são normais nessa época.

- O resultado de novembro não surpreendeu, revelando a sazonalidade típica do período, com a indústria destruindo postos e o comércio reforçando seus times para a maior demanda de fim de ano - afirma.

A economista destaca ainda o fato de a indústria ter destruído mais postos e o comércio criado menos vínculos em novembro deste ano ante o mesmo mês do ano passado. Já os serviços apresentaram alta nessa comparação:

- De maneira geral, os serviços performaram bem, e o destaque foram as atividades de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas.

ANDERSON AIRES

29 DE DEZEMBRO DE 2023
ECONOMIA GAÚCHA

PIB do RS recua 0,1% no terceiro trimestre

Influenciado pela sazonalidade e pela queda na atividade agropecuária, o Produto Interno Bruto (PIB) do RS encolheu 0,1% no terceiro trimestre de 2023 ante o trimestre anterior. Em relação a igual período do ano passado, a variação foi de 0,1%.

Os resultados foram divulgados ontem pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria Estadual de Planejamento. No Brasil, o PIB teve variação de 0,1% entre os trimestres e de 2% sobre o mesmo período de 2022.

O trimestre de julho a setembro é tradicionalmente marcado pelo menor impacto das atividades ligadas ao campo, segmento que tem no primeiro semestre o seu maior reflexo. Mas a queda de 15,5% no setor contribuiu para o desempenho mais fraco da economia no Estado. A estiagem deste ano, apesar de menos severa do que a anterior, influencia os resultados do campo e se soma aos eventos climáticos do El Niño.

- O trigo já tinha uma tendência de queda este ano por vir de uma supersafra no ano passado, mas, possivelmente, o desempenho seria melhor no trimestre, não fosse o excesso de chuvas - explica Martinho Lazzari, pesquisador do Departamento de Economia e Estatística (DEE) do Estado, lembrando que o maior impacto do cereal é contabilizado nos últimos três meses do ano.

Perdas

Para o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz, o resultado da agropecuária não surpreende, diante das perdas nas culturas de inverno devido ao excesso de chuva. Apesar das altas residuais nas produções de milho e soja, o trigo e a aveia, cereais da estação, tiveram variações negativas na quantidade produzida.

- Continuamos convictos de que haverá crescimento (em 2023), mas será algo para não ser comemorado, pois é o resultado de um ano muito ruim comparado a um péssimo que foi 2022 - diz Da Luz.

Nas fábricas, a alta foi de 1% no terceiro trimestre, sustentado pela indústria de transformação e pelas atividades de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana.

- A transformação é a parcela mais representativa da indústria como um todo. Mas viemos de uma base de comparação muito deprimida. Mesmo positivo, é um dado que ainda preocupa porque o quadro como um todo é ruim - comenta o economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, chamando atenção para a queda de 5,6% do segmento em 2023.

Já nos serviços, houve avanço de 0,6% no trimestre, o mesmo do registrado no país, puxado pelas atividades do comércio, intermediação financeira e seguros e serviços de informação.

BRUNA OLIVEIRA

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023


28 DE DEZEMBRO DE 2023
CARPINEJAR

Tenho uma filha de 30 anos

Em toda homenagem de aniversário, você mal fala do outro, mas de si: do quanto ele melhorou a sua vida, do quanto você mudou por ele, do quanto você se tornou mais alegre, mais disposto, rejuvenesceu, aprendeu tarefas novas, foi para lugares diferentes, assimilou hábitos saudáveis, evoluiu o comportamento.

No fim, ninguém fica sabendo de quem está se falando. O agradecimento é direcionado inteiramente ao autoelogio, numa propaganda pessoal de como é inesquecível conviver com você.

Coloca fotos dos dois, de cenas de amor e amizade entre vocês. Tem que aparecer sempre. Não consegue celebrar uma biografia de modo incondicional e altruísta.

Você se vende e se compra a partir do aniversariante. Transforma-o em seu refém para redigir a sua própria carta de recomendação. Existe uma advertência implícita na mensagem: não fique longe de mim, porque nunca encontrará alguém como eu.

Somos contaminados pelo narcisismo. Não se trata de uma atitude proposital. É um sintoma de nossa época egoica, de nossa cultura da imagem. Minha filha completou 30 anos. Meu primeiro impulso seria contar que estou assustado porque já sou pai de uma filha de 30 anos. Entende qual é a cilada?

Nem devo dizer que ela revisa meus textos e livros - se você não encontra erros, a culpa é dela. Ou que analisa os meus aforismos sob a ótica da linguística. Porém esqueça isso. Ainda estarei caindo na armadilha da vaidade e me colocando no centro da oferenda. 

Pretendo detalhar quem é Mariana, sem querer roubar um pouco do seu brilho para mim. É disciplinada. Não mexe nos seus horários. O que ela marcou não cancela, mesmo que seja para cumprir uma tarefa caseira. Ela pode avisar que faxinará a sua casa. A faxina é sua prioridade inalterável. Nenhum convite a fará desistir do encontro consigo mesma.

Mariana cultiva existências paralelas. Você não será capaz de reduzi-la a um único perfil. Ela escreve contos, mas ainda não publicou o seu livro. Ela monta colagens com recortes de jornais e revistas, mas jamais mostrou seus trabalhos. Ela compõe e canta, mas não disponibilizou nenhuma canção nas redes sociais.

