25
de julho de 2012 | N° 17141
JOSÉ
PEDRO GOULART
Culpa do Homer
Na
TV Globo, Pedro Cardoso reclama da perseguição dos paparazzi aos artistas que,
como ele, não deveriam ser alvo da curiosidade, “afinal são iguais aos outros,
apenas com um ofício público”. Pedro elege o satã: o empresário que compra o
material e depois o dispara em sites e revistas, pondo fogo no circo das notícias
bizarras.
O
fotógrafo, segundo ele, é somente alguém que faz o trabalho sujo. Ao lado de
Pedro, no mesmo programa, um paparazzo diz que “a situação vai piorar”, pois
esse é um mercado em expansão no mundo todo: o público “quer”, os “artistas”estimulam.
Nem todos são discretos como Pedro Cardoso.
Há algum
tempo, William Bonner disse que, quando pensa na edição do Jornal Nacional,
procura fazer a cabeça do Homer (Simpson), o cara que, segundo ele, simboliza o
cidadão médio. Segundo Bonner, não adianta sofisticar as matérias, o Homer não
iria entender, o que terminaria em rejeição.
O
sucesso de Os Simpsons – há mais de 20 anos em cartaz – não é porque o desenho
se posiciona contra o sistema, ou emite uma lenga-lenga crítica contra a
sociedade – embora pareça, e muito, que é isso que a série faz. A sacada mordaz
dos realizadores é a de justamente mostrar como vive um sujeito comum; tirar
dele qualquer pretensão ou culpa (culpa e pretensão são sinônimos) e devolvê-lo
enredado por questões cotidianas as quais todos conhecemos. Homer Simpson é um
simpático idiota.
O
Woody Allen, neste filme que se passa em Roma, traz um personagem comum, um
Homer, que subitamente é incensado à celebridade. Isso acontece do nada, como
do nada a fama desaparece, sem explicação.
A
gente ri, claro. Mas, assim como do Homer, rimos pela distância que acreditamos
estar. Embora não seja bem assim. Poucos resistem à fama – dar opinião no que não
entendem, tentar ser visto como importante, postar no Facebook frases ou citações
de livros que nunca foram lidos, exibir fotos da família como se fosse um
elenco, mostrar o que se come, se bebe, se consome. Somos os paparazzi da nossa
própria vida, exibindo-nos compulsivamente.
Ainda
sobre a entrevista do Pedro Cardoso, o paparazzo acaba revelando que o maior
cliente das fotos, que bate espiando artistas contra a vontade, é o portal
Globo.com, das Organizações Globo, em cuja emissora de TV o ator trabalha. A
resposta causou um certo desconforto nos dois Pedros, o Cardoso, e o Bial, que
conduzia a entrevista.
Vale
destacar que a entrevista continuou e, mesmo não sendo ao vivo, mas gravada,
foi exibida. O sistema dita as regras, produz e reproduz. E as regras são
claras, vale até falar mal de si de vez em quando, desde que, no final, tudo
permaneça como está. A gostosa pagando calcinha, uma declaração ordinária mas
picante em destaque, o Pedro na novela. E o Homer no sofá.
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