16
de julho de 2012 | N° 17132
L.
F. VERISSIMO
Quem não
é?
O
Tribunal Federal da Suíça afirmou, num documento recém-publicado, que João
Havelange e Ricardo Teixeira receberam suborno para influenciar a Fifa na
decisão de quem faria a transmissão das Copas do Mundo de 2002 e 2006 e em
outros acordos da Fifa e da CBF.
O
documento custou a ser publicado porque os advogados da Fifa argumentaram, em
defesa de Havelange e Teixeira, que o pagamento de suborno é pratica comum na
América do Sul e na África, onde a propina faz parte do salário “da maioria da
população”. Foi publicado agora por que o presidente da Fifa, Joseph Blatter, que
deve seu cargo ao Havelange, resolveu usar seu ex-chefe e Teixeira como
exemplos de que está combatendo a corrupção. Antes abraçava os dois e seu
esquema, agora os apunhala pelas costas com o relatório finalmente liberado da
justiça suíça. Gente fina.
Você,
eu e a maioria da população brasileira teríamos motivos para nos indignar com a
afirmação de que nosso salário é normalmente reforçado por propina, vinda
sabe-se lá de onde, e que Havelange e Teixeira só estariam sendo um pouco mais
brasileiros do que o normal.
Mas,
nos mesmos jornais que trazem a notícia da denúncia de Havelange e Teixeira e a
revelação de que a Fifa nos considera todos corruptos, lemos que o suplente do
Demóstenes Torres, cassado pelas suas ligações com o Carlinhos Cachoeira, também
tem ligações com o Carlinhos Cachoeira, além de precisar explicar por que
deixou de declarar boa parte do seu patrimônio ao fisco. Fica-se com a
impressão de que a Fifa tem razão.
Me
lembrei do texto que escrevi, certa vez, sobre a visita de uma comissão a um
manicômio. A comissão é recebida por uma recepcionista, que passa a dar
instruções desencontradas sobre como chegar ao gabinete do diretor –“Entrem por
aquele corredor marchando de costas e cantando a Marselhesa” – até que vem um
médico buscá-la, explicando que se trata de uma louca que pensa que é
recepcionista. Mas o médico não é médico, também é um louco passando por
médico, e que é levado por um segurança.
Que
não é um segurança, é outro louco que declara ser sobrinho-neto do Hitler, e é
levado por um enfermeiro para o seu quarto. Mas o enfermeiro também não é
enfermeiro, é um louco que etc. etc. A comissão finalmente chega ao gabinete do
diretor – ou alguém que pode ser o diretor ou um louco que se passa pelo
diretor. Como saber se é o diretor mesmo?
–
Não há como saber – diz o possível diretor. – Nem eu sei. Mas temos que supor
que eu sou o diretor e não outro louco. Senão isto aqui vira um caos!
Temos
que supor que nem todos são corruptos, ou afilhados reais ou simbólicos do
Carlinhos Cachoeira. Senão isto aqui fica ingovernável.
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