20
de julho de 2012 | N° 17136
PAULO
SANT’ANA
O cavalo diante do túmulo
Como
no domingo reclamei do preço do quilo do tomate, que encontrei a R$ 5,48 em uma
banca de rua e, incrível, a R$ 6,49 no supermercado, a leitora Maria Scussel (mailto:megasucos@hotmail.com)
me manda dizer que tem uma dica sensacional sobre preço de tomate. Ela diz que
há três tipos de tomates, o italiano, o gaúcho e o longa vida.
Ela
diz que na Avenida Cristóvão Colombo, nº 1075, Bairro Floresta, existe um
estabelecimento com o nome de “Longevidade, produtos coloniais”, onde existem
os tomates italiano e longa vida pelo preço de R$ 3,50 e o tomate tipo gaúcho
pelo preço de R$ 4,20, bem menos, muito menos do que paguei há sete dias.
E
manda parabéns por esta coluna abordar temas tão simples como o do custo de
vida, mas que interessam profundamente aos leitores.
Interessante
que às vezes realmente os temas que abordo são simples, singelos, prosaicos,
mas, de repente, encontram forte receptividade entre os leitores, o que não era
por mim esperado.
Foram
sem conta as felicitações que recebi por ter escrito sobre o exagerado preço do
quilo do tomate cobrado na semana passada em nossa Capital, com absurdidade
para a diferença de preços entre as bancas de ruas e o supermercado em que
comprei quatro tomates por R$ 5,27, quase o preço de um quilo em uma banca de
rua.
Leitores
inúmeros me escreveram para dizer que lhes tirei a palavra da boca, que eles se
acharam espoliados há sete dias quando lhes cobraram preço intragável e,
principalmente, desproporcional em vários locais de venda desta fruta (por incrível
que pareça tomate não é legume, é fruta mesmo).
Comigo
também acontece o seguinte: por vezes me sinto entusiasmado com uma coluna que
acabei de escrever, espero que ela faça grande sucesso quando sair publicada no
dia seguinte, e o efeito não é o esperado, ela não passa de uma coluna, diria,
normal, sem maiores estrépitos.
Vou
dar um exemplo dessa contradição: lembram daquela coluna que publiquei com uma
foto de um cavalo na frente de um túmulo, no cemitério?
A
foto ilustrava um texto em que descrevi que um cavalo, em uma cidade que não me
lembro o nome, no país, meses depois de seu dono haver morrido, saía da sua
cocheira todos os dias pela manhã e trotava quilômetros até o cemitério, indo
visitar o túmulo de seu ex-dono. Um fato que eu considerei notável, é verdade,
mas pensei que o efeito entre os leitores seria normal, corriqueiro.
Pois
não é que a coluna estourou a boca do balão! Gente de todos os lados escrevia
para dizer que tinha se emocionado com a coluna.
Gente
de todos os lados valorizava, com a coluna, a profunda sentimentalidade que
muitas vezes encerra a amizade dos homens com os animais.
E
assim vai indo a vida de um modesto colunista de província, mourejando na sua
penúltima página de um jornal.
Mas
este cronista vai se comunicando todos os dias com seus leitores há 41 anos, de
tal forma que adquire intimidade com os que o leem que, malgrado muitas vezes a
distância física que o separa de leitores que residem a centenas de quilômetros
do local em que o jornal se edita, nunca existiu tanta proximidade coloquial
entre eles, tanto que, quando acabam se encontrando, como aconteceu há dias em
Nova Prata, cenas emocionantes se desenrolam entre eles.
É a
vida. E é o jornalismo.
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