Não pense que ela desperdiça seus talentos, pois já cometi essa gafe. Ela tem consciência de quando estará pronta. Conhece o seu ritmo. Não é perfeccionismo, e sim exigência de autenticidade. O que ela mais busca é ser sincera em sua arte. Abomina a ideia de realizar algo em que não acredita, para agradar ou corresponder às expectativas.

Ela se sente estimulada pelos desafios. Formada em Letras pela UFRGS, com mestrado em andamento, dedica-se à tradução de autores latino-americanos. Pode levar uma semana inteira para encontrar o equivalente apropriado para uma palavra em espanhol, assim como pode converter várias páginas em um único dia. Não sofre com a cobrança de tempo perdido, porque entende que sempre está aprendendo.

Mariana se veste destacando um detalhe do conjunto: talvez seja a estampa divertida de uma camiseta, ou um cinto brilhante, ou uma meia colorida, ou um sapato com fivelas. Ela coroa o secundário. Sorri para dentro quando alguém nota.

Sua noção de família se baseia nos irmãos. Jamais vi uma pessoa cuidar tanto deles. É um caso de guarda compartilhada entre ela e os pais. Ultimamente, anda sonhando com as suas três calopsitas que morreram. Eu imagino o tamanho da saudade, a falta de dar aquela coçadinha na cabeça delas.

Só que a ligação com os pássaros ia muito além da companhia. Há um parentesco de comportamento. O que as calopsitas mais gostam é de privacidade. Como Mariana. É difícil entender que uma pessoa ou uma ave quieta nunca está sozinha. Eu peço desculpa pela invasão de seu espaço.

CARPINEJAR

28 DE DEZEMBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

TENDÊNCIA MUNDIAL

Apesar de os números ainda serem pequenos em relação à frota nacional, a alta significativa da venda de automóveis puramente elétricos ou híbridos no Brasil neste ano indica que, mesmo com certo atraso em relação às principais economia do mundo, esta é uma tendência que se imporá também no país. Sendo uma propensão global, deve-se esperar que, por aqui, sejam rapidamente construídas condições de mercado que favoreçam o movimento paulatino de substituição dos motores movidos por combustíveis fósseis, colaborando com a descarbonização da economia.

Reportagem de Marcelo Gonzatto veiculada na terça-feira em Zero Hora revelou que, no Estado, de janeiro a novembro, houve crescimento de 85% nos emplacamentos de carros eletrificados em comparação com igual período de 2022. No país, a alta foi de 78%. Mesmo assim, são apenas 207 mil automóveis leves com esta nova tecnologia em meio a uma frota circulante de 38,3 milhões de veículos de passeio espalhados pelo Brasil. Somente 0,54% do total, portanto, conforme dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), entidade que representa o setor.

Não há dúvida de que a decisão do governo de elevar a partir do próximo ano o imposto de importação acelerou a busca dos consumidores em 2023. Ainda assim, o próprio segmento aposta que a volta progressiva da taxação, até metade de 2026, não será capaz de colocar um freio na tendência.

Puxada por montadoras chinesas, a produção de automóveis elétricos no Brasil deve dar a largada a partir do próximo ano, com unidades fabris hoje em construção. Essa reoneração controversa, aliás, é justificada como forma de incentivar a fabricação no Brasil. Uma das grandes barreiras, hoje, é o preço dos veículos elétricos. Mas, conforme o domínio da tecnologia avançar, a escala de produção aumentar e a concorrência se acirrar, a tendência é de os valores diminuírem. 

Hoje já existem modelos ao custo de R$ 150 mil, e uma das chinesas, que está entre as principais expoentes do segmento no mundo, promete lançar em 2020 um modelo que custará cerca de R$ 100 mil no país. Não é tão distante dos veículos com motor de combustão mais em conta disponíveis nas revendas nacionais.

Outro aspecto importante para a popularização dos elétricos é a disponibilidade de pontos de recarga públicos espalhados por cidades e rodovias. Também a este ponto o mercado tende a responder de forma natural. Conforme a frota for aumentando, empreendedores se movimentarão para criar mais locais para a recarga dos carros. Enquanto isso, outras iniciativas começam a suprir parte dessa deficiência, como o projeto da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e da CEEE Equatorial de criar a Rota Elétrica do Mercosul, uma rede de 10 pontos de recarga rápida que vai de Torres, no Litoral Norte, à zona sul do Estado. A economia para abastecer na comparação com a gasolina é mais um fator que tende a elevar a procura por elétricos com o decorrer do tempo.

Ao redor do mundo, legislações e incentivos tentam acelerar a adesão aos veículos elétricos. Nos EUA, a meta é chegar a 2030 com 50% da frota movida a bateria. Para isso, o governo destinou US$ 7,5 bilhões para formar uma rede de eletropostos em todo o país. Na União Europeia, a partir de 2035 só serão permitidos motores a combustão que utilizem combustíveis sintéticos. 

A China iniciou em 2014 uma política de incentivos fiscais para impulsionar o mercado e a produção de veículos elétricos. Em junho, decidiu prorrogar as medidas até 2027. No Brasil, não há metas que falem de prazos nem estímulos significativos. Alguns Estados, como o Rio Grande do Sul, isentam de IPVA os 100% elétricos. Aguarda-se que o próprio mercado, no decorrer dos próximos anos, se encarregue de não deixar o Brasil para trás nessa tendência mundial.