CARLOS
HEITOR CONY
Dom Eugenio
RIO
DE JANEIRO - Se fosse muçulmano, umbandista, técnico de futebol, comunista ou lixeiro,
dom Eugenio Sales seria o que sempre foi: um homem reto, sincero, fiel a seus
princípios e, sobretudo, humano. Acontece que foi sacerdote, bispo e cardeal.
Sua trajetória tinha um ponto de referência lá em cima -no caso dele, o Deus no
qual acreditava e a igreja à qual servia em tempo integral e em modo total.
Conservador,
sim, e mais do que isso: coerente e sincero com sua forma de pensar e agir no
mundo.
O
pessoal de certa esquerda o criticava porque não bajulava causas e doutrinas
que entravam em moda. Ele fizera sua opção básica por uma religião estruturada,
multissecular, que passara por um "aggiornamento" no Concílio
Vaticano 2º. Não trocaria esse corpo de pensamento social e ação por um
marxismo superado, um socialismo terceiro-mundista e badalativo.
Além
da doutrina tradicional da igreja à qual serviu, atualizou-se com as encíclicas
que foram até citadas por João Goulart no famoso comício de 13 de março de
1964: a "Mater et Magistra", a "Populorum Progressio" e a
"Pacem in Terris". Pessoalmente, creio que nem Jango nem a turma que
o cercava tivessem lido (ou entendido) os documentos que gostavam de brandir
para amenizar resistências numa sociedade que, afinal, se rotula de cristã
ocidental.
Protegeu
perseguidos políticos daqui e de fora, com uma firmeza que desarmava os
militares. Eu próprio, em certa época, fui rastreado por ele e por dois de seus
auxiliares, dom Eduardo e dom Rafael.
Em
alguns momentos de perigo que atravessei, ia dormir na casa de dom Eugenio, no
Sumaré, quando fumávamos nossos charutos.
Detalhe
importante: ele nunca me chamou pelo meu nome usual, mas de Heitor. Como meu
pai e minha mãe.
